Hegel Descomplicado: Biografia e Filosofia

Hegel Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje faremos um artigo sobre Hegel de um jeito descomplicado. Nesse artigo, vamos falar sobre a vida desse filósofo e sobre suas principais teorias filosóficas. Esse artigo serve como uma introdução ao filósofo e sua filosofia. Vamos lá!

Hegel Descomplicado: Biografia

Nascimento e Infância

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, na cidade de Stuttgart, Alemanha. Era de classe média alta. Seus pais eram Georg Ludwig e Maria Magdalena Louisa. Ele teve um irmão (Georg Ludwig) e uma irmã (Christiane Luise).

Desde criança, mostrava aptidão aos estudos. Entrou na escola com três anos para estudar alemão (sua língua materna). Com cinco anos, foi estudar latim.

Adorava ler e anotar trechos preferidos em seu livro. Lia poetas e filósofos.

Juventude

Hegel, aos dezoito anos (1788), foi estudar teologia na Universidade de Tübingen. Lá, ele morou em um alojamento junto com Hölderlin (que ficaria famoso como poeta) e Schelling (futuro filósofo). Os três eram grandes amigos e estudiosos de filosofia. Tinham grande apreço pela filosofia iluminista e pela Revolução Francesa. Também eram leitores de Kant (apesar de discordarem de algumas de suas teses).

Após se formar em 1793 (com 23 anos), Hegel foi trabalhar como professor tutor em duas casas de famílias abastadas, primeiro em Bern e depois em Frankfurt. Durante esse período, ele escreveu algumas obras dedicadas à religião.

Foi nesse período, em 1796, que ele escreveu, junto com Hölderlin e Schelling um manuscrito que ficou conhecido como “O Mais Antigo Sistema do Idealismo Alemão”. Só nos restou um trecho desse texto e boa parte do que ele defende não será defendido pelo próprio Hegel em seu sistema filosófico.

Início da Carreira no Magistério

Em 1801 (com 31 anos), Hegel aceitou o convite do seu amigo Schelling para lecionar na Universidade de Jena como conferencista não remunerado. Ele lecionava sobre Lógica e Metafísica.

Em 1805, após insistência dele mesmo, conseguiu ser promovido para o cargo de Professor Extraordinário. Contudo, esse ainda era um cargo não remunerado.

Em 1806, Napoleão invadiu a cidade de Jena e isso atrapalhou os planos de Hegel, atrasando a publicação do seu livro A Fenomenologia do Espírito. Além disso, a invasão francesa afastou os alunos da cidade.

Uma curiosidade sobre esse período em Jena, foi que Hegel teve um filho ilegítimo com a senhoria do local em que ele morava!

Na falta de uma opção melhor, Hegel aceitou o cargo de editor de um jornal da cidade de Bamberg, por indicação do seu amigo Niethammer. Isso ocorreu em 1807. Nesse período, ele publicou A Fenomenologia do Espírito.

No ano seguinte, também por indicação de Niethammer, Hegel conseguiu o cargo de diretor em um ginásio em Nuremberg (seria algo próximo ao nosso Ensino Médio). Ele permaneceu nesse cargo até 1816. Durante esse período, ele adaptou seu livro para ensiná-lo aos seus alunos, criando uma nova disciplina.

Em 1811, Hegel casou com Marie Helena Susanna von Tucher, com quem teve dois filhos.

Estabilidade Acadêmica

Em 1816, com 46 anos, Hegel aceitou uma vaga na Universidade de Heidelberg. 

No ano seguinte, seu filho bastardo começou a morar com ele (após o falecimento da mãe) e Hegel também publicou Enciclopédia das ciências filosóficas.

Em 1818, Hegel aceitou a cadeira de filosofia na Universidade de Berlim. Ele dedicou seu tempo a uma série de conferência dos mais variados temas, tais como estética, direito, filosofia da história e história da filosofia. Sua fama cresceu muito nesses anos, atraindo estudantes de toda Alemanha e também estrangeiros. As anotações de alunos das conferências de Hegel viraram livros após a sua morte.

Em 1829, com 59 anos, Hegel foi nomeado reitor da Universidade de Berlim. Porém, ele ficou menos de um ano no cargo devido a discordâncias na política local.

Adoecimento e Morte

Em agosto de 1831, uma epidemia de cólera chegou em Berlim. Hegel deixou a cidade e foi morar no distrito próximo de Kreuzberg, mas sua saúde já estava debilitada.

Ele voltou para Berlim em outubro do mesmo ano, devido ao recomeço das aulas, acreditando que a epidemia já tinha terminado.

Acabou morrendo no dia 14 de novembro de 1831 de alguma doença gastrointestinal (achavam que era cólera na época).

Hegel foi enterrado no cemitério Dorotheenstadt, em Berlim.

Hegel Descomplicado: Principais Teorias Filosóficas

Verdade e História

Para Hegel, a verdade não é absoluta. Ao contrário, ela é dinâmica. Ela se modifica conforme a história da humanidade evolui.

Segundo o filósofo, a história da humanidade está em constante progresso, se aperfeiçoando. Por isso, antigos valores e verdades tidos como certos e absolutos mudam conforme a humanidade progride.

Isso não significa que tudo é relativo. A verdade ainda é única dentro de um terminado tempo histórico. Contudo, essa verdade pode mudar conforme mudam os fatores que a determinaram, mediante evolução do pensamento humano.

Como exemplo, podemos pensar na escravidão. Antigamente, esse modelo econômico era tido como o melhor e mais adequado, e que não existiria problema moral em escravizar pessoas. Hoje, isso é inaceitável. Futuramente, poderá surgir uma nova forma de economia e considerarmos inaceitável que durante séculos, pessoas se sujeitaram a trabalhar para as outras em troca de um salário.

