Política de Maquiavel Descomplicada

Política de Maquiavel Descomplicada

Olá, marujos! Hoje, vamos explicar a Política de Nicolau Maquiavel de uma forma descomplicada. Vou apresentar brevemente o filósofo e depois vou explicar o seu pensamento político de uma forma descomplicada e com vários exemplos, mostrando como ela se diferencia das teorias políticas anteriores e explorando seus principais conceitos. Vamos lá!

Sobre Maquiavel

Nicolau Maquiavel nasceu na cidade de Florença (Itália) em 03 de maio de 1469. Ele era de uma família classe média baixa. Iniciou seus estudos aos sete anos, mas sua educação foi muito limitada devido ao baixo poder aquisitivo da família.

Ele se tornou funcionário da Chancelaria Florentina entre 1498 e 1512, órgão público responsável por resolver questões políticas internas e externas. Começou como redator de documentos oficiais e, depois, foi trabalhar em missões diplomáticas. Participou de diversas momentos importantes da política italiana da época (as regiões italianas não eram unificadas e viviam em conflito) e escreveu bastante sobre aquilo que vivenciou.

Em 1501, entre pausas das suas viagens diplomáticas, Maquiavel se casou com Marietta Corsini, com quem teve seis filhos (quatro filhos e duas filhas).

Devido a mudanças no governo de Florença, Maquiavel foi demitido de seu cargo em 1512 e acusado de conspiração. Chegou a ser preso e torturado. Depois de ser anistiado, foi morar em uma região um pouco afastada do centro e se dedicou a escrever (foi nessa época que escreveu O Príncipe).

Por breve momento (entre 1520 e 1527), Maquiavel voltou a trabalhar para o governo florentino, período em que escreveu a História de Florença.

Ele morreu em 21 de junho de 1527, após ficar doente. Foi enterrado no túmulo da família na Basílica de Santa Cruz em Florença.

Contexto Histórico

Para entender o pensamento de Maquiavel, é preciso entender o contexto político de sua época.

Na época de Maquiavel, a Itália não era unificada. Ao contrário, ela era dividida em diversos pequenos Estados que viviam em conflito interno. Devido às disputas internas, frequentemente esses estados eram atacados e invadidos por potências estrangeiras, especialmente a França e a Espanha.

O Estado Florentino, onde vivia Maquiavel, era controlado inicialmente pela família Médici. Até 1492, através do governo de Lourenço de Médici, O Magnífico, a região italiana conseguiu viver tempos de paz. Porém, após sua morte e sucessão do seu filho Piero de Médici, Florença foi atacada pela França, que expulsou a família Médici e colocou o frei Girolamo Savonarola como governante florentino.

Contudo, em 1498, Savonarola caiu e os Médici retornaram ao poder com  Lourenço de Médici, filho de Piero e neto de Lourenço de Médici, O Magnífico. O neto tinha as mesmas habilidades políticas do avô.

Maquiavel dedicou o seu livro O Príncipe para Lourenço de Médici (neto), pois acreditava que ele seria capaz de unificar a Itália. Para Maquiavel, apenas a unificação italiana conseguiria trazer paz para o povo italiano.

Política de Maquiavel Descomplicada: Fundação da Política Moderna

Maquiavel revolucionou a forma de se pensar política.

Antes, os tratados políticos buscavam explicar a origem do poder político e como os governantes e o povo deveriam agir para alcançar um governo perfeito, ideal.

Maquiavel não estava preocupado em pensar o ideal, mas o real. Para ele, a preocupação deveria ser entender como a política é feita de fato e, com isso, entender como um governante conseguiria chegar ao poder e permanecer nele.

Para chegar ao seu objetivo, Maquiavel estudou a história para analisar exemplos de sucesso e fracasso de diversos governos e governantes. Em vez de teorizar como seria a forma ideal de agir, Maquiavel colheu informações reais do que já funcionou e do que não funcionou, para serem replicadas ou evitadas.

Outro ponto importante na política de Maquiavel é a separação entre Ética e Política. Nos modelos tradicionais, o bom governante também era bom cidadão, era ético, justo. Para Maquiavel, a vida política é separada da vida ética, ou seja, enquanto político, as suas decisões não seguem valores universais de bom e mal, certo e errado (esse ponto será mais explorado adiante).

Política de Maquiavel Descomplicada: O Poder Político

Para Maquiavel, o poder político é resultado de um embate de três forças: aqueles que estão no poder e não querem perdê-lo; aqueles que não estão no poder e querem conquistá-lo; e o povo, que não liga para o poder e só não quer ser oprimido.

Para o filósofo, a disputa entre os que querem continuar no poder e os que querem alcançar o poder é permanente e necessária para que se mantenha o equilíbrio. Desse equilíbrio, quem se beneficia é o povo.

Política de Maquiavel Descomplicada: Virtù e Fortuna

Para Maquiavel, todo o governante deve ficar atento a duas coisas: virtù e fortuna.

Fortuna, que podemos traduzir por sorte, é o conjunto dos acontecimentos incontroláveis que podem ocorrer ao longo de um governo. Esses acontecimentos podem ser benéficos ou prejudiciais ao governante.

Virtù, que podemos traduzir por virtude, é a habilidade do governante de lidar com a fortuna, ou seja, com os acontecimentos incontroláveis.

Imaginem a situação: durante o ciclo de plantação de um determinado ano, ocorre uma geada que prejudica a plantação do reino. Isso é um exemplo de fortuna negativa. Agora, o governante deve agir com virtù e tomar decisões para contornar esse problema e minimizar seu prejuízo: ele pode racionar a comida, ele pode deixar parte da população morrer de fome, ele pode comprar mantimentos do reino vizinho, ou pode atacar um reino vizinho e saquear esses mantimentos. Todas essas são possibilidades, e o governante deve escolher aquela que melhor funciona naquele momento em específico, lembrando sempre que sua atitude deve permitir que ele continue no poder, que não haja uma revolta do povo nem que ele enfraqueça a ponto de ser superado pela oposição.

