Olá, marujos! Hoje, explicaremos o conceito de Mônada de uma forma descomplicada. Esse é um conceito-chave da filosofia de Leibniz para explicar o universo e seu funcionamento. Começaremos com uma breve biografia do filósofo; depois, destrincharemos o conceito explicando sua etimologia, suas características, seus tipos e como as mônadas interagem entre si formando o universo. Vamos lá!
Sobre Leibniz
Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig, Alemanha, em 1 de julho de 1646. Ele começou os estudos filosóficos e matemáticos desde novo, na biblioteca do pai. Aos 20 anos, já era Doutor em Filosofia pela Universidade de Leipzig.
Leibniz foi um polímata – estudioso de vários assuntos – e trabalhou a maior parte da sua vida com funções burocráticas de importantes figuras políticas da época e como bibliotecário.
Hoje, ele é considerado um Racionalista moderno e, de fato, sua filosofia foi muito influenciada por Descartes. Curiosamente, teve Espinosa (outro racionalista “discípulo espiritual” de Descartes) como um inimigo filosófico.
Sua religião era a luterana e, acredita-se, pretendia fundamentar filosoficamente sua fé cristã.
Ele morreu em Hanover, Alemanha, em 14 de novembro de 1716 aos 70 anos.
Mônada Descomplicada: Introdução
Etimologia
O termo mônada é a tradução do termo francês usado por Leibniz monade. Por sua vez, ambos derivam da palavra grega monas (μονάς), que pode ser traduzida por “unidade”.
Origem do Termo
O termo monas já era utilizado pelos pitagóricos como sendo os elementos primordiais do universo, constitutivos metafísicos dos números.
Monadologia
Monadologia foi o nome dado a um escrito de Leibniz publicado postumamente. É um texto composto de noventa parágrafos em que ele apresenta sua metafísica, ou seja, a constituição primeira de todas as coisas – incluindo Deus e a Natureza – e a relação entre tudo o que existe.
Esse texto não estava preparado para publicação. Provavelmente, servia de base filosófica para suas teorias e discussões filosóficas.
Além disso, existem três versões desse texto, com diferentes observações e correções do próprio Leibniz em cada um deles.
Apesar disso tudo, não significa que o texto não tenha valor ou não contenha a visão metafísica do filósofo tal como ele pensava.
Mônada Descomplicada: Definição
A mônada é uma substância simples que existe por si só. Isso quer dizer que ela é indivisível. A mônada é a menor parte que existe no universo.
A mônada não é uma única substância existente, ou seja, existem um enormissíssima quantidade de mônadas no universo. Todas são independentes entre si e únicas.
Os seres complexos são formados por uma combinação de mônadas.
As mônadas se diferem dos átomos porque as mônadas não possuem extensão, ou seja, não são corpos. Porém, as mônadas possuem matéria: elas são compostas de um ponto matemático no centro (que seria a forma da mônada) e um ponto físico revestindo esse centro (que o filósofo chama de matéria prima). Essa matéria prima é infinitesimalmente pequena e fluida – por isso, invisível e imperceptível.
Essa distinção entre as mônadas e os átomos só é possível porque, diferentemente de Descartes, que via os seres como uma máquina, Leibniz via os seres como forças vivas.
Mônada Descomplicada: Características
Podemos observar algumas características presentes nas mônadas. Nem todas as características estão presentes em todas as mônadas e, por isso, elas possuem diferentes graus ou tipos (que veremos depois).
Percepção
É a capacidade da mônada representar alguma coisa do universo. Em outras palavras, tudo o que existe percebe a existência de outras coisas e reage àquilo.
Essa percepção é automática, espontânea e inconsciente. Por exemplo, uma pedra “percebe” a existência do chão e por isso não continua caindo.
Em um ser complexo, também existe essa percepção quando o corpo mantém a sua estrutura e funcionamento. Por exemplo, o que faz as mônadas presentes em uma pedra ficarem unidas umas às outras formando aquele objeto resistente e duro é a percepção que uma tem da outra de que precisa cumprir essa função.
É importante compreender que, para Leibniz, as mônadas são unidades simples e fechadas em si mesmas. Dessa forma, uma mônada não controla outra. Se várias estão, digamos assim, cooperando entre si para dar formato e funcionamento a um ser, isso ocorre porque uma percebe a outra e cumpre a sua função.
Apercepção
Enquanto a percepção é uma característica “cega” das mônadas (porque elas o fazem de forma automática, espontânea e inconsciente), a apercepção é uma característica consciente das mônadas.
A apercepção é a capacidade que algumas mônadas possuem de saber que estão percebendo outras mônadas e, por isso, estão reagindo àquilo.
Enquanto que uma pedra não sabe por que ela está parada, uma pessoa sabe por que ela está parada.
Leibniz diz que a apercepção é a percepção consciente.
Apetição
A apetição seria o ato de passagem de uma percepção a outra.
Repetindo o exemplo da pedra que percebe o chão, o ato de “não continuar caindo” se deve a apetição, que é o movimento de mudança entre “estar caindo” e “parar de cair”.
A apetição é a mudança na reação quando a situação muda.
