Reflexão sobre Beleza Oculta: Uma Questão de Sensibilidade

Reflexão sobre Beleza Oculta: Uma Questão de Sensibilidade

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Beleza Oculta. Nesse filme, vemos o desespero de um pai que perde sua filha e, revoltado, reclama com a Morte, com o Tempo e com o Amor. O que ele não esperava era que essas forças cósmicas “respondessem”. Nessa reflexão, vamos falar de sensibilidade: tanto sobre entender a dor desse pai, quanto de entender a importância da Morte, do Tempo e do Amor. Atenção, aviso que teremos spoilers do filme durante o texto. Vamos lá!

Sobre Beleza Oculta (com SPOILERS)

Beleza Oculta conta a história de Howard Inlet (Will Smith), que tinha uma vida perfeita. Sucesso profissional e familiar. Contudo, sua vida muda completamente quando sua filha morre. Ele entra em depressão e começa a se isolar do mundo.

Howard é o sócio majoritário e líder criativo de uma empresa de publicidade. Sua “ausência”, que já dura um ano, coloca a empresa em risco. Perdendo cada vez mais contratos, os demais sócios decidem aproveitar uma oportunidade de venda da empresa. Contudo, Howard não coopera para que isso ocorra.

Whit Yardsham (Edward Norton), amigo de Howard e segundo maior acionista da empresa, decide contratar uma detetive particular para acompanhar Howard e constatar que ele está incapacitado para tomar decisões (com isso, a empresa poderia ser vendida à revelia dele). Nessa investigação, descobre-se que Howard escreveu e postou cartas de reclamação para a Morte, o Tempo e o Amor.

Whit vê nisso a oportunidade de provar a insanidade de Howard. Ele se junta aos demais sócios Claire Wilson (Kate Winslet) e Simon Scott (Michael Peña) para bolar um plano engenhoso, em que Morte, Tempo e Amor “apareceriam” para Howard e conversariam com ele. Para isso, eles contratam uma trupe de atores amadores: Brigitte (Helen Mirren) representaria a Morte,  Raffi (Jacob Latimore) representaria o Tempo, e Amy Moore (Keira Knightley) representaria o Amor.

O plano entra em execução e Howard, em um primeiro momento, começa a achar que está delirando. Depois, começa a aceitar que aquilo era real. Ao mesmo tempo em que o plano estava sendo executado, descobrimos que Simon está gravemente doente e que tem problemas em aceitar que está morrendo; Claire percebe que dedicou sua vida ao trabalho e não teve tempo de ter uma família; e Whit não consegue mais se conectar amorosamente com sua filha.

O plano funciona e Howard decide assinar os papeis da venda. Na reunião, os demais sócios percebem que Howard sempre esteve atendo aos problemas dos amigos, e que a sua relutância em fechar o acordo era a necessidade de admitir que sua filha havia morrido e que nada mais poderia ser feito (parte das ações estavam no nome da menina e Howard precisava assinar uma declaração de atestado de falecimento da filha).

De volta a vida pessoal de cada sócio, vimos que todos eles conseguiram se reconectar às forças cósmicas as quais eles estavam lutando. Além disso, descobrimos que os atores que interpretaram Morte, Tempo e Amor não eram atores, mas as próprias forças cósmicas.

Reflexão sobre Beleza Oculta: Sensibilidade com a Dor de um Pai

Howard perde sua filha de seis anos devido a um câncer. Quem tem filhos sabe o quanto é desesperador ver seu filho doente, pior ainda é vê-lo morrer. Eu já ouvi várias vezes que um filho morrer antes dos pais é uma dor terrível porque seria antinatural (no sentido de que os mais velhos deveriam morrer antes dos mais novos) e injusto (no sentido de alguém ver a sua razão de viver morrer).

Esse sentimento é impossível de ser transmitido para alguém. Quem tem filhos pode até entender melhor um pai que perde o seu filho, mas nunca conseguirá sentir de fato a dor que é. Isso é importante de ser notado porque os demais sócios de Howard tinham filhos ou sofriam porque não os tiveram. Mas mesmo assim eles não conseguiram desenvolver uma sensibilidade para com o o amigo.

Durante todo o filme, os sócios acharam que Howard os havia abandonado. Que ele perdeu o interesse na vida e, por isso, deixou os demais à mercê dela. No final, descobrimos que Howard sempre esteve atento aos amigos, que ele nunca os abandonou. Sua relutância não tinha a ver com a empresa em si, mas com o fato de ter que atestar a morte da filha.

A metáfora da fila de dominó é muito interessante. Não é só o fato de ser uma coisa que Howard fazia com a filha, mas também é uma representação da união dos três conceitos abstratos que ele valorizava: para fazer uma bela fila de dominós, você precisa amar o que está fazendo, você precisa dedicar tempo para que fique perfeito e ela só manifesta a totalidade da sua beleza no final, quando tudo está no seu lugar. Aí os dominós podem ser derrubados (morte) e todos consideram um trabalho perfeito, bem executado.

Howard não teve essa oportunidade. Ele teve o amor para gerar, cuidar e criar a sua filha, mas a morte chegou muito antes do que se esperava. Ele não teve tempo para colocar as peças de forma perfeita, para se preparar.  O desespero de Howard é análoga (metaforicamente falando) a uma pessoa que, durante a construção da sua fila de dominó, sente um vento inesperado entrando e derrubando seu trabalho ainda na metade. É desolador. Howard, ao fazer as suas filas de dominó no escritório, após a morte da filha, estava tentando retomar o controle da sua vida, que ele havia perdido.

