Ética de Epiteto Descomplicada: Estoicismo Imperial

Ética de Epiteto Descomplicada: Estoicismo Imperial

Olá, marujos! Hoje, explicarei a ética de Epiteto de uma forma descomplicada. Farei uma apresentação do filósofo, falarei das suas obras e corrente filosófica e explicarei como Epiteto respondia à pergunta “como devemos agir?”. Vamos lá!

Sobre Epiteto

Epiteto (às vezes grafado como Epicteto) nasceu em 55 d.C. na cidade de Hierápolis, na antiga Frígia (atualmente, parte da Turquia). Seu nome significa “homem comprado, escravo”. De fato, ele era filho de uma escrava e serviu ao seu senhor de nome Epafrodite.

Epafrodite era secretário do imperador Nero e levou Epiteto para Roma. Lá, Epiteto teve o direito de estudar filosofia com o estoico Caio Musônio Rufo.

Os relatos dizem que Epiteto mancada de uma perna, provavelmente quebrada pelo seu próprio dono por simples diversão (outros relatos dizem que era uma deficiência de nascença).

Não se sabe porquê, Epiteto foi liberto e começou a dar aulas de filosofia em Roma até ser expulso (junto com todos os filósofos) pelo imperador Domiciano em 94 d.C.

Epiteto foi, então, para a cidade de Nicópolis, no antigo Épiro (atualmente, parte da Grécia). Lá, abriu uma escola de filosofia que ficou renomada.

Nessa cidade, Epiteto permaneceu até a morte em 138 d.C.

Ética de Epiteto Descomplicada: Escola Filosófica e Escritos

Epiteto pertencia ao Estoicismo. É considerado um dos grandes nomes do estoicismo tardio (ou estoicismo imperial), ao lado de Sêneca e Marco Aurélio.

Epiteto nada escreveu, mas um de seus alunos, de nome Lúcio Flávio Arriano Xenofonte (mais conhecido como Arriano), fez anotações das aulas de Epiteto que, compiladas, deram doze livros chamados Lições (narrativas das exposições teóricas), oito livros chamados Conversas (discursos e discussões), um Manual (resumo dos pontos essenciais da doutrina) e uma possível biografia (a Vida de Epiteto).

Infelizmente, apenas as quatro primeiras Conversas, o Manual e mais alguns fragmentos chegaram até nossos dias.

Ética de Epiteto Descomplicada: O que Eu Posso ou Não Controlar

Epiteto reconhece que existem coisas que estão sob o nosso controle e coisas que não estão sob o nosso controle.

Além disso, as coisas não são nem boas nem más, elas são indiferentes. Somos nós, seres humanos, que julgamos algo como um bem ou um mal para o que nos afeta.

Por exemplo, a chuva é algo natural. Porém, nós podemos julgá-la como um bem quando chove em minha plantação ou um mal quando chove no dia que planejávamos ir na praia.

Por esse motivo, a virtude só se apresenta naquilo que seria encargo nosso (que podemos controlar), e não naquilo que não é encargo nosso (que não podemos controlar).

As Coisas que não estão sob nosso Controle

Não estão sob o nosso controle as opiniões alheias e acontecimentos que não dependem de nós.

Dessa forma, não devemos buscar a aprovação dos outros nem nos abalar quando os outros não nos aprovam. Devemos ter em mente que a opinião dos outros é incontrolável e, por isso, não pode ser fonte de nossa felicidade. Por isso, Epiteto exortava seus alunos a não serem vaidosos nem buscarem status social.

Como exemplo, pense que você é um ótimo aluno de alguma matéria. Isso não pode lhe subir à cabeça de tal forma que você queira que seus colegas lhe peçam ajuda ou que o professor lhe faça elogios públicos. Se essas coisas acontecerem, se sinta grato e mantenha a mesma postura que tem nas disciplinas nas quais você não é bom. E se ninguém lhe der o mérito pelo ótimo conhecimento, isso também não é motivo para você deixar de ser um bom aluno porque o conhecimento do conteúdo deve ser buscado por si mesmo (e não para servir de motivos para elogios).

Além disso, fatos como doença, morte ou pobreza também não estão sob o nosso controle. Claro que temos a obrigação de cuidar da nossa saúde e do nosso dinheiro. Porém, às vezes, mesmo fazendo tudo certo, essas fatalidades podem acontecer.

Não são poucos os casos de câncer (por exemplo) em pessoas consideradas “boas” ou a morte prematura de outras por causa da violência, simplesmente por estarem no lugar errado na hora errada. Da mesma forma, uma grande mudança social (como foi a pandemia) ou em evento inesperado (como um acidente) podem custar suas economias.

Sendo assim, não nos cabe ir contra esses acontecimentos porque simplesmente é impossível. Logo, o que podemos fazer é aceitar e lidar da melhor forma possível com aquilo que nos acomete. Recusar o fato não vai fazer com que ele deixe de acontecer, mas aprender a lidar com ele pode minimizar seus impactos.

