Uma Reflexão sobre Matrix: O Problema das Palavras “Realidade” e “Verdade”
Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre o filme Matrix. Sei que esse é um dos filmes “exemplo” quando se fala de filosofia no cinema, e que já existem muitas reflexões sobre ele na Internet. Entretanto, quando o passo para os meus alunos, muitos nunca o tinham visto; e muitos que viram, não o viram por um olhar filosófico, apenas um filme de ação de enredo “louco e confuso”. Por isso, considero que não é demais mais um texto desse filme. Além disso, se Filosofia tem a ver com o olhar particular do filósofo sobre a realidade, minha reflexão não reflete necessariamente as mesmas coisas que já foram ditas. O texto contém spoilers do filme, mas vale a pena ler o texto antes de vê-lo pela primeira vez, para aproveitar ainda mais. Vamos lá!
Sobre o Filme
Matrix é um filme de 1999 das irmãs Wachowski. Na época, seus efeitos especiais eram revolucionários (como o “bullet-time” – aquela cena em câmera lenta que mostra o detalhe de uma ação) e altamente tecnológico (apesar que hoje ninguém entende o que é aquele “barulhinho” da internet discada e a necessidade de um telefone fixo para ter “linha”).
Neo (Keanu Reeves) é um hacker que investiga o que é “Matrix”. Ele é abordado por Trinity (Carrie-Anne Moss), outra hacker, que lhe oferece a chance de conhecer Morpheus (Laurence Fishburne) e descobrir o que é “Matrix”.
Neo aceita o encontro e aceita a oferta de Morpheus de descobrir a verdade. E a verdade é que aquilo que nós chamamos de realidade, nossa definição de civilização, não passa de um programa de computador.
Esse programa emula uma civilização, já extinta, em nossas mentes, nos controlando psiquicamente. Na realidade “real” nós estamos presos em casulos e somos cultivados como “baterias” para alimentar máquinas, que agora são conscientes e dominaram a Terra.
Além dessa grande descoberta, Neo também descobre que pode ser “O Escolhido”, a pessoa que vai conduzir os humanos para a vitória na guerra contra as máquinas.
Enquanto ele lutava para aprender esse novo conceito de realidade e aceitar a ideia de ser “o escolhido”, ele teve que lidar com as máquinas e com um traidor.
No fim, quando Neo aceita que não é o escolhido e decide se sacrificar para ajudar Morpheus, ele se torna “o escolhido” e salva o dia.
Uma Reflexão sobre Matrix: O Conceito de Realidade
Durante o filme, existe uma constante oposição entre Matrix e a Realidade. Matrix é a realidade que conhecemos, sendo que essa realidade não é real. A realidade real é outra, que nós desconhecemos, acessada por muitos poucos.
Esse jogo de palavras reflete muito a dificuldade do ser humano de entender o mundo em que ele vive. Muitas são as teorias filosóficas que discutem isso.
No campo da Teoria do Conhecimento, que trata de compreender a natureza, a origem e o limite do conhecimento humano, temos: os racionalistas – que defendem a origem do conhecimento na razão (sendo os sentidos enganosos); os empiristas – que defendem que o conhecimento vem exclusivamente dos sentidos; e Kant – o qual diz que só podemos conhecer o fenômeno, ou seja, aquilo que sentimos do mundo, limitado ao intelecto humano, e não a sua essência (coisa em si).
Uma das associações que mais fazem com o filme Matrix é relacionando-o com a Alegoria da Caverna de Platão, uma história que mostra o desafio do conhecimento humano da realidade.
Entretanto, eu vou por um caminho mais provocador, um caminho nietzschiano: qual seria o problema em aceitar a nossa realidade tal como ela é? Por que ficar preocupado em tentar entender o que é a realidade e não apenas viver aquilo que já temos como realidade, o que chamamos de “vida”?
Nietzsche tem uma teoria chamada de “Eterno Retorno”. Nessa teoria, ele questiona como seria a nossa reação se descobríssemos que iríamos eternamente reviver a mesma vida que temos hoje. Será que estaríamos satisfeitos? Ou iríamos nos desesperar?
Nietzsche não acreditava que isso acontecesse (reviver eternamente a mesma vida). Ele queria nos provocar para saber se estamos de fato fazendo “por onde” para vivermos uma vida que achamos digna de ser repetida.
Neo, após “despertar” para a realidade, é constantemente lembrado que tudo de Matrix “não é real”, “é uma mentira”, “é uma simulação”. Mas existe uma voz dissonante, do jovem Mouse (Matt Doran), que lhe diz para não negar os prazeres, porque são eles que nos tornam humanos. Ou seja, devemos aproveitar a realidade que temos em vez de tentar buscar uma explicação mais complexa sobre ela.
Uma Reflexão sobre Matrix: O Problema do Excesso de Conhecimento
Nossa razão busca constantemente querer interpretar o mundo, dando-lhe um sentido, seja intrínseco – nele mesmo – ou transcendente – para além dele. Às vezes, a busca pela “verdade” pode atrapalhar nossas vidas, porque deixamos de acreditar no seu valor.
Constantemente, a famosa frase do traidor Cypher (Joe Pantoliano) “A ignorância é uma benção” é dita como crítica, porque ele não queria admitir a verdade, queria viver na mentira. Ok. Realmente, agora que ele estava acordado, era para ele aceitar e lutar para melhorar aquilo. Mas será que poderíamos dizer que não seria melhor deixar as demais pessoas vivendo aquela “mentira” da Matrix? Será que não é melhor deixar aqueles que querem viver na “ignorância” vivê-la?
Estamos tento uma onda de pessoas defendendo a “desconexão”, ou seja, o afastamento da Internet – em especial das redes sociais. Depois de tanto tempo consumindo compulsivamente informações atualizadas instantaneamente do mundo todo, começamos a perceber que isso não nos faz ser melhores.
Ao contrário, o que aconteceu foi o surgimento de uma geração doente. Ansiedade e estresse são problemas atuais ligados a uma vida 100% conectada, que precisa saber o que está acontecendo com todo mundo, que não aceita desconhecer as últimas novidades. Inclusive, já existe uma síndrome chamada FoMO (que em português significa “medo de estar perdendo algo”), a qual simboliza essa necessidade de estar atualizado sempre.
Parece que a tendência é aprendermos a assumir a ignorância. Não de tudo, mas de uma boa parte de tudo. Precisamos ser mais seletivos. Escolher e limitar nosso universo relacional para aproveitá-lo melhor. Parece que agora, saber menos é positivo. O desafio é focar em um microuniverso, em vez de querer saber a resposta de tudo.
Uma Reflexão sobre Matrix: Conclusão
A ideia desse artigo foi desconstruir os principais temas que são constantemente abordados quando alguém fala sobre Matrix. Quis mostrar como é possível ter diferentes olhares filosóficos sobre os problemas da vida. Qual visão está certa? Quem fala a verdade? Então… essas devem ser palavras aposentadas dos nossos dicionários.
E aí? Gostou desse outro olhar sobre Matrix? Deixa aí nos comentários! Se surpreendeu com essa leitura do filme? Compartilha esse artigo para surpreender outras pessoas também! Essa interpretação “bugou” sua mente mais do que o próprio filme? Entra em contato comigo para juntos “desbugarmos” ela!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!