Reflexão sobre Elementos: Imigração e Honra

Reflexão sobre Elementos: Imigração e Honra

Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre o filme Elementos. Nessa animação, acompanhamos a jovem Faísca (do elemento fogo) tentando salvar o negócio da família junto com seu improvável novo amigo Gota (do elemento água). Na reflexão, falarei de dois temas levantados no filme: a questão da imigração e a necessidade de os filhos honrarem os pais. Teremos alguns spoilers do filme na parte da reflexão. Vamos lá!

Sobre o Filme (SEM Spoilers)

Elementos é um filme de animação da Disney/Pixar de 2023. Ele recebeu críticas um pouco acima da média, mas teve uma bilheteria fraca. Atualmente, está disponível na Disney+.

A família Luz se mudou para a grande e cosmopolita Cidade Elemento, onde todos os elementos convivem, na teoria, em harmonia.

Após encontrar um lugar razoavelmente adequado, o patriarca Brasa Luz estabelece uma loja de conveniência que vende várias comidas típicas da sua terra natal, a Vila do Fogo, e outras coisinhas do dia a dia.

Com o tempo, uma comunidade de pessoas do elemento fogo acabaram se estabelecendo e criando um laço social em torno da loja, praticamente criando um bairro do fogo naquela localidade.

O tempo passa e Brasa já está velho, querendo se aposentar e passar seu negócio para sua filha Faísca. Porém, a jovem é um pouco explosiva e não consegue lidar bem com o atendimento ao público.

As coisas desandam ainda mais quando ela, acidentalmente, rompe uma tubulação de água antiga na loja, provocando um princípio de inundação (algo fatal para tudo que se relaciona com o fogo). Ela até consegue conter o problema, mas, no processo, acaba “trazendo pelo cano” um inspetor de segurança do elemento água chamado Gota.

Gota, seguindo o rigor burocrático, pretende interditar a loja até que tudo seja consertado, o que custaria muito para a família Luz. Faísca, então, tenta convencer Gota de não aplicar essa multa e se oferece para ajudá-lo a resolver um problema ainda maior de vazamento que está afetando toda a cidade.

Desse improvável encontro, acaba surgindo algo mais profundo. Contudo, essa relação não agrada ao pai Brasa, que vê sua filha se distanciando das suas responsabilidades e se envolvendo com um elemento que “não combina” com ela.

Será que o jovem casal ficará junto? Será que a loja será interditada? O grande vazamento será contido à tempo? Descubra vendo Elementos na Disney+.

           

Reflexão sobre Elementos: Imigração e seus Problemas

A família Luz parece ser os primeiros imigrantes da Vila do Fogo para a grande Cidade Elementos. Fica claro que o filme está mostrando as dificuldades de uma imigração feita por um grupo social novo em um determinado lugar.

Em nenhum momento foi mostrando preconceito dos demais elementos ao fogo ou à família Luz. Entretanto, era evidente que a cidade não estava pronta ou adaptada para receber àquela população.

Água, Ar e Terra já conviviam harmoniosamente e as estruturas sociais e físicas atendiam bem a todos eles. Por outro lado, muita coisa não atendia ou até dificultava a vida de quem era do elemento fogo.

O maior exemplo era a queda d’água que existia na linha de metrô/trem. Essa água caindo não era problema para alguém feito de água, ar ou terra, mas era fatal para o fogo.

Por falta de uma sensibilização da cidade com esses novos imigrantes, eles acabaram se isolando em uma parte “segura” da cidade e todos que foram chegando depois rumaram para o mesmo lugar e criaram quase que uma cidade à parte. E isso é um problema.

Todos se acostumaram com essa disposição socioestrutural e nada foi feito para integrar a comunidade do fogo ao dia a dia da Cidade Elemento. Como vimos, aparentemente tudo estava bem, mas isso só durou até os problemas mais profundos começarem a aparecer.

Sendo um filme americano, a impressão que tive foi que ele critica a forma como os muçulmanos foram integrados nos Estados Unidos (e, talvez, nas cidades europeias). Os Estados Unidos foram famosos por receberem pessoas de todos os lugares do mundo que queriam uma vida nova, mas a integração cultural desses primeiros imigrantes foi mais “fácil” porque todas tinham uma religião e costumes muito próximos como os cristãos e os judeus.

Com os orientais, parece que não teve muito problema também. Talvez, porque suas religiões são mais introspectivas.

