Reflexão sobre A Casa do Dragão: Poder para Quê?

Reflexão sobre A Casa do Dragão: Poder para Quê?

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série A Casa do Dragão. Nessa série, acompanhamos uma guerra civil entre dois lados da casa Targaryen, cada qual reivindicando a coroa dos Sete Reinos. Na reflexão, definirei poder e excesso de poder, e farei uma análise de vários personagens que lutam (ou não) para ter poder (ou mais poder). Teremos spoilers da primeira temporada da série. Vamos lá!

Sobre A Casa do Dragão (COM Spoilers)

A Casa do Dragão é uma série de ação, aventura, fantasia e drama – com muita intriga política e dragões! Ela é uma prequela (ou seja, ocorre antes) da série A Guerra dos Tronos, ambas do canal HBO, e está disponível no streaming HBO Max.

A série A Casa do Dragão estreou em 2022 e é baseada no livro Fogo & Sangue escrito por George R. R. Martin, que também é uma prequela da saga As Crônicas de Gelo e Fogo (os livros que inspiraram a série A Guerra dos Tronos). 

Aproximadamente 200 anos antes dos acontecimentos de A Guerra dos Tronos, acompanhamos o rei Jaehaerys I Targaryen (Michael Carter) escolhendo, junto com outros lordes de Westeros, Viserys Targaryen (Paddy Considine) como sucessor do reino (sendo que o mais lógico seria escolher Rhaenys Targaryen [Eve Best] – demonstrando um problema de machismo nos Sete Reinos).

Os anos passam e o rei Viserys I só tem uma filha – Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock) – porque todos os seus outros filhos morreram ainda criança. Pressionado, Viserys indica que o sucessor do trono será sua filha, em vez de seu irmão mais novo – Daemon Targaryen (Matt Smith).

A esposa de Viserys I morre após uma cesariana forçada e o rei se casa com Alicent Hightower (Emily Carey), filha de Otto Hightower (Rhys Ifans) – Mão-do-Rei – e melhor amiga de Rhaenyra. Desse casamento, Viserys acaba tendo um filho: Aegon Targaryen (Ty Tennant). Porém, Viserys mantém sua decisão de ter Rhaenyra como sua sucessora no trono de ferro.

Os anos passam e Viserys está para morrer. Otto Hightower, como Mão-do-rei e avô do príncipe Aegon, começa a manipular o conselho e os lordes para que eles escolham seu neto como sucessor do reino em vez de Rhaenyra. Em um primeiro momento, Alicent não concordou com o plano, mas depois acabou cedendo porque entendeu mal as últimas palavras de seu marido recém falecido.

Aegon é coroado rei na capital. Logo em seguida, Rhaenyra é coroada rainha em Pedra do Dragão – local de sua residência. Surge uma divisão política entre as casas de Westeros, entre aqueles que apoiam o rei Aegon II e aqueles que apoiam Rhaenyra.

Até então, estava uma guerra fria entre os dois lados, ambos buscando apoio político e oferecendo vantagens para que o outro lado abrisse mão de sua reivindicação. Porém, os dragões começam a lutar entre si e as coisas começam a sair ainda mais do controle…

Quer entender melhor e com detalhes como as coisas chegaram até esse momento? Assista: A Casa do Dragão na HBO Max.

Reflexão sobre A Casa do Dragão: Definindo Poder

Poder pode ser definido como a capacidade que se tem em fazer com que alguém lhe obedeça, faça aquilo que você quer que se faça.

O poder não precisa ser exercido com força ou coação, você pode fazer com que alguém lhe obedeça por outros motivos – como respeito ou amor.

Dito isso, fica claro que todos nós queremos poder porque todos nós queremos que as pessoas façam coisas por nós. E eu não estou falando aqui de coisas absurdas, mas de coisas simples como alguém parar para você atravessar a rua ou lhe entregar a mercadoria após você pagá-la. Em ambos os casos, o outro lado precisa obedecer uma reinvindicação sua e, para isso, você precisa ter poder sobre elas.

Muitas pessoas pensam no poder como algo extraordinário e extremo, mas poder é algo normal e natural nas relações sociais. Nós esquecemos de perceber que existe poder quando as pessoas obedecem às leis, aos mandamentos religiosos ou a educação dada pelos pais. Em todos esses casos, a pessoa obedeceu alguma norma que ela aprendeu como sendo a certa e, em muitos os casos, ela só obedeceu por medo da punição – ser presa/pagar uma multa, ser condenada eternamente ou ficar de castigo.

