Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Metodologia Filosófica

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Metodologia Filosófica

Olá, marujos! Hoje, explicarei a fenomenologia de Husserl de forma descomplicada. Após breve biografia do filósofo, apresentarei os motivos dele ter proposto a fenomenologia como um novo método de investigação filosófica, como esse método funciona e os principais conceitos que envolvem esse tema. Usaremos bastantes exemplos para ajudar. Vamos lá!

Sobre o Filósofo

Edmund Husserl é um filósofo alemão conhecido como o pai da fenomenologia. Ele nasceu em 8 de abril de 1859 na cidade Friburgo na Brisgóvia. Ele iniciou seus estudos no campo da matemática, mas depois se direcionou para a filosofia. Seu maior objetivo foi desenvolver um método filosófico que possuísse o rigor matemático. Passou sua vida como acadêmico e professor universitário até se aposentar. Ele ainda continuou suas pesquisas na universidade até ser afastado definitivamente por causa de leis antissemitas (Husserl era de origem judaica). Faleceu aos 79 anos em 27 de abril de 1938.

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Objetivos e Etimologias.

Husserl buscava desenvolver um método de investigação filosófica tão rigoroso quanto os métodos de investigação científicos.

Inspirado inicialmente na ciência positivista e na filosofia empirista, ele entendia a importância da experiência para uma correta compreensão das coisas. Porém, no campo da filosofia, nem tudo é sensível (ou seja, disponível aos sentidos).

Além disso, Husserl também via um problema na forma como supostamente os objetos do mundo sensível eram apreendidos e compreendidos, pois discordava da possibilidade de se compreender totalmente a coisa em si, como se fôssemos capazes de obter todas as informações existentes de algo apenas com os nossos sentidos e razão limitados pela nossa própria limitação humana.

Desta forma, propôs aquilo que ficou conhecido como método de investigação fenomenológica ou, simplesmente, fenomenologia.

Fenômeno, para ele, seguia a noção kantiana de ser “aquilo que aparece ou se manifesta”. Em outras palavras, só podemos compreender as coisas como fenômenos, como elas se apresentam a nós.

Daí, sua proposta metodológica recebeu o nome de fenomenologia, que seria a “descrição daquilo que aparece”. E esse método ficou conhecido como uma “ciência que tem como objetivo ou projeto essa descrição [daquilo que aparece]”.

Resumidamente, podemos dizer que Husserl propôs uma forma de compreender o que as coisas são investigando essas coisas como fenômenos, pois elas só são compreendidas tal como se mostram a nós. Assim, ao descrever da melhor forma possível e com todo o rigor aplicável, conseguiríamos chegar a sua verdade.

A fenomenologia de Husserl é descritiva e não explicativa. Sua proposta e descrever como as coisas são e não buscar explicar porque as coisas são daquela forma. “Os fenômenos são coisas que se mostram e o fenomenólogo as descreve como se mostram”.

Porém, Husserl compreendeu que esse processo da coisa “aparecer ou se manifestar” possui algumas complexidades, assim como a descrição do fenômeno também possui algumas complexidades para que o resultado seja satisfatório e bem aceito. É por isso que ele se dedicará a explicar com detalhes como se dá a manifestação fenomênica e como atingir o ápice da descrição fenomenológica.

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Consciência e Intencionalidade

A base do método fenomenológico está na consciência humana. Curiosamente, o próprio Husserl deve dificuldade em deixar uma explicação simples sobre o que é consciência. Acaba que esse conceito é explicado envolvendo ao mesmo tempo vários outros conceitos e, mesmo assim, não possui claramente uma definição.

Para o filósofo, a consciência não seria algo em si (como se fosse uma substância ou um órgão humano), mas a forma como a mente humana se conecta com o mundo. É por isso que sua definição clássica é “toda consciência é consciência de algo”.

Sua definição quer dizer que nos conectamos com o mundo através da consciência. Podemos dizer que nós sabemos que o mundo existe porque temos consciência que ele existe. Da mesma forma, o modo como as coisas se apresentam para nós é através da consciência. Ou seja, compreendemos o mundo através de nossas consciências.

É por isso que tudo acaba sendo um fenômeno, porque a coisa se mostra a nossa consciência e só compreendemos as coisas através da nossa consciência.

Para tentar explicar melhor esse processo de compreender as coisas, Husserl introduz o conceito de intencionalidade. Intencionalidade seria o ato, o movimento que a nossa consciência faz para captar as coisas.

A nossa consciência sempre é intencional porque ela está “intencionalizada”, no sentido de direcionada para alguma coisa. Enquanto você está lendo esse texto, sua consciência está direcionada para compreender esse texto e está automaticamente ignorando praticamente todo o resto. É como se você esquecesse todo o resto do mundo porque sua consciência está focada aqui.

Porém, a qualquer hora, sua consciência pode abandonar esse texto e se direcionar para algo, por exemplo, uma notificação de mensagem no WhatsApp ou Instagram, ou alguém te chamando. Nesse momento, sua consciência vai focar naquilo e esquecer momentaneamente a existência desse texto até que você satisfaça o chamado. Após resolvê-lo, sua consciência poderá se direcionar novamente para cá.

Com esses conceitos postos, Husserl vai definir que é através da nossa consciência de algo que poderemos descrever o que é esse algo, podendo extrair suas informações fenomênicas.

