Tomás de Aquino Descomplicado: Biografia e Filosofia

Tomás de Aquino Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje falaremos sobre Santo Tomás de Aquino de um jeito descomplicado. Vamos apresentar um pouco da sua vida e da sua filosofia, explicando de forma breve a clara suas principais ideias filosóficas. Esse artigo serve como introdução a esse filósofo. Por isso, ao longo do tempo, poderão surgir links que levem para artigo dedicados a suas teses filosóficas e/ou para formas diferenciadas de explicá-las em sala de aula. Vamos lá!

Sobre Tomás de Aquino

Infância e Juventude

Tomás de Aquino nasceu em 1225 na cidade de Roccasseca, Itália (na época, Reino da Sicília). O Aquino de seu nome é referência a uma cidade com esse nome cuja região pertencia a sua família. Ele era de uma família nobre e seus pais queriam que ele seguisse uma vida religiosa, se tornando abade de um mosteiro beneditino (função de destaque na época, muito comum para os filhos mais novos de nobres italianos).

Para cumprir essa função, Tomás foi estudar no mosteiro de Monte Cassino aos cinco anos de idade. Contudo, aos 14 anos, devido a um conflito militar, precisou sair de Monte Cassino e foi estudar na studium generale de Nápoles (o que seria hoje a nossa universidade). Foi lá que Tomás teve contato com os escritos de Aristóteles, Averróis e Maimônides pela primeira vez. Foi lá também onde Tomás conheceu a Ordem Dominicana, a qual decidiu entrar quando tinha dezenove anos.

Entretanto, a Ordem Dominicana não estava nos planos de sua família (porque essa era uma ordem mendicante, sem o mesmo prestígio que a monástica). Para tentar impedir Tomás, sua própria família o sequestrou e o manteve refém em seus castelos. A família tentou de tudo para dissuadi-lo da decisão, mas fracassaram. Entendendo que não tinha outra opção, sua mãe Teodora secretamente arranjou uma fuga para Tomás. Assim, ele pode fugir e se juntar aos dominicanos.

Início da Carreira Acadêmica

Tomás foi estudar na Universidade de Paris. Lá, conheceu Alberto Magno (grande filósofo e teólogo da época). Desde aquela época, Tomás já demonstrava que tinha grande vocação para a filosofia e teologia.

Em 1248, Alberto Magno foi designado para lecionar na Universidade de Colônia e levou Tomás como seu professor assistente. Lá, ele se tornou professor de sagradas escrituras e escreveu alguns livros sobre elas. 

Em 1252, com 27 anos, Tomás volta à Paris para fazer seu mestrado. Nessa época, se torna também professor de filosofia. Terminado o mestrado, em 1256, Tomás é nomeado regente principal em teologia em Paris. Durante todo esse período, Tomás escreve bastantes obras de filosofia e teologia.

Responsabilidades Papais e Dominicanas

Em 1259, com 34 anos, Tomás volta para Nápoles e assume a função de pregador geral da ordem dominicana. No ano seguinte, foi enviado para Orvietto para formar os novos frades dominicanos. Lá, ele também terminou seu livro Suma contra os gentios e escreveu a liturgia da festa de Corpus Christi, a pedido do papa.

O papa Clemente IV, em 1265, convocou Tomás para ir à Roma servir como teólogo papal. Pelos dominicanos, Tomás foi ordenado padre e assumiu como professor de um studium dominicano em Roma. Lá, ele produziu diversas obras e começou a escrever a Suma Teológica. Ele permaneceu nessas funções até 1268, quando foi chamado para lecionar novamente em Paris.

Segunda Regência em Paris

Entre 1268 e 1272, Tomás foi designado para ocupar novamente a função de regente mestre da Universidade de Paris. O motivo era a necessidade de combater interpretações inadequadas de Aristóteles que estavam levando os teólogos a ensinarem e pregarem heresias.

Nessa época, Tomás não só teve que corrigir as distorções do pensamento aristotélico como teve que defender o próprio aristotelismo de teólogos platônicos que consideravam a incompatibilidade de Aristóteles com a religião cristã.

Para realizar esse feito, Tomás produziu mais uma série de livros e terminou a segunda parte da sua Suma Teológica.

Experiência Mística e Morte

Em 1272, Tomás deixou a sua função em Paris e foi para Nápoles fundar e presidir uma escola (studium general). Nela, começou a escrever a terceira parte da Suma Teológica.

Em 1273, Tomás deve uma experiência mística na capela do santíssimo da qual nunca deu detalhes. Desde então, parou de escrever sobre teologia e filosofia. Questionado, respondeu “tudo o que escrevi não passa de uma palha para mim“. 

Em 1274, então com 49 anos, foi convocado pelo papa Gregório X para ir à Roma, falar do livro que havia escrito chamado Contra os Erros dos Gregos no concílio de Lyon. Tomás foi, mas sofreu um acidente na viagem: bateu a cabeça em uma árvore e ficou seriamente ferido.

