Reflexão sobre The Umbrella Academy: Uma Família com Sérios Problemas com o Pai

Reflexão sobre The Umbrella Academy: Uma Família com Sérios Problemas com o Pai

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre The Umbrella Academy, uma série de irmãos super-heróis totalmente problemáticos que precisaram se reunir novamente para combater o apocalipse (fim do mundo). O maior problema é que essas crianças foram adotadas desde bebê por um excêntrico milionário que às tratou mais como time de heróis do que como filhos, e isso deixou sérias marcas no psicológico das crianças. Nessa reflexão, vamos falar um pouco sobre os problemas de cada filho e da sua relação com o pai, e perceber como isso moldou cada um deles. Vamos ter spoilers da série, especialmente da vida e dos acontecimentos relacionados a cada um dos filhos. Vamos lá!

Sobre The Umbrella Academy

The Umbrella Academy é uma série americana da Netflix inspirada na HQ de mesmo nome da Dark Horse (curiosidade: o ilustrador dessa HQ é o brasileiro Gabriel Bá). A série estreou em 2019 e recentemente lançou a segunda temporada.

A história se passa em uma realidade fictícia. Nessa realidade, misteriosamente, 43 crianças nasceram em 1989 de mulheres que ficaram grávidas do nada. Também sem explicações, um excêntrico milionário tentou adotá-las, conseguindo realizar o feito com sete dessas crianças.

Depois, descobrimos que essas crianças possuem poderes especiais, fato que o milionário Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) já sabia. Compreendemos que ele adotou e criou as crianças para serem um grupo de super-heróis que ajudariam as pessoas e salvariam o mundo. O nome da casa, que também é o local de treinamento, é Umbrella Academy (daí o nome da série).

Nos dias atuais, descobrimos que os irmãos se separaram. Cada um foi viver a sua vida e guardam traumas da sua infância, especialmente problemas com o pai. Conduto, acabam se reencontrando porque descobrem que o pai morreu.

Nesse reencontro, para piorar tudo, descobrem que a morte do pai não foi natural e que o mundo irá acabar em alguns dias. Mesmo a contragosto, eles decidem se unir novamente para descobrir quem matou o patriarca da família e como impedir o apocalipse.

Reflexão sobre The Umbrella Academy: Casos de Família

Como eu disse na apresentação do artigo, todos os filhos têm problemas com o pai. O principal motivo é meio óbvio: Reginald não era um pai amoroso, mas sim um exigente treinador. Para ter uma ideia, Reginald não deu nomes para os filhos, chamando-os apenas por números (os nomes que eles usam, foram eles mesmo que se deram depois de grandes).

Os filhos nunca se sentiram filhos, mas apenas soldados em treinamento. Somado a isso, cada um deles possui poderes não tão comuns e a forma de treiná-los para usá-los e dominá-los não foi a das mais simples.

Agora, vou falar um pouco sobre cada filho. Sobre seus problemas paternos e como isso os afetaram.

Número Um / Luther Hargreeves

Luther (Tom Hopper) tem o poder da força. Esse é um dos poderes mais “normais” da série. Ele foi considerado o líder do grupo e, por isso, se sente o irmão mais velho, com a missão de proteger a todos.

Luther foi o único filho que não abandonou a Umbrella Academy. Ele só não estava próximo quando o pai morreu porque estava por quatro anos em uma missão na lua, a pedido do seu pai.

Quando a família se reúne, Luther é aquele que sempre tenta passar “panos quentes” sobre as atitudes do pai. Ele sempre defende o velho, tentando convencer os demais de que tudo o que o pai fez foi para o bem deles e da humanidade. Luther sempre apela pelo senso de responsabilidade. Sua atitude me recorda muito daquela famosa frase “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades” do homem-aranha.

As coisas começam a mudar um pouco quando ele descobre que a sua missão na lua era falsa. Ou seja, o seu pai lhe mandou para lá à toa, sem nenhum motivo. Todos os quatro anos que ele passou lá, coletando e enviando dados para a Terra foram totalmente ignorados (as amostras lunares e os dados estavam ainda lacrados e escondidos sob o chão da casa).

Não fica claro o motivo disso, mas Luther percebeu nesse momento que nem tudo o que o seu pai fazia tinha realmente um propósito. Ele começa a desconfiar que tudo poderia ter sido apenas um grande experimento do velho e eles sempre foram uma espécie de cobaias.

O curioso é que, mesmo com tudo isso revelado, Luther não muda de atitude porque aquilo que ele viveu já tinha moldado sua personalidade. Durante a missão de evitar o apocalipse ele ainda agiu da mesma forma maquiavélica, ao estilo “os fins justificam os meios”, colocando o coletivo acima de si mesmo e da sua família.

