Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Thor – Amor e Trovão. Nesse filme, Thor irá enfrentar um assassino de deuses ao lado da sua ex-namorada, que agora também tem um poder sobre-humano. Do início ao fim do filme, várias reflexões são levantadas e eu trarei três aqui: o papel da religião para as pessoas, o problema em criarmos heróis para nos inspirar e o direito de fazemos escolhas consideradas erradas para os outros. Atenção, pois teremos spoilers do filme! Vamos lá!
Sobre o filme (COM Spoilers)
Thor – Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder) é um filme de 2022 da Marvel Studios / Disney. Esse é o quarto filme do deus do trovão e está inserido na chamada quarta fase do MCU. Em breve, estará no Disney+.
Na história, Thor (Chris Hemsworth) está viajando com os Guardiões da Galáxia, cumprindo várias missões no espaço, até que ele recebe um chamado de sua amiga Lady Sif (Jaimie Alexander). Sif explica que existe um ser que está matando todos os deuses chamado Gorr, O Carniceiro dos Deuses (Christian Bale).
Logo depois, Gorr vai até Nova Asgard para atacar a cidade e atrair Thor. Thor chega na cidade e lá encontra sua ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman) lutando como a Poderosa Thor, graças ao poder que ela recebeu do Mjölnir, o qual se reconstituiu para ajudá-la. Jane Foster tem câncer terminal e o martelo lhe dá uma sobrevida.
Gorr, encurralado, resolve sequestra as crianças asgardianas e as leva para o Reino das Sombras. Thor, Poderosa Thor, Valquíria (Tessa Thompson) e Korg (Taika Waititi) viajam até a Cidade Onipotente, local de reunião dos deuses, para pedir ajuda, mas são ignorados. Por isso, vão sozinhos enfrentar Gorr.
No Reino das Sombras, Gorr é mais forte e rouba o machado Rompe-Tormentas, o qual é capaz de abrir portais. Gorr queria, no final das contas, abrir um portal até Eternidade, um ser que pode conceder qualquer desejo, para pedir a morte de todos os deuses.
Chegam até Eternidade Gorr, Thor e Poderosa Thor. Gorr é convencido de mudar seu desejo para reviver sua filha, motivo de todo ódio de Gorr aos deuses. Ele faz isso e morre em seguida. A Poderosa Thor também morre porque acabou esgotando suas forças na luta contra Gorr.
No final, Thor aceita cuidar da filha de Gorr como se fosse sua filha.
Reflexão sobre o Thor – Amor e Trovão: Para que Servem os Deuses?
O arco do vilão Gorr começa quando ele e sua filha Love estão sofrendo em um deserto. Gorr é um devoto do deus Rapu que tem suas preces ignorada. Para piorar, Gorr encontra Rapu após a morte de Love e Rapu faz um total descaso da situação, mostrando indiferença aos seus devotos. A partir desse momento, Gorr inicia sua sanha para matar todos os deuses.
Em um primeiro momento, é possível até pensar que Rapu era uma exceção. Porém, quando Thor chega na Cidade Onipotente, percebemos que a maioria dos deuses desprezam a humanidade, tratando os seres humanos como fãs bobos que fazem tudo por seus ídolos.
Dessa forma, compreendemos o filme como uma crítica às religiões, que tentam pregar a existência de deuses que se importam com a humanidade e, por isso, precisamos prestar culto à divindade. Ao contrário, o filme nos mostra que podemos simplesmente ignorar os deuses porque eles não estão nem aí para nós!
Na filosofia da religião, existe o chamado deísmo. Deísmo é uma posição filosófica que defende a existência de deuses, mas entende que esses deuses não estão preocupados com a humanidade e nem interferem nos acontecimentos do universo. São os chamados deuses indiferentes ou deuses ausentes.
Um dos mais famosos representantes desse grupo de filósofos foi Epicuro. Epicuro dirá que, se os deuses são perfeitos, nada lhes falta e nada lhes perturba, pois são seres completos. Se estão completos, não podem ser afetados por nada exterior a eles e, por isso, não tem como se importarem com aquilo que acontece com a humanidade.
Em outras palavras, os deístas não negam a divindade, mas descartam a necessidade de se importar com ela porque ela não se importa conosco. Logo, é perda de tempo se preocupar com algo que não nos afetará, nem para o bem e nem para o mal.
Nós vivemos em uma sociedade extremamente religiosa. Praticamente todos tivemos na nossa criação algum contato com uma denominação religiosa e a religião é constantemente usada para influenciar decisões políticas e ética na nossa sociedade. Por isso, é difícil pensar na existência de um deus que simplesmente nos ignore.
