Olá, marujos! Hoje, explicarei o conceito aristotélico de animal racional de um jeito descomplicado. Para isso, também trabalharei o conceito de alma para Aristóteles. No final do artigo, deixarei uma dica de como trabalhar esse tema em sala de aula através de um jogo. Vamos lá!
Sobre Aristóteles
Aristóteles foi um filósofo grego que viveu no século IV a.C., considerado o último dos três grandes filósofos do período clássico. Ele era discípulo de Platão, mas desenvolveu uma filosofia própria, que muitas vezes contrastava com as ideias de seu mestre. Ele fundou sua própria escola, chamada de Academia.
Para ter uma biografia completa de Aristóteles, recomendo: Aristóteles Descomplicado: Biografia e Filosofia.
Animal Racional Descomplicado: Estrutura Biopsíquica dos Seres Vivos
Em sua teoria Metafísica, Aristóteles vai dizer que todos os seres existentes são formados de matéria e forma. A matéria funciona como uma espécie de substrato, de elemento comum a tudo o que existe. Já a forma é o que dá a particularidade dos seres. Cada ser existente possui uma forma própria. Por exemplo, uma pedra é a junção da forma “pedra” com um punhado de matéria; uma cadeira é a junção da forma “cadeira” com um punhado de matéria.
No caso dos seres vivos, a forma que eles recebem é chamada por Aristóteles de Alma (psyché em grego). A diferença das formas dos seres não vivos para as formas dos seres vivos é que a alma dá movimento ao corpo (entendendo aqui movimento como a capacidade de transformação, de mudança, de crescimento). Por exemplo, teríamos a alma de cachorro, a alma de mangueira.
Dessa forma, a primeira grande novidade de Aristóteles é que todos os seres vivos possuem alma (entendendo, claro, a particularidade do conceito de alma em Aristóteles). A segunda grande novidade é a valorização da estrutura biopsíquica dos seres vivos.
Platão, desvalorizava o corpo humano, considerando-o o cárcere da alma (essa sim, a essência humana). Aristóteles, ao contrário, considerará que o ser humano é um conjunto de corpo e alma, que sua essência compreende essa união e que ele não pode ser pensado separando-se uma coisa da outra.
Animal Racional Descomplicado: Funções da Alma
Como eu falei acima, Aristóteles considerava que era a alma que dava toda a animação dos corpos dos seres vivos (sim, a palavra animação vem de alma!). Só que, como podemos imaginar, são muitos e diversos os movimentos que ocorrem em um ser vivo. Por isso, Aristóteles listou as funções que a alma desempenha nos seres vivos:
Função de Crescimento – aqui estão englobados todos os processos relativos ao crescimento e desenvolvimento de um ser vivo, do nascimento até a morte.
Função Nutritiva – aqui estão englobados todos os processos relativos à alimentação de um ser vivo, desde o começo até o final (excreção).
Função Reprodutiva – aqui estão englobados todos os processos relativos à reprodução de um ser vivo, ou seja, perpetuação da espécie.
Função de Percepção – aqui estão englobados todos os processos relativos às sensações de um ser vivo, especialmente a de prazer e dor.
Função de Mobilidade – aqui estão englobados todos os processos relativos ao deslocamento espacial de um ser vivo, ou seja, a capacidade de se locomover, de sair de um lugar e ir para outro.
Função Intelectiva – aqui estão englobados todos os processos relativos ao raciocínio e desenvolvimento de pensamentos de um ser vivo.
Animal Racional Descomplicado: Tipos de Alma
Como vocês podem ter desconfiado ao lerem o tópico anterior, nem todos os seres vivos são capazes de executar todas as funções listadas acima.
Isso ocorre porque, segundo Aristóteles, existem três tipos de alma. E cada tipo de alma consegue executar uma quantidade de funções.
Através de suas observações, Aristóteles descreveu três tipos de alma:
Alma Vegetativa – é a alma que dá forma aos seres vegetais, que estariam no reino vegetal e fungi (já que os conhecimentos científicos daquela época não permitiam uma distinção clara de um grupo para outro). As funções que a alma vegetativa possui são: Crescimento, Nutrição e Reprodução.
Alma Sensitiva – é a alma que dá forma aos animais, exceto o ser humano. Aristóteles chama esse grupo de viventes superiores. As funções que a alma sensitiva possui são: todas as funções da alma vegetativa (Crescimento, Nutrição e Reprodução) mais as funções de Percepção e Mobilidade.
Alma Racional – é a alma que dá forma aos seres humanos. As funções que a alma racional possui são: todas as funções da alma sensitiva (Crescimento, Nutrição, Reprodução, Percepção e Mobilidade) mais a função Intelectualidade.
Devemos ter consideração pelas limitações científico-técnicas daquela época. Por isso, perdoem Aristóteles por desconsiderar os estudos recentes os quais dizem que as plantas sentem dor e os que dizem que alguns animais conseguem desenvolver alguns tipos de pensamento e raciocínio. Também desconsiderem o fato dele não saber da existência dos reinos protista e monera.
Animal Racional Descomplicado: Definindo o Ser Humano
Como podem perceber, para Aristóteles, o ser humano está muito próximo dos animais, tendo “apenas” uma função exclusiva.
O termo grego empregado por Aristóteles para definir o ser humano é zôon logikón. Zôon é animal em grego, e logikón é uma declinação da palavra lógos. A palavra lógos pode ser traduzida de diversas formas, dentre elas temos razão, raciocínio, mas também palavra e discurso. Com isso, percebemos que o ato de falar e conversar, exclusivos do ser humano, são também indícios dessa distinção com os demais animais.
Dessa forma, podemos ver que, para Aristóteles, o ser humano é um animal que pensa. Isso é importante porque o filósofo não nega as vontades e necessidades do corpo. O corpo é parte da essência humana. O ser humano lida com a dor e com o prazer e isso não pode ser negado ou ignorado. A diferença é que o ser humano possui a racionalidade para guiar essa busca pelo prazer e essa fuga da dor.
Animal Racional Descomplicado: Ser Humano como Animal Político
Outra definição de Aristóteles para o ser humano é a de que ele é um animal social. Político em grego vem do termo pólis, que é cidade.
O fato do ser humano ser racional e ter o discurso, a fala como características únicas o faz ser social, o faz necessitado de se relacionar com outros seres humanos, de conviver com eles.
Dessa forma, para Aristóteles, o ser humano só consegue se desenvolver plenamente se exercitar a sua razão em um meio social, sem negar as suas necessidades biológicas.
Animal Racional Descomplicado: Ensinando esse Conteúdo
Caso precise ensinar esse conteúdo em sala de aula e queira fazer alguma coisa diferente, recomendo a leitura do artigo: Antropologia de Aristóteles através da Gamificação.
Conclusão
No fim desse artigo, podemos perceber que Aristóteles soube valorizar tanto o corpo quanto a alma do ser humano, ou seja, tanto a sua parte biológica quando a sua parte psicológica. Com isso, ele cria uma unidade na dualidade. O ser humano, segundo esse pensamento filosófico, não pode negar nem seus sentidos nem sua razão. Ao contrário, deve se esforçar para valorizar ambas as dimensões.
Referências
CAMPOS, Afonso. A teoria da alma em Aristóteles. Blog Theoretico. Acessado em 22 mai. de 2021.