Imagine uma outra situação quase parecida: durante o ciclo de plantação de um determinado ano, ocorre uma superprodução que superabunda a plantação do reino. Isso é um exemplo de fortuna positiva. Agora, o governante deve agir com virtù e tomar decisões para aproveitar essa oportunidade e maximizar os benefícios: ele pode estocar para garantir comida para o próximo ciclo, ele pode distribuir esse excedente e permitir que as pessoas se alimentem em abundância, ele pode vender esse excedente e conseguir uma quantia extra de dinheiro, ele pode doar para um reino necessitado em troca de aliança. Todas essas são opções possíveis ao governante, e ele deve escolher aquela que melhor lhe trará vantagens para permanecer no poder.

Isso também ocorre com ofensivas da oposição, porque essas ofensivas também são acontecimentos incontroláveis: se um reino lhe ataca ou se um concorrente tenta um golpe político, quem está no poder precisa tomar uma decisão que lhe mantenha no poder: entrar em guerra, fazer um acordo, matar aquele que está conduzindo o golpe. Todas são opções válidas segundo Maquiavel.

Política de Maquiavel Descomplicada: Ética x Política / Moral Privada x Moral Política

Percebemos, com isso, que a política de Maquiavel é separada da Ética. Não existe certo e errado no sentido de bom o mal, como se esses fossem valores universais e objetivos. Ao contrário, certo e errado, para o filósofo, tem sentido subjetivo: deve-se fazer aquilo que é o melhor para se permanecer no poder. Uma atitude considerada antiética, como matar alguém, se torna uma atitude correta se for a melhor ação para se manter o poder.

É nesse contexto que a famosa frase atribuída a Maquiavel “Os fins justificam os meios” funciona: vale tudo para se manter no poder (ele nunca disse essa frase, é uma interpretação tardia do seu trabalho).

Assim, entendemos que Maquiavel não defende que um governante deve fazer coisas consideradas erradas só porque são erradas. Para o filósofo, essa interpretação de certo e errado não se aplica à política. Como analogia, seria o mesmo que dizer que um leão age mal ao matar uma gazela para comer: o animal age por instinto, e não por emoção. Da mesma forma, o governante age para se manter no poder, custe o que custar. E isso é o melhor para o povo, porque a manutenção do poder traz estabilidade política. E a estabilidade política traz a paz.

Como se tem dito ao longo do texto, Maquiavel inovou ao separar valores éticos, que ele considerava próprio da vida privada, dos valores políticos, que ele considerava próprio da vida pública. As crenças pessoais do político não devem interferir nas suas decisões enquanto líder de uma nação.

O político sempre deve fazer aquilo que é melhor para se manter no poder, que será também melhor para o povo. Mesmo que isso possa ir contra aquilo que ele acredita ser o certo a se fazer na sua vida pessoal.

Por exemplo, uma pessoa poderia abrir mão de cobrar uma dívida que se tem com ele. Agora, se essa pessoa é um governante e o dinheiro a ser cobrado é da nação, ele não pode ser simplesmente generoso e deixar pra lá esse dinheiro. Ele deve considerar as economias do seu país e também os benefícios que esse perdão pode trazer e só então decidir.

O mesmo também valeria para a religião: o governante pode ter o credo que quiser, mas impor esse credo à nação só poderia ser feito se isso lhe trouxesse vantagens de manutenção do poder. Do contrário, é melhor que o Estado seja laico ou que professe outra religião.

Política de Maquiavel Descomplicada: Poder Absolutista x Poder ao Povo

Em um primeiro momento, Maquiavel pode fazer jus a sua fama de maquiavélico (termo cunhado a partir da leitura negativa de Maquiavel para significar pessoa dissimulada, que age de má-fé, com intenções ocultas). Entretanto, precisamos deixar clara a situação vivida pelo filósofo e também as outras obras dele (porque O Príncipe é a mais famosa, mas não a única).

No livro Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio (posterior a O Príncipe), Maquiavel deixa claro que o poder do Estado deve ser entregue ao povo, que seria o seu legítimo detentor. Dessa forma, podemos entender que Maquiavel defendia um poder absolutista em O Príncipe porque, primeiramente, alguém deveria concentrar o poder e colocar “ordem na bagunça” (lembrem que a região italiana vivia em constantes guerras internas e externas). Logo que as coisas estivesses pacíficas, aí o poder poderia ser dado ao povo.

Política de Maquiavel Descomplicada: Dinamizando a Sala de Aula

Como sugestão para introduzir esse conteúdo em sala de aula, indico uma dinâmica. Essa dinâmica consiste em um teste para saber o quão maquiavélico uma pessoa é. Depois desse teste, você explica para os alunos como surgiu o termo “maquiavélico”, qual a relação dele com a filosofia de Nicolau Maquiavel, e aí é só ensinar a matéria…

Link para um artigo dedicado a explicar como aplicar essa dinâmica: Política em Maquiavel através de Dinâmica.

Política de Maquiavel Descomplicada: Conclusão

Vemos, assim, que Maquiavel não é tão ruim quanto a história fez parecer. Na verdade, ele foi mal compreendido e interpretado fora do seu contexto histórico.

E aí? O que achou do pensamento de Maquiavel? Deixa nos comentários! Gostou desse artigo? Compartilha! Quer sugerir temas para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

Coleção Ensino Médio 2ª série: Volume 1 – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 60 p.: il.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.