As Coisas que estão sob nosso Controle

Não podemos controlar o incontrolável, mas podemos “treinar”, ou seja, nos preparar para essas coisas sem controle de tal forma que, caso venham a ocorrer, não nos abale. Isso está sob nosso controle!

A filosofia, para Epiteto, se apresenta exatamente nesse autoconhecimento. É através da filosofia que o ser humano buscará se conhecer para saber se relacionar com os fatos da vida. A filosofia nos ajuda a conhecer o nosso interior e nos relacionar com aquilo que nos é exterior.

É na reflexão filosófica que o ser humano entende seu lugar no mundo. O pensamento estoico compreende que todo o cosmo é completamente ordenado naturalmente e temos um papel a cumprir nessa ordem natural das coisas.

Ética de Epiteto Descomplicada: A Verdadeira Liberdade

Para Epiteto, a liberdade não está em fazer o que se quer, mas em querer o que se faz. Dessa forma, compreende-se que não devemos nos abalar quando as coisas não saem do jeito que desejamos, mas devemos buscar concordar com a forma como as coisas aconteceram.

Assentimento x Resignação

A felicidade, para o filósofo, está em assentir com o Destino. Porém, assentir não significa resignar-se.

Assentir é concordar porque se sabe que é o melhor, resignar-se é submeter-se àquilo que não se concorda.

Assentimento é uma ação ativa (é sua escolha), enquanto que a resignação é uma ação passiva (você foi obrigado).

Pense em uma decisão democrática na qual seu lado perdeu. Por exemplo, um grupo de amigos vota para decidir qual filme ir ver no cinema e a maioria não vota no filme que você queria ir. Assentir é entender que, naquele momento, você verá o outro filme porque assim foi decidido e aproveitar ao máximo a experiência. Resignar-se é você ir contrariado, ficar de “cara emburrada” e reclamar durante todo o filme.

Invencível x Invulnerável

Para Epiteto, aquele que consegue praticar a filosofia estoica se torna invencível. Invencível é aquele que não é vencido. Mas porque o estoico não é vencido? Porque ele não luta contra aquilo que lhe acontece. Só se é vencido quando você luta contra algo e perde. Como o estoico aceita o destino, ele não se abala com o que acontece.

Por outro lado, o estoico não é invulnerável. Isso quer dizer que coisas podem acontecer com ele, coisas que outros podem julgar como boas ou más, mas que o estoico não irá julgar. É óbvio, por exemplo, que o estoico não deve buscar ficar doente, mas deve assentir com a doença caso ela aconteça.

Ética de Epiteto Descomplicada: A Arte de Viver

Para Epiteto (e a maioria dos filósofos antigos), a filosofia não é um exercício apenas teórico, mas também prático. Dessa forma, a filosofia estoica de Epiteto servia para preparar o ser humano para levar uma vida plena, alcançando a felicidade.

Dessa forma, veremos que boa parte dos seus escritos servem como guias de como agir bem, de como se comportar para alcançar essa plenitude.

O progresso na virtude ocorre conforme o ser humano vai entendendo a ética estoica (teoria) e aplicando-a no seu dia a dia (prática). Para o filósofo, a teoria é a primeira e mais fácil das partes da filosofia. A segunda e mais difícil é aplicar os conhecimentos teóricos nos acontecimentos particulares da vida.

Ética de Epiteto Descomplicada: Obra e Comentário

Deixo como sugestão o Manual de Epiteto (escrito pelo seu aluno Arriano no século I-II d.C.) e um comentário a esse manual, em que a autora busca aplicar os ensinamentos de Epiteto para os problemas modernos.

     

Ética de Epiteto Descomplicada: Conclusão

Epiteto nos ensina que tem coisas que controlamos e coisas que não controlamos. As coisas que não controlamos não podem nos abalar. Sobre as coisas que controlamos, devemos nos preocupar em lidar corretamente com elas. Lidar corretamente, resumidamente, é aceitar o Destino compreendendo que aquilo era o melhor que deveria ocorrer. Agindo dessa forma, não nos abalamos e nos tornamos invencíveis.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

ARRIANO, Flávio. O Manual de Epicteto. Tradução do texto grego: Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Introdução e notas: Aldo Dinucci. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

Equipe editorial do MusaNews. Os 3 requisitos para alcançar a felicidade, de acordo com Epicteto. MusaNews. Acessado em 17 de maio de 2022.

LUZ, Diego da. Ética e atitude filosófica em Epicteto. Prometheus, n. 29, janeiro-abril 201, p. 13-25.

PORTIER, Sylvain. Epicteto: a felicidade por desapego. Tradução de Rodrigo Lucheta. Machine Deleuze. Acessado em 17 de maio de 2022.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.