Filosofia Analítica Descomplicada: Principais Ideias da Filosofia Analítica Clássica (Moore, Russell, Frege e Wittgenstein I)

Filosofia Analítica Descomplicada: Principais Ideias da Filosofia Analítica Clássica (Moore, Russell, Frege e Wittgenstein I)

Olá, marujos! Hoje, explicarei de forma descomplicada o que chamamos de Filosofia Analítica Clássica. Começarei apresentando os principais filósofos dessa época: Moore, Russell, Frege e Wittgenstein I. Depois, apresentarei de modo abrangente o que seria a filosofia analítica. Por fim, explorarei cada um dos filósofos citados e suas principais ideias que, juntas, contribuíram para o surgimento daquilo que chamamos de filosofia analítica. Darei vários exemplos para simplificar o entendimento. Vamos lá!

Filosofia Analítica Descomplicada: Sobre os Filósofos

G. E. Moore

George Edward Moore nasceu em 4 de novembro de 1873  na cidade de Londres, Inglaterra. Filho de um médico e uma dona de casa, provavelmente era de classe média alta. Ingressou na universidade Trinity College para estudar Literatura Clássica e Ciências Humanas. Depois de formado, trabalhou como professor de filosofia mental e lógica na Universidade de Cambridge. Lá, conheceu e criou amizade com Russell. Recebeu a Ordem do Mérito e era membro da Academia Britânica. Foi casado e teve dois filhos. Morreu em uma casa de repouso em Cambridge, Inglaterra, aos 84 anos em 24 de outubro de 1958.

Bertrand Russell

Bertrand Arthur William Russell nasceu em 18 de maio de 1872 na cidade de Trelleck, País de Gales. Era de uma família aristocrática e foi criado como tal pelos avós paternos (porque seus pais morreram quando ele ainda era criança). Estudou filosofia na Universidade de Cambridge e tornou-se professor da Trinity College. Porém, perdeu o cargo e ainda foi preso por seis meses porque se recusou a lutar na Primeira Guerra Mundial. Nesse período, viveu da publicação de livros básicos de matemática. Em 1939 foi para os EUA lecionar em universidades, mas acabou demitido alguns anos depois por ter ideias consideradas moralmente impróprias (ele era crítico do cristianismo). Voltou para o Reino Unido e reassumiu seu cargo de professor na Trinity College. Pacifista, ele redigiu junto com Einstein um manifesto contra a proliferação de armas nucleares. Ele foi casado quatro vezes e teve três filhos. Morreu aos 97 anos de gripe em 2 de fevereiro de 1970 na cidade de Penrhyndeudraeth, País de Gales.

Gottlob Frege

Friedrich Ludwig Gottlob Frege nasceu em 8 de novembro de 1848 na cidade de Wismar, Alemanha. Era de classe média e os pais era donos, diretores e professores de uma escola para meninas. Após a educação básica, foi estudar na Universidade de Jena. Depois, fez doutorado na Universidade de Göttingen. Retornou para a Universidade de Jena para se tornar professor e lá permaneceu até se aposentar. Ele foi professor de Rudolf Carnap e teve contato com Russel e Wittgenstein (quem admitiu sofrer muito influência). Frege escreveu várias e importantes obras; porém, nunca foi reconhecido nem ganhou fama enquanto vivo (provavelmente por seu jeito introspectivo). Foi casado e teve um filho adotivo. Morreu aos 76 anos em 26 de julho de 1925 na cidade de Bad Kleinen, Alemanha.

Wittgenstein

Ludwig Joseph Johann Wittgenstein nasceu em 26 de Abril de 1889 na cidade de Viena, Áustria. Era de uma família rica que valorizava muito as artes, em especial a música. Wittgenstein até tinha aptidão para isso, mas preferiu estudar Engenharia Mecânica na Universidade de Manchester. Estudando matemática para suas pesquisas em aerodinâmica, conheceu as obras de Russell e Frege. Após contato por cartas e presencial com Frege, lhe foi sugerido e aceitou frequentar as aulas de Russell. Dessas aulas, acabou abandonando a engenharia e focou-se totalmente na filosofia. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele lutou como voluntário, mas não interrompeu sua pesquisa. Após a guerra, trabalhou com Russell para publicação da sua importante obra Tractatus Logico-Philosophicus. Achando que tinha respondido a todos os problemas filosóficos com seu texto, decidiu se tornar professor do primário em áreas rurais, mas não teve sucesso porque era muito rigoroso com os alunos. Trabalhou ainda como jardineiro e arquiteto. Nesse período, foi procurado por membros do Círculo de Viena e por um jovem estudioso de filosofia da matemática chamado Frank P. Ramsey. Isso lhe redespertou o interesse pela pesquisa filosófica. Retornando ao Trinity College, obteve o doutorado e resolve rever seu método de pesquisa, mudando completamente sua abordagem filosófica. Suas obras e pensamentos baseados no seu pensamento presente no Tractatus pertencem ao chamado Wittgenstein I (ou primeira fase); já suas obras (extraoficiais e póstumas) e pensamento baseadas no livro Investigações Filosóficas pertencem ao chamado de Wittgenstein II (ou segunda fase). Buscou a nacionalidade britânica para evitar problemas com a Alemanha nazista, já que a Áustria havia sido anexada. Trabalhou como ajudante no Guy’s Hospital de Londres durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, retornou para a universidade e ficou lá até 1947, quando a deixa de vez e vai se dedicar totalmente a suas pesquisas e publicação do seu livro (o que só ocorreu postumamente). Ele morreu aos 62 anos de câncer de próstata em 29 de abril de 1951 na cidade de Cambridge, Inglaterra.

