Marco Aurélio Descomplicado: Biografia e Filosofia

Marco Aurélio Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje, falaremos sobre Marco Aurélio de um jeito descomplicado. Apresentaremos a biografia dessa personalidade, que é mais conhecida como um imperador romano do que como filósofo. Também abordaremos sua contribuição filosófica (obra e teorias), esse que foi o último estoico. Vamos lá!

Marco Aurélio Descomplicado: Biografia

Infância e Juventude

Marcus Aurelius Antoninus Augustus, mais conhecido como Marco Aurélio, nasceu em 26 de abril de 121 d.C. na cidade de Roma, Itália.

A família de Marco Aurélio era nobre. Seu pai, Marco Ânio Vero, era um político romano. Sua mãe era Domícia Lucila, herdeira de uma família rica.

O pai de Marco Aurélio morreu cedo, quando ele tinha apenas três anos de idade. Com isso, ele foi ser criado pelo avô paterno, o senador Marco Ânio Vero (sim, o mesmo nome do pai), e pelo bisavô materno.

Como era costume na época, Marco Aurélio foi educado em casa. Seu primeiro tutor foi Diogneto, que lhe apresentou a filosofia, quando ele tinha onze anos. 

Entrada na Vida Imperial

Em 138 d.C., o então imperador Adriano, já doente, adotou Aurélio Antonino (genro do senador Marco Ânio Vero) para que este fosse o seu sucessor no império. Por sua vez, Antonino adotou Marco Aurélio e Lúcio Vero. Marco Aurélio tinha dezessete anos na época.

A adoção permitiu uma rápida ascensão social para Marco Aurélio, que foi conquistando vários postos públicos muito novo. Mas isso não lhe fez perder a sua humildade.

No mesmo ano das adoções, o imperador Adriano morreu. Com isso, Antonino se tornou imperador.

Marco Aurélio, então, se tornou o próximo na linha de sucessão e começou a ser preparado para essa função. Durante esse tempo, ele teve aulas de oratória com os maiores nomes da sua época, em especial Herodes Ático (um famoso sofista e orador grego) e Marco Cornélio Frontão (grande advogado e orador latino – ou seja, usando o latim).

Marco Aurélio também teve contato com a filosofia estoica durante esses anos de preparação. Essa filosofia foi-lhe apresentada pelos professores Apolônio de Cálcis e Júnio Rústico. Curiosamente, os professores de oratória desaprovavam as aulas de filosofia de Marco Aurélio, provavelmente por serem “inúteis” para o futuro imperador.

Em 145 d.C., aos 24 anos, Marco Aurélio casou-se com Faustina, filha biológica do imperador Antonino. Para evitar o problema de dois “irmãos” se casarem (irmãos legalmente, mas não de sangue), o imperador teve que usar de uma manobra jurídica para libertar um dos dois do “poder paternal” e, assim, regularizar o casamento. Juntos, eles tiveram quatorze filhos (mas a maioria morreu ainda criança).

Imperador Marco Aurélio

Marco Aurélio tornou-se imperador quando tinha 40 anos, em 161 d.C., após a morte de Antonino.

Atendendo à vontade póstuma do imperador Adriano, Marco Aurélio exigiu que o senado também nomeasse seu irmão adotivo Lúcio Vero como imperador, com os mesmos direitos e poderes. Pela primeira vez, o império romano foi governado por dois imperadores ao mesmo tempo.

Marco Aurélio não sonhava com o império, mas aceitou essa missão de forma resignada, como um bom estoico. Dizem as biografias que Marco Aurélio preferiria ter se dedicado apenas à filosofia.

A parceria entre Marco Aurélio e Lúcio Vero funcionou bem. Apesar de legalmente terem o mesmo poder, era notória a primazia de Marco Aurélio. Porém, isso não incomodava Lúcio que entendia e aceitava essa posição.

O começo do governo foi muito feliz para os imperadores. Eles eram muito estimados pelo povo, que era ajudado pelos governantes em momentos de desastres naturais.

Marco Aurélio também soube usar de todo o seu conhecimento de oratória para proferir significativos discursos no senado. Senado esse que o imperador fez questão de liderar sem impor sua vontade (respeitando as opiniões dos demais senadores).

Marco Aurélio também foi um grande administrador e jurista. Suas decisões eram muito bem recebidas. Perseguindo o ideal estoico, contrário à escravidão, e mantendo uma consonância com os antigos imperadores, ele buscou diminuir as punições e condições dos escravos. Considerava-os como pessoas obrigadas a servir, e não como objetos. Acredita-se que a escravidão só não foi abolida porque ela era a base da economia romana.