Ele ficou hospitalizado por um tempo no mosteiro de Monte Castelo e, depois de melhorar um pouco, seguiu viagem. Contudo, logo depois adoeceu novamente, ficando internado no mosteiro de Fossanova. Lá, ele acabou morrendo em 7 de março de 1274.

Tomás de Aquino foi canonizado em 1323. Em 1568, o papa Pio V o declarou Doutor da Igreja.

Tomás de Aquino Descomplicado: Escolástica

Assim como Santo Agostinho foi o grande responsável por introduzir o pensamento platônico na filosofia e teologia cristã, Tomás de Aquino foi o responsável por introduzir o pensamento aristotélico na filosofia e teologia produzida pela igreja cristã na época.

Tomás de Aquino ficou conhecido como o maior expoente da escolástica, um período filosófico dentro da filosofia medieval e também um estilo próprio de produção filosófica. Nesse tipo de investigação filosófica, os escritos eram feitos na forma de dialética, em que os problemas eram apresentados em forma de perguntas e repostas, sendo analisadas tanto as respostas erradas quanto as certas, fundamentando-as todas (porque as erradas estão erradas e porque as certas estão certas).

O principal problema estudado ainda era a fundamentação racional da fé cristã, mas também já começavam a surgir pensamentos independentes dessa temática. Além disso, a filosofia começou a deixar de ser serva da teologia para ser uma irmã, aceitando-se, assim, produções de conhecimento puramente fundamentados na razão. Claro que isso não permitia a produção de conhecimentos anticristãos, mas dava uma certa autonomia para enfoques filosóficos de temas não-cristãos.

Tomás de Aquino Descomplicado: Teoria do Conhecimento

Tomás de Aquino compreendia que todos os seres humanos são dotados de uma razão natural, dada a eles por Deus como um dom, um presente. Por esse motivo, a razão natural é fundamental para se chegar à verdade.

Algumas verdades podem ser alcançadas apenas pela razão. Já outras, precisam do auxílio da fé. Dessa forma, Tomás mostra que a teologia não substitui a filosofia, mas a complementa.

Sendo assim, toda investigação sobre as verdades do mundo devem começar pela filosofia, que possui um conjunto de instrumentos de investigação próprio, inacessível à teologia. Algum problemas, como dito, podem ser resolvidos apenas com a filosofia (razão). Já outros, precisarão do auxílio posterior da teologia (fé).

Para Tomás de Aquino, fica evidente que a razão não contraria a fé. Se, em algum momento, há contrariedade, não é culpa da razão em si, mas de uma má interpretação filosófica, que deve ser corrigida.

Tomás de Aquino Descomplicado: Ética

Felicidade

Assim como em Aristóteles, Tomás de Aquino também defendia que o finalidade última das ações humana era a felicidade. A felicidade seria o propósito de existência humana.

Para Tomás de Aquino, a felicidade era um estado de espírito, e não a posse de bens materiais. Além disso, a felicidade não era um alvo, que atingido durava permanentemente. Logo, o ser humano poderia alcançar e também perder a felicidade se se despreocupasse do seu estado de espírito.

Para alcançar a felicidade, o ser humano deve praticar as virtudes cardeais e teologais.

Virtudes Cardeais

São quatro virtudes que a razão humana pode encontrar e praticar sem o auxílio da graça divina. Servem para guiar a ação humana à felicidade. São elas:

Prudência: discernimento do que é o verdadeiro bem e a melhor forma de alcançá-lo.

Temperança: moderação e equilíbrio na busca pelos prazeres.

Justiça: vontade de dar ao outro o que lhe é devido.

Fortaleza: firmeza e constância para aguentar as dificuldades enquanto busca o bem.

Virtudes Teologais

Tem como origem e finalidade o próprio Deus. Foram dadas ao ser humano através da graça divina. Auxiliam o cristão na sua vida moral. São elas:

Fé: permite a crença em Deus e nas suas verdades reveladas na Bíblia e pregadas pela Igreja.

Esperança: permite a crença na vida eterna e no Reino de Deus.

Caridade: permite amar a Deus sobre todas as coisas.

Tomás de Aquino Descomplicado: Filosofia do Direito

Tomás de Aquino distingue quatro tipos de lei que governam os atos humanos:

Eterna: é a ordem do universo, se referindo ao seu funcionamento. Foi estabelecida por Deus na sua criação. É eterna e imutável.

Natural: é a manifestação da lei eterna nos seres vivos. Tem como principal preceito “fazer o bem e evitar o mal”.

Humana: é a lei positiva, criada pelo ser humano para conviver em sociedade. Deve, como é de se supor, respeitar a lei eterna e natural.

Divina: a lei das sagradas escrituras, que vem em auxílio do ser humano para facilitar o cumprimento da lei eterna e natural.