Filosofia Analítica Descomplicada: Conceito Geral

Primeiramente, é preciso deixar claro três coisas:

1. A filosofia analítica não é necessariamente uma corrente filosófica, sendo mais uma metodologia filosófica de estudo e análise dos problemas filosóficos;

2. A filosofia analítica não surgiu com um lugar e data definidos, sendo ela um conjunto de pensamentos intercambiáveis que ocorreu entre Moore, Russell, Frege e Wittgenstein;

3. Apesar de terem certas aproximações no que tange à abordagem analítica da filosofia, os pensamentos dos quatro filósofos são muito diferentes entre si.

Dito isso, podemos dizer que a filosofia analítica surge no início do século XX, através das obras e pensamentos de Frege, Russell, Moore e Wittgenstein. Não dá para dizer claramente o quanto um influenciou o outro porque eles eram contemporâneos e, ou trabalhavam juntos ou um lia os livros do outro.

Os filósofos analíticos clássicos não estavam preocupados em responder os problemas filosóficos existentes, mas buscaram criar um modo de examinar esses problemas – através da análise dos conceitos – acreditando que, dessa forma, os problemas filosóficos deixariam de ser problemas sem respostas e começariam a ter respostas.

Para eles, o problema dos conceitos filosóficos não estava na história do conceito (sua origem e evolução), mas na forma como esse conceito era definido.

Resumidamente, podemos dizer que a filosofia analítica defende que o papel da filosofia é analisar os discursos e conceitos filosóficos para retirar toda e qualquer ambiguidade existente.

Para esses filósofos, o grande problema da filosofia está na confusão do entendimento dos conceitos propostos. Como um filósofo não consegue compreender claramente o que o outro está dizendo, acaba que eles discutem sobre um tema sem perspectiva de entendimento.

Essa confusão nos conceitos pode ser tanto pela definição do conceito em si quanto no uso de um mesmo termo para significar coisas diferentes.

Para eles, se os conceitos fossem analisados, eles seriam esclarecidos e, com isso, ficaria fácil compreendê-los. A análise é feita através de uma descrição clara e esmiuçada do conceito, dizendo “timtim por timtim” cada elemento do conceito. Também se busca utilizar outras palavras e expressões para explicitar o significado do conceito.

É preciso esclarecer que a palavra “análise” está sendo emprega no seu sentido original, que é “dissolução, decomposição”. Ou seja, o papel do filósofo analítico é decompor o conceito o máximo possível, separando cada elemento que surgir mais e mais até o ponto que não seja possível decompor os temos empregados. Com isso, tudo fica extremamente apresentado e evita-se qualquer confusão de entendimento.

Exemplo do Sangue

Vamos pegar um exemplo fácil, fora da filosofia: o sangue.

O que é o sangue? A definição da Wikipédia diz que é um fluido corporal que percorre o sistema circulatório em animais vertebrados; formado por uma porção celular de natureza diversificada – pelos “elementos figurados” do sangue – que circula em suspensão em meio fluido, o plasma.

Está errado? Não! Porém, existem vários termos nesse conceito de sangue que podem atrapalhar a compreensão de alguém. Por exemplo, o que significa fluido? Sistema circulatório? Animal vertebrado? Elementos figurados do sangue?

Se eu coloco essa definição em uma prova estaria errado? Talvez sim, porque o professor vai querer que eu diga que o sangue é composto de plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas. Porém, tecnicamente os três últimos estão englobados no termo “elementos figurados”. Perceba que não existiu um erro em si, mas uma falta de esclarecimento.

Outra questão: a palavra “plasma” pode significar tanto esse meio fluido do sangue quanto um estado físico dos elementos posterior ao gás. Daí, se eu não especifico no meu conceito sobre sangue o que é o plasma, alguém poderia lembrar que aprendeu nas aulas de física que o sol está no estado de plasma e achar que o nosso sangue está na mesma forma…

Pode parecer “bobeira” essa necessidade de esclarecer tudo nos mínimos detalhes, mas no campo da filosofia isso é fundamental porque muitos erros ou discussões bobas ocorrem porque um conceito empregado não estava muito claro.