Batalhas nas Fronteiras e Morte do Irmão

Enquanto Marco Aurélio permaneceu em Roma, administrando o império, várias guerras nas fronteiras ocorreram. Como Marco Aurélio não desenvolveu práticas militares durante e sua preparação para o governo, ele enviou seu irmão e também imperador Lúcio Vero para as campanhas militares. Lúcio Vero teve sucesso nas suas campanhas e recebeu várias honrarias militares pelos seus feitos.

Ele se casou com Lucila, filha de Marco Aurélio e sua sobrinha (lembrando que esse parentesco era apenas legal, e não biológico). Lúcio acabou morrendo em 169 d.C. Os registros da época dizem que foi um AVC (não tinha esse nome na época). Já historiadores modernos acreditam que ele morreu devido à peste antonina (uma doença que se espalhou no império romano de 165 a 180).

Com a morte de Lúcio, Marco Aurélio teve que assumir sua posição de líder militar. Por isso, deixou Roma e liderou seu exército em diversas batalhas ao longo das fronteiras do império. Ele também viajou pelas cidades conquistadas mais distantes para garantir sua soberania sobre aqueles lugares.

Em uma de suas visitas, ele foi até Atenas. Lá, pode conhecer o Pórtico Pintado onde Zenão fundou a escola estoica. Diz-se que Marco Aurélio financiou quatro cátedras permanentes de estudo na cidade, dedicadas às principais escolas filosóficas da época: platonismo, aristotelismo, epicurismo e estoicismo.

Morte e Sucessão 

Em 177 d.C., Marco Aurélio nomeou seu filho Cômodo como imperador. Dessa forma, pai e filho estavam juntos governando o império romano.

As revoltas nas fronteiras retornaram depois de um período de paz. Marco Aurélio e Cômodo foram para a região germânica do império, ao norte, cuidar das invasões.

Em março de 180 d.C., Marco Aurélio adoeceu gravemente. Historiadores modernos acreditam que Marco Aurélio morreu devido à peste antonina (a mesma que teria matado seu irmão). Fato é que a saúde do imperador sempre foi frágil.

Estando em campanha e sabendo que não se recuperaria, decidiu parar de comer e beber para antecipar o processo de sua morte. Antes de morrer, foi explícito em deixar o império para seu filho Cômodo. Ele também pediu ao filho que finalizasse a guerra e trouxesse a vitória ao império romano.

Ele morreu no dia 17 de março de 180 d.C. O local exato é motivo de discussão. Existe uma disputa especialmente entre duas cidades: Vindobona (atual Viena, na Áustria) ou Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia ).

Seu corpo foi cremado e trazido para Roma, onde suas cinzas foram colocadas no Mausoléu de Adriano (que não existe mais). Seguindo a tradição da época, Marco Antônio foi deificado (lembrando que os romanos ainda eram pagãos naquela época).

Marco Aurélio Descomplicado: Filosofia

Marco Aurélio é conhecido como o último estoico, último representante do chamado estoicismo romano. Dessa forma, fica claro que a corrente filosófica a qual pertencia o imperador era o estoicismo.

Obras

Marco Aurélio escreveu doze pequenos livros entre os anos de 170 e 180 d.C. que foram reunidos por ele mesmo em um grande livro, o qual ele chamou de Para Si Mesmo. Porém, a obra ganhou outros títulos ao longo dos anos e, aqui no Brasil, é conhecida como Meditações.

Não se sabe se Marco Aurélio tinha a intenção de publicar esse livro, já que ele continha muitas reflexões pessoais sobre si mesmo e serviam como um exercício de autorreflexão.

Também não é sabido como a obra chegou até os dias modernos. Ela é citada vagamente em algumas publicações históricas. A edição que temos hoje foi impressa em 1558 em Zurique por Wilhelm Holzmann. O manuscrito original que deu origem a essa edição se perdeu. A versão manuscrita preservada mais antiga desse livro é datada do século XIV e está na Biblioteca Vaticano.

Cada “capítulo” do livro costuma trazer um tema. A ordem do livro não segue a ordem de escrita cronológica do autor. 

O livro é composto basicamente de pequenas reflexões, que variam de uma frase a um parágrafo longo.

Aceitação do Dever e do Destino

Como um verdadeiro estoico, Marco Aurélio aceitou seu dever de ser imperador e buscou executá-lo da melhor forma possível.

