Simone de Beauvoir Descomplicada: Biografia e Filosofia

Simone de Beauvoir Descomplicada: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje, apresentaremos a vida e filosofia de Simone de Beauvoir de uma forma descomplicada. Mostraremos os principais pontos da vida dessa filósofa francesa contemporânea e trabalharemos de forma resumida suas principais contribuições para a filosofia, com links para artigos mais completos. Vamos lá!

Simone de Beauvoir Descomplicada: Biografia

Infância, Juventude e Formação

Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir nasceu em 09 de janeiro de 1908 na cidade de Paris, França.

Simone era de uma família classe média alta. Por isso, na infância, foi estudar em uma escola católica privada para meninas da alta sociedade. Desde o começo, Simone se destacava nos estudos, sempre ficando em primeiro lugar.

Porém, em 1918, logo após a primeira guerra mundial, quando Simone tinha 10 anos, os negócios de sua família faliram e eles se tornaram pobres. Esse baque gerou duas grandes consequências: a família teve que se mudar para um lugar extremamente humilde, e o casamento dos pais de Simone também começou a se deteriorar.

Devido a essa nova situação financeira, Simone não poderia mais ser “preparada” para o casamento. Agora, ela teria que trabalhar. O problema não era sua capacidade intelectual, mas os limites educacionais franceses da época, que limitavam as possibilidades de estudo das mulheres (dando muito mais oportunidades para os homens).

Aos 17 anos, em 1925, Simone ingressa na Universidade de Sorbonne. Ela queria fazer filosofia, mas, para agradar sua família, foi estudar letras e matemática. Nessa época, Simone já tinha abandonado a fé cristã de sua família, mas não revelara isso ainda.

Durante seus estudos de literatura francesa, ela se aproxima do professor Robert Garric. Garric era socialista e humanista e tinha um movimento chamado Equipes Sociais, que levava cultura para a classe trabalhadora. Simone se encantou pela pessoa e pelo trabalho do professor.

Concluído seus cursos em literatura e matemática, ela começa a se dedicar à Filosofia, obtendo em 1928, aos 20 anos, o Bacharelado em Filosofia. Também é nessa época que ela conhecerá Jean-Paul Sartre, com quem ela terá uma relação descrita como livre e igualitária; em suas palavras, um “amor necessário”.

Trabalho como Professora de Filosofia

Em 1929, aos 21 anos, Simone se torna professora de filosofia. Como curiosidade, ela ganha o apelido de Castor porque Beauvoir se assemelha à palavra beaver (que em inglês significa castor).

Em 1931, ela foi designada para uma escola na cidade de Marselha enquanto Sartre foi designado para uma escola em Le Havre. Temendo a separação, Sartre propõe casamento a Simone, mas ela rejeita o pedido de imediato, mesmo lamentando o distanciamento. Para ela, se casar com Sartre seria aceitar uma nova condição social que tiraria sua independência e a posição de igualdade que tinha com ele; e isso iria destruir a relação dos dois. Felizmente, no ano seguinte, Simone conseguiu uma transferência para um colégio próximo do colégio de Sartre.

Nessa época, ocorreu uma das questões mais polêmicas sobre a vida pessoal de Simone de Beauvoir: o grupo conhecido como “a pequena família” ou “os pequenos camaradas”. Basicamente, é relatado que Simone manteve relacionamentos amorosos com alguns de seus alunos e alunas menores de idade e também apresentou esses alunos a Sartre, que também tinha um grupo de alunos. Dessa forma, se formou um grupo cujos membros mantinham relações amorosas entre si.

Em 1936, aos 28 anos, ela conseguiu transferência para uma escola em Paris. Seus anos como professora em Paris foram conturbados e polêmicos. Ela foi suspensa em 1939 por manter um caso amoroso com uma aluna e, depois, demitida em 1943 pelo mesmo motivo, mas com outra aluna. Ela até chegou a ser readmitida em 1945, mas nunca mais lecionou.

Dessa forma, Simone foi trabalhar na Rádio Nacional organizando programas dedicados à música.

Consagração como Escritora

Em 1943, aos 35 anos, ela publicou A convidada, seu primeiro livro(sendo que ele era seu segundo romance escrito). Seu primeiro romance foi recusado em 1937 e 1939, só sendo publicado em 1979 com o título Quando o Espiritual Domina.

Em 1945, aos 37 anos, funda a revista Tempos Modernos junto com Sartre e outros intelectuais de esquerda. A proposta da revista era divulgar a filosofia existencialista através da literatura contemporânea.

Simone, no entanto, não se limitou a escrever para a revista e publicou vários livros sobre diferentes temas. Com isso, ela foi conquistando uma fama que lhe permitiu a independência financeira e a possibilidade de viver exclusivamente como escritora. Nesse período, ela também viajou para diversos países e conheceu várias personalidades comunistas.

A sua consagração se deu em 1949, quando ela tinha 41 anos, ao publicar o famoso livro O segundo sexo, onde aborda sua teoria de construção social do ideal de mulher que acabou por inferiorizá-las. O livro vende mais de um milhão de cópias pelo mundo e desperta diversas críticas e elogios, inclusive com manifestação negativa do Vaticano. Até hoje, esse livro é considerado um dos pilares teóricos dos movimentos feministas.

