Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Todos Querem um Lugar para Chamar de Seu!

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Todos Querem um Lugar para Chamar de Seu!

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder. Essa série narra diversos fatos e acontecimentos ocorridos na Segunda Era da Terra-Média – período no qual os anéis do poder foram forjados – com diferentes povos e raças que, no final, se entrecruzam em uma grande história. Nesse texto, trarei a história de alguns desses povos e raças, refletindo sobre como todos eles querem, no final das contas, um lugar para chamar de seu, e farei uma relação com a importância do território para alguns povos reais. Não teremos spoilers na apresentação da série, mas teremos na parte da reflexão. Vamos lá!

Sobre Os Anéis do Poder (SEM Spoilers)

Os Anéis do Poder, cujo nome completo é O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, é uma série de ação, aventura e fantasia baseada nos apêndices da obra O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien. A série estreou em 2022 na Amazon Prime Video.

Estamos na Segunda Era, período de tempo entre a derrota de Morgoth e a derrota de Sauron. No momento da série, porém, Sauron era apenas um servo de Morgoth que tinha desaparecido após a derrota de seu mestre e ainda não tinha se tornado o Senhor do Escuro.

A elfa Galadriel (Morfydd Clark) acredita que Sauron ainda está vivo e mantém uma caçada a ele. Porém, o Alto Rei élfico Gil-galad (Benjamin Walker) acredita que as forças do bem derrotaram definitivamente as forças do mal e que as buscas devem ser encerradas.

Gil-galad tem agora outras prioridades e precisa da ajuda dos anãos. Como as raças dos anãos e dos elfos não se dão bem, Gil-galad envia o elfo Elrond (Robert Aramayo) para intermediar as negociações, já que este é amigo do anão Durin IV (Owain Arthur) – príncipe de Khazad-dûm (um grande reino anão nas montanhas).

Nas Terras do Sul, os descendentes da raça dos homens que haviam se aliado a Morgoth passam seus dias sob a vigilância e desprezo dos elfos-silvestres. Na sua grande maioria inamistosos, esses homens precisarão da ajuda dos elfos quando suas terras forem invadidas por orques sobreviventes da última guerra.

Na ilha de Númenor, os descendentes dos homens que se aliaram aos elfos na última guerra e, por isso, foram abençoados com boas terras, saúde e prosperidade, agora desprezam seus antigos amigos.

Por último, os pés-peludos (uma raça antiga de seres que deu origem aos hobbits) estão fazendo sua tradicional migração quando são assolados por grandes acontecimentos que modificam suas rotinas e modo de viver.

Quer saber como essas histórias – a princípio isoladas – de cada uma dessas raças irão se conectar umas às outras, formando uma grande trama? Assista O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder na Amazon Prime Video.

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: O Dilema entre Ficar e Partir

Os Elfos de Tolkien

Os elfos estão passando por um sério problema na Segunda Era. Por causa da distância, a Luz de Valinor (fonte da imortalidade dos elfos) está enfraquecendo na Terra-Média e os elfos estão morrendo.

Para solucionar esse problema, os elfos querem recorrer aos anãos para minerar o Mithril, um minério que possui a luz de uma Silmaril (uma joia que continha a Luz de Valinor).

Quem explica esse problema e dá a solução é Gil-galad, o Alto Rei élfico que havia declarado o fim das forças do mal.

O meu questionamento é: se os elfos são originários de Valinor e sua missão está cumprida na Terra-Média, por que permanecer na Terra-Média buscando uma solução para o seu problema? Por que não voltar para casa?

A resposta que me vem é que Valinor já não é mais o lar daqueles elfos da Terra-Média. A Terra-Média é que é o lar deles agora. Mesmo que muitos deles tenham nascido em Valinor ou sejam descendentes diretos de quem nasceu em Valinor, esse já não é o lar desses seres.

Por isso, mesmo que eles lembrem com orgulho de onde vieram, já não existe uma real vontade de quererem voltar. Eles já estão estabelecidos na Terra-Média de tal forma que não faz sentido ir para Valinor. Ir para Valinor é como ir para um lugar desconhecido para eles. Um lugar do qual eles só ouviram falar, mas não lhes pertence. É uma lembrança distante, um passado quase esquecido e estranho.

Os Imigrantes do Mundo Real

Fazendo uma relação entre o problema vivido pelos elfos e os problemas reais, podemos pensar tanto nos imigrantes por opção quanto nos imigrantes forçados.

Os imigrantes por opção vieram para ter oportunidades melhores de vida. Acredito que ninguém vai optar por sair da sua terra natal se tudo estiver perfeito ou se o novo local for pior de onde se está.

Essas pessoas, na sua maioria, acabam se estabelecendo por anos no novo local até um ponto em que acabam se acostumando com essa nova vida e não querem mais voltar para os seus antigos lares. Eles ainda gostam da antiga cultura, promovem algum tipo de sincretismo, mantém alguns laços, mas agora pertencem ao novo local.

