Reflexão sobre O Dilema das Redes: Você Não Vale Nada, mas Eu Gosto de Você...

Reflexão sobre O Dilema das Redes: Você Não Vale Nada, mas Eu Gosto de Você…

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre o polêmico O Dilema das Redes. Esse documentário da Netflix veio mostrar através de dramatizações e entrevistas com especialistas como as mídias sociais (conhecidas popularmente como redes sociais) conseguem nos viciar no seu uso e como ela consegue, após nos deixar viciados, nos influenciar. O documentário em si é uma reflexão sobre o problema do uso exagerado das redes sociais, mas eu gostaria de tecer alguns comentários sobre as partes que mais me chamaram a atenção na esperança que possa contribuir com esse debate. Eu não sei se podemos dizer que existe spoilers em documentário, mas já adianto que todo o artigo será em cima de colocações ditas no documentário. De qualquer forma, não precisa tê-lo visto para aproveitar o artigo. Vamos lá!

Sobre O Dilema das Redes

O Dilema das Redes é um documentário americano da Netflix lançado em 9 de setembro de 2020. Podemos dividi-lo em quatro frentes:

De um lado, aparecem entrevistas com ex-funcionários de grandes redes sociais que mostram como é o pensamento dessas empresas e como funcionam as táticas para conseguir viciar as pessoas nelas. Do outro lado, são entrevistados diversos especialistas e professores que vão apresentando os problemas que as redes sociais causam nas pessoas e nas sociedades.

Intercalado com essa parte teórica, vemos a dramatização de um família típica americana e como ela interage com as redes sociais e como elas a afeta, especialmente focando nos filhos mais novos. Além dessa encenação, também existe uma encenação de como seria o funcionamento interno de uma rede social, se a inteligência artificial fossem pessoas operando uma máquina (algo muito semelhante ao que foi feito no filme Divertidamente).

Reflexão sobre O Dilema das Redes: Se você não estão comprando um produto, você é o produto!

Essa declaração feita logo no começo do documentário nos choca e já dá o tom do que está por vir. Já diziam os ditados que “nada nessa vida é de graça” e “quando a esmola é muita o santo desconfia”.

É aquilo: todo mundo acha que é esperto quando consegue as coisas com facilidade. A coisa mais fácil que existe é enganar malandro quando você faz parecer que é ele que está te passando a perna.

E eu pergunto: alguém aqui já parou para ler os termos de uso de uma rede social, ou de qualquer site que você se cadastra ou aplicativo que você instala no seu celular? Provavelmente não. E mesmo se lesse, ainda assim iria aceitar porque você “não quer ficar de fora”. E é nesse momento que você vende a sua “alma virtual” para essas empresas…

Tudo o que é feito comercialmente tem a intenção de ganhar dinheiro de alguma forma. E como não é através de compra do acesso e nem assinatura de plano, você paga com seus dados pessoas, que serão usados de forma anônima (pelo menos é isso que eles dizem) para oferecer anúncios personalizados (anúncios esses pagos por outras empresas às redes sociais, sendo essa a fonte de renda delas).

E aí me veio a questão: se você pudesse pagar para parar de ver anúncios e de ter os seus dados coletados, você pagaria? Ou deixaria como está? Responde lá nos comentários!

Reflexão sobre O Dilema das Redes: As Redes Sociais Querem o seu Tempo

Atire a primeira pedra quem nunca ficou à toa rolando o feed do seu Instagram ou Facebook… Pois é. Você caiu na armadilha das redes sociais. É exatamente isso que eles querem. Quando mais tempo nelas, mais anúncios você vê. Simples assim.

O que mais impressiona é o aparato de estratégias que existem para que as redes sociais de prendam e te façam voltar a usá-las quando você para. É para se sentir um otário… mas calma aí que já volto porque acabei de receber uma notificação no meu celular…

Reflexão sobre O Dilema das Redes: As Redes Sociais Vendem Certezas

O que faz uma rede social ganhar muito dinheiro é ter muita empresa pagando anúncios dentro dela. E isso só acontece quando os anúncios dão resultados. E é essa certeza de resultados que faz com que as empresas coloquem muito dinheiro do seu marketing nas redes sociais.

E como as donas das redes sociais conseguem garantir que um certo anúncio vai ter muitos cliques? Coletando muitas informações sobre nós para que só recebamos anúncios que realmente nos interessam.

Quem aqui já não passou pela experiência de após pesquisar um produto ele começar a aparecer em todo o site que você entra? Atualmente, a estratégia mais mirabolante e “macabra” das redes sociais é “escutar” suas conversas e mandar anúncios baseados naquilo que você conversou perto dela… sinistro!