Exemplo da Alma

Um exemplo nas minhas aulas de filosofia que sempre dá confusão é a diferença entre o conceito de alma de Platão e Aristóteles.

Platão usa o termo alma para designar a essência do ser humano e ele acreditava que essa essência era algo real e espiritual, que estava dentro do corpo e saia quando a pessoa morria.

Já Aristóteles compreendia alma como o sofro de vida, a animação (no sentido de movimento) dos seres vivos. Por causa disso, todos os seres vivos possuíam alma: plantas, animais e pessoas. E quando um ser vivo morria, sua “alma” morria junto.

São noções diferentes, mas que usam a mesma palavra. Se o conceito não é esclarecido, gera confusão. Especialmente porque a maioria dos alunos brasileiros já vêm para aula com a noção de alma da religião cristã.

Filosofia Analítica Descomplicada: A Importância da Lógica e da Linguagem

Sobre a Lógica

Todo o trabalho dos filósofos analíticos se baseia nos avanços que a Lógica teve naquela época.

A lógica sempre se preocupou com a clareza dos discursos, para que eles possam transmitir corretamente seus enunciados. Porém, a lógica até então esbarrava no problema da linguagem comum, ou seja, nas limitações e problemas inerentes das línguas como inglês, francês, português etc.

Olha só essa frase: “Ela falou dela com ela”. A frase está correta gramaticalmente, porém ainda deixa ambíguo quem seria “ela”.

Agora, veja o que acontece se transformamos a palavra “ela” em símbolos: “X falou de Y com Z”. Nessa hora, descobrimos que são três pessoas diferentes. Porém, também poderia ser: “X falou de Y com Y”. Nesse caso, temos duas pessoas e está claro que a fala é sobre uma dessas duas pessoas.

Esse é só um exemplo simples da importância do surgimento da lógica simbólica e vários outros estudos lógicos que buscaram criar substitutos para os temos ordinários da língua comum e, com isso, retirar a ambiguidade dos conceitos e até facilitar suas traduções ou entendimentos por alguém não nativo em uma determinada língua.

Boa parte dessa análise dos conceitos incluía a utilização de símbolos para clarificar as definições e o uso da tabela-verdade para verificar se cada expressão das definições estava respeitando a verdade do conceito ou estava criando algum tipo de contradição lógica.

Sobre a Linguagem

Os filósofos analíticos deram tanta importância para a linguagem que logo pensaram que toda a importância da filosofia estava na área conhecida como Filosofia da Linguagem.

Alguns desses filósofos compreenderam que o mundo só pode ser descrito por palavras e, por isso, escolher bem as palavras para descrever ou definir esse mundo é fundamental. E caberia à filosofia estudar o modo como as linguagens estão sendo utilizadas para se evitar às más definições e ambiguidades do pensamento.

Se a filosofia deve analisar o conceito e o conceito possui um significado, a filosofia está analisando o significado. E, para se compreender bem um significo, deve-se compreender bem a linguagem pois esse é o modo como o ser humano expressa um significado.

Seria, assim, papel da filosofia analisar o funcionamento da linguagem e dos princípios que a governam. Com isso, conseguiríamos analisar o modo como pensamos (aqui, a filosofia analítica esbarra na área da Teoria do Conhecimento).

Penetrando na estrutura da linguagem, descobrir-se-ia a estrutura lógica dela. Seria a passagem da linguagem comum para a linguagem lógica.

Compreendendo bem a linguagem e a utilizando corretamente, os problemas filosóficos iriam se dissolver naturalmente e toda a realidade poderia ser conhecida de fato (aqui, a filosofia analítica esbarra na área da Metafísica).

Filosofia Analítica Descomplicada: Conclusão

A quem pertence cada ideia ou noção filosófica que expus nesse artigo? Sinceramente, não sei! É por isso que coloquei todos esses quatro filósofos “juntos” para expressar resumidamente o que é a chamada filosofia analítica clássica. Para esmiuçar o que cada um desses filósofos pensava sobre a chamada análise do conceito ou análise da linguagem, seria preciso um artigo próprio sobre cada um deles. De qualquer forma, espero que eu tenha ajudado a compreender o que é, em linhas gerais, a filosofia da linguagem clássica.

E aí? Gostou dessa explicação descomplicada sobre o Filosofia Analítica? Compartilha! Quer um artigo descomplicado específico para algum desses filósofos? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Filosofia Analítica Descomplicada: Referências

CHAT GPT 3.5. Analytic Philosophy Overview.

INE.EAD. Filosofia analítica. Instituto Nacional de Ensino – Pós-graduação Lato Sensu. Acessado em 25 jan 2024.

QUINTON, Anthony. Filosofia analítica. Tradução de Paulo Ruas. In: Crítica – Revista de Filosofia. Disponível em: criticanarede.com.

WIKIPÉDIA. Verbete Filosofia analítica.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.