Dialética

A realidade histórica avança, segundo Hegel, através de uma dialética formada por tese, antítese e síntese.

A tese é a posição atualmente defendida. A Antítese seria uma posição contrária. A síntese é o resultado do embate entre tese e antítese, quando se forma uma terceira via, que não é nem a primeira nem a segunda, mas algo novo que abarca as duas anteriores e resolve a questão. 

A partir desse momento a síntese se torna a nova tese, e o processo recomeça. 

Exemplo:

Tese: a escravidão é a única forma de termos uma economia sustentável.

Antítese: a escravidão é um desrespeito as direitos humanos.

Síntese: trabalho assalariado como uma solução para manter a economia, sendo que cada empregado decide se quer ou não trabalhar pelo valor pago pelo seu esforço.

Espírito Absoluto

Hegel, se opondo a Kant, acreditava na possibilidade do conhecimento absoluto.

Para Hegel, tudo é Espírito Absoluto. A realidade é o movimento desse Espírito na busca da consciência plena de si mesmo.

As mudanças na história são manifestações do Espírito Absoluto, que busca a plenitude. Ele quer passar do conhecimento limitado e finito ao conhecimento ilimitado e infinito.

O Espírito Absoluto seria a síntese entre o espírito subjetivo (a subjetividade do indivíduo) e o espírito objetivo (a objetividade do coletivo). Por isso, o Espírito Absoluto é autoconsciência.

Para Hegel, em algum momento isso irá acontecer e será o ápice, o alcance da razão plena. 

Dialética do Senhor e do Escravo

O senhor é aquele que manda. O servo é aquele que obedece. Conduto, o poder do senhor sobre o servo só existe enquanto o servo assume a subserviência. 

A partir do momento em que o servo para de obedecer o senhor, o senhor perde o poder sobre o servo. Nesse momento, o servo se torna senhor porque é ele que decide se obedece ou não; e o senhor se torna servo porque ele fica depende da ação ou não do seu ex-subordinado.

Por exemplo, se em uma fábrica, todos os empregados pararem de trabalhar, o dono da fábrica não tem condições de sozinho manter a produção. Logo, no fundo, o dono da fábrica é que depende do trabalho dos empregados e não os empregados que dependem do patrão.

Com relação ao conhecimento, é a mesma coisa: uma ideia só se torna dominante quando ela consegue convencer uma série de consciências a aceitá-la. Depois que esse processo ocorre, essa ideia dominante se torna dependente das demais consciências para mantê-la viva.

A partir do momento em que as consciências deixam de acreditar naquela ideia, ela vai se esvaindo, perdendo o seu poder. Ela passa de senhora para serva porque não tem como se manter sozinha.

Estado

Seguindo a sua proposta dialética, Hegel irá interpretar a sociedade:

Em um primeiro momento, temos a família como síntese dos interesses particulares de seus membros.

Depois, temos a sociedade civil como síntese dos interessas das diferentes famílias.

Por fim, temos o Estado como síntese da sociedade, momento em que as pessoas agem coletivamente tanto para buscar atender seus interesses privados como para atender interesses públicos.

O indivíduo age com com o outro e pelo outro acreditando que aquilo que está fazendo também serve para benefício próprio.

Estética

Seguindo seu pensamento principal, a noção de beleza para Hegel também é uma construção histórica. 

Logo, a beleza não é nem objetiva (um valor absoluto e imutável) nem subjetiva (dependente de cada indivíduo). 

A beleza é aquilo que a sociedade, naquele momento, defende como belo. Os atributos escolhidos são escolhidos porque aquela sociedade passou a valorizar certos atributos e não outros, por motivos diversos.

Assim, para algo ser belo é preciso se adequar aos atributos escolhidos pela sociedade.

Hegel Descomplicado: Conclusão

Hegel não é um filósofo fácil de compreender. Diz-se que, em seu leito de morte, ele declarou: “Houve apenas um homem que me entendeu, e nem mesmo ele me entendeu”. Outra anedota diz que somente duas pessoas entendem Hegel: ele mesmo e Deus. Brincadeiras à parte, a filosofia idealista de Hegel foi fundamental para a filosofia contemporânea, influenciando muitos pensadores, seja aqueles que concordaram com ela, seja aqueles que discordaram.

Hegel Descomplicado: Aprofundando o Assunto

Para aprofundar seus estudos em Hegel, recomendo os seguintes livros (retirados da lista do Contra os Acadêmicos):

Compreender Hegel (Francisco Pereira Nóbrega)

Hegel (Frederick C. Beiser)

Introdução à Leitura de Hegel (Alexandre Kojeve)

Dicionário Hegel (Michael Inwood)

Propedêutica Filosófica (Hegel)

Introdução à História da Filosofia (Hegel)

Fenomenologia do Espírito (Hegel)

As compras feitas através dos links acima ajudam na manutenção do blog. 🙂

E aí? Sobrou alguma dúvida? Deixa nos comentários! Conhece alguém que não consegue entender Hegel, compartilha com esse artigo descomplicado sobre Hegel com ele! Quer que eu escreva algum artigo aprofundando um dos tópicos desse texto? Entra em contato comigo!

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Hegel Descomplicado: Referências

ARANHA, Maria Lúcia Arruda. Filosofia com textos: temas e história da Filosofia. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2016.

Coleção Ensino Médio 2ª série: Manual do Professor (Volume 3). – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 64 p.: il.

Wikipédia. Verbete Hegel.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.