O Problema do Mal Descomplicado: Ética de Santo Agostinho

O Problema do Mal Descomplicado: Ética de Santo Agostinho

Olá, marujos! Hoje, explicaremos o problema do mal segundo Santo Agostinho de um jeito descomplicado. Vamos ver brevemente quem é esse filósofo, a resposta equivocada que ele encontrou no maniqueísmo e qual foi, finalmente, a resposta correta que ele encontrou. Vamos lá!

Sobre Santo Agostinho

Agostinho foi um filósofo romano nascido na África em 354 d.C. que viveu no período conhecido como Antiguidade tardia. Porém, na filosofia, ele se encontra no início do período medieval, também chamado de patrística.

Agostinho foi alguém que sempre buscou a verdade e se dedicou a ela, tendo como profissão o magistério. Na sua busca por melhores respostas aos seus questionamentos interiores, se juntou ao grupo dos maniqueístas, o qual lhe satisfez por um tempo.

Porém, após conhecer o bispo Ambrósio e a filosofia de Plotino, abandonou o maniqueísmo e se converteu ao cristianismo ao mesmo tempo que adotou a filosofia neoplatônica.

Resolveu se dedicar totalmente a Igreja e foi ordenado padre e, depois, bispo na cidade de Hipona. Durante esse período, se dedicou no cuidado espiritual e teológico do povo de Deus.

Para saber mais da vida de Santo Agostinho, recomendo: Santo Agostinho Descomplicado: Biografia e Filosofia.

O Problema do Mal Descomplicado: A Teoria Maniqueísta

O Maniqueísmo foi uma doutrina filosófico-religiosa fundada pelo persa Mani (também chamado de Manés ou Maniqueu) no século III d.C. Era uma doutrina sincrética, que misturava elementos de diversas religiões: zoroastrismo, hinduísmo, budismo, judaísmo e cristianismo.

No tocante ao problema do mal, que é o que nos interessa, o maniqueísmo defendia um dualismo que se originou desde o começo dos tempos, com a existência de duas entidades primordiais: o Bem e o Mal, também chamados de Luz e Trevas.

Todas as coisas existentes seriam criadas a partir do ato criador desses dois seres superiores, sendo uma combinação de bem e mal / luz e trevas. Nós, seres humanos, possuiríamos dentro de nós tanto o bem quanto o mal, tanto a luz quanto as trevas.

Dessa forma, nossa capacidade de fazer o mal é inerente a nossa natureza pois fomos criados dessa forma e não teríamos como não praticar esses atos de vez em quando (da mesma forma que, de vez em quando, também praticamos atos bons).

O Problema do Mal Descomplicado: Os Tipos de Mal

Ao reavaliar sua opinião sobre o problema do mal, Santo Agostinho, já convertido ao cristianismo e apoiado na filosofia de Plotino, percebeu que existem três coisas a que chamamos de mal:

a) Mal Metafísico-Ontológico: seria a existência do mal como um ser em si e/ou como uma força exterior às coisas existentes;

b) Mal Moral: seriam as ações más, que são cometidas pelos seres existentes;

c) Mal Físico: seriam todos os tipos de corrupção ou degeneração das coisas existentes, tais como a morte e doenças.

Para cada uma dessas compreensões do mal, Agostinho vai se dedicar a explicar.

O Problema do Mal Descomplicado: O Mal Metafísico-Ontológico

Partindo da compreensão que Deus é um ser único, perfeito e criador de todas as coisas, Santo Agostinho constata que o mal não poderia existir como uma entidade semelhante a Deus e nem poderia ser criado por Deus.

Não poderia ser uma entidade semelhante a Deus porque Deus é único e criador de todas as coisas. Se existisse alguma entidade que rivalizasse em igual poder e existência com Deus, o conceito de Deus se perderia.

O mal também não poderia ser criado por Deus porque Deus é perfeito e o mal é algo ruim. Deus não poderia criar algo ruim, com o propósito de prejudicar a sua criação.

O problema dessa compreensão é o fato de que nós podemos perceber o mal; logo, ele existe! Mas como ele pode existir se não é algo tão poderoso quanto Deus e nem foi criado por Ele? Santo Agostinho responderá que o mal é um não-ser, um defeito na criação.

Deus é o único ser perfeito (ou seja, possui todos os atributos no máximo). Tudo aquilo que ele criou participa do ser de Deus em menor grau de perfeição. Deus não poderia criar um ser perfeito porque assim ele criaria outro Deus, o que é um contrassenso. Logo, tudo o que Deus criou tem em alguma medida uma certa imperfeição.