Tomás de Aquino Descomplicado: Metafísica

Tomás de Aquino inova a metafísica quando faz uma distinção entre a busca pela essência do ser geral e a busca pela essência do ser pleno (Deus, que será trabalhada no próximo tópico).

Para a compreensão das coisas existentes, Tomás faz uma distinção entre Ser e Essência. Para o filósofo, todas as coisas existentes são contingentes (ou seja, poderiam existir ou não). Dessa forma, para que as coisas possam passar a existir, elas precisam do ser de Deus, que lhes dá realidade.

Dessa forma, tudo o que existe possui uma essência que lhe distingue das demais coisas, mas também o ser (entendido como uma participação no ser de Deus e que é comum a todas as coisas).

Tomás de Aquino Descomplicado: Filosofia da Religião

As Cinco Vias da Existência de Deus

Para um artigo dedica às cinco vias da existência de Deus, acesse: As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada.

Tomás de Aquino oferece cinco provas racionais de que Deus existe. Segundo ele, basta a compreensão de uma dessas provas para que uma pessoa não crente possa acreditar em Deus apenas utilizando a sua razão.

Todas essas provas se utilizam do método indutivo. Ou seja, partem do nossa mundo / nossa realidade material, para se chegar ao sobrenatural. São elas:

A Via do Movimento: tudo o que ganha movimento (entendido como transformação / mudança) é devido a algum fator externo à própria coisa. Tudo o que se move, é movido por algo. Para não se regredir ao infinito, deve-se acreditar na existência de um ser imóvel que deu origem a todo movimento. Esse ser é Deus. 

A Via da Causa Eficiente: tudo o que existe foi criado por outra coisa que não é si mesmo. Todo o efeito, tem a sua causa. Para não se regredir ao infinito, deve-se acreditar na existência de um ser incriado que deu origem à criação. Esse ser é Deus. 

A Via da Contingência: tudo o que existe poderia não existir. Mas se fosse somente assim, nada existiria. Logo, deve existir um ser que sempre existiu, que permitiu a existência das demais coisas. Esse ser é Deus.

A Via dos Graus de Perfeição: todas as coisas são medidas em uma escala de perfeição, sendo mais ou menos perfeitas. Essa escala precisa de um parâmetro e esse parâmetro é um ser perfeito. Esse ser é Deus.

A Via do Finalismo: existe uma infinidade de coisas que não são dotadas de razão. Entretanto, percebemos que elas agem segundo uma ordem, um funcionamento. Essa ordem não foi dada por elas mesmas porque não possuem razão. Logo, algum ser deve ter dado a ordem de funcionamento das coisas não racionais. Esse ser é Deus.

Tomás de Aquino Descomplicado: Conclusão

Resumi aqui as principais contribuições filosóficas de Santo Tomás de Aquino. Muitas dessas teorias filosóficas perduram até hoje na corrente filosófica conhecida como tomismo. Além disso, Tomás influenciou toda a modernidade, sendo que muitas obras filosóficas modernas vieram para contradizer ou aperfeiçoar as teorias tomistas. Até hoje a filosofia e teologia de Santo Tomás de Aquino serve como base da Igreja Católica Romana.

Lista de Leitura (Aprofundamento em Tomás de Aquino)

Caso queiram aprofundar seus estudos em Santo Tomás de Aquino, segue uma lista de leitura que selecionei a partir das sugestões do site Contra os Acadêmicos:

Suma Teológica – Volume 1 (Tomás de Aquino)

Suma Teológica – Volume 2 (Tomás de Aquino)

Suma Teológica – Volume 3 (Tomás de Aquino)

Suma Teológica – Volume 4 (Tomás de Aquino)

Suma Teológica – Volume 5 (Tomás de Aquino)

Suma contra os gentios (Tomás de Aquino)

As virtudes morais (Tomás de Aquino)

Ente e a essência (Tomás de Aquino)

Santo Tomás de Aquino (G. K. Chesterton)

Tomás de Aquino (Norman Kretzmann e Eleonore Stump)

Tomás de Aquino: Um perfil histórico-filosófico (Pasquale Porro)

A Ética das Virtudes em Santo Tomás de Aquino (Bernardo Veiga)

Ser e dever-ser (Anderson Machado Rodrigues Alves)

E aí? Quer algum desses temas melhor desenvolvido em um artigo descomplicado totalmente dedicado a ele? Diz aí nos comentários! Conhece alguém que precisa aprender sobre Tomás de Aquino? Compartilha esse artigo com ele! Quer mais artigos nesse formato? Entra em contato comigo dizendo qual filósofo você quer ver aqui.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

Coleção Ensino Médio 1° ano: Volume 4 – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 54 p.: il.

Wikipédia. Verbetes Tomás de Aquino, Virtudes Cardeais e Virtudes Teologais.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.