Você pagaria imposto se não fosse obrigado? Você evitaria falar mal de alguém de quem não gosta se Deus não condenasse esse ato? Você iria para cama cedo / passaria a tarde estudando se seus pais não lhe obrigassem? Então, esses são só alguns exemplos de como existe poder nas nossas relações diárias…

Reflexão sobre A Casa do Dragão: O Excesso de Poder

Como ficou claro, querer poder é algo normal e se não fosse o poder que sofremos, agiríamos de outras formas. O problema não é o poder em si ou até querer poder, mas o excesso de poder ou querer ter mais poder do que se precisa.

Como o poder é uma relação de forças, tal como Foucault já havia dito na sua Microfísica do Poder, se alguém excede no poder que possui, alguém ficará escasso dele e as coisas irão desandar. Basicamente é isso que ocorre nos dias de hoje em nossa sociedade.

Quando vemos alguém bom se dando mal é porque, de alguma forma, outra pessoa está se excedendo no poder para com aquela e isso causou esse desequilíbrio.

Vamos pegar o caso clássico dos políticos já que esse assunto sempre está em voga nas nossas discussões e até envolve o tema da série: se os políticos “apenas” fizessem o papel deles de legislarem e administrarem a coisa pública para o bem comum da sociedade, dificilmente teríamos pessoas passando grandes necessidades. Se isso ocorre, é porque, em alguma instância, alguém abusou do seu poder e desviou recursos para se beneficiar ou beneficiar algum conhecido.

Como vivemos em uma democracia moderna, existe a famosa divisão dos três poderes: legislativo, executivo e judiciário. Porém, os maiores conflitos políticos que estamos acompanhando desde a época do segundo mandato do governo Dilma é um abuso, de diversas formas, do poder que juízes, parlamentares e governantes possuem. Com esses abusos, um grupo tenta interferir “legalmente” nos trabalhos e funções dos outros grupos e – atualmente – a sensação que temos é de que não existem mais leis no Brasil, que na política brasileira qualquer um faz qualquer coisa se tiver apoio e – palavrinha mágica – poder.

Reflexão sobre A Casa do Dragão: Analisando os Personagens

Após definições e reflexões sobre o poder, podemos analisar os personagens da série e ver como eles se comportaram em relação ao poder que possuíam:

Rei Viserys I

Provavelmente a pessoa que “mais se ferrou” nessa temporada porque não queria ser rei, não fez nada de grandioso no seu reinado e ainda deixou um baita problema para os seus sucessores.

Essa é a pessoa que não queria o poder político, foi obrigado a exercê-lo e acabou não fazendo um bom serviço por falta de aptidão.

Ele não era “santo” porque excedeu no seu poder de marido e rei para praticamente matar a esposa e tentar salvar seu filho. Talvez, se ele preferisse salvar a mãe, todos os problemas da guerra dos dragões teriam sido evitados. Se acreditarmos em carma, podemos dizer que ele pagou pela sua infeliz decisão machista.

Princesa Rhaenys

Conhecida como a “Rainha que nunca foi”, é uma das personagens mais injustiçados da série. Devido ao patriarcado de Westeros, perdeu a chance de ser rainha.

Rhaenys, aparentemente aceitou a derrota e não buscou conspirar para ganhar o poder que não lhe deram. Ao contrário, resolveu seguir sua vida conforme os costumes.

Obviamente, ela não se excluiu das questões políticas e guarda mágoas, mas não joga sujo (pelo menos, até agora) para reverter o que ocorreu.

Princesa / Rainha Rhaenyra 

Aquela que seria a legítima herdeira do trono se não houvesse o golpe. Porém, mesmo antes do golpe, existia quem questionasse sua legitimidade só por ser mulher.

Desde criança se preparou para ser rainha e demonstrava esse interesse. A grande diferença é que via isso como uma vocação natural e não queria a função para benefícios próprios ou ego. Isso ficou muito claro quando ela cogitou abrir mão da sua coroa para manter Westeros unida.

Rhaenyra seria a prova de que nem todos os governantes estão interessados em jogos políticos ou inflamar seus egos. Cumprem essa função como uma profissão / vocação, assim como pessoas comuns possuem os seus ofícios.

Daemon

O irmão mais novo do rei é o exemplo daquela pessoa que quer o poder apenas para se sentir maior e melhor que os outros. Sua ambição não é de nada além do poder em si.

Daemon queria ser rei. Para quê? Aparentemente, para nada. Seria só mais uma conquista, só para vangloria. Ele já tinha uma vida confortável e uma boa posição política. Ser rei para ele é só mais uma conquista.

