Gamificando o Contratualismo de Hobbes e Locke: Jogo Piratas!
Olá, marujos! Hoje vamos trazer mais uma forma de explicar filosofia através de um jogo, gamificando o contratualismo de Hobbes e Locke. Quem não viu os outros artigo, pode conferir aqui e aqui. O jogo da vez será o card game Piratas!. Vamos lá!
Contratualismo
A teoria do contratualismo consiste na crença de que a sociedade organizada é uma construção artificial. Ou seja, foi decidida a sua criação em um dado momento histórico através de um contrato social. Antes desse momento, os seres humanos viviam suas vidas de forma independente. Mas, por algum motivo, começaram a viver de forma organizada, submetendo-se a uma autoridade e a um conjunto de regras.
Contratualismo de Hobbes
Thomas Hobbes (1588-1679) acreditava que o homem é naturalmente mau e egoísta. Por esse motivo, ele se preocupava apenas consigo mesmo e não via problema em praticar alguns atos como roubar o que lhe interessasse ou matar quem lhe importunasse.
O problema era que ao mesmo tempo em que ele podia fazer qualquer coisa com qualquer um, qualquer um poderia fazer qualquer coisa com ele. Isso gerava, segundo Hobbes, uma constante guerra de todos contra todos. Daí ele popularizar a frase “o homem é o lobo do homem”.
Para Hobbes, o bem mais precioso do ser humano é a própria vida. Logo, ele viu a necessidade de se criar um acordo entre os indivíduos para que ao menos esse direito fosse preservado. Assim, o contrato social é firmado para preservar o direito a vida.
Junto com as regras de preservação da vida, surgem também regras de julgamento e punição de quem não respeita as regras de convivência. Para garantir o cumprimento das ordens, é eleito um líder forte e respeitado: o soberano.
Os monarcas seriam, para Hobbes, os descendentes desses líderes (justificando, assim, a monarquia absolutista daquela época).
Alguns pesquisadores consideram que Hobbes não define soberano como apenas um líder, podendo essa soberania ser um coletivo.
Contratualismo de Locke
John Locke (1632-1704) já acreditava que o ser humano, devido a sua racionalidade, não agiria naturalmente como um assassino e ladrão. Ele só agiria dessa forma se fosse extremamente necessário.
O maior problema para Locke era a propriedade privada. Ele acreditava que o ser humano é dono do seu corpo e de tudo o que produz com o suor do seu trabalho. O problema é que, com o passar do tempo e o aumento populacional, fica muito mais difícil dividir as terras e resolver conflitos referentes a áreas estratégicas (como, por exemplo, as nascentes dos rios ou áreas de passagem).
Por esse motivo, os seres humanos decidiram entrar em acordo e firmar um contrato social para estipular regras e julgar contendas que envolvessem questões relacionadas ao direito à propriedade privada. Nesse caso, todos consentiriam em um governo que faria a vontade do povo ao organizar a sociedade e julgar as disputas. Com isso, Locke legitimaria o parlamentarismo, ou seja, o poder nas mãos de um grupo de representantes do povo que governam em favor do povo.
Jogo Piratas!
O jogo de cartas Piratas! é uma disputa para até seis jogadores para descobrir quem é o rei dos mares. Para vencer, você precisa acumular cinco “tesouros” em sua mão. É uma disputa de todos contra todos. Detalhe muito legal: o jogo é nacional! Ele foi criado e distribuído por brasileiros (mostrando o potencial desse tipo de entretenimento).
O jogo é jogado com apenas um baralho, sendo algumas cartas distribuídas aos jogadores e as restantes formando uma pilha para ser comprada ao longo da partida. A cada turno, cada jogador pode realizar duas ações sendo elas: comprar uma carta nova, usar uma carta de sua mão e realizar seu efeito e/ou duelar com o adversário.
O jogador poderá decidir a forma de ganhar, se será de forma agressiva (roubando cartas do adversário) ou defensiva (apenas comprando e se defendendo). Cada forma tem suas vantagens e desvantagens. Você terá que mostrar sua habilidade de acumular riquezas sem chamar muito a atenção para si. Ou se mostrar um conquistador e saquear seus adversários até atingir seu objetivo. A sabedoria, a estratégia e um pouquinho de sorte serão imprescindíveis para vencer em alto mar.