Em suas meditações, fala do Destino (conceito estoico, o qual guia todo o andamento ordenado do universo) e da necessidade de aceitá-lo.

Um dos momentos em que mais isso se fez necessário na vida do filósofo-imperador foi na morte prematura dos seus filhos (dos quatorze que teve, apenas cinco chegaram a idade adulta). Sobre isso ele falou: Alguém reza: ‘para que eu não perca meu filho!’; Mas você deve rezar: ‘para que eu não tenha medo de perdê-lo!’ (Meditações, 9.40).

Para o filósofo, devemos sempre fazer uma investigação interior para mudar aquilo em que podemos afetar. Já naquilo em que não podemos afetar, a filosofia deve nos consolar.

Alma Racional e Vida Após a Morte

Marco Aurélio, seguindo a filosofia estoica, acreditava que o ser humano era formado de corpo e alma. Conduto, parece que ele defendia uma espiritualidade dessa alma, indo na contramão do estoicismo original, que considerava a alma humana material.

Para Marco Aurélio a alma humana seria uma alma racional, composta de duas partes: a alma real, que pode ser entendida como espírito ou sopro vital, e o intelecto, que seria um princípio orientador e sede da atividade espiritual do ser humano.

Dessa interpretação, Marco Aurélio não tinha certeza do que nos aguardava após a morte. Para ele, poderia existir alguma eternidade tranquila ou apenas a ausência de tudo: Se for para outra vida, você certamente não encontrará nada ímpio lá. Se, por outro lado, for a condição em que você não perceberá mais nada, finalmente os prazeres e as dores cessarão para você (Meditações, 3.3).

Rei-filósofo

Marco Aurélio era chamado, ainda em vida, de rei-filósofo. Conduto, não podemos dizer que ele personificou a proposta filosófica política de Platão.

De fato, o que temos era que Marco Aurélio queria ser mais filósofo do que Imperador. Como ele teve que aceitar seu destino de Imperador, buscou aplicar sua filosofia estoica em todo o seu governo. Contudo, existiam limites para essa aplicabilidade. Nesses casos, o dever de imperador falava mais alto que seus ideais filosóficos.

Isso, porém, não o impediu de tentar “melhorar as coisas” o quanto pudesse.

Lei Natural e Noção de Humanidade

Seguindo o pensamento estoico, Marco Aurélio defendia a existência de uma lei natural que seria superior à lei dos homens e que deveria ser seguida.

Um dos principais reflexos desse pensamento esteve presente na forma como ele tratava a escravidão. 

Para o filósofo, o escravo não era um objeto, uma coisa. O escravo era um ser humano que foi obrigado a servir alguém. O escravo estaria preso ao trabalho pelo corpo, mas livre em sua alma.

Para Marco Aurélio, todos os seres humanos possuem a mesma dignidade e participam do que ele chamava de Humanidade.

Dessa forma, ele era totalmente contra penas de morte e maus-tratos com os escravos. Acredita-se que, se dependesse dele, ele teria abolido a escravidão no império romano (devemos lembrar que a base da economia romana dependia da escravidão; logo, abolir a escravidão poderia colapsar o império e ele não poderia fazer isso como imperador, já que tinha o dever de governar bem o império, pois esse era o desígnio que o Destino lhe deu).

Marco Aurélio Descomplicado: Conclusão

No final desse artigo sobre Marco Aurélio de um jeito descomplicado, percebemos que ele é um ótimo exemplo de pessoa que soube aliar uma posição de liderança, que lhe consumia bastante tempo, e filosofia. Mais que isso, Marco Aurélio mostrou como a filosofia pode influenciar positivamente a vida pública. Dessa forma, não resta mais desculpas para quem diz que não tem tempo para uma vida intelectual e quem diz que filosofia não serve para a vida política. Mesmo para quem não está nessas condições, Meditações ainda assim é um ótimo livro para nos ajudar a levar uma vida digna, através da autorreflexão.

E aí? O que achou da vida e obra de Marco Aurélio? Deixa sua opinião nos comentários! Conhece algum fã do Imperador-Filósofo ou alguém que precisa urgentemente “arranjar tempo” para a filosofia? Compartilha esse artigo Marco Aurélio Descomplicado com ele! Quer sugerir outros filósofos para um artigo descomplicado sobre sua vida e filosofia? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Marco Aurélio Descomplicado: Referências

WIKIPÉDIA. Verbetes Marco Aurelio e Pensiero di Marco Aurelio (ambos em italiano)

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.