Reflexão sobre O Poço: Um por Todos, Todos por Ninguém
Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre o filme O Poço, que também é conhecido como A Plataforma. Esse é um filme bem filosófico, em que cada diálogo e cada cena contam muito, tanto por trazerem uma ideia em si mesmos como para o contexto geral. Por isso, essa reflexão será diferente das demais: ela será dividida em duas partes. Hoje, eu vou fazer uma reflexão mais geral, sobre o todo do filme. Na semana que vem, eu vou fazer uma reflexão por partes, destacando diálogos e cenas que me chamaram a atenção e fazendo comentários sobre eles. Esse artigo terá spoilers do filme, então fiquem avisados. Vamos lá!
Sobre O Poço
O Poço, também conhecido como A Plataforma, é um filme espanhol de 2019, exclusivo da Netflix. A premissa do filme é simples:
Existe um experimento científico no formato de torre vertical com vários andares. Em cada andar ficam duas pessoas (essas pessoas que entram são voluntárias, podendo ser pessoas livres que querem algum tipo de vantagem ou presos que trocam suas penas por participar desse experimento).
Todos os dias, do topo da torre (o andar zero), desce uma plataforma flutuante (parece ser um sistema de ímãs) cheio de comidas saborosas. Essa plataforma para em cada andar por um tempo e as pessoas podem comer à vontade. As pessoas de baixo comem o que sobra de comida deixada pelas pessoas de cima. E assim é todo o dia.
A cada mês, as pessoas são trocadas de andar de forma aparentemente aleatória. A proposta do experimento é ver como as pessoas lidarão com esse tipo de vida.
Nós vamos acompanhar a jornada no Poço do voluntário Goreng (Iván Massagué).
Reflexão sobre O Poço: Uma Crítica ao Consumismo
Como reflexão geral, O Poço é uma crítica ao consumismo. Mas o consumismo aqui não é apenas o consumismo de bens desnecessários, mas até mesmo o consumismo exagerado de bens necessários.
Por algum tempo, vigorou uma teoria conhecida como Teoria Populacional Malthusiana. Essa teoria defendia que o crescimento populacional seria em escala geométrica enquanto que o crescimento da produção de alimentos seria em escala aritmética. Logo, chegaria o momento em que faltaria comida para todo mundo, gerando a fome. A solução mais simples seria o controle populacional.
Contudo, a teoria malthusiana não se concretizou porque os avanços tecnológicos, tais como pesticidas e transgênicos, permitiram que a produção de alimento aumentasse exponencialmente. Na outra ponta, no tamanho da população, os avanços tecnológicos fizeram o contrário, ou seja, motivaram a diminuição do crescimento populacional (hoje, as pessoas vivem mais tempo e a taxa de natalidade é menor). Para entender melhor isso, indico esse vídeo do Nerdologia sobre superpopulações.
A pergunta que fica, então é: porque ainda temos pessoas que passam fome? A resposta é simples e triste ao mesmo tempo: porque poucos têm muito e muitos têm pouco. Dessa forma, não falta comida, falta distribuição dela. Ou, também podemos dizer, falta distribuição de renda, para que todos tenham recursos para se manterem vivos e com o mínimo de dignidade.
É esse o ponto central do filme. O experimento evidencia que as pessoas que ocupam as primeiras posições não se preocupam com aquelas que estão embaixo. A comida, teoricamente, daria para todos, mas as pessoas não pensam nos outros, apenas em si mesmas. Curiosamente, quando alguém vem de baixo, sua atitude é reproduzir a forma de ação de quem está em cima, ou seja, também comem descontroladamente, sem se preocupar com quem está embaixo.
Outro fato curioso é que as pessoas que estão em cima sabem que provavelmente vão descer no próximo mês, e mesmo assim elas não mudam de atitude para tentar se prevenirem. Elas encaram a descida como um azar ou como um fato incontrolável, apenas se resignando. É a máxima do “todos contra todos” de Hobbes, ninguém confia no outro e é cada um por si.
A expectativa do experimento era gerar a solidariedade espontânea, ou seja, que as próprias pessoas que estão dentro do experimento conseguissem perceber a forma correta de agir e, assim, provarem que poderiam se respeitar e se ajudar.
Reflexão sobre O Poço: O Esforço de um Homem Só
O filme desenrola a experiência no poço de Goreng. Ele passa do papel de agente passivo, apenas entendendo o que está acontecendo e seguindo o padrão da sociedade até o papel ativo, em que ele luta contra essa sociedade para mudar seu modo de agir, na esperança de vencer a Administração e mostrar que as pessoas mudaram.
Entretanto, não parece que o filme tenha um final feliz. Goreng só começou a mudar depois que alguém de “dentro” veio para tentar resolver o problema e lhe dar a dica. Ele precisou usar da força em algumas situações para preservar a comida. Ele precisou deixar parte da população em jejum para levar a comida aos piores andares e mesmo assim ela não foi suficiente (tudo bem que podemos colocar aqui que foi mal distribuída, porque se calculou 250 andares e eram 333), mostrando que, talvez, a comida não dê para todos. E, por fim, a mensagem é a criança, apenas uma expectativa que ela sirva para a Administração interromper o experimento, mas não prova que as pessoas desenvolveram a tal solidariedade espontânea.
Fica, então, a mensagem de que Goreng fez o que ele podia fazer, deu o seu melhor. Ele chegou ao fundo do poço para tentar resolver o problema. Mas se ele conseguiu, é um mistério. Da mesma forma, somos chamados a esse sacrifício, a esse esforço pessoal de querer mudar, mesmo sem a certeza se conseguiremos.
Reflexão sobre O Poço: Conclusão
O Poço é um filme muito denso para ser todo analisado de uma vez só. Eu espero que até aqui, caso você não tenha visto o filme ainda, tenha tido vontade de vê-lo. Assim, o próximo artigo, em que irei esmiuçar detalhes do filme que me chamaram a atenção, poderá ser melhor aproveitado. Eu acho muito legal quando existe o debate de visões do filme. E, nesse caso, seria a sua visão crítica com a minha visão crítica, para se construir uma ideia ainda melhor dele.
Como reflexão geral, concluo esse artigo mostrando a dificuldade do nosso agir sobre o todo da sociedade. Realmente, a ação individual se torna messiânica diante de uma sociedade corrompida. Será que o melhor é deixar do jeito que está e agir da mesma forma? Será que vale a pena fazer o sacrifício de vida para o bem de todos? Essa reposta acaba sendo pessoal, assim como a ação é de cada um. Faça a sua escolha e aceite as suas consequências.
E aí? O que acharam do filme? Deixa nos comentários suas impressões gerais! Conseguiu entender agora a proposta do filme? Compartilha com aquelas pessoas que não entenderam ainda. Quer fazer alguma sugestão ao blog? Entra em contato comigo.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!