Reflexão sobre O Dilema das Redes: A (Falta de) Privacidade na Rede

As Redes Sociais seguem aquilo que é denominado Capitalismo de vigilância. Esse modelo de capitalismo, proposto pela acadêmica Shoshana Zuboff, baseia-se na extração massiva de dados de acesso e de uso na Internet (não só nas redes sociais).

A justificativa de todas as empresas que coletam seus dados de uso é sempre a mesma: melhorar a sua experiência. Se eu disser que isso não existe, estaria mentido. Até porque uma das características mais importantes da tecnologia na atualidade é a UX (sigla em inglês para “experiência do usuário”). E realmente as empresas querem melhorar a forma como você usa um site, aplicativo ou programa.

O problema é quando esses dados são usados apenas para nos vender produtos ou, pior, vender o nosso futuro. Essa extrapolação existe porque a quantidade de dados coletados é tanta e tão complexa, que os algoritmos (os códigos que processam as informações dos programas por trás das redes sociais, site, aplicativos etc.) conseguem fazer previsões acertadas sobre decisões futuras nossas e até decisões coletivas.

Existe um caso famoso dentro dessa área da ciência da informação em que um site americano “descobriu” que uma usuária estava grávida e lhe mandou notificações com produtos para gestante. O problema é que a usuária era uma adolescente e ela não tinha ainda contado isso para os pais… Tudo isso apenas através do monitoramento do uso do site deles.

Isso significa que essas grandes empresas conseguem “prever” aquilo que você está pensando, inclusive para o futuro. Com essa previsão, eles podem te direcionar produtos que atendam as suas demandas. Contudo, eles também podem usar essa informação, se quiserem, para mudar sua opinião e/ou mudar seu planejamento.

Por exemplo, se você começa a pesquisar muito sobre passagens aéreas para Orlando / EUA e cotação do dólar, os sites podem prever que você planeja viajar para a Disney e, com isso, te oferecer anúncios de agências de turismo.

Agora, nada impede que esses mesmos sites, “prevendo” que você quer ir para a Disney, te mostre notícias que te desanimem, como, por exemplo, fechamento de importantes atrações devido à pandemia, possível manutenção da proibição de voos brasileiros aos EUA, aumento do caso de COVID-19 na cidade de Orlando etc. Ao mesmo tempo, esses sites mostram noticias animadoras sobre turismo durante a pandemia nas ilhas gregas, com reportagens mostrando que lá quase não tem casos de COVID-19, que a Grécia não fechou os seus aeroportos para voos brasileiros e que os preços de hospedagem lá baixaram, valorizando o real investido. Em outras palavras, o que esses sites estão fazendo é tentando te manipular para mudar seus planos e escolher outro destino.

Agora, imagine que seus dados de consumo e visita coletados por esses sites possam ser usados pelo seu plano de saúde ou seguro de vida. Isso permite que essas empresas forneçam planos mais direcionados para o seu público. Mas isso também significa que eles sabem que você tem diabetes ou hipertensão e vive comprando doces ou indo na churrascaria. Essa informação pode lhes permitir encarecer seu plano ou até mesmo limitar suas opções, pois eles saberão que você vai “dar prejuízo” para eles.

Pensando coletivamente, uma grande coleta de informações virtuais de uma dada população, por exemplo, uma cidade, pode fornecer indícios de como a maioria dos moradores daquele lugar pensa. Isso pode ser usado para que políticos criem suas plataformas eleitorais em cima daquilo que o povo quer ouvir. Aí você vota achando que aquele político defende seu pensamento, mas na verdade ele só está usando informações que coletou do seu uso online…

Entende agora o problema da (falta de) privacidade na rede?

Conclusão

O pontos citados aqui foram só alguns que me chamaram a atenção nesse documentário. Com eles, já deu para ter uma noção de como somos inocentes com o uso das redes sociais. Eu ainda tenho muitas outras colocações para aprofundar o debate sobre esse documentário. Sendo assim, se vocês gostaram e quiserem mais, deixa aí nos comentários o pedido pela parte dois.

Aprofundando o Assunto

Quem não viu ou quer rever o documentário O Dilema das Redes, segue o link para o Netflix: O Dilema das Redes.

Se ficou interessando na questão da privacidade na Internet, recomendo um episódio do podcast Nerdcast: Privacidade na Internet.

Se quer aprender mais sobre o conceito de Capitalismo de Vigilância, recomendo: Tecnopolíticas da vigilância: Perspectivas da margem (um livro que reúne uma série de artigos sobre o tema, incluindo o famoso Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação, da Shoshana Zuboff, citada nessa reflexão).

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E aí? O que outros pontos te chamaram a atenção no documentário? Deixa nos comentários! Conhece alguém que precisa largar o celular? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros documentários para debate? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.