Basicamente, isso é dizer que perdemos nosso tempo com nada. Pior, é dizer que deixamos algo desnecessário moldar quem somos e como vivemos. Por esse motivo, é mais fácil manter a posição de que um deus está nos vigiando e preparando algo para nós (bom ou mal). Mas será que está mesmo? O filme nos leva a pensar que não, que ficar nessa expectativa é pedir para se frustrar.
Por isso, seguindo essa proposta, pare de servir a um deus que não liga para o seu serviço. Vá fazer outra coisa e ser quem você quer ser porque viver segundo qualquer preceito religioso só por medo ou temor aos deuses é perda de tempo e de vida.
Reflexão sobre Thor – Amor e Trovão: Heróis que Decepcionam
Se já não bastasse uma crítica aos deuses, demonstrando a sua inutilidade, o filme também propõe uma crítica à figura do herói. Aqui, o contexto de herói é o ídolo, aquela figura distante que nós guardamos como exemplo de pessoa.
No filme, Thor tinha Zeus (Russell Crowe) como herói quando criança e ficou “todo bobo” quando viu a oportunidade de finalmente conhecê-lo. Porém, foi uma decepção o encontro. Thor descobriu que Zeus é um deus babaca, que só se preocupa com seu status e não liga para os problemas do mundo.
Aquilo pelo que Thor passou é algo muito comum quando idealizamos demais as pessoas por causa de seus “personagens”. Personagem aqui não é no sentido de ator, mas como essa pessoa aparenta ser para nós no contexto em que a conhecemos.
Explico: nós podemos ter como herói um cantor, ator, esportista, digital influencer, professor, mas só conhecemos essas pessoas em um contexto muito restrito. Geralmente, limitado a atuação profissional dessa pessoa e às suas redes sociais. Porém, os seres humanos vão muito além de suas profissões e, como já falei várias vezes, as redes sociais são um retrato artificial das pessoas.
Seres humanos são falhos, mas quando idealizamos alguém, acabamos esquecendo disso. Daí, criamos esse ser perfeito que não existe. E vem a decepção.
O filme quer nos mostrar isso, que não podemos idealizar outras pessoas como sendo perfeitas porque elas não são. Temos que olhar a todos como pessoas falíveis. Falhar não é um defeito porque é algo natural. Todos somos bons em algumas coisas e ruins em outras. E isso precisa ser mostrado (ou, pelo menos, deixado claro).
É interessante perceber que o próprio filme apresenta Thor como esse herói “humano, demasiadamente humano”. Thor, ao longo do filme, demonstra bravura e covardia, força e fraqueza, inteligência e estupidez. Ele é alguém “normal”.
Sendo assim, fica a reflexão para não idealizarmos os nossos heróis. Precisamos entender que eles são “gente como a gente”. Não podemos esperar deles perfeição. Eles podem sim ser exemplos para nós em alguma coisa, mas não precisam (e nem deveriam) ser exemplos completos, como se nossa vida devesse emular a vida dessas pessoas.
Reflexão sobre Thor – Amor e Trovão: Cada um com suas Escolhas
Alguns dos momentos mais dramático do filme eram as cenas da Jane Foster definhando sempre que largava o Mjölnir. Nessa hora, a magia deixava seu corpo e a doença “voltava”. O problema é que o uso da força sobre-humana sobrecarregava a cientista, acelerando mais o avanço do câncer.
No final do filme, Jane poderia escolher entre ficar no hospital e ter uma sobrevida com o tratamento ou ir ajudar Thor e Valquíria na batalha final contra Gorr, sabendo que não voltaria dela.
Thor, egoisticamente (mas compreensivamente), pede para Jane não ir. Ele queria ter mais tempo com ela. Jane não queria ter mais tempo com Thor naquele estado, preferia passar com seu amado um momento mais breve, mas de forma mais viva. Ela escolheu um breve tempo de qualidade do que um longo tempo de sofrimento.
Em um primeiro momento, Thor não gostou. Porém, depois ele entendeu. Entendeu que aquela era uma escolha da Jane e não dele.
Na vida real, essa situação ocorre muitas vezes. É uma luta entre a pessoa doente que quer aproveitar seus últimos momentos de vida de forma alegre e seus parentes que querem alongar esse tempo de uma forma que a pessoa doente não consegue aproveitar.
Fica, assim, a reflexão do filme de que precisamos deixar com o doente a escolha sobre como viver seus últimos momentos de vida. É egoísmo querermos que a pessoa viva esse tempo da forma como nós queremos. O certo é deixar ela escolher e ficar feliz por isso. É fácil? Não! Mas é preciso…
Conclusão
Thor – Amor e Trovão é um filme de comédia e aventura. Muitos o criticaram como um filme vazio pois não acrescenta muito à história dos personagens e nem move muito o universo cinematográfico da Marvel. Porém, como pode-se ver, ele levanta bem algumas questões que podemos ficar um bom tempo refletindo e debatendo.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!