Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre a série Pacificador. Nessa série, acompanhamos o anti-herói Pacificador em mais uma missão secreta do governo dos EUA. Enquanto a missão se desenrola, descobrimos mais sobre a vida e a história desse personagem. Nesse texto, refletirei sobre os métodos empregados tanto pelo Pacificador quanto pelas borboletas para lidarem com a paz interior e a paz exterior, respectivamente. Teremos spoilers da série! Vamos lá!
Sobre Pacificador (COM Spoilers)
Pacificador é uma série da HBO Max baseada no personagem de mesmo nome do universo DC dos quadrinhos, que fora apresentado no filme O Esquadrão Suicida.
Após os acontecimentos de O Esquadrão Suicida, a A.R.G.U.S. consegue salvar a vida do Pacificador (John Cena) e o mantém na ativa para mais uma missão. Lembrando que a proposta dessa parceria é: o criminoso aceita cumprir algumas tarefas consideradas secretas para o governo ou erradas para a opinião pública em troca de redução de pena.
A nova missão consiste em neutralizar uma espécie alienígena que se parece com borboletas. Essa espécie entra pela boca das pessoas e as mata, controlando-as em seguida. Para isso, o grupo formado precisa encontrar a fonte de alimento delas, que é um outro ser alienígena chamado de vaca.
No começo, o grupo demonstra muita insatisfação em estar junto, fato que causa muito desentendimento e dificuldade no cumprimento das tarefas. No entanto, com a convivência, cada um começa a conhecer mais o outro e a compreender seus traumas e dilemas internos. Começa a surgir uma amizade entre eles.
Como o foco da série é o Pacificador, conheceremos bastante de sua vida. Aprenderemos sobre o seu passado (sua criação e o que o motivou a se tornar quem ele é) e sua relação problemática com o pai.
Será que o Pacificador conseguirá manter a paz a qualquer custo? Só vendo a série para descobrir!
Reflexão sobre Pacificador: Vale Tudo pela Paz Interior?
O lema do Pacificador é “Vou trazer a paz, não importa quantos homens, mulheres e crianças terei de matar para garantir isso”. Com isso, percebemos que ele é um cara capaz de fazer qualquer coisa para cumprir seu objetivo. De certa forma, foi isso que ele fez no final do filme O Esquadrão Suicida. Contudo, nessa série, percebemos que o Pacificador não está tão convicto assim de seu próprio lema…
A primeira missão dele era matar um político que era uma borboleta. Além disso, ele teria que matar sua esposa e filhos se eles também estivessem comprometidos. Ao saber que poderia ter que matar duas crianças, o Pacificador hesitou. Na hora do “vamos ver”, ele travou, mesmo tendo a confirmação que as crianças não eram mais humanas. O que teria acontecido com esse cara que prometeu garantir a paz a qualquer custo?
Mais para frente da série, vemos que sua promessa surgiu logo depois dele matar acidentalmente seu irmão em uma briga de exibição promovida pelo próprio pai! Para piorar, seu pai ainda o culpou pela morte, como se o pequeno Christopher Smith tivesse responsabilidade pelo ato.
Dessa forma, percebemos que tudo o que o Pacificador fez “pela paz” nada mais era que um modo de tentar sublimar seu trauma de infância. Seu objetivo de vida estava intimamente ligado a uma ferida não cicatrizada que lhe corroía a alma: sentir culpa pela morte do seu irmão querido.
O que o Pacificador queria e precisava era de paz interior, uma cura para o seu trauma, compreender que não foi responsável por aquilo que aconteceu. Como ele nunca foi ajudado nesse aspecto, ele nunca conseguiu racionalizar direito sobre suas ações.
O pior disso tudo é que, ao longo da vida, o Pacificador foi manipulado para servir de arma de combate. Seu pai o “educou” para identificar alguns alvos como inimigos da paz que, na verdade, eram apenas pessoas pertencentes a grupos minoritários (pois o pai era um extremista racial). A A.R.G.U.S. o escolheu porque ele seria capaz de cumprir a missão sem questionar se acreditasse que estava garantindo a paz.
Essa situação nos leva a pensar a quantidade de pessoas que fazem o que fazem ou são o que são por traumas não curados / não resolvidos do seu passado. Freud vai mostrar o quanto as pessoas agem de forma inconsciente, motivadas por problemas não resolvidos no passado. Não é uma questão de “passar pano” para as atitudes das pessoas, mas de compreender o que leva alguém a ser quem ela é.
Essa reflexão vai muito ao encontro do próprio jeito de ser do Pacificador, que tem MUITAS atitudes consideradas preconceituosas e/ou ofensivas atualmente e que ele considera normal ou elogios. As pessoas em volta dele buscam o ignorar porque o consideram um idiota, mas depois compreendem que ele foi criado num ambiente opressivo e discriminador. Dessa forma, compreende-se a dificuldade de ele ser alguém “normal” após passar por tudo o que ele passou.
