Reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: Qual o Sentido da Vida?

Reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: Qual o Sentido da Vida?

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. Nesse premiado filme, vemos uma “mulher comum” tendo que salvar o multiverso derrotando o grande vilão que quer destruir tudo! Na reflexão, abordarei alguns temas filosóficos trazidos pelo filme, os quais acabam convergindo na grande pergunta “qual o sentido da vida?”. Teremos spoilers do filme! Vamos lá!

Sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (COM Spoilers)

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once) é um filme de 2022. Ele foi muito aclamado pelo público e pela crítica, ganhando diversos prêmios. Como destaque, ele levou o Oscar 2023 nas categorias: Melhor Filme, Direção, Atriz Principal, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Roteiro Original e Edição. Atualmente, está disponível na plataforma de streaming Amazon Prime Video.

Evelyn (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa de meia-idade que leva uma vida tediosa. Ela administra uma lavanderia medíocre, vive um casamento fracassado e não se dá bem com sua filha lésbica.

Certo dia, enquanto estava na Receita Federal Americana tentando acertar seus impostos, descobre que o multiverso existe e ela é fundamental para salvá-lo da destruição. O multiverso é formado a partir de cada decisão que tomamos na vida: para cada possibilidade, existe um universo em que uma escolha foi feita ou abandonada.

O grande vilão é sua filha Joy (Stephanie Hsu), que não vê mais sentido na existência das coisas e quer destruir tudo. Já Evelyn é a chave porque sua vida é tão medíocre, patética e fracassada, que ela tem mais chances de conseguir reunir poderes para deter Joy.

A partir daí, somos apresentados a diversas variantes da família Wang, mostrando como algumas decisões podem mudar drasticamente nossas vidas. Enquanto isso, uma luta física e emocional se desenrola entre mãe e filha por todo o multiverso.

No final, mãe e filha conseguem se reconciliar e, com isso, acabar com a ameaça de fim dos mundos.

Quer conhecer todos os multiversos e versões bizarras apresentados no filme? Quer entender como mãe e filha conseguiram se acertar? Veja Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo no Amazon Prime Video.

Reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: O Niilismo de Jobu Tupaki

Jobu Tupaki é uma identidade assumida pela Joy Wang após ter sua mente quebrada por ter visitado inúmeros universos e chegado à conclusão que nada mais fazia sentido na vida.

A atitude de Jobu representa aquilo que comumente tem sido chamado de niilismo contemporâneo: as pessoas, especialmente os jovens, não estão vendo mais sentido na vida. A palavra niilismo vem do termo latino nihil (que significa nada).

Você pode se perguntar: mas como é possível, diante de tantas possibilidades e escolhas diferenciadas, os jovens não verem sentido na vida? Nunca antes uma geração teve tanto acesso à informação e levou uma vida tão conectada! Comparado a gerações passadas, os jovens hoje dispõem de tantas coisas e tanta liberdade que não faz sentido a vida não ter sentido para eles! Era para eles serem vibrantes e destemidos, e não melancólicos e covardes! O que aconteceu?

A resposta é muito complexa para um artigo de blog, mas podemos resumir dizendo que o excesso de escolhas acaba nos deixando sem escolhas. Diante de tantas possibilidades, a juventude não sabe mais o que escolher. Ao contemplar que uma escolha gera automaticamente o abandono de outra, surge o medo. Ao se tentar fazer tudo para não perder nada, vem o fracasso.

Além disso, o grande contato com pessoas diferentes do mundo todo, nos possibilita ter “pseudo-experiências” de tudo o que se possa imaginar e, com isso, perde-se bastante a graça de se querer fazer aquilo. Mesmo não realizando de fato tal experiência, uma forma mais imersiva de sensação acaba tirando boa parte do prazer em se querer fazer algo.

Precisamos lembrar que os nossos jovens foram criados (ou até já nasceram) em um mundo conectado digital e virtualmente. Dessa forma, experiências digitais e virtuais são tão “reais” para eles quanto experiências físicas. E isso é uma “faca de dois gumes”: se, por um lado, permite viver coisas que poderiam ser praticamente impossíveis; por outro, pode tirar a vontade de se fazer tal coisa.