A apetição também está associada ao princípio de evitar a dor e buscar o prazer. Isso ocorre conscientemente ou incoscientemente.
No exemplo da pedra, parar de cair ao chegar ao solo seria melhor para ela do que continuar caindo (mesmo que ela não tenha consciência disso).
Já um ser humano escolher parar de correr quando cansa porque o melhor para ele é descansar. Ou pode escolher voltar a correr cansado porque, naquele momento, o melhor para ele é exigir mais do seu corpo para ganhar resistência.
Mônada Descomplicada: Tipos ou Graus das Mônadas
Sendo uma substância simples, cada mônada é única. Sendo assim, não existe uma diferença de natureza entre as mônadas. Por outro lado, existe uma diferença de graus entre elas porque algumas possuem algumas características que outras não possuem. Leibniz dirá que existem três tipos de Mônadas:
Mônadas Nuas: são mônadas dotadas daquilo que o filósofo chama de enteléquia. São as mônadas que possuem apenas percepções inconscientes e apetições “cegas”. Em outras palavras, agem e reagem sem saber que estão agindo e reagindo nem o porquê estão agindo e reagindo. Em seres complexos, são os núcleos dos minerais e das plantas.
Mônadas Sensitivas: são mônadas dotadas daquilo que o filósofo chama de alma. São as mônadas que possuem percepções inconscientes, mas apetições “conscientes”. Elas também possuem memória. Em outras palavras, agem e reagem sabendo que estão agindo e reagindo, mas não sabem por que estão agindo e reagindo. Em seres complexos, são os núcleos dos animais.
Mônadas Racionais: são mônadas dotadas daquilo que o filósofo chama de espírito. São as mônadas que possuem percepções e apetições conscientes. Elas também possuem memória, razão e ciência. Em outras palavras, agem e reagem sabendo que estão agindo e reagindo e porquê estão agindo e reagindo. Em seres complexos, são os núcleos dos seres humanos.
Mônada Descomplicada: Deus e o Funcionamento do Mundo
Deus
Para Leibniz, Deus também é uma mônada. Porém ele é a “Mônada das mônadas” (frase de Hegel), o ser mais simples e que criou todas as mônadas existentes.
Deus é a única mônada perfeita, que conhece completamente todas as outras mônadas (em outras palavras, o universo ou tudo o que existe).
As mônadas “secundárias” são criadas por Deus e aniquiladas por Deus. Ou seja, somente Ele pode criar e destruir mônadas. As mônadas em si não se multiplicam.
Harmonia Preestabelecida
O conceito de harmonia preestabelecida é a justificativa de Leibniz para explicar como as mônadas inconsciente conseguem “funcionar” tão perfeitamente, mantendo o universo em um grande equilíbrio.
Segundo esse conceito, Deus, quando criou o universo, já o criou todo harmonioso. Dessa forma, todas as mônadas funcionam de forma perfeita e harmoniosa, agindo e reagindo da forma que precisam agir e reagir umas com as outras.
O exemplo que o filósofo dá é o de um conjunto de relógios, os quais são todos dispostos de uma certa forma e recebem corda e são disparados ao mesmo tempo, funcionando todos de forma sincrônica.
Para que o conceito de liberdade continue existindo, Leibniz dirá que, depois de dar a “ordem para começar”, Deus não interfere mais nas ações das mônadas. Seria por isso que o ser humano ainda é livre, porque ele pode escolher como agir – inclusive em desacordo com a sincronia proposta para ele por Deus.
Melhor dos Mundos Possíveis
Decorre disso tudo que o mundo em que vivemos é o melhor dos mundos possíveis.
Deus, como um ser perfeito, fez a criação da melhor forma possível e a harmonizou da melhor forma possível.
Sendo assim, não teria como as coisas serem melhores do que são. Esse é o melhor dos mundos possíveis.
Ele não é perfeito porque só Deus é perfeito. Todo o mundo, criação de Deus, é imperfeito. Contudo, somos o “mais perfeito possível”.
O Problema do Mal
Se Deus criou tudo da melhor forma possível, porque existe o mal no mundo?
Leibniz repetirá a posição de Santo Agostinho e defenderá que o que chamamos de mal é um não-ser que nada mais é do que a ausência da perfeição.
Como o mundo não é perfeito, os defeitos inerentes do nosso mundo são a causa do mal, tanto físico quanto moral.
O mal físico pode ser compreendido como as doenças e o mal moral como as ações ruins das pessoas.
Mônada Descomplicada: Conclusão
Como pudermos ver, Leibniz buscou uma explicação metafísica para justificar desde a existência de Deus à existência e funcionamento do mundo. Alguns comentadores consideram a Monadologia de Leibniz uma ficção metafísica porque seu texto, algumas vezes, parece mais poesia do que um tratado filosófico. Porém, como dito lá no início, esse livro não foi feito para ser publicado. De qualquer forma, sua proposta das mônadas não deixa de ser interessante e curiosa.
E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre a mônada? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre outra teoria filosófica de Leibniz? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Referências
Newton; Leibniz. Coleção Os pensadores. Traduções de Carlos Lopes de Mattos et al. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
WIKIPÉDIA. Verbetes Mônada (português, alemão, inglês e francês) e Monadologia (alemão e francês).