Da mesma forma, essa reflexão também serve para pessoas que conscientemente ainda são preconceituosas com grupos minoritários. O preconceito só existe quando você enxerga o outro como um inimigo, adversário, um ser não igual a você. Para derrubar essa barreira, a única forma é o diálogo. Apenas quando se ouve e compreende quem é o outro, entendendo que esse outro é “tão gente quanto a gente” é que existirá chances de respeito mútuo.
Reflexão sobre Pacificador: Vale Tudo pela Paz Exterior?
No último episódio, quando nossos “heróis” estão prestes a matar a vaca, que é a única fonte de alimento das borboletas, Goff – a borboleta que está no corpo da detetive Song (Annie Chang) – explica todo o plano dos alienígenas:
As borboletas vieram de um planeta que estava morrendo e não tinha mais o que se fazer. Quando chegaram aqui na Terra, viram que o lugar era muito bom de se viver, mas que o planeta também estava morrendo. A diferença é que ainda se poderia fazer alguma coisa para salvar a Terra. Como as borboletas não acreditavam na capacidade dos humanos de fazerem o que era preciso, resolveram “tomar o controle da situação” de forma praticamente literal: elas invadiram os corpos de pessoas estratégicas pelo planeta, assumindo suas identidades e agindo por todos os meios para conseguir impedir a morte do nosso planeta.
Goff, então, apela para o lema do Pacificador, mostrando que as borboletas estavam fazendo de tudo para garantir a paz mundial, tanto no sentido de guerra quanto no sentido de equilíbrio da natureza.
A proposta de Goff é tentadora para todas as pessoas que querem ver a paz reinar em nossa sociedade (especialmente nesses tempos, em que está ocorrendo a invasão Russa à Ucrânia – quem não queria que uma borboleta entrasse agora no Putin para parar com tudo isso?). Porém, o próprio Pacificador, depois de ter mudado de pensamento, recusa a proposta!
Para ele, e seu grupo, os próprios seres humanos deveriam lidar com esse problema. O sucesso ou fracasso deveria ser nosso e não de uma intervenção estrangeira.
Essa cena me fez lembrar de Sócrates, que se recusou a fugir de Atenas para não sofrer a pena de morte. Segundo ele, quando tudo estava bem, ele não lutou para modificar as leis. E, por isso, não seria justo, agora que ele sofreria pelas leis que deixou passar, se achar no direito de transgredi-las.
O que eu quero dizer é que precisamos nos responsabilizar pelas coisas que acontecem ao nosso redor! Não podemos simplesmente jogar tudo na mão de um grupo de pessoas (políticos) ou ser divino (religião) ou até uma intervenção estrangeira como se alguém precisasse fazer algo, menos eu mesmo!
O Pacificador decidiu que não vale a pena conquistar a paz a qualquer custo. Ele decidiu que uma paz conquistada por uma intervenção alienígena não seria o melhor para os seres humanos. Ele percebeu que as pessoas precisavam manter suas autonomias e buscarem mudar de atitude, e não serem forçadas a fazerem isso.
A paz verdadeira é aquela que é conquistada pelo diálogo, pela compreensão mútua, pela aceitação recíproca. Engana-se quem pensa que paz pode ser conquistada pelo uso da força, da violência, da coerção. Uma paz pelo medo não existe!
Já dizia a música d’O Rappa “Pois paz sem voz paz sem voz / Não é paz é medo“. Uma paz artificial, criada pela opressão, em que parte dos envolvidos foram obrigados a aceitarem essa paz e não convencidos e persuadidos não adianta de nada. Ela irá “funcionar” muito mal, mascarada, até que os indignados consigam retomar a guerra.
É o mesmo caso com o preconceito estrutural no Brasil. Ninguém admite que é racista, mas diz que um casal feito por duas pessoas de cor diferente não é bonito. Ninguém admite que é homofóbico, mas diz que não queria que seu filho/filha fosse gay/lésbica. Esse é um exemplo de falsa paz, que finge para os grandes olhos que está tudo bem, quando não está.
Reflexão sobre Pacificador: Conclusão
Quanto vale a paz? Vale muito, mas não o suficiente para justificar assassinatos desnecessários e tomadas de controle opressivas. A paz precisa ser buscada por cada um de nós, tanto a paz interior quanto a exterior. Não existe paz imposta. A paz é algo que vem de dentro para fora, é algo que tem que ser querido pela pessoa. A paz se conquista pelo diálogo, pela compreensão de si mesmo e do outro.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!