Os filhos desses imigrantes acabam recebendo alguns aspectos culturais antigos dos seus pais e até gostam de alguns valores “ancestrais”, mas agora já pertencem ao local onde de fato nasceram ou foram criados e dificilmente quererão ir embora.

Penso, por exemplo, nos diversos estrangeiros que foram para os EUA em busca de uma vida melhor. Todos eles levaram parte da sua cultura para esse novo país, promoveram grandes misturas culturais, criaram diversos nichos de mercado específicos para essas pessoas nos EUA que sentem saudades de casa, mas isso não os faz querer voltar se tudo está bem nos EUA.

Os brasileiros em Orlando (Flórida), por exemplo, praticamente criaram uma comunidade brasileira lá. Vários estabelecimentos foram criados para vender alimentos e comidas típicas do Brasil. Vários empreendedores buscam oferecer serviços para brasileiros que irão lá para visita. Vários locais já têm funcionários falando português para atender melhor esses imigrantes.

Essas pessoas que se estabeleceram nos EUA não vão querer voltar a não ser que dê algum problema lá. Agora, a cultura deles é aquela. Especialmente para os filhos dessas pessoas. Esses filhos já falam fluentemente o inglês, talvez nem falem o português direito; já pensam como estadunidenses e não como brasileiros.

Isso sem contar árabes, chineses e italianos, grupos que vemos com bastante destaque na cultura americana e com grande participação nos costumes locais.

Já os imigrantes forçados são casos bem problemáticos. O maior exemplo são os africanos que vieram para as Américas trabalhar como escravos.

Depois que esses povos foram libertados, a maioria não queria ou não conseguiria voltar para suas terras ancestrais. Ou porque tudo o que eles tinham se perdeu ou porque já não se conseguiam conectar com seu antigo lar. Se considerarmos que, muito provavelmente, somente descendentes dos escravos capturados é que foram libertados, o problema é ainda maior. Essa pessoa já nasceu no novo país, só ouviu falar da sua terra natal, mas não tem para onde de fato voltar.

Os judeus também são outro povo que sofreu muito por ter sido obrigado a migrar muitas vezes. Mesmo que hoje exista Israel, judeus no mundo inteiro não conseguem simplesmente largar tudo e ir para lá, mesmo sendo a terra dos seus antepassados.

Mudar é algo que demora. Depois que a mudança ocorre e você se acostuma, mudar de novo é outra dificuldade. Voltar então para onde você veio, parece ainda mais esquisito do que ir para um novo lugar.

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Criando uma Terra para Si

Os Orques de Tolkien

A história que mais me chamou a atenção nessa primeira temporada de Os Anéis do Poder foi a dos Orques, especialmente a vontade do líder Adar (Joseph Mawle) em criar um lar para os seus “filhos”.

Na mitologia de Tolkien, os orques foram criados magicamente por Morgoth, utilizando-se de elfos capturados e/ou corrompidos. Se observarmos Adar, sua aparência é muito próxima a dos elfos e ele consegue ficar na luz. Por isso, ele pode realmente ser o pai dos orques da série ou, na pior das hipóteses, um dos primeiros experimentos de Morgoth.

Como Morgoth perdeu a guerra, ele não conquistou a Terra-Média e sua criação, que servia de exército, acabou ficando à deriva nesse mundo que não lhes pertence. A questão é que os orques são seres vivos, que possuem um certo nível de racionalidade e sentimentos (mesmo que, aparentemente, não tão desenvolvidos quanto dos outros seres). E uma das vontades que eles possuem é de ter um lar para morar.

Como os orques não conseguem viver sob a luz do dia, eles não têm onde ficar já que era Morgoth que garantia a escuridão necessária para eles viverem normalmente na Terra-Média. É por isso que, agora, eles precisam criar de alguma forma a escuridão sobre uma porção de terra e poderem viver.

O problema, não é eles quererem isso. O problema é eles destruírem uma área já habitada por outros seres para fazer isso! É por esse motivo que, mesmo tendo uma explicação para os seus atos, não se justifica suas atitudes.

Os Colonizadores do Mundo Real

A comparação que consigo fazer entre o universo da série e o mundo real é a atitude de diversos povos colonizadores que existiram ao longo da história.

Em sua grande maioria, os colonizadores destruíram a natureza e os povos originários dos locais em que chegaram. Eles, em vez de virem em paz, tal como hoje fazem os imigrantes, vieram querendo tomar as terras em que chegaram para si, como se elas não tivessem donos!

É muita falta de sensibilidade alguém chegar em uma nova terra porque, de alguma forma, precisava e simplesmente expulsar e matar quem lá vivia como se essas pessoas não fossem nada. É o cúmulo!

Claro que hoje somos quem somos por causa deles, mas isso não nos dá direito de fingir que nada aconteceu porque aconteceu e foi muito ruim para os povos que sofreram, como os indígenas!

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Se Fixar ou Peregrinar?

