Olá, marujos! Hoje vamos falar sobre como ensinar o Socialismo de Marx e Engels através de Dinâmica. Esse artigo tanto serve para ajudar um professor de filosofia a preparar sua aula desse tema, como para alguém que quer uma introdução a esse assunto. Vamos explicar resumidamente o conceito de Socialismo de Marx e Engels, explicar a dinâmica, e como usá-la ao propósito da aula. Vamos lá!
Sobre Marx e Engels
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) foram dois dos principais críticos do liberalismo, do capitalismo e da burguesia de sua época. Seus escritos mostravam tanto os problemas que ocorriam nas fábricas naquele momento histórico – especialmente as péssimas condições de trabalho do proletariado -, quanto as condições de vida indignas que levavam esses trabalhadores e suas famílias nas cidades (que não estavam preparadas para receber aquelas pessoas que vinham do campo).
Vale destacar três coisas muito importantes: 1. Atualmente, os pesquisadores fazem uma distinção entre o pensamento de Marx – que chamam de “pensamento marxiano” – e a interpretação que deram ao longo da história ao pensamento de Marx – que chamam de “pensamento marxista”; 2. As condições de trabalho hoje não se comparam às daquela época, sendo o trabalho de Marx fundamental para a conquista de diversos direitos trabalhistas; e 3. A forma como se entendia empresa e a relação patrão-empregado era muito diferente – se caracterizando como desumanizada -, enquanto que hoje, em muitos casos, temos empresas de pequeno porte e uma relação humanizada entre superiores e subordinados.
Socialismo de Marx e Engels
Antes de Marx e Engels, já existiam propostas socialistas. Entretanto, essas propostas acreditavam que poderia existir uma transição pacífica, através de leis do governo, do capitalismo ao socialismo. Marx e Engels chamaram essas propostas de Socialismo Utópico, porque nunca funcionariam (clique aqui para entender o termo Utopia). Por isso, Marx e Engels propõem um socialismo diferente, que eles chamam de Socialismo Científico.
Marx e Engels observaram que o Estado era governado por pessoas ligadas à burguesia, ou seja, àquelas que eram detentoras dos meios de produção (donos das fábricas). Por esse motivo, os filósofos acreditavam que o governo nunca criaria leis que ajudassem os pobres, que eram os trabalhadores dessas fábricas, a crescerem e melhorarem de vida. O motivo é simples: os trabalhadores deveriam continuar nas mesmas condições para continuar a serem explorados nas indústrias. Ou seja, para se manter o funcionamento do capitalismo, era necessário que sempre houvessem pobres para trabalhar e produzir os bens dos ricos. Aqui, entrariam os conceitos complementarem de : Luta de Classes e Mais-valia.
Sendo impossível, mesmo em uma democracia, conseguir que os pobres tivessem direitos de fato iguais aos dos ricos, a única solução seria uma revolução dos trabalhadores. Uma revolução literal, armada, aproveitando-se que os trabalhadores são maior parte da população. Dessa forma, em um primeiro momento, os trabalhadores tomariam o controle do governo à força.
O segundo momento seria o confisco de todos meios de produção, que deixariam de pertencer aos burgueses e pertenceriam ao Estado. Por sua vez, todos trabalhariam para o Estado (que agora é controlado pelos trabalhadores). Além disso, todos teriam acesso a condições dignas de viver, de forma igualitária, pois toda a produção e renda gerada seriam distribuídas segundo as necessidades de cada pessoa.
Marx e Engels sabiam que no começo os burgueses iriam se revoltar. Entretanto, os filósofos acreditavam que com o passar do tempo, os ricos perceberiam que uma sociedade justa é melhor de se viver do que uma sociedade injusta. Que todos trabalhando de igual para igual fariam a sociedade prosperar melhor do que a forma como era feito antes. Nesse momento, os burgueses iriam parar de se revoltar e aceitariam essa nova condição.
Aí, então, os trabalhadores poderiam deixar o Estado e dissolvê-lo, acabando com a necessidade de um órgão controlador e legislador, deixando com que a sociedade se autogovernasse, sem precisar de alguém mandando ninguém fazer nada e todos seriam felizes porque todos teriam condições de vida boa. Marx e Engels chamam esse momento da sociedade de Comunismo.
Crítica ao Socialismo de Marx e Engels
Para deixar claro que esse artigo não é uma apologia ao pensamento de Marx e Engels, mas apenas uma explicação de sua teoria, vale dizer de forma simples o porquê dessa teoria não ter dado certo até hoje: o ser humano. Os filósofos acreditavam que os trabalhadores que assumissem o governo não iriam se apegar ao poder e aceitariam deixá-lo no momento oportuno. Max e Engels não esperavam que os trabalhadores que assumissem o poder se apegassem a ele, se corrompendo. E também não esperavam que os capitalistas resistissem tanto, inclusive com investidas estrangeiras.
Socialismo de Marx e Engels através da Dinâmica “Corrida com Obstáculos”
Essa dinâmica deve ser feita antes da aula e é uma adaptação da dinâmica feita nesse vídeo:
A adaptação ficou assim:
- Colocar os alunos em fila, na quadra, e propor uma corrida.