Como “merdeiro” que era/é, tinha e ainda tem grandes chances de fazer muito mal para Westeros apenas por querer exibir uma “grandiosidade” que não possui.

Otto Hightower

Um dos personagens mais “FDP” da série. É da alta classe, mas por ser o segundo filho de lorde, não herdou o título. Conseguiu o mais alto posto que lhe era possível: mão-do-rei. Não satisfeito, praticamente entregou sua filha para casar com o rei e depois fez toda a articulação política para tirar o prestígio de Rhaenyra e colocar seu neto no trono.

Otto é a representação da pessoa maquiavélica que quer, “dentro da lei”, chegar ao poder. Já que seu nome e nascimento não lhe dava condições de ser rei, buscou todas as articulações políticas possíveis para deixar seus descendentes no poder.

Além disso, Otto abusou do seu poder e influência para fazer articulações e maquinações que iriam beneficiar seu lado. É o exemplo perfeito da podridão da política.

Mysaria

Mysaria (Sonoya Mizuno) começa a história como a prostituta preferida do Daemon Targaryen. Depois, chega a ser uma esposa ilegítima dele até que o jogo político a tira de circulação.

Futuramente, ela volta como “verme branco”, uma pessoa nas sombras, que possui contatos por todas as partes e, com isso, obtém informações que não conseguiriam ser obtidas de outras formas.

O mais interessante é que ela não usa de meios escusos para ter a informação, ela apenas tem a pessoa certa no lugar certo na hora certa para ouvir aquilo que estão falando.

Ela recebe seu contato da ralé, das pessoas do baixo escalão que estão espalhadas pela sociedade e ninguém nota – faxineiros, serviçais, soldados, prostitutas. Pessoas que ouvem grandes segredos e informações que são soltas por pessoas importantes em situações nem sempre adequadas porque não reparam a existência desses “seres inferiores”.

Duas coisas podemos destacar nessa reflexão sobre a Mysaria e o poder:

a) Ela, aparentemente, busca o poder para ajudar os pobres e necessitados. Ela se utiliza dessas pessoas e busca também ajudar essas pessoas tentando arrancar promessas de melhoria nas condições de vida dessa classe em troca das informações que disponibiliza.

É interessante e importante ver que nem todos querem o poder somente para benefícios esdrúxulos. Podemos considerar que os objetivos de Mysaria são nobres porque ela quer poder e se utiliza do poder que tem para tentar melhorar a vida do povo

b) Ela é a prova de que o poder não está apenas na força. Mysaria se beneficia do poder da informação. Na sociedade em que vivemos, a famosa frase “saber é poder” está mais viva do que nunca, mas agora é um saber diferente – não é mais o saber científico, mas sim o saber de dados e metadados que estamos criando e compartilhando na nossa vida virtual, digital e tecnológica.

O Povo

Vale fazer aqui uma “menção honrosa” ao povo de Westeros. Esse só se deu mal e continuará dessa forma, infelizmente.

A política, que deveria servir aos interesses do povo em primeiro lugar, é exatamente o ambiente que menos se preocupa com o povo.

A cena mais clara da série de como o povo é desprezado, é o massacre sofrido pelos moradores de Porto Real que estavam na coroação de Aegon II. Quando Rhaenys saiu com seu dragão, ela fez pouco caso dos cidadãos que lá estavam e morreram soterrados ou queimados pela destruição causada.

Mais para frente, provavelmente veremos muitos soldados morrendo durante essa guerra política que não lhes interessa diretamente e que poderia ter sido evitada se não fosse a vontade da nobreza em ter mais poder do que se precisa.

Como dizia Maquiavel, o povo é quem sofre as consequência da luta política. Quando a sociedade está em paz, o povo se beneficia; quando a sociedade está em conflito, o povo se prejudica.

Reflexão sobre A Casa do Dragão: Conclusão

Para concluir essa reflexão sobre A Casa do Dragão, eu te pergunto: você precisa realmente de mais poder do que você já tem? Se a resposta for não, é melhor parar como está porque a tendência é que esse excesso de poder te corrompa e você acabe prejudicando alguém (até sem saber). Agora, se você precisa desse poder para utilizá-lo para o bem, desejo boa sorte e cuidado porque o que mais existe são pessoas querendo mais poder por mero capricho ou más intenções.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre A Casa do Dragão? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre A Casa do Dragão? Comenta! Quer que eu acrescente mais personagens nessa análise? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.