Número Dois / Diego Hargreeves

Diego (David Castañeda) tem o poder de manipular a trajetória dos objetos que ele arremessa. Ele acabou se especializando em facas, que é uma arma que funciona muito bem com o seu poder.

Diego guarda a sina do segundo irmão. Como segundo irmão, ele não tem a mesma atenção dada pelo pai ao “primogênito” (que nesse caso, seria Luther). Isso fez com que ele passasse a sua infância tentando chamar a atenção do pai, até desistir.

No grupo, ele meio que ocupa a função do vice-líder, que também não é legal. Essa função normalmente diz que você só serve para alguma coisa quando o líder não está, e, mesmo nessas horas, todos querem que você aja tal qual o líder e nunca com seu pensamento próprio. Dessa forma, Diego sempre está na sombra de Luther.

Descobrimos que Diego saiu de casa (foi o último) e vive em uma academia, como vigia / faz-tudo. Contudo, sua principal atividade é ser uma espécie de vigilante, salvando as pessoas dos criminosos comuns, ajudando a polícia, mesmo ela não querendo isso.

Diego não gosta de seguir as regras e a burocracia. Ele quer sempre partir para a ação. Como lhe é dito, ele possui o “complexo de herói”: sempre acha que ele é o único que pode salvar o mundo. Isso claramente é reflexo dos seus problemas paternos.

Sua atitude de não respeitar as regras está intimamente ligada com o fato de as regras que ele sempre ouviu de seu pai lhe colocavam como segundo, obediente e subordinado a Luther.

Sua atitude de herói nada mais é do que reflexo da sua tentativa de chamar a atenção do seu pai. Diego precisa fazer coisas heroicas porque precisa se sentir útil e que alguém reconheça o seu esforço, o parabenize e diga que é bom. Coisas que nunca aconteceram porque seu pai não lhe dava méritos nas missões.

Número Três / Allison Hargreeves

Allison (Emmy Raver-Lampman) tem o poder de convencer as pessoas a fazerem aquilo que ela quer. Ela começa uma frase com “Eu ouvi dizer / Eu ouvi um boato…” e tudo o que ela diz para a pessoa, a pessoa faz. Por exemplo, ela diz “eu ouvi um boato de que você caiu no chão” e na hora a pessoa se joga, como se tivesse tropeçado em algo.

Ela saiu de casa e se tornou uma atriz famosa. Outro fato de sua vida é que ela é divorciada. Tem uma filha, mas ficou com o pai.

Parece que na disputa da guarda, o marido a acusou de usar os poderes dela para fazer a filha obedecer. E isso ocorreu mesmo. Allison alega que a primeira vez foi depois de um dia estressante, que saiu quase que automático, um tipo de “cala a boca”. Mas depois ela acabou se viciando nessa facilidade.

Com relação ao pai, o maior problema de Allison foi a proibição de viver um romance com Luther. Sem entrar na polêmica sobre irmãos de criação poderem namorar, o fato é que os dois se gostavam, mas Reginald proibiu. Luther conseguiu superar, mas Allison não.

Allison foi a única filha que teve um relacionamento “estável”. Até mesmo na segunda temporada, quando eles viverem uma espécie de outra realidade, ela será a única que novamente casará. Esse fato tem muita relação com a proibição que seu pai lhe impôs. Podemos analisar que o fato dela se envolver muito rápido em um relacionamento tem como motivo inconsciente a busca pela satisfação emocional que lhe foi privada.

Como ela não pode amar quem ela quis, ela busca logo em outra pessoa esse amor, para tentar esquecer seus impulsos, que o pai lhe fez parecer como imorais.

Número Quatro / Klaus Hargreeves

Klaus (Robert Sheehan) tem o poder de ver e falar com pessoas mortas. Um poder que ele considera perturbador e inútil.

Ele é o filho que faz questão de dizer que odeia o pai. Também, imagina: o pai trancava a criança em um mausoléu, cheio de pessoas mortas, para obrigá-lo a se acostumar com o poder e aprender a controlá-lo. Que criança não iria odiar seu pai por isso?

Depois que ele conseguiu sua liberdade, Klaus se afundou nas drogas. Essa foi a única (ou talvez a mais fácil) forma de “calar as vozes em sua cabeça”. Ou seja, Klaus se tornou um viciado por culpa do radicalismo de seu pai.

O que Klaus viveu não é muito diferente de muitos casos reais, em que filhos acabam indo para as drogas como forma de fugir dos problemas domésticos. Ou entram nessa vida porque tiveram que sair de casa devido a problemas domésticos.

A vida que Klaus resolveu levar está intimamente ligada com a falta de compaixão de seu pai e entender a complexidade do poder do filho e a imaturidade natural da criança para lidar com aquilo.

Número Cinco

Cinco (Aidan Gallagher) tem o poder de viajar no espaço e no tempo. Ele não possui um nome porque ele desapareceu antes de ter a independência de se libertar do pai e escolher um nome para si.

