Reflexão sobre O Ladrão de Raios: Ser Diferente é Melhor que Normal

Reflexão sobre O Ladrão de Raios: Ser Diferente é Melhor que Normal

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre O Ladrão de Raios, primeiro volume da saga Percy Jackson e os Olimpianos. Essa reflexão serve tanto para o livro quanto para o filme (e, muito provavelmente, para a série que virá). Nessa história, acompanhamos o jovem Percy Jackson, que é um garoto cheio de problemas escolares e de entrosamento. Tudo muda quando ele descobre que é um meio-sangue (filho entre um deus grego e um ser humano). Não bastasse a descoberta, ele terá que fazer uma missão heroica para evitar uma guerra no Olimpo! Na reflexão, falarei dos “problemas” educacionais que Percy tem, os quais lhe faziam se sentir inferior às demais crianças, mas que depois da revelação da sua natureza semidivina fizeram com que ele percebesse que os “problemas” na verdade são “soluções”. Não teremos spoilers da trama principal, só algumas revelações sobre como é ser um semideus. Vamos lá!

Sobre O Ladrão de Raios (SEM Spoilers)

O Ladrão de Raios é o nome do primeiro livro da saga Percy Jackson e os Olimpianos. O livro foi lançado nos EUA em 2005 e é escrito por Rick Riordan. Ele deu origem a um filme de 2010 cujo título é Percy Jackson e o Ladrão de Raios.

Na história, conhecemos Percy Jackson, um garoto de doze anos que estuda em um internato. Ele tem dislexia e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade). Isso o atrapalha a se concentrar e a estudar, fazendo com que seja um aluno mediano para baixo, o que o desanima muito.

Seu melhor amigo é Groover, um garoto com problemas nas pernas. E seu professor preferido é o Sr. Brunner, professor de latim.

As coisas tomam uma reviravolta quando, em uma visita a um museu, Percy é atacado por uma de suas professoras, que se revela uma fúria (um monstro mitológico). Na luta, Groover se revela um sátiro (criatura mitológica que é metade humano e metade bode) e o Sr. Brunner se revela Quíron (o famoso centauro da mitologia grega). Percy luta com a fúria e consegue derrotá-la.

A partir desse momento, é revelado que Percy é um semideus, metade humano e metade mortal. No começo, não sabem de quem ele é filho.

Agora que está provado que Percy é um semideus, ele se muda para o Acampamento Meio-Sangue, para treinar como um herói grego. Durante seu treinamento, ele vai fazendo amizades e entendendo como que, nos dias atuais, pode ser verdade que os deuses olímpicos sejam reais.

As coisas começam a complicar para Percy quando ele se torna suspeito de roubar o Raio Mestre de Zeus, a arma mais poderosa entre os deuses. Por esse motivo, ele aceita a missão de descobrir quem é o verdadeiro ladrão e recuperar o artefato antes que se comece uma guerra no Olimpo.

Reflexão sobre O Ladrão de Raios: Dislexia

Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem. Simplificando muito, é uma dificuldade em conseguir ler e escrever palavras. Quem é disléxico, acaba trocando algumas letras e/ou fonemas na hora de ler ou escrever um texto.

Percy possui esse problema e isso faz com que ele tire notas ruins, já que não consegue ler direito os livros e anotações no quadro dos professores. Também acaba errando bastante na hora de escrever as respostas das questões.

Em um primeiro momento, isso o deixava desapontado consigo mesmo, por ele ter nascido “burro”. Só que as coisas mudam depois que ele descobre ser um semideus.

No acampamento, lhe explicam que a sua dislexia é causada por a sua natureza divina está propensa a compreender bem o grego antigo. Com isso, surge uma dificuldade natural em ler inglês (que é a língua normalmente usada nos EUA).

Dessa forma, aquilo que era um problema, se torna uma solução. Como semideus, ele precisava muito mais do grego do que do inglês. Logo, o problema não era ele, e sim a condição de vida que ele levava. Se ele tivesse sido criado desde o início na cultura grega, lendo e escrevendo em grego, ele não seria disléxico.