Que consigamos aprender a respeitar o luto das pessoas. Cada um reage de uma forma diferente, cada um precisa de um tempo diferente. Não adianta dizer que entendemos, porque não entendemos. Não adianta achar que vai passar porque isso não passa. O que podemos fazer é acolher, apoiar e torcer / rezar para que a dor sentida possa ser controlada, canalizada, direcionada.

Reflexão sobre Beleza Oculta: Sensibilidade com a Beleza Oculta da Vida

Enquanto vivermos, nós teremos que lidar com os aspectos naturais da vida. Dentre eles, o filme destaca três: Morte, Tempo e Amor. Vemos que os quatro sócios passam dificuldades em lidar com isso e precisou que essas forças cósmicas se materializassem para lhes ajudar a entender o seu papel em tudo.

Morte

A morte é fundamental para o ser humano. É ela que dá a sensação de urgência da vida, de que precisamos realizar as coisas, que não dá para deixar para depois. Sabendo que iremos morrer um dia, nós nos preocupamos em agir, até em fazer grandes façanhas que poderão durar para depois de nossas vidas finitas.

A morte não negocia e isso é ótimo para mostrar que nós não somos tão poderosos quanto parece. O ser humano é muito arrogante por se achar o ser mais superior existente, mas ele ainda perde a disputa para morte.

Sem a morte, nós não teríamos medo. O medo é o instinto da autopreservação. Sem a morte, não existiria o que temer. Quantas coisas estúpidas faríamos, quanto mal aos outros cometeríamos porque não teríamos o que temer.

Além disso, viver eternamente não significa necessariamente ter uma boa vida. Imagine quantas pessoas vivem vidas miseráveis, seja por falta de condições ou por doença ou outros fatores. Muitas dessas pessoas podem ver na morte uma esperança. Tendo ou não algo depois dela, é certo que o problema acaba. Sem a morte, as coisas não acabam.

Sem a morte, não teríamos uma meta.

Tempo

O tempo é algo curioso. Ele existe e não existe simultaneamente. Nós sentimos e não sentimos ele passar.

O tempo é importante para valorizarmos os momentos. Considerar que temos um tempo finito ao longo do dia significa dar prioridades: saber o que é e o que não é importante. Quando temos “todo o tempo do mundo” não fazemos nada, não classificamos aquilo que é necessário daquilo que é desnecessário.

Kant vai dizer que não podemos pensar nada fora do tempo, pois tudo que pensamos ocorre em algum momento específico. Sem o tempo, não conseguimos nos orientar. É graças ao tempo que percebemos as mudanças, as evoluções, as melhorias.

Os problemas causados pelo tempo, não são culpa dele. Ele só faz evidenciar aquilo deveria acontecer. Nós que deveríamos ter cuidado melhor para evitar o problema ou aceitar que problemas são inevitáveis. Tenho um artigo antigo, que trata bastante do tempo e de como o entendemos. Porém, esse filme nos mostra que nenhum forma de definir tempo está de fato certa.

Sem o tempo, não teríamos um rumo.

Amor

Amor é o sentimento mais complexo que existe. Ele é capaz de te fazer bem e mal. Te fazer feliz ou triste. Te colocar para o alto ou para baixo. Pensando dessa forma, podemos dizer que o amor é o motor da vida. Tudo o que fazemos é por amor.

O amor também é múltiplo. Então ele está em diferentes realidades e situações: família, enamorados, amigos, bens, sonhos, desejos, expectativas.  Sem amor, perdemos o motivo pelo qual fazemos as coisas que fazemos. O amor dá um sentido para nossos atos, para nossas vidas.

Na filosofia, o amor já foi retratado como falta e como completude. Ou seja, o amor é um sentimento ambíguo, mas necessário. Talvez ele sirva para nos mostrar que a vida não é simples, que as coisas não são automáticas e automatizadas, elas fluem.

O amor é incontrolável e nos lembra que não temos controle de nada na vida, que podemos ser facilmente arrebatados por um sentimento / uma sensação e mudarmos completamente de uma forma inesperada.

Sem amor, não teríamos um propósito.

Reflexão sobre Beleza Oculta: Conclusão

Sem a morte, não teríamos uma meta. Sem o tempo, não teríamos um rumo. Sem amor, não teríamos um propósito.

Essa reflexão sobre Beleza Oculta começou com uma interpretação da vida e termina como um elogio à ela. É provável que o envolvimento com a morte, o tempo e o amor tenham me feito pensar na beleza oculta da vida. Nossa rotina nos faz ignorar o viver, nos faz esquecer que estamos vivos. Mas quando nos deparamos com situações de morte, tempo e amor automaticamente nos recordamos disso. Nem que seja por um breve período, retomamos essa vontade de viver e aproveitar a vida. Espero que essa reflexão tenha te ajudado a se sentir vivo novamente…

E aí? O que você gostaria de dizer para a Morte, o Tempo ou o Amor? Deixa aí nos comentário! Acredita que alguém precisa ouvir as palavras dessa reflexão sobre Beleza Oculta? Compartilha esse artigo com ela! Quer sugerir temas para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.