Cinco desapareceu ainda criança porque desobedeceu o pai e viajou no tempo sem a devida preparação. Ele precisou passa vários anos (acho que mais de quarenta) viajando no tempo para tentar achar o caminho de casa. Quando ele conseguiu, acabou voltando para o corpo de criança. Então, temos um adulto em corpo de criança, o que gera situações bem engraçadas.

Cinco também achava que seu pai era distante e pouco amoroso, mas não chegou a odiá-lo. São dois os motivos: 1. Ele conviveu menos tempo com o velho do que os outros (e acabou sofrendo menos com as ações ruins do pai); 2. Ele desobedeceu o pai e se deu mal!

Cinco representa aquele filho que testou o pai, desafiando-o e viu que o problema é real. Depois disso, ele acaba vendo sentido em tudo o que o pai havia dito. Cinco meio que reconheceu os motivos de seu pai e lhe deu crédito porque ele “se ferrou” ao desobedecê-lo.

Número Seis / Ben Hargreeves

Ben (Justin H. Min) tem o poder de projetar tentáculos monstruosos de sua barriga que atacam os inimigos. A grande questão é que ele morreu e não se explicou até agora como.

Nós conhecemos um pouco sobre ele quando é mostrado o time trabalhando no passado e também através do seu irmão Klaus (lembra que o Klaus consegue ver fantasmas?).

Ben é do tipo calado então não temos nada sobre ele.

Número Sete / Vanya Hargreeves

Vanya (Ellen Page) tem o poder de controlar o som. No caso, ela usa as ondas sonoras de várias formas: proteção, ataque e até criação de sentimentos. Parece que seu poder é muito forte e até mesmo incontrolável quando ela está emocionalmente abalada.

O fato de existir esse poder todo em uma criança instável fez com que Reginald usasse o poder de Allison (lembra que ela pode convencer qualquer um de fazer qualquer coisa?) para fazer Vanya esquecer que possuía um poder e pensar que era uma criança normal.

Para piorar, se aquilo que ele já tinha feito não fosse o bastante, o velho ainda fez questão de colocar a filha de lado já que ela “não tinha poderes”. A menina virou uma sombra na família, sempre ignorada. Só os demais eram importantes. Até das fotos de família Vanya ficou de fora. Isso fez com que ela crescesse amargurada com o pai e até com os irmãos.

Vanya é o filho esquecido, aquele que “não fede, nem cheira” e que os pais acabam até esquecendo que ele existe. Isso é muito ruim e muito triste porque todas as pessoas possuem algum potencial e algo para mostrar. Só que muitos pais, ao dividirem o seu tempo, acabam priorizando os filhos extremamente bons ou extremamente ruins, e aquele que é “normal” acaba sendo ignorado.

Esse abandono emocional sofrido por Vanya refletiu totalmente em quem ela é. Ela é uma mulher bonita que não se arruma, não se maquia, não usa roupas que a valorizam. Ela tem uma profissão medíocre de violinista de quarta fila mesmo tendo habilidade. Ela não possui confiança em si mesma porque seu pai fez questão de dizer que ela não serve para nada.

Como alguém vai acreditar em si mesmo se todo mundo, especialmente seu pai, lhe diz que você não possui potencial para nada? Infelizmente, isso ocorre em muitas famílias e muitos filhos, que poderiam ser muito bons em algumas coisas, desperdiçam seus potenciais porque os pais lhes disseram que aquilo que eles faziam ou gostavam “não dava futuro” ou “não servia para nada”.

Nessas horas, eu lembro de muitos alunos com potencial para artes, tecnologia ou e-sports que não possuem o apoio dos seus pais e tem seus taletos desperdiçados porque os pais não veem isso como carreira ou profissão.

Reflexão sobre The Umbrella Academy: Conclusão

No final dessa reflexão sobre The Umbrella Academy, percebemos que a função de pai é essencial na vida de uma pessoa, seja para o bem ou para o mal. Mesmo quem não pôde conviver com o seu pai, provavelmente teve essa função exercida pela própria mãe ou outro membro próximo. Graças a Deus eu tenho um pai muito bom, que me ensinou muito sobre o que é seu um homem (não só no sentido masculino, mas também no sentido de ser humano). Com certeza esse blog, essa missão de ajudar as pessoas a aprenderem e gostarem de filosofia, tem na sua essência o ensinamento que recebi dele de, dentro das possibilidades, ajudar as pessoas com os seus dons. Pai, obrigado por tudo. Te amo!

E aí? Seu pai foi seu herói ou seu bandido? Deixa nos comentário! Gostou dessa reflexão sobre The Umbrella Academy? Compartilha essa reflexão com seu pai ou com seu amigo que é fã da série The Umbrella Academy! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.