- Dizer que quem chegar primeiro ganhará 2 pontos extras na média.
- Informar que eles terão direito a dar dois passos à frente se a afirmação que for feita em seguida tiver a ver com ele.
- Listar as afirmações:
- Se seus pais ainda estão casados;
- Se você só (já) estudou em escola particular;
- Se você teve bons exemplos de educação em casa;
- Se você sempre teve crédito no seu telefone;
- Se você nunca teve que trabalhar para ajudar sua família com as despesas domésticas;
- Se você nunca teve medo de faltar comida em casa;
- Se você nunca sofreu preconceito pela cor da sua pele;
- Se você nunca se sentiu inferiorizado pelo seu gênero ou orientação sexual.
- Enquanto você for lendo as afirmações, é provável que alguns alunos não entendam direito o que foi dito ou não saibam interpretar a frase. Nesse caso, dependendo de cada realidade, o professor decide se explica a frase de uma outra forma ou diz que o aluno tem que dar a interpretação dele.
- Quando as afirmações terminarem, é muito provável que exista uma discrepância entre alguns alunos, uns muito na frente e outros muito atrás. Nesse momento, o professor se coloca mais ou menos no meio do caminho entre ose extremos e explica a proposta da dinâmica:
- Mostrar que essas afirmações não têm a ver com o que eles fizeram ou deixaram de fazer, simplesmente são condições que a vida deu e que os ajudaram ou prejudicaram;
- Todos terão que correr a corrida da vida, mas uns invariavelmente terão mais vantagens do que outros. É nossa obrigação nos esforçarmos para diminuir ao máximo essa diferença e permitir uma competição verdadeiramente justa.
- Após o discurso, você conclui a dinâmica falando para os alunos ficarem a postos para correr e dá a largada. Nesse momento, pode acontecer duas coisas:
- Os alunos se conscientizarem e decidirem não correr ou darem as mãos e chegarem juntos à linha de chegada; ou
- Alguns ou todos correrem normalmente para tentar ganhar os pontos.
- Se ninguém correr ou chegarem todos juntos, sugiro dar os pontos para todos os alunos. Se alguém correr, dar o ponto para o aluno que chegou na frente.
Momento Pós-dinâmica e Pré-conteúdo
Terminada a dinâmica, levar os alunos para sala e fazer uma reflexão sobre o comportamento deles na hora da largada. Se eles se uniram, parabenizar o feito e mostrar que esse é um primeiro passo para se alcançar uma sociedade justa, e que esse gesto deve ser lembrado sempre que eles sentirem que estão entrando em uma competição desigual. Se alguém correu e ganhou, o professor deve dizer que isso é normal, que nós fomos educados à competição e mesmo sabendo que não era justo, nós competimos, fazendo o sistema continuar.
Se questionarem que eles não sabiam que podiam fazer diferente de correr, ou seja, tentarem argumentar que teriam dado as mãos se soubessem que podia; ou, se alegarem que um correu porque viu que o outro correu, o professor deve questioná-los o porquê deles não terem tentado fazer diferente, porquê não ousaram, arriscaram contrariar o sistema. O professor deve explicar que para algumas coisas somente se sabe se algo funciona se tentar.
Depois dessa fala, o professor já pode entrar no conteúdo propriamente dito, explicando o socialismo de Marx e Engels.
Interdisciplinariedades
Você pode aproveitar essa atividade não só para filosofia, mas também, como sugestão: sociologia, história, geografia, educação física.
Sociologia: explorar as questões sociológicas do pensamento de Marx, que é considerado um dos fundadores da Sociologia (especialmente a Sociedade de Classes e Mais-valia).
História: explorar o momento histórico pelo qual passava a Europa no século XIX.
Geografia: trabalhar melhor os conceitos de liberalismo e capitalismo.
Educação Física: aproveitar a corrida como uma atividade física, criando um percurso maior ou obstáculos físicos.
Socialismo de Marx e Engels através de Dinâmica: Conclusão
As afirmações e as regras podem ser adaptadas dependendo do espaço disponível e das condições socioeconômicas dos alunos. Se não tiver possibilidade de fazer a dinâmica, vale a pena apenas passar o vídeo. É importante, durante a fala pós-dinâmica, tomar cuidado para não magoar nenhum aluno que resolveu correr (às vezes, é porque precisa muito do ponto). A ideia não é acusar ninguém, nem gerar constrangimentos com que andou muito ou pouco, e sim gerar empatia com a realidade de vida de cada um.
Além disso, o professor tem que ter tato para explicar o socialismo em sala porque dependendo de quem ouve ou de como se fala, pode ser interpretado como doutrinação. A explicação da matéria não exige uma crítica a governos atuais nem elogios a governos antigos, logo, é bom evitar misturar a explicação filosófica com política partidária.
E aí? O que achou da dinâmica? Deixa aí nos comentários sugestões para as afirmações e relatos (textos e/ou vídeos) de como foi a aplicação. Gostou da proposta? Compartilha esse artigo para que outras pessoas possam fazer também. Tem alguma dinâmica muito boa, mas não sabe como incluí-la no conteúdo? Entra em contato comigo pelo formulário para vermos como encaixá-las nas aulas de filosofia.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!