Vou dar um exemplo meu:

Quando criança, conheci o jogo Silent Hill de PlayStation 1 na casa do meu primo (que morava em uma cidade distante). Jogamos durante vários dias da viagem, mas não conseguimos “zerá-lo” porque travamos em uma parte. Na época, não se tinha internet direito e só depois de voltar da viagem consegui achar uma revista com o “detonado” do jogo. Comprei e esperei ansiosamente outra oportunidade de viajar para casa do meu primo e poder concluir o jogo. Não lembro porquê, mas isso acabou nunca acontecendo. Anos se passaram e essa vontade de concluir o jogo nunca sumiu da minha cabeça apesar de eu nunca parar para fazê-lo. Até que um dia, já adulto, aproveitei um feriadão e resolvi ver no YouTube alguém jogando e “virando” o jogo. Descobri como a história acaba e a vontade passou, sendo que eu não vivi esse momento. Eu apenas vi alguém o vivendo. Eu não tive a experiência, mas ao ver alguém a tendo, eu perdi a vontade de eu mesmo fazer aquilo. Perdeu a graça…

Agora, imagina que hoje, praticamente tudo está ao acesso de dois cliques ou toques na tela. Qualquer coisa que você queira “experimentar” por outros é possível. Você vai “seco” para viver aquilo, mas a sensação não é a mesma de fazer aquilo ao mesmo tempo em que se perde a vontade de fazer porque você já sabe como é. Essa é a sensação niilista vivida pela atual juventude e que é representada pela Jobu Tupaki: sua capacidade de viajar e experimentar o multiverso fez com que sua vida se tornasse sem graça e sem sentido.

Ironicamente, TUDO se tornou NADA.

Reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: O Existencialismo de Waymond Wang

Waymond Wang (Ke Huy Quan) é o marido de Evelyn e pai de Joy. Ele é aquela pessoa que sempre vê o copo meio-cheio, o lado bom das coisas e gosta de aproveitar cada momento, valorizando-o.

A atitude de Waymond representa aquilo que podemos chamar de existencialismo: o aproveitamento do momento atual, da vivência cotidiana. A palavra existencialismo vem de existência, representando a existência em si, o agora.

Como lidar com um mundo em que você pode tudo e, ao mesmo tempo, não consegue fazer quase nada? A solução existencialista é tão simples que chega a ser incômoda: fazendo o que se é possível nesse momento e aproveitando ao máximo isso!

Como os filósofos existencialistas já deixaram claro, o que passou passou e o futuro ainda não foi escrito. Só existe o agora! É claro que o passado nos influencia e que precisamos nos preocupar com o futuro. Mas não podemos nos definir pelo que já foi ou pelo que ainda virá. Nossa essência precisa ser construída durante nossa existência!

Não dá para viver todas as emoções e experiências em apenas uma vida. Precisamos admitir isso e parar de tentar porque sempre iremos nos frustrar. Precisamos aceitar que é necessário fazer escolhas e que essas escolhas abrirão algumas portas e fecharão outras. O importante é se fixar nas portas que serão abertas e não nas portas que se fecharam.

Por exemplo, em um relacionamento fixo e monogâmico com alguém, você não pode ficar pensando nas pessoas com quem você não está se relacionando; você precisa focar em aproveitar os momentos exclusivos que tem com a pessoa que escolheu. Ficar com alguém pensando em como seria se estivesse com outrem nunca fará bem. Se o atual relacionamento não está legal, tente resolver o problema ou termina. Mas permanecer nele pensando como seria se fosse outra pessoa só trará frustração.

Não dá para ver todos os filmes e séries existentes. Você inevitavelmente terá que fazer escolhas. Escolha dentro do seu gosto e possibilidade e aprecie o momento. Desligue o celular e veja a produção. Viva a experiência. É muito melhor uma vivência bem-feita de um filme/série do que ver vários conteúdos audiovisuais de forma indireta, com um olho no smartphone e outro na TV.

E isso vale para tudo: escolha profissional, hobbies, viagens de férias, bens adquiridos. Curta aquilo que você conseguiu e não sofra por aquilo que você não tem ou teve que abrir mão.

Eu falo algo semelhante semanalmente com meus alunos: eu sei que a maioria deles não queria estar lá, que preferia estar em casa dormindo ou jogando. Até eu preferiria. Mas já que estão lá, aproveitem o momento para adquirir aquele conteúdo, fazer algumas reflexões sobre a vida, debater alguns assuntos de interesse universal. O sono ou a partida poderão ocorrer depois, mas aquela aula nunca mais voltará.

E assim é com tudo na vida: nenhum momento vivido voltará. Mesmo que você tente repetir, nunca será como da primeira vez. E é por isso que temos que aproveitar o aqui e o agora, com seus prós e contras. 

Conclusão

Ser niilista é muito mais fácil que ser existencialista. É muito mais fácil reclamar daquilo que não se viveu do que se se esforçar em aproveitar o que está se vivendo. É mais fácil se colocar como vítima passiva do que assumir uma posição de ação diante da vida. O problema é que o sofrimento do niilismo é muito maior que um descontentamento momentâneo de um existencialista consciente de que não dá para viver tudo. Mudar de postura diante desse mundo conectado e exigente de experiências frenéticas é fácil? Não! Mas podemos começar colocando googly eyes (aqueles olhinhos arregalados que se mexem) nas coisas…

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo? Comenta! Quer uma reflexão sobre outro filme? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.