Reflexão sobre A Semana da Minha Vida: Passividade e Segunda Chance

Reflexão sobre A Semana da Minha Vida: Passividade e Segunda Chance

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme musical A Semana da Minha Vida. Nesse filme, acompanhamos um jovem órfão rebelde que passará uma semana em um acampamento de verão cristão e verá sua vida mudar. Na reflexão, falarei sobre a distinção entre ser pacífico e ser passivo, e sobre o valor das segundas (ou muitas) chances na vida. Teremos spoilers de um acontecimento importante do final do filme na reflexão. Então, fiquem avisados. Vamos lá!

Sobre A Semana da Minha Vida (SEM Spoilers)

A Semana da Minha Vida (A Week Away) é um filme do gênero musical da Netflix que estreou esse ano (2021). Ele tem uma pitada de romance e comédia também. A grande diferença para os demais filmes do gênero é que ele tem um fundo cristão.

Na história, acompanhamos o jovem Will Hawkins (Kevin Quinn). Ele é órfão desde novo (os pais morreram em um acidente). Ele vive fugindo das famílias adotivas e aprontando confusão na cidade.

O oficial de justiça estava decidido a mandá-lo para o reformatório quando Kristin (Sherri Shepherd), uma candidata a mãe adotiva, oferece a Will a oportunidade de passar um fim de semana em um acampamento de verão. Will aceita porque aquilo seria melhor que o reformatório, mas ele não esperava que o acampamento fosse de cunho religioso cristão e várias atividades envolveriam a palavra de Deus.

Reticente no começo, ele acaba se aproximando de George (Jahbril Cook), que é filho de Kristin e seu colega de alojamento. Ele também conhece Avery (Bailee Madison), filha do dono do acampamento, e acaba se apaixonando por ela.

Durante o filme, vamos acompanhando a mudança de Will e também os problemas causados pelo seu passado. Tudo isso embalado por músicas leves e divertidas que pregam, de modo geral, o amor de Deus (e não uma doutrina religiosa).

Reflexão sobre A Semana da Minha Vida: Ser Pacífico não Significa ser Passivo

O acampamento de verão do filme é dividido em três grandes equipes: a vermelha, a azul e a verde. Ao longo da semana, eles passam por várias atividades competitivas e disputam o título de campeão do acampamento daquele ano.

A atividade competitiva que mais recebeu enfoque no filme foi um torneio de paintball, que gerou cenas engraçadas como os adultos David (David Koechner), dono do acampamento, e Kristin incentivando os jovens a competirem ao mesmo tempo que não esquecessem os valores cristãos.

Durante essa semana, eu parei para refletir se não existiria uma contradição entre os valores cristãos e uma competição. Será que não seria errado disputarem alguma coisa entre eles? Buscar a vitória sobre o outro parece uma coisa muito “mundana”, que não se relaciona com os mandamentos divinos.

Só que depois, eu criei em minha cabeça uma distinção entre pacificidade e passividade, e acho que ela serve bem para mostrar como uma competição não contradiz a religião cristã.

A religião cristã prega a pacificidade. Ou seja, eles defendem a Paz. São contra lutas, disputas, guerras, em um contexto de que exista o domínio de alguém sobre outros. Mas ser a favor da paz, não significa ser passivo diante da vida. 

Ser passivo, nesse contexto, é escolher não fazer nada. É evitar qualquer tipo de disputa, competição. É ser resignado (suporta um mal sem se revoltar). E não é isso que os cristão esperam dos seus fieis.

Se pensarmos na história do povo cristão, eles lutaram contra os romanos que os perseguiram e eles também promoveram cruzadas por acreditarem que estavam libertando os lugares santos dos infiéis. Se olharmos para a filosofia de Santo Agostinho, veremos que ele defende a chamada “guerra justa”, que seria o confronto para se defender de uma agressão ou agir de iniciativa para acabar com um ato de opressão.

Levando isso em consideração, não existe problema em existirem competição (esportivas ou não esportivas) se o intuito é estimular as pessoas a darem os seus melhores dentro das regras e da ética.

Ter uma competição dentro de um acampamento cristão não está estimulando as pessoas a desenvolverem atitudes negativas. Ao contrário, essas competições servem como forma de medir o quanto cada pessoa consegue se controlar para competir de forma honesta ou não.

