Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Metafísica, Antropologia e Ética

Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Metafísica, Antropologia e Ética

Olá, marujos! Hoje, explicarei o pessimismo de Schopenhauer de um jeito descomplicado. Começarei com uma breve biografia do filósofo. Depois, darei a etimologia do termo e os pressupostos filosóficos desse conceito. Por fim, desenvolverei em linguagem simples e com exemplos o pessimismo schopenhaueriano em diferentes âmbitos filosóficos. Vamos lá!

Sobre o Filósofo

Arthur Schopenhauer nasceu em 22 de fevereiro de 1788 em Gdansk, Polônia. Era de uma família de classe média. Quando seu pai faleceu, usou o dinheiro da herança para fazer uma formação universitária e se dedicar aos estudos. Viveu uma vida simples e teve vários problemas por sua personalidade um tanto quanto ranzinza. Apesar de se dedicar a vida inteira para a filosofia, apenas obteve reconhecimento no final de sua vida, quando seu último livro foi apreciado pela crítica filosófica. Faleceu em 21 de setembro de 1860 em Frankfurt, Alemanha.

Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Etimologia e Pressupostos Filosóficos

Etimologia

A palavra “pessimismo” vem do latim pessimum. Por sua vez, o termo latino pessimum significa literalmente “o pior”. Dessa forma, podemos concluir que uma visão pessimista é aquela que sempre vê o pior da situação.

A filosofia de Schopenhauer é conhecida como pessimista porque ele declaradamente considerou o nosso mundo como “o pior dos mundos possíveis” (obviamente, fazendo troça com o conceito de Leibniz de que vivemos no melhor dos mundos possíveis).

Pressupostos

Mas porque vivemos no pior dos mundos possíveis? Porque, para Schopenhauer, esse nosso mundo é marcado pela dor e pelo sofrimento.

E porque esse mundo é marcado pela dor e pelo sofrimento? Porque sua essência é a Vontade (cega e irracional) e todos os seres querem ter suas vontades atendidas – e como isso é impossível, sofremos.

Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Os Pessimismos Schopenhaueriano

Essa distinção de tipos de pessimismo na filosofia de Schopenhauer é algo feito a partir da interpretação do filósofo e não é algo pacificado entre seus comentadores. Eu achei interessante fazer essa divisão para tornar o artigo mais didático.

Pessimismo Metafísico

Quando nos referimos ao pessimismo metafísico de Schopenhauer, queremos destacar como o filósofo via o todo, a totalidade do mundo com olhos pessimistas.

De fato, como já foi comentado acima, para o filósofo, viveríamos no pior dos mundos possíveis, sendo preferível que ele não existisse do que existisse porque, não existindo, ao menos não sofreríamos.

Para Schopenhauer, todos os seres são egoístas por natureza, buscando individualmente satisfazer seus prazeres. Ao fazerem isso, eles necessariamente irão “atrapalhar” a satisfação dos prazeres ou até mesmo o viver de outros seres.

Por exemplo, um leão, ao comer uma zebra, satisfaz sua necessidade de alimento – mas, ao mesmo tempo, tira a vida daquela zebra.

Outro ponto importante para o filósofo é que, aquilo que entendemos por prazer, nada mais é do que um “não-ser”, pois se configura como ausência de dor ou sofrimento. Ou seja, o que existe na realidade é a dor ou sofrimento da fome e, ao satisfazer momentaneamente a fome, temos a ausência dessa dor/sofrimento e a isso chamamos de prazer de comer.

Da mesma forma, Schopenhauer dirá que o viver é um permanente evitar morrer. Ou seja, estamos permanentemente em risco de morrer e precisamos nos esforçar para permanecer vivos. E isso é péssimo, é triste! Pensa só: se não fizéssemos nada, morreríamos de fome, de sede ou de frio. Somos obrigados a lutar contra o resto do mundo para permanecermos existindo.

Por fim, todos os seres existem em uma permanente insatisfação, oscilando entre dor e tédio. Dor quando queremos algo. Tédio, quando atingimos esse algo e ficamos sem propósito existencial até surgir uma nova dor.

Aqui, como exemplo, trazemos o clássico caso da riqueza. Você quer dinheiro para comprar algo. Luta para adquirir esse algo e logo já começa a fazer planos para uma próxima meta, nunca ficando satisfeito com o que conquistou.

Pessimismo Antropológico

No caso dos seres humanos, além do egoísmo natural, ainda existia aquilo que Schopenhauer chama de “amor-próprio”. Nesse contexto filosófico, amor-próprio seria uma espécie de condição humana que lhe faz agir de forma interesseira e sem limites.

Se, no exemplo do tópico anterior, o leão para de caçar quando consegue sua presa e só volta a caçar quando sente fome novamente, o ser humano é capaz de caçar mesmo sem fome e é capaz de comer mais do que precisa. Ao fazer isso, ele causa muito mais sofrimento e dor aos demais seres do que seria necessário.

Como exemplos práticos, é só ver o quanto de comida é desperdiçada diariamente com tantas pessoas passando fome ou os diversos casos de corrupção praticados por pessoas que já possuem muito dinheiro e, ainda assim, não se importam em tirar recursos daqueles que pouco ou nada tem.

Para o filósofo, essa condição aparece porque cada um de nós tem o mundo como o seu centro e achamos que podemos fazer o que quisermos dele para satisfazer as nossas vontades. É como se fossemos crianças que consideram que o mundo é nosso parquinho e todos nele são nossos brinquedos, que estão aqui para nos servir.

