Mito do Cocheiro Descomplicado: Ética de Platão

Mito do Cocheiro Descomplicado: Ética de Platão

Olá, marujos! Hoje, explicarei o Mito do Cocheiro de Platão de um jeito descomplicado. Essa história serve como ilustração para o pensamento ético do filósofo, ou seja, como ele acredita que nós devemos agir para alcançarmos o bem. Vou narrar trechos do texto do mito do cocheiro aqui e, depois, explicar a interpretação ética que podemos fazer dele. Vamos lá!

Sobre Platão

Platão é um filósofo grego de Atenas, que viveu entre 427/428 a.C. e 348/347 a.C.

Platão era de uma família nobre, mas não quis seguir os caminhos da aristocracia ateniense. Mudou de vida quando conheceu Sócrates e o acompanhou até a morte de seu mestre.

Platão fundou uma escola para ensinar filosofia e chegou a viajar algumas vezes para tentar implementar suas ideias políticas em outras cidades antigas.

Para saber mais sobre sua vida e obra, acesse: Platão Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Mito do Cocheiro Descomplicado: A Alegoria

A Alegoria está presente do diálogo Fedro. Destaco aqui os dois principais trechos do texto:

“Sobre a natureza da alma, embora sua forma verdadeira ser sempre um tema longo e maior que um discurso mortal, deixe-me falar brevemente, e em uma figura. E que a figura seja composta – um par de cavalos alados e um cocheiro. […] O cocheiro humano conduz o seu em um par; e um deles é nobre e de raça nobre, e o outro é ignóbil [deplorável] e de raça ignóbil [deplorável]; e a necessidade de conduzi-los dá-lhe muitos problemas”.

“Como disse no início desta história, dividi cada alma em três – dois cavalos e um cocheiro; e um dos cavalos era bom e o outro mau: a divisão pode permanecer, mas ainda não expliquei em que consiste a bondade ou a maldade de cada um, e para isso irei agora proceder. O cavalo da direita é ereto e feito de maneira limpa; ele tem um pescoço alto e um nariz aquilino; sua cor é branca e seus olhos escuros; ele é um amante da honra, modéstia e temperança, e o seguidor da verdadeira glória; ele não precisa do toque do chicote, mas é guiado apenas por palavras e admoestações. O outro é um animal desajeitado e torto, posto junto de qualquer maneira; ele tem um pescoço curto e grosso; ele tem o rosto achatado e uma cor escura, com olhos cinzentos e tez vermelho-sangue; companheiro da insolência e do orgulho, de orelhas peludas e surda, dificilmente cedendo ao chicote e à espora”.

Em outras palavras, Platão está dizendo que a alma humana pode ser comparada a uma biga com cocheiro puxada por dois cavalos voadores, sendo um claro e um escuro. O cavalo claro é nobre e obediente, o cavalo escuro é de raça ruim e desobediente. Essa diferença traz dificuldades para o cocheiro conduzir a biga.

Mito do Cocheiro Descomplicado: Relação da Alegoria com a Tripartição da Alma

Em outras obras, Platão vai dizer que a alma humana é dividida em três partes: racional, irascível (ou impetuosa) e concupiscível (ou apetitiva).

Fazendo uma relação dessas três partes com o mito do cocheiro, podemos fazer a seguinte associação: a parte racional se refere ao cocheiro; a parte irascível se refere ao cavalo claro e a parte concupiscível se refere ao cavalo escuro. Essa associação é possível quando entendemos a função de cada parte da alma segundo Platão:

1. A função da parte concupiscível é desejar e ter vontade (para manter o corpo nutrido e garantir a reprodução da espécie). O cavalo escuro é o mais arredio, o mais difícil de se controlar, o mais desobediente. Da mesma forma, nós somos seres de vontades e desejos. Muitas vezes, essas vontades e desejos nos fazem agir de uma forma descontrolada, mesmo quando sabemos o que é o melhor para nós. Quem aqui nunca comeu ou bebeu demais mesmo a nossa “voz interior” dizendo que já era hora de parar?