Se observarmos nossas vidas, nós dizemos que somos ótimas pessoas. Mas sabemos que isso só será comprovado mediante um teste, uma situação em que teremos que praticar aquilo que dizemos que somos. As competições são ótimas formas de medirmos se realmente conseguimos fazer de fato aquilo que acreditamos ser capazes.

Puxando da minha memória, lembrei que, quando criança, na catequese católica que frequentava, existia a gincana bíblica, em que estudávamos um livro da Bíblia durante um mês e disputávamos com outras turmas da igreja para ver quem acertava mais perguntas sobre o tema. No final, tinha um vencedor. Mas todos ganhávamos os mesmos prêmios, para mostrar que não existe ninguém melhor ou pior que o outro.

Reflexão sobre A Semana da Minha Vida: Todos Merecem uma Segunda (ou Mais) Chances

Will, antes de ter ido para o acampamento, já tinha se metido em várias confusões com a justiça e passado por vários lares adotivos. Ele tinha perdido a sua última chance e iria para o reformatório. Mas não foi isso que ocorreu…

Na história, apareceu alguém para lhe dar mais uma chance. Claro que isso faz alusão ao conceito teológico do perdão de Deus, que sempre está disposto a nos receber se nos arrependermos dos nossos pecados. Porém, mesmo se tirarmos a parte teológica (se isso lhe incomoda), podemos olhar para isso de forma secular e pensar na necessidade de dar outras chances para as pessoas. 

Sócrates e os estoicos diziam que as pessoas cometem atitudes ruins por ignorância. Livrar alguém da ignorância não é fácil. Quantas vezes já não dissemos para alguém não repetir os mesmos erros e ela acaba repetindo… No fundo, sabemos que não é proposital e sim porque algo faz com que a pessoa teime em agir sempre da mesma forma. Mudar não é fácil.

Se Kristin não tivesse dado mais uma chance para Will, provavelmente ele teria ido para o reformatório e correria um sério risco de se corromper totalmente. O que era apenas uma rebeldia juvenil poderia se transformar em uma mentalidade criminosa (fato que frequentemente é relatado por pessoas que são presas por coisas pequenas a acabam “virando bandido de fato” dentro da cadeia).

Will reluta bastante durante o filme com essa nova chance. Ele chega ao ponto de desistir e voltar para seu caminho do erro. Porém, o amor de Avery  o faz persistir no bom caminho. Isso nos leva a pensar que o exemplo e a companhia são as melhores formas de fazer alguém conseguir mudar de atitude. Não adianta só pedir para alguém mudar, você também tem que dar o exemplo, mostrar que de fato se importa e que aquilo é bom para todos.

A filosofia clássica compreende que todos tem vocação para o bem. Só que as corrupções da vida acabam nos cegando para isso.

Ah! E TODOS estão sujeitos à queda, ao tropeço, mesmo quando parecem estar bem encaminhados. Isso é mostrado no personagem Sean (Iain Tucker), que é um exemplo na comunidade pelo seus programas de caridade e pelo seu temor a Deus, mas que não aguentou a competição e acabou infringindo as regras, expondo o passado de Will como forma de humilhá-lo.

Não existe ser humano perfeito (tirando Jesus, para os cristãos, e também Maria, para os católicos). Dessa forma, temos sempre que lembrar que “nossos telhados também são de vidro e, por isso, não podemos atirar pedra no telhado dos outros”. 

Reflexão sobre A Semana da Minha Vida: Conclusão

A Semana da Minha Vida pode ser considerado um típico filme de sessão da tarde. História leve, divertida, para toda a família. Mas isso não impede dele nos levar a pensar algumas coisas interessantes. O foco principal do filme é no amor de Deus. Já o meu foi na questão da coexistência da competição e dos valores cristãos, e da necessidade de darmos novas chances às pessoas (especialmente mostrando que nos importamos com elas).

E aí? O que você achou de A Semana da Minha Vida? Deixa sua opinião nos comentários! Conhece algum fã do filme ou que precisa entender o valor da segunda chance? Compartilha essa reflexão sobre A Semana da Minha Vida com ela! Quer sugerir outros filmes com uma “pegada cristã” para reflexão no blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.