Outra condição natural do ser humano seria a impossibilidade de melhoria do caráter. Aqui, ele quer dizer que não teria como mudar o caráter com o qual nascemos. Se nascemos com tendências a compaixão, bom para os outros. Se nascemos com tendências sociopatas, não há o que se fazer.

Inspirado pela filosofia de Hobbes, Schopenhauer constata que, se não fossem os dispositivos legais, sociais ou educacionais, agiríamos de forma egoísta e maldosa. Basicamente, para o filósofo, se não fosse o medo da punição da lei, não a seguiríamos e se não fossem os anos escolares nos “doutrinando” o comportamento, não agiríamos de forma cordial com os outros.

Não existiria um tratamento que mudasse quem nós somos. É uma condição natural de cada um. O que normalmente ocorre, como dito antes, é um controle externo dos impulsos naturais.

Para o filósofo pessimista, nossa verdadeira natureza se revela nos pequenos gestos, naquelas situações em que ninguém está nos vendo ou nos julgando, naqueles momentos em que “podemos ser nós mesmos” sem nenhuma culpa ou medo.

Pessimismo Ético

Para Schopenhauer a autêntica ação moral é uma ação misteriosa. Isso quer dizer que, segundo o filósofo, não conseguimos encontrar fundamentação filosófica – especialmente na experiência – que justifique alguém agir de forma boa simplesmente porque quer agir. Ou seja, mesmo que existam pessoas que ajam dessa forma, são pouquíssimas e não somos capazes de explicar suas ações.

Além disso, quando olhamos para a vida ética, das ações, um dos temas que sempre se debate é a felicidade. Schopenhauer também tinha uma opinião sobre isso…

Para o filósofo, a felicidade também seria um não-ser. Ou seja, aquilo que chamamos de felicidade na verdade são pequenos momento de não-infelicidade.

Isso quer dizer que, para Schopenhauer, nossa vida é permanentemente infeliz e, diariamente, lutamos para torná-la um pouco menos infeliz. Para o filósofo, é um erro inato do ser humano achar que nasceu para ser feliz.

Para Schopenhauer, o cálculo de vida que devemos fazer não é o quanto de prazeres que vivemos, mas o quanto de males evitamos.

Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Pessimismo Pragmático

Curiosamente, Schopenhauer possui alguns textos que tentam “ajudar” o ser humano a viver nesse pior mundo possível. Basicamente, podemos dizer que são dicas para que possamos viver “menos infelizes”.

A primeira coisa, é ter em conta a condição desse mundo e nossa. Ou seja, precisamos aceitar pessimistamente esse mundo. O filósofo chama a isso de acomodação.

De inspiração estoica, Schopenhauer parte do princípio que devemos aceitar como o mundo é. Lutar contra essa condição de constante briga de vontades é fracassar e sofrer ainda mais. Da mesma forma, precisamos desistir de querer sermos felizes e buscar minimizar nossa infelicidade.

Por exemplo, não busque ser o melhor aluno da turma, busque apenas passar, ficar com média azul. Isso evita seu sofrimento. Não busque conquistar a pessoa mais bonita do trabalho, busque conquistar alguém aceitável para você. Isso evita o seu sofrimento. Não busque ser rico, busque ganhar o necessário para viver adequadamente. Isso evita o seu sofrimento.

Evitando essas coisas ditas acima, você evita uma competição desnecessária que só vai te cansar e, possivelmente, te causar dor e frustração.

Outra “dica” é o autoconhecimento. Saber quem você é, com seus limites, qualidades e defeitos, te ajuda a evitar situações nas quais você pode se sair mal.

Se você não nasceu leão, não queira agir como leão. Seja antes como a hiena, que come os restos deixado pelo leão, mas ao menos não passa fome e não precisa se esforçar para caçar a zebra e nunca é alvo de caçadores!

Evita-se o sofrimento quando não tentamos ser quem nós não somos. Essa ainda é uma situação pessimista porque, para o filósofo, só descobrimos nossas limitações quando nos defrontamos com o mundo e fracassamos ou somos superados. Por isso, primeiro vem o sofrimento para só depois sabermos o que não fazer ou onde não ir para não sofremos novamente.

Pessimismo de Schopenhauer Descomplicado: Conclusão

Pode parecer a nós, nos dias de hoje, que a filosofia pessimista de Schopenhauer seja muito triste. Porém, podemos olhar para ela como uma filosofia muito realista. Se observarmos com cuidado, podemos ver que o mercado vende para nós a busca incessante de felicidade – exaltando nossas pseudocapacidades – exatamente porque quer o nosso fracasso e sofrimento para nos vender, depois, pequenas doses de “felicidade” para nos sentirmos menos infelizes.

E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre o pessimismo de Schopenhauer? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre outra teoria filosófica de Schopenhauer? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

DEBONA, Vilmar. Pessimismo e eudemonologia: Schopenhauer entre pessimismo metafísico e pessimismo pragmático. In: KRITERION, Belo Horizonte, nº 135, Dez./2016, p. 781-802.

MORAES, Dax. O pessimismo moral schopenhaueriano: origem, significado e alcance. In: ethic@, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 16, n. 2, p. 347 – 374. Nov. 2017.

REDYSON, Deyve. Schopenhauer e a metafísica do pessimismo. In: Princípios, Natal, v.15, n.23, jan./jun. 2008, p. 255-269.

TORRES FILHO, Rubens Rodrigues. Schopenhauer – Vida e Obra. 2 ed. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1985 (Coleção Os pensadores).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.