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Redução Fenomenológica

Agora, vamos pegar como exemplo um hambúrguer. Objetivo de Husserl com a fenomenologia é poder descrever com rigor o que é essa coisa que chamamos de hambúrguer.

Aqui entra aquilo que ele chamou de técnica da redução fenomenológica (originalmente, Husserl usou o termo epoché, pegando emprestado esse termo dos céticos, mas aplicando nele um novo sentido). Seguindo essa técnica, nós iremos suspender qualquer informação pré-concebida (como teorias e definições) que tenhamos desse objeto a ser descrido para conseguir descrevê-lo da forma mais pura possível, tal como ele se apresenta a nossa consciência, como se fosse a primeira vez que estivemos diante dele.

A proposta husserliana é podermos descrever o que é um hambúrguer sem pré-condições como o fato de já termos comido esse prato e achá-lo maravilhoso ou detestável, sem considerar o fato de gostarmos ou não de comer carne, sem julgar se aqueles que fizeram o prato é uma barraquinha “pé-sujo” ou uma hamburgueria requintada, sem considerarmos que estamos com fome ou de barriga cheia.

Nosso objetivo, como fenomenólogos, é descrever o que estamos vendo, o que estamos sentindo ao tocar, cheirar e comer esse hambúrguer. É descrever tudo da forma mais purificada possível.

Como outro exemplo, considere que você precisa explicar o que é um tal ato religioso, como uma sessão espírita.

Você, como fenomenólogo, não pode fazer essa investigação partindo dos seus valores religiosos, da sua crença ou não em algo superior, da sua necessidade atual ou não de ter uma resposta ou solução para algum problema, com disposição exagerada ou com falta de disposição de participar do ato em si, etc.

A investigação precisa ser a mais descritiva possível, de tudo o que você viu, de tudo o que sentiu ou não sentiu. Só assim você conseguiria, pela opinião de Husserl, de uma descrição adequada desse fenômeno.

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Análise Eidética

O diferencial “científico” na proposta de Husserl está em associar a técnica da redução fenomenológica àquilo que ele chamou de análise eidética.

Pegando nossos exemplos anteriores, cada hambúrguer feito é único, cada sessão espírita é única. Dessa forma, como que poderíamos com, apenas uma experiência vivida, sermos capazes de dizer de forma “clara e distinta” o que é a coisa hambúrguer e o que é a sessão espírita?

Para resolver esse problema e atingir o máximo grau da perfeição possível foi que Husserl disse que precisamos fazer aquilo que ele chamou de análise eidética, que seria, em outras palavras, buscar a essência da coisa (dentro, obviamente, da limitação imposta pelo próprio método).

Dessa forma, podemos dizer que existiria uma essência do fenômeno hambúrguer, uma essência do fenômeno sessão espírita, assim como existiriam essências de todos os demais fenômenos que nossa consciência é capaz de intencionalizar.

Para atingir esse objetivo, o fenomenólogo precisa experimentar ou imaginar todas as variações possíveis dentro daquele fenômeno que está sendo analisado.

No exemplo do hambúrguer, digamos que a primeira experiência foi com uma carne entre duas fatias de pão. Somente isso é hambúrguer? Se colocasse uma fatia de queijo, ainda era um hambúrguer ou tipo de hambúrguer? Se coloca duas carnes em vez de uma? Se colocasse salada? Se a carne fosse de base vegetal? Se tivesse carne, mas não tivesse pão? Se tivesse pão, mas não tivesse carne? Se a carne fosse um filé em vez de uma carne moída?

Todas essas possibilidades devem ser vivenciadas ou, ao menos, imaginadas pelo fenomenólogo para que ele possa alcançar aquilo que Husserl chamaria de essência do hambúrguer.

Após todo esse processo, o fenomenólogo, conseguiria “deputar” a essência do hambúrguer, descrevendo o que é essencial para que algo seja chamado de hambúrguer e quais as variações que esse prato pode receber que ainda lhe garantiria ser ainda um hambúrguer.

Dessa forma, teríamos uma descrição a mais completa possível do fenômeno hambúrguer.

Vale destacar que Husserl está ciente que é impossível aquilo que ele chama de evidência apodítica, ou seja, uma compreensão plena e completa do fenômeno. Sempre é possível que algo escape ao fenomenólogo, mas é obrigação dele fazer de tudo para conseguir reduzir o máximo possível a diferença entre como o fenômeno se apresenta às consciências humanas e como ele foi descrito.

Fenomenologia de Husserl Descomplicada: Conclusão

O tema “Fenomenologia de Husserl” é muito extenso e complexo para ser explicado em um texto de blog. Eu busquei focar naquilo que é mais importante para você entender bem qual é a proposta em si desse método e como ele funciona. Vários conceitos famosos de Husserl sobre esse assunto ficaram de fora (como Noema, Noese, Horizonte, Fundo, Hylé, Intuição, Transcendente e Transcendental) para que a leitura não ficasse demasiadamente cansativa nem que fizesse você acabar se perdendo naquilo que era o mais importante.

E aí? Gostou dessa explicação descomplicada sobre a Fenomenologia de Husserl? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre esses outros conceitos de Husserl citados na conclusão? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

CHAT GPT 3.5. O que é a fenomenologia de Husserl?.

SILVA, Paulo César Gondim da. A fenomenologia de Husserl: uma breve leitura. In: Meu Artigo. Acessado em 15 dez. 2023.

WIKIPÉDIA. Verbete Fenomenologia.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.