Assim, percebemos que o problema não é o transtorno em si, mas como lidamos com ele. Uma pessoa disléxica não é uma pessoa deficiente, mas alguém que precisa ser estimulada de outras formas. Ela pode não se adequar àquilo que chamamos de normal, mas isso não a faz ser inferior às demais pessoas. 

Reflexão sobre O Ladrão de Raios: TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno neurobiológico em que a pessoa apresenta desatenção (não consegue focar muito tempo em algo) e hiperatividade-impulsividade (não consegue ficar parada muito tempo, precisando estar sempre se estimulando).

Percy possuía TDAH e isso o atrapalhava demais para prestar atenção nas aulas e conseguir absorver os conteúdos. Com aulas tradicionais (professor na frente da sala, escrevendo conteúdos no quadro e explicando oralmente a matéria), Percy facilmente se distraia e perdia o foco daquilo que estava sendo falado / explicado.

No acampamento, ele descobre que o TDAH é uma condição natural dos heróis. Essa “falta de foco” e hiperatividade eram fundamentais em batalhas. O herói precisa estar atento a todo o seu redor, precisava pensar e agir rápido. Sem isso, ele seria facilmente derrotado.

Se o herói tivesse um foco “normal”, ele facilmente seria surpreendido pelo inimigo. Porém, sua condição natural faz com ele fique atento a todo o seu redor, a qualquer movimento, barulho. Tudo lhe chama a atenção porque pode ser fonte de perigo.

Já a hiperatividade é necessária para que ele tenha reflexos rápido para atacar e se defender. Sua condição natural é ficar sempre pronto para agir, seja na ofensiva seja na defensiva. O herói não pode reagir devagar. Ele precisa agir rápido. Pessoas que não possuem TDAH seriam “lentas demais” para enfrentar monstros e deuses porque seus movimentos estão aquém do necessário para esses combates mitológicos.

Com isso, podemos refletir que o TDAH só é considerado um transtorno se comparado com aquilo que chamamos de “normal”. As aulas e atividades tradicionais em uma escola, nesse tipo de ensino bancário, chato, padronizado, “decoreba”, não atendem à natureza de quem tem TDAH. Essas pessoas precisam ser estimuladas de formas diferentes. Elas não são menos inteligentes que as demais pessoas, elas só não são capazes de seguir o padrão que foi estabelecido pelo modelo educacional atual.

Alguém que tem TDAH, se receber estímulos de forma adequada, que respeitem sua condição, são capazes de atingir os mesmos graus de conhecimento que alguém sem TDAH. Logo, o problema não é a pessoa, mas o nosso método educacional, que não sabe olhar para o indivíduo, mas apenas para o grupo (como se todos fossem iguais).

Conclusão

O autor Rick Riordan foi professor de inglês e história da educação básica nos EUA. Acredito que ele, como eu e todos os professores, encontramos alunos de bom coração e dispostos a aprender, mas com muitas dificuldades de acompanhar o ensino regular porque sofriam de dislexia e TDAH. Ele, como eu, acreditamos que o problema não está no aluno, mas na metodologia de ensino e na forma como a educação é tratada e trabalhada. Sendo assim, Rick Riordan deu um jeito de trazer dignidade para esses alunos através da sua literatura, mostrando que o problema não era eles, e que eles conseguiriam se sentir normais se a escola (e a sociedade como um todo) os olhassem com a atenção devida.

E aí? O que você acha sobre a forma como a educação brasileira lida com alunos que possuem algum transtorno educacional? Deixa sua opinião nos comentários! Conhece algum fã de Percy Jackson ou alguém que se sente mal por possuir algum transtorno educacional? Compartilha essa reflexão sobre O Ladrão de Raios com ela! Quer reflexões nerds sobre os outros livros da saga Percy Jackson e os Olimpianos? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.