Porém, quando começaram a chegar os muçulmanos, as coisas não funcionaram tão bem. Sua cultura não conseguiu se adequar muito bem ao estilo de vida americano e os americanos também não se dispuseram tanto a “abraçar” essa cultura. Com isso, vimos surgir grupos que conviviam, mas não de encaixavam.

Tanto no filme quanto na realidade, existe um certo estranhamento dos dois lados. Um olha para o outro curioso ao mesmo tempo que ressabiado. Quer conhecer, mas não quer ceder. Esse distanciamento consciente e inconsciente acaba sendo prejudicial para ambos os grupos sociais.

Os “fogos” deixam de aproveitar tudo o que existe na cidade porque ela não está adapta a eles. E os outros elementos deixam de aproveitar toda a cultura e potencial que o fogo tem para agregar à cidade.

Realmente, conviver com as diferenças não é fácil. Ter que mudar sua rotina ou seu estilo de vida para se adequar a algo novo não é prazeroso. Mas com boa vontade, tudo se resolve e, a longo prazo, teremos mais benefícios que malefícios.

É importante destacar que esse processo não é um simples “você muda para se adequar”. Tem que se algo feito de forma conjunta e empática, em que ninguém abra mão da sua identidade ao mesmo tempo que se respeita as identidades dos outros.

No filme, por exemplo, bastaria uma canalização daquela água que cai da linha de metrô/trem para deixar todos os seres do elemento fogo tranquilos.

Reflexão sobre Elementos: Honre seu Filho para que Ele também Te Honre!

O conflito geracional do filme era entre a filha Faísca e o pai Brasa. Brasa criou um negócio que serviu para sustentar sua família e queria deixá-lo como herança para sua filha. Porém, ela não levava jeito para os negócios e isso era fonte de muitas brigas.

No final, pai e filha perceberam que o problema dos dois era que eles não demonstraram um para o outro o que era realmente importante. Só depois que tudo deu errado foi que ambos acabaram colocando para fora seus sentimentos e entendendo de fato o que cada um pensava.

Faísca não queria cuidar da loja do pai, mas considerava que aquilo era sua obrigação porque a loja era o sonho do pai. Já o pai queria que Faísca assumisse a loja porque era uma garantia de futuro para ela, evitando que ela tivesse que começar a vida adulta do zero (como ele teve que fazer).

Só no final, quando tudo deu errado, foi que Faísca confessou seu desejo de seguir outra coisa e o pai deixou claro que o sonho dele não era a loja, mas a própria filha.

Se tivesse havido comunicação entre pai e filha, quantos problemas teriam sido evitados…

Filhos amorosos sempre considerarão que precisam retribuir a seus pais todo o esforço que estes fizeram para criá-lo, mesmo que isso faça com que aqueles não sigam o caminho que gostariam. Esse seria o sacrifício do filho para honrar os pais.

Porém, acredito que nenhum pai quer que seu filho se sacrifique por ele. Ao contrário, o pai se sacrificou para dar chance ao filho de ser livre e feliz. Quando o pai coloca um monte de “caminhos seguros” para o filho, o que o pai quer é cuidar, garantir um futuro, uma tranquilidade ao filho. A ideia não era impor uma obrigação, mas dar uma opção estável.

Só que a falta de comunicação entre ambos faz com que cada um ache que o outro está querendo atrapalhar sua vida, quando não era essa a intenção.

Sendo os pais aqueles que são os mais maduros na relação, é importante que eles saibam dar o primeiro passo para resolver esse conflito. E a solução não é difícil: basta dizer ao filho desde o início da relação que o sonho é o filho e tudo o que ele faz, faz para garantir a felicidade do filho. Dessa forma, o filho se sentirá mais tranquilo porque sabe que o pai quer prioritariamente o seu bem.

O único cuidado que pai precisa ter é deixar o filho tomar suas decisões de futuro, não o obrigando a seguir um ou outro caminho, mas apoiando-o em suas escolhas.

Reflexão sobre Elementos: Conclusão

O filme Elementos nos mostra que é muito difícil para alguém de fora chegar em um novo local e se adaptar. Por isso, precisamos fazer de tudo para acolher bem quem chega em nossa terra (seja país, cidade, escola, trabalho). Além disso, os pais (que também chegaram no mundo primeiro que seus filhos) precisam ter maturidade para dizer-lhes que seus sonhos são os filhos e não as coisas construídas ou planejadas para o futuro destes.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Elementos? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Elementos? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra produção da Disney/Pixar? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.