2. A função da parte irascível é proteção e defesa do corpo. O cavalo claro é manso e obediente. Da mesma forma, nosso corpo tem a tendência de obedecer nossas ordens quando o assunto é autopreservação. Na maioria das vezes, se estamos em situação de perigo, nosso corpo reage para se defender. Ele também nos obedece quando temos que levantar todas as manhãs para trabalhar / estudar ou tomar banho no frio! A questão é que ele não faz isso por conta própria, ele precisa ser direcionado pela nossa “voz interior”, ela precisa dizer: vai lá e faz isso ou faz aquilo.

3. A função da parte racional é pensar e controlar as duas outras partes do corpo humano. E, na alegoria trabalhada aqui, quem faz a função de controle da biga é o cocheiro. É ele quem dá as ordens para os cavalos, é ele quem precisa ser mais rigoroso quando o cavalo escuro não quer obedecer. O cocheiro é a nossa “voz interior”, é a nossa razão!

Mito do Cocheiro Descomplicado: Como devemos agir?

No texto do Fedro, Platão dirá que a alma dos deuses também pode ser representada por uma biga com cocheiro e dois cavalos alados. A diferença é que os dois cavalos são nobres e isso permite que os deuses sempre tenham controle e possam voar sempre mais alto. Já o ser humano, como possui cavalos diferentes, têm dificuldade no controle e dificuldade de subir aos céus, tendo que sempre lutar para não cair na terra.

A comparação acima nos faz perceber que o objetivo da alma humana seria se assemelhar à alma dos deuses. Em outras palavras, buscar a perfeição; sendo que a perfeição estaria nas coisas celestes / imateriais e não nas coisas terrenas / materiais. Essa é mais uma referência à sua teoria das ideias e busca do mundo inteligível (onde estariam as essências das coisas).

Em outras palavras, Platão quer nos dizer que precisamos, através da razão, controlar nossas vontades, desejos e instintos de autopreservação. 

Nessa interpretação do mito do cocheiro costumamos dizer que as rédeas simbolizam o pensamento. Logo, a razão dá as ordens para as partes irracionais da alma através do pensamento.

A biga representa nosso corpo e ele está sendo puxado por dois cavalos que representam duas partes da alma que não possuem discernimento próprios. Ou seja, nosso corpo não faz nada sozinho, ele funciona por meio de funções irracionais. Contudo, existe uma parte racional (o cocheiro) que é capaz de guiar as partes irracionais (os cavalos) e, consequentemente, o corpo (a biga) para o caminho correto, para a perfeição.

Todas as vezes que desejamos fazer algo que pode ser considerado como descontrolado, por exemplo comer / beber demais ou colocar nossas vidas em risco, é sinal de que as partes irracionais de nossa alma estão descontroladas e estão levando nosso corpo para a queda, para a destruição. Cabe, nesse momento, à razão entrar em ação e, usando de pulso firme, colocar as coisas nos eixos.

Além disso, claro, os cavalos por si só não farão nada sozinhos. É o cocheiro que dá um direcionamento de caminho para eles puxarem a biga. Da mesma forma, é a razão que guia cotidianamente o nosso corpo pela estrada da vida, buscando sempre o melhor caminho a ser seguido, tendo sempre um objetivo, um destino, que seria a vida perfeita, a plenitude, a sabedoria.

Ensinando esse Conteúdo

Caso precise ensinar esse conteúdo em sala de aula e queira fazer alguma coisa diferente, recomendo a leitura do artigo: Ética de Platão através de um Jogo.

Mito do Cocheiro Descomplicado: Conclusão

Controlar o corpo não é tarefa fácil porque ele segue duas partes irracionais. A razão tem muito trabalho para conseguir conduzir nossas vidas para o caminho da verdade, da ciência. Platão nos mostra que já nascemos com essa dificuldade, mas que ela é superável porque a razão possui mais força que nossos desejos e instintos. Só não podemos perder o foco, o objetivo, a meta; senão, acabaremos destruídos.

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Até a próxima tenham uma boa viagem!

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Referências

PLATÃO, Phaedrus (inglês). Tradução de Benjamin Jowett. The Project Gutenberg, 2008. Disponível em https://www.gutenberg.org/files/1636/1636-h/1636-h.htm. Acessado em 27 jul. 2021.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.