O mal é o nome de damos para essa imperfeição na criação, ou para essa ausência de perfeição a qual permite que as coisas existentes se corrompam (no sentido de se degradarem).

O Problema do Mal Descomplicado: O Mal Moral

Como seres imperfeitos que nós, seres humanos, somos, existe em nossa natureza a possibilidade de cometer ações más. Compreenda, porém que existe a possibilidade e não a necessidade (obrigatoriedade) de se cometer ações más! Essas ações más, chamada de mal moral, é conhecida pelos cristãos (e por outras pessoas) pelo nome de pecado.

Mas o que é o pecado? Antes de explicar isso, Santo Agostinho explica que Deus criou o universo segundo uma ordem pré-estabelecida, na qual Ele é o ser superior e a criação possui um grau de excelência conforme sua natureza de existir, viver e/ou ter consciência de que vive.

Segundo o filósofo, tudo o que Deus criou está devidamente ordenado para guiar os seres para Ele. Logo, a ordem da criação foi estabelecida de tal forma que nós, seres humanos, podemos perceber a nossa dignidade dentro dela e nos apropriarmos daquilo que existe para buscarmos e alcançarmos a Deus.

Dito de outra forma, tudo o que Deus criou é um bem e nós podemos usar dos bens criados por Deus para nos aproximarmos dEle. Mas qual é o nosso problema…

Nós, através da incorreta utilização do nosso livre-arbítrio, muitas vezes fazemos escolhas erradas. Encantados com os diversos bens criados por Deus, nos apegamos a esses bens em vez de utilizá-los para chegar a Deus, que deveria ser de fato nosso objetivo e propósito.

O ato de pecar, ou seja, de cometer um mal, ocorre quando preferimos as coisas mutáveis e incertas em vez das coisas imutáveis e certas.

Dessa forma, todas as atitudes consideradas pecados pela religião e/ou como um ato mal pela sociedade laica (por exemplo, um crime ou uma ação reprovável) nada mais são do que atos praticados por seres humanos que preferiram se apegar a bens terrenos e passageiros do que a bens espirituais e eternos.

O ato mal é uma preferência pela desordem. Enquanto que os atos bons são uma preferência pela ordem.

Compreenda que, mesmo tirando a religiosidade de uma pessoa ou de uma sociedade, o ato mal ainda segue essa lógica agostiniana. Por exemplo, uma pessoa que rouba aquilo que não é seu o faz porque está apegado ao bem roubado ou ao dinheiro que comprará algum bem temporal e criará uma ruptura na ordem que distribuiu aquele bem / dinheiro para outrem e não para ele.

O Problema do Mal Descomplicado: O Mal Físico

Deus, como um ser perfeito, também é justo. E Agostinho definia a justiça como dar para cada um aquilo que lhe é devido. Dessa forma, atos bons devem ser honrados e atos maus devem ser punidos!

Pode parecer que Deus esteja sendo cruel, mas, na verdade, a punição seria uma forma de reestabelecer a ordem perdida pelo ato mal, da mesma forma que funciona a justiça terrena: atos considerados ilegais são punidos de acordo com a gravidade do crime para que seja restabelecida a ordem perdida naquela sociedade.

Sendo assim, aquilo que chamamos de mal físico, como doenças e até a própria morte são penalidades permitidas por Deus para que a própria natureza reestabeleça seu equilíbrio, sua ordem.

Agostinho vai dizer que o mal físico entrou no mundo decorrente do pecado original, que foi a desobediência do ser humano (comeu do fruto proibido) e do seu orgulho (porque queria ser como Deus). Logo, todo o mal físico que ainda afeta a humanidade seria consequência das escolhas erradas feitas pelos primeiros seres humanos.

O Problema do Mal Descomplicado: Conclusão

Ao final desse artigo descomplicado sobre o problema do mal, pudemos perceber que o termo mal possui três compreensões. O mal não foi criado por Deus, mas é um não-ser, um defeito da criação, é a ausência de bem. O mal praticado é decorrente das escolhas erradas que fazemos, por darmos preferência aos bens temporais no lugar dos bens eternos. E, por fim, o mal físico é a pena que a raça humana recebeu por ter cometido o pecado, o mal moral, com vistas ao equilíbrio da ordem quebrada.

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Até a próxima tenham uma boa viagem!

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Referências

AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 2014.

WIKIPÉDIA. Verbete Maniqueísmo.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.