Gamificando o Contratualismo de Hobbes e Locke: Jogo Piratas!
Aplicação
Forme uma grande área de jogo (com duas ou quatro mesas dos alunos) e reúna os alunos no centro da sala. Convide os alunos ao jogo até o limite de seis. O professor não precisa jogar e é até bom que não jogue para poder ficar circulando durante a partida e esclarecendo dúvidas sobre os efeitos das cartas.
A proposta é deixar o jogo fluir naturalmente, sem nenhuma intervenção “filosófica” durante a partida. Como forma de simplificação, pode-se dizer que a partida acaba quando um jogador tiver os cinco tesouros ou quem tiver mais tesouros quando acabarem as cartas para comprar (na regra original, a pilha de descarte é embaralhada e vira a nova pilha de compras). Pode-se também oferecer pontos extras para quem ganhar, como forma de estímulo ao jogo “sério”.
Objetivo da atividade
Ao final da partida, quando o jogo já tiver sido recolhido e todos os alunos estiverem atentos, o professor vai questioná-los qual era o objetivo do jogo. Eles provavelmente responderão “acumular / ganhar tesouros”. Depois, pergunte qual era a forma de se conseguir isso. Eles irão normalmente responder “atacando / roubando cartas do adversário”. Nesse momento, você irá questioná-los se essas são as formas corretas de conviver em sociedade e eles com certeza dirão que não. Aí, será o momento de entrar com o tema da aula, com os conteúdos de contratualismo.
A referência que será feita ao jogo durante a explicação do contratualismo de Hobbes é o fato de usarmos da violência (saque e duelo) para conseguir o que queremos, e como isso já estava presente nos momentos pré-sociais e como o contrato social veio resolver esse problema. Já a referência ao contratualismo de Locke é o objetivo do jogo, que é acumular tesouros, e como é difícil fazer isso quando existe um número limitado de tesouros para uma grande quantidade de pessoas.
Dessa forma, percebemos que o jogo trabalha com nossas atitudes pré-sociais, como nós éramos (ou, podemos até mesmo dizer, como nós somos verdadeiramente). E a apresentação das teorias contratualistas explicariam o porquê de o ser humano ter visto a necessidade de deixar esse estilo de vida e assumir um estilo organizado em sociedade para viver.
Gamificando o Contratualismo de Hobbes e Locke: interdisciplinariedade
Você pode aproveitar essa atividade não só para filosofia, mas também, como sugestão: matemática e história.
Matemática: para os duelos, será necessário fazer cálculos matemáticos de tiros de canhão, apoio de piratas e uso de papagaios (que copiam cartas). No duelo, ganha quem tiver mais tiros acumulados (em caso de empate, é da defesa). A matemática é essencial para não fazer um ataque suicida ou não desperdiçar recursos em uma batalha já perdida.
História: o professor poderá aproveitar a temática do jogo para explorar temas relacionados à pirataria. Ele também pode aproveitar a “deixa” das motivações dos contratualistas (justificar uma forma de governo) para explorar mais esse tema, trabalhando os fatores históricos daquela época.
Gamificando o Contratualismo de Hobbes e Locke: conclusão
Piratas! é um jogo relativamente simples e rápido. Os alunos irão se divertir bastante enquanto jogam e vão facilmente fazer o link do que eles experimentaram enquanto jogavam com o discurso de como era o ser humano antes de se organizar socialmente. Isso facilitará muito para eles entenderem e aceitarem os motivos dados pelos filósofos para ter sido feito o contrato social.
E aí? Você já tinha jogado Piratas! ou já tinha aprendido contratualismo de uma forma diferenciada? Conta para a gente nos comentários! Ficou curioso e quer experimentar? Compartilha esse artigo para chegar até o seu professor ou diretor da escola! Quer propor algum jogo ou precisa de ajuda para criar uma estratégia para trabalhar algum assunto de filosofia? Me manda a situação pelo formulário de contato.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!