Em 1954, aos 46 anos, ela ganhou o prêmio Goncourt, o mais prestigioso prêmio de literatura na França, pela obra Os mandarins. Nessa época, Simone é uma das autoras mais lidas do mundo.

Em 1958, aos 50 anos, ela começa a escrever sua autobiografia, onde apresenta ao público sua infância, suas dificuldades e lutas para se emancipar da condição que lhe impuseram e sobre seu relacionamento aberto com Sartre. Ao todo, serão seis livros que ela escreverá sobre sua vida.

Em 1964, aos 56 anos, ela conhece uma jovem estudante de filosofia chamada Sylvie Le Bon. As duas começam uma relação que durará até o final da vida de Simone, que chegará a adotar a jovem e lhe entregar os direitos morais sobre sua obra.

Lutas Sociais, Trabalho Editorial e Morte

Em 1971, aos 63 anos, Simone, junta com Gisèle Halimi, fundaram o movimento Choisir (cujo nome completo traduzido é Escolha a causa das mulheres) que lutou pelo direito à interrupção voluntária da gravidez e foi fundamental pela legalização do aborto na França.

Simone também participou como diretora editorial da revista feminista Questões feministas entre 1977 e 1980, quando a revista acabou. Depois, em 1981, ela assumiu o cargo de diretora de outra revista feminista, a Novas questões feministas, ficando no cargo até sua morte.

Simone de Beauvoir morreu aos 78 anos de pneumonia em casa no dia 14 de abril de 1986. Seu túmulo está no cemitério de Montparnasse em Paris, ao lado do túmulo de Sartre.

Simone de Beauvoir Descomplicada: Filosofia

Existencialismo

Assim como Sartre, Simone de Beauvoir era adepta da corrente filosófica conhecida como existencialismo.

Basicamente, podemos dizer que o existencialismo defende a liberdade e autonomia do ser humano para tomar suas decisões no mundo e ser responsabilizado por elas.

Dessa forma, não existiria uma determinação prévia, uma essência que condicionaria nossas ações. Logo, seríamos livres para fazermos escolhas sobre nossas vidas, moldando quem nós somos. Ao mesmo tempo, também existiria uma responsabilidade em tudo aquilo que fizéssemos já que o único responsável por nossos atos seríamos nós mesmos.

Simone aborda essas questões éticas em seus diversos romances e ensaios. Seu livro Por Uma Moral Da Ambiguidade é considerado uma ótima introdução ao tema existencialista para iniciantes.

Feminismo

Simone foi uma árdua defensora dos e lutadora pelos direitos femininos. Ela pode ser considerada uma das grandes personalidades da segunda onda dos movimentos feministas, que se caracterizam por uma pauta específica das mulheres, por questões que dizem respeito somente a elas (como direito ao aborto) e crítica ao patriarcado, entendido como uma construção social machista que acaba enxergando toda a sociedade pelo olhar privilegiado do homem.

No seu famoso livro O segundo sexo, Simone de Beauvoir faz um estudo sobre a sociedade ocidental e percebe como a mulher sempre foi tradada como “o outro”. Ou seja, os homens viam as mulheres como alguém muito diferentes deles e as envolviam em uma aura de mistério e desconhecimento, quase que um ser exótico. Com isso, os homens eram incapazes de enxergarem as mulheres como iguais a eles e, por conseguinte, possuírem plenamente seus direitos atendidos.

Aplicando sua visão existencialista à construção do conceito de feminilidade, De Beauvoir irá dizer a famosa frase “não se nasce mulher: torna-se”. Ou seja, a construção da identidade feminina ocorre dentro da sociedade, quando diversos atributos e atribuições são definidos para o indivíduo baseando-se no seu sexo biológico.

Crítica desse comportamento, Simone irá relatar diversos problemas dessa mistificação da mulher, que acabará sendo obrigada socialmente a ter alguns papéis sociais e impedida de ter outros simplesmente porque nasceu mulher.

Sua obra será fundamental para a elaboração da teoria de gênero e luta por mais direitos femininos.

Simone de Beauvoir Descomplicada: Principais Obras e Comentários

               

Simone de Beauvoir Descomplicada: Conclusão

Concluímos esse texto destacando a relevância de Simone de Beauvoir para a filosofia existencialista e para a luta feminista. Sua vida teve muitas controvérsias porque suas práticas não condiziam com a moralidade aceita naquela época e, em muitos casos, ainda hoje. Em vez de concordar ou discordar, deixo as coisas relatadas para que cada pessoa tire suas próprias conclusões, lembrando sempre que não é bom relacionar o valor profissional de uma pessoa com atitudes que ela toma em sua vida privada.

E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre Simone Beauvoir? Compartilha! Quer uma reflexão sobre outras filósofas? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Qual foi a parte mais interessante sobre Simone de Beauvoir que você aprendeu nesse artigo? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Simone de Beauvoir Descomplicada: Referências

WIKIPÉDIA. Verbete Simone de Beauvoir (francês e português).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.