Reflexão sobre Dr House: Profissão - Dom e Maldição

Reflexão sobre Dr House: Profissão – Dom e Maldição

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Dr House. Nessa série, acompanhamos um médico excêntrico especialista em diagnósticos difíceis. Ele é o melhor na área dele, mas também é uma pessoa complicadíssima de lidar. O pior é que os mesmos motivos que o fazem excelente médico também o fazem uma pessoa ruim de convivência. Por isso, esse artigo vai falar das profissões como um dom e uma maldição, mostrando como o fato de ser excelente na sua área profissional pode custar sua vida em sociedade. Não teremos grandes spoilers da série, então podem ler o artigo despreocupadamente. Vamos lá!

Sobre Dr House (SEM spoilers)

Dr. House é uma série americana que estreou em 16 de novembro de 2004. Ela possui 8 temporadas e terminou em 21 de maio de 2012. Atualmente, pode ser vista no Amazon Prime Video.

A história gira em torno do personagem principal, o doutor Gregory House (Hugh Laurie). Ele trabalha no hospital fictício Princeton-Plainsboro, em New Jersey. Lá, possui uma equipe que o auxilia em diagnósticos difíceis.

Basicamente, podemos dizer que o Dr. House é requisitado quando todos os diagnósticos básicos são descartados pelos outros médicos. Ele entra em ação quando ninguém mais sabe qual é a doença do paciente.

Na prática, House gosta de um bom enigma. Por isso, ele seleciona os casos mais interessantes para ele e só cuida de um paciente por vez. Logicamente, essa estratégia incomoda muito outros médicos e pacientes (que gostariam de ser cuidados pelo “melhor”).

A grande questão pessoal de House é sua perna. Ele passou por uma cirurgia de emergência e perdeu parte dos músculos de sua perna. Além de ser obrigado a usar permanentemente uma bengala, House ainda sente muitas dores. Para aliviar as dores, ele recorreu ao remédio Vicodin, que tem como princípio ativo a hidrocodona, um opioide. Esse tipo de medicamento tem grandes chances de causar vício nos usuários e é isso que acontece com House.

Depois da sua cirurgia, House se tornou um misantropo (uma pessoa antissocial) amargurado. Ele faz questão de irritar as pessoas que convivem com ele e de afastar todas as tentativas de afeto que recebe.

Ao longo da série, acompanhamos tanto os desafios profissionais quanto pessoais de House e dos médicos que lhe são próximos. Muitas vezes, essas questões se misturam e problemas pessoais afetam sua vida profissional e vice-versa.

Reflexão sobre Dr House: Distinção entre Trabalho e Emprego

Não tem jeito! Trabalhar faz parte da vida do ser humano. Inclusive, alguns filósofos como Karl Marx, defendem que a essência do ser humano é o trabalho, já que ele é o único ser que conscientemente consegue manipular e modificar a natureza para se adequar às suas necessidades.

O que precisamos ter em mente é que trabalho é diferente de emprego. Trabalho é aquilo que fazemos, são nossas capacidades físicas e intelectuais empregadas em uma ação. Emprego, é nossa fonte de renda. Para ficar claro, é só pensar no trabalho doméstico e no trabalho voluntário, que não é remunerado.

Podemos dizer que trabalho é aquilo que fazemos porque gostamos. E emprego é aquilo que fazemos porque nos dá dinheiro. Alguns, conseguem conciliar os dois, ganhando dinheiro com o que gostam de fazer. Já outros não conseguem essa conciliação e, geralmente, são frustrados.

O foco desse artigo é nos casos em que a pessoa está empregada naquilo em que ela gosta de trabalhar. Na sua vocação profissional.

Reflexão sobre Dr House: Profissão como Dom

Existem duas formas de motivação na vida, a extrínseca e a intrínseca. A extrínseca se refere a fatores externos e a intrínseca, a fatores internos.

Geralmente, quando alguém exerce a profissão que ele sonhou, aquela na qual ele é bom no que faz, a motivação é prioritariamente intrínseca. A vontade de dar o seu melhor parte de dentro do profissional, motivando-o a agir e se superar.

É isso o que acontece com House. Ele ama ser médico e ama um desafio, um enigma. Por trabalhar em um setor de diagnósticos, ele concilia sua vocação médica com sua sede por desafios. A questão é que precisam as suas coisas estarem juntas. Podemos até dizer que o desafio é mais importante que a própria medicina para House.

Isso fica evidente quando vemos ele sempre fugindo da clínica (o que seria, aqui no Brasil, o atendimento de emergência). Casos simples, de diagnóstico rápido, não interessam a ele.

Por outro lado, quando ele está com um paciente de difícil diagnóstico, ele fica 100% ligado nele. Em praticamente todos os episódios, House é “incomodado” quando está fora do seu horário de trabalho para ser atualizado do estado clínico do paciente. Vez ou outro, ele larga tudo o que está fazendo na sua vida pessoal e vai para o hospital buscar um diagnóstico. Quando o estado do paciente é crítico, ele chega a pernoitar no hospital pensando em possíveis doenças.