Os Pés-peludos de Tolkien

Os pés-peludos são uma raça migratória no universo de Tolkien. Eles até possuem alguns locais que sempre visitam e uns caminhos que sempre percorrem, mas nenhuma daquelas terras são deles ou reivindicadas por eles.

O curioso é que, aparentemente, nenhuma raça inteligente mora nesses locais em que os pés-peludos param durante suas pausas migratórias. Sendo assim, nada impediria eles de se fixarem em algumas dessas terras e estabelecerem laços permanentes com ela.

Provavelmente, o maior problema de eles permanecerem em alguma terra é a mudança climática, que vai gerar tanto a mudança nas temperaturas quanto na oferta de alimentos. Para resolver isso, eles teriam que aprender a lidar com esses problemas (assim como a espécie humana aprendeu a lidar).

De qualquer forma, não sei se isso é mais difícil do que ficar viajando semanas ou meses, enfrentando vários perigos e desafios enquanto se arrastam carroças.

Se essa é a raça que dará origem aos hobbits, acredito que os pés-peludos resolveram repensar seu modo de viver e viram que ficar em algum lugar e fazer dele o seu lar permanente é a melhor decisão. E isso deve ter ficado tão forte na cultura deles que eles nem querem mais sair de suas vilas, ao ponto de menosprezarem àqueles que querem sair em aventuras.

Os Nômades do Mundo Real

O nomadismo era a prática comum no passado pré-histórico humano, quando esses primeiros humanos viviam da caça e da coleta para sobreviverem, indo aonde estava a comida. Porém, com a agricultura e a pecuária, a grande maioria das populações se estabeleceu em algum lugar, fixando moradia.

Contudo, ainda hoje existem alguns poucos povos nômades. Esses agrupamentos de pessoas não reconhecem fronteiras e migram de lugar em lugar atrás de melhores condições de pasto para seus animais ou clima para sua sobrevivência.

É curioso pensar em povos que não se estabelecem em nenhum lugar e “preferem” a vida de viajantes. Coloco aspas no preferem porque não saberia dizer se, caso lhes dessem condições, eles estabeleceriam residência fixa.

Os ciganos geralmente são associados a um povo nômade, mas nem todos os ciganos hoje possuem esse estilo de vida.

Outra questão interessante é a existência de “nômades modernos”, pessoas que – por escolha ou necessidade – ficam viajando por diversas partes do país ou do mundo vivendo de trabalhos temporários. Uma sugestão para compreender o nomadismo moderno por necessidade é o filme Nomadland – Sobreviver na América (que, inclusive, ganhou o Oscar de melhor filme, direção e atriz principal).

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Outros Problemas Contemporâneos

Terminando essa reflexão, a série Os Anéis do Poder deixa bem claro que a posse de um território para chamar de lar é algo muito importante.

Fora os casos citados até aqui, também temos os homens de Númenor, que não querem deixar sua ilha para ajudar os homens do Sul ao mesmo tempo que sua rainha-regente sabe que em breve seu lar será devastado; e o caso dos anãos, que consideram suas montanhas-lares um lugar sagrado que não pode ser visitado nem explorado por ninguém que não seja anão pois seria uma violação.

No mundo real, outros casos contemporâneos da importância do território para os povos são, para só citar três: os curdos, os catalães e os russófonos da Ucrânia.

Curdos – Os curdos são um povo sem território. Aquilo que seria o Curdistão antigo foi desmembrado entre quatro países e até hoje muitos lutam para reagruparem essas terras e recriarem seu território original.

Catalães – Os catalães são os habitantes da Catalunha, uma comunidade autônoma da Espanha. Devido a sua história, a maioria dos catalães querem a independência para se tornarem um país autônomo. Obviamente, isso não é do interesse da Espanha e constantemente vemos disputas políticas e bélicas por essa independência.

Russófonos da Ucrânia – Alguns habitantes das regiões da Ucrânia mais próximas a Rússia consideram-se mais russos que ucranianos. Por isso, alguns buscam a separação dessas regiões da Ucrânia para se juntarem a Rússia. Do outro lado, a Rússia, numa atitude expansionista – de retomar a Grande Rússia -, apoia, defende e promove esse comportamento, inclusive provocando guerras. O problema aqui é que os moradores dessas regiões são muito divididos e, no final das contas, a disputa é muito mais entre países do que de fato de pessoas.

Reflexão sobre Os Anéis do Poder: Conclusão

Como pudemos ver nessa reflexão sobre Os Anéis do Poder, todos precisam de um lar, de um lugar para ficar e sentir que é seu. Quando um povo não tem isso, é sentido que lhe falta alguma coisa. O problema é que, mesmo existindo muita terra, temos muitas pessoas e países querendo a maior parte delas para explorá-las economicamente. Com isso, vemos o quanto é difícil uma população conseguir se sentir acolhida e protegida em algum lugar. Esse problema, como a série mostrou, não é novo e ainda veremos ele ocorrendo por muitos séculos se continuarmos egoístas.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Os Anéis do Poder? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Os Anéis do Poder? Comenta! Quer que eu acrescente mais personagens nessa análise? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.