Como eu disse desde o começo (e vocês veem na série), House não é fácil de se lidar. Mesmo assim, as pessoas o admiram como médico e aceitam muitos erros dele para não perderem esse trabalho profissional ou não atrapalharem o “gênio trabalhando”. Quem mais sofre é a Dra. Lisa Cuddy (Lisa Edelstein), administradora do hospital, que precisa fazer muitas “vistas grossas” para atitudes de House que ferem o código de ética médico e até mesmo moral de qualquer pessoa.

Não podemos negar que muitas pessoas nascem com um dom para certas profissões que as fazem ir além do normal, ou até mesmo além do muito bom. São pessoas excelentes no que fazem. Mas muitas dessas pessoas acabam sacrificando suas vidas pessoais para essa profissão.

Reflexão sobre Dr House: Profissão como Maldição

Curiosamente, House sabe que é uma pessoa difícil de se lidar, mas ele acredita que sua vida pessoal infeliz é compensada pelo seu sucesso profissional. Ele é tão obcecado em não perder o seu dom como médico de diagnósticos, que, em certos momentos da série, ele sacrifica sua felicidade ou sua saúde para não perder o foco no atendimento profissional.

Exemplos famosos são de artistas e atletas (especialmente jogadores de futebol) que são frequentemente pegos abusando de álcool ou drogas ilícitas. Não conseguimos entender como pessoas que ganham tanto e são famosas fazem isso. Muitos relatos dessas pessoas revelam que entraram nesses problemas devido à pressão que sofriam por serem muito bons. A cobrança os faziam buscar refúgio nos vícios.

Só que existem muitos casos ocorrendo de pessoas desconhecidas. São pessoas que trabalham até tarde e não tem tempo para seu cônjuge ou seus filhos. Quantos casamentos acabam porque um dos companheiros nunca está em casa, nunca tem tempo para a vida do casal. Quantos filhos reclamam que os pais passam mais tempo trabalhando do que com eles. Essa é a maldição da vocação na profissão.

Tirando exceções, você pode reparar que as pessoas que possuem um emprego, sem se sentirem vocacionadas àquela função, facilmente largam compromissos trabalhistas para curtir a vida pessoal. Elas conseguem facilmente separar uma vida da outra e não deixam o trabalho interferir em casa.

Por outro lado, quem é muito dedicado ao emprego porque faz aquilo que ama, tem dificuldade de se desligar. Eu mesmo posso falar das várias vezes em que estava preparando aula fora do meu horário de planejamento, respondendo dúvidas de aluno tarde da noite ou nos finais de semana, indo em reuniões na escola nos dias que não são meus… Você também pode passar por algo parecido, como, por exemplo, fazer hora extra sabendo que não vai ganhar nada com isso, ou auxiliando alguém em uma outra função que não é a sua e que você não tinha obrigação de ajudar.

Muitas vezes, essa vocação pode acabar sendo usada como tática para te desestruturar. Quantas greves de professores não foram abaladas quando a sociedade clamava pela volta às aulas porque os alunos não podiam ser prejudicados (mesmo concordando que professor ganha bem abaixo do que merecia). Quantas pessoas não deixaram suas casas e compromissos particulares porque a empresa estava precisando naquele momento.

Reflexão sobre Dr House: Conclusão

É óbvio que na série Dr. House, as situações são levadas ao extremo. Mas muitas vezes me identifiquei com momentos em que o trabalho recebia prioridade ao pessoal.

Que possamos buscar o equilíbrio, para que dediquemos o tempo devido a nossa profissão, para que ela sempre seja vista como um dom, e não como uma maldição em nossas vidas.

Aprofundando o Assunto

Caso queira ver ou rever a série, ela está disponível na Amazon Prime Video.

Também existe a opção de comprar a coleção completa de DVDs da série: edição caixa branca (produto novo) ou edição caixa preta (produto usado).

Existem também alguns livros interessantes para quem é fã:

O guia oficial de House (Ian Jackman): para conhecer os bastidores da série.

Dr. House – Guia para a vida (Toni de la Torre): para perceber ensinamentos que a série pode passar para a sua vida.

A ciência médica de House (Andrew Holtz): para descobrir o que é verdade e o que é ficção nos diagnósticos e tratamentos ao longo da série.

Todas as compras realizadas através desses links patrocinados ajudam o blog nas suas despesas. 🙂

E aí? A sua profissão é um dom ou uma maldição? Diz aí nos comentários! Conhece algum fã de Dr. House ou alguém que está deixando sua profissão atrapalhar demais a vida pessoal? Compartilha essa reflexão sobre Dr House com ela! Quer sugerir temas para outras reflexões nerds? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.