Reflexão sobre The Witcher: A Busca pelo Propósito da Própria Vida
Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre a série The Witcher, que é exclusiva da Netflix. Além de fazer uma resumo sobre a série, também iremos refletir sobre a incessante busca dos personagens por um propósito em suas vidas. Veremos que os personagens são espelhos das nossas próprias buscas, porque todos nós buscamos encontrar o propósito, o sentido de nossas vidas. Esse artigo tem alguns spoilers da primeira temporada, mas gostaria que lessem mesmo sem terem visto a série. Vamos lá!
The Witcher
The Witcher surgiu como uma série de livros de fantasia, mas ficou famosa mesmo pelo jogo de videogame. A série é inspirada nos livros, e não no jogo. Isso pode trazer um estranhamento para quem só conhece esse universo através do jogo. De qualquer forma, podemos dizer que todas as mídias se complementam, enriquecendo essa franquia.
Na série, podemos dizer que existem três personagens principais: o bruxo Geralt de Rívia (Henry Cavill); a feiticeira Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra); e a princesa Cirilla de Cintra (Freya Allan). A série vai mostrando eventos separados de cada um desses personagens, sendo que eventualmente alguns deles se cruzam. Existem outros personagens também interessantes e importantes para a trama, que dão suporte aos personagens principais, enriquecendo suas histórias. Vale o destaque para Jaskier (Joey Batey), um bardo (cantor) que acompanha Geralt em algumas aventuras; Tissaia (MyAnna Buring), a feiticeira mestra de Yennefer; e Calanthe (Jodhi May), a avó de Cirilla e rainha de Cintra.
Geralt foi treinado desde criança para ser um bruxo, uma pessoa que passou por um intenso treinamento físico e processos alquímicos para desenvolver tanto habilidades de combate físico quanto magias. Seu treinamento serviu para prepará-lo para viajar o mundo como um caçador de monstros mercenário. Não vemos o treinamento de Geralt, mas vemos ele em ação como mercenário.
Yennefer foi comprada por Tissaia para estudar magia e se tornar uma feiticeira. Ela aprendeu a dominar o caos, que seria a fonte de todos os poderes, e moldá-lo para a finalidade que deseja. Seu treinamento serviu para torná-la uma feiticeira conselheira dos reinos. Vemos todo o treinamento de Yennefer e, depois, sua vida como feiticeira.
Cirilla é a princesa de Cintra e estava sendo educada para ser a futura rainha, já que sua mãe morreu e ela era a sucessora imediata de sua avó. Entretanto, tudo muda quando o reino de Cintra é atacado por Nilfgaad e ela tem que fugir e sobreviver. Já conhecemos Cirilla como pré-adolescente e acompanhamos toda a fuga dela e sua luta pela sobrevivência.
Reflexão sobre The Witcher: A Busca pela Aceitação dos Outros
Geralt foi treinado para ser um bruxo. Pelas cenas que vemos da sua infância, através de uns delírios que ele teve, parece que ele foi abandonado pela mãe. Dessa forma, vemos que Geralt tem um passado mal resolvido. Além disso, a sua raça bruxa não é bem aceita pelos humanos normais. Os bruxos são mal-tratados, como se fossem seres inferiores, aberrações. Por mais que Geralt se esforce em fazer um bom trabalho e defender os humanos, qualquer coisa que acontece de errado, qualquer dano colateral, é motivo para ele ser novamente hostilizado.
Com isso, vemos que ele é um cara solitário. Ele se acostumou tanto com essa forma de viver que não consegue aceitar a amizade de Jaskier, o bardo que ele encontra em uma taverna e que começa a acompanhá-lo para ter uma fonte de inspiração para suas músicas. O desafio do bruxo é conseguir se aceito pelos seus, por aqueles que ele protege. Geralt sofreu diversas mutações, mas ainda tem uma alma humana.
Ele é tão desolado pela vida que leva, sem perspectiva, que não consegue aceitar profecias e pré-destinações. O motivo é simples: ele odeio quem ele é, e é terrível pensar que algo ou alguém escreveu uma história para ele, que deixou que tudo aquilo que ele viveu acontecesse com ele. Dessa forma, percebemos que a sua busca não era pela aceitação dos outros, mas sim a aceitação de si mesmo.
Geralt não consegue aceitar quem ele é, não se ama. Isso o faz se esforçar em querer ser o melhor para os outros ao mesmo tempo em que se isola, se afastando daqueles que o aceitam como ele é. Seu dilema é muito parecido com diversas pessoas que buscam a aceitação nos outros, sendo que antes precisam se aceitarem. O sucesso dessa empreitada não é buscar convencer os outros, mas sim aceitar a aproximação daqueles que gostam de como você é. Cada pessoa é única e especial, com seus dons e qualidades, assim como defeitos e manias. Isso agrada a uns e desagradas a outros. Não temos que fazer algo só para agradar quem nos detesta, temos que fazer algo por aqueles que gostam de nós, incluindo nós mesmos.
Reflexão sobre The Witcher: A Busca pelo Poder
Yennefer nasceu corcunda e deformada porque tem sangue elfo. Sua feiura a tornou motivo de chacota e desprezo, tanto pelos moradores de sua cidade como seu próprio pai. Entretanto, sua parte élfica lhe deu o dom da magia e isso foi seu passaporte para Aretusa, para iniciar o treinamento e se tornar uma feiticeira.
O treinamento era desafiador e ela tinha muita dificuldade, mas o seu maior problema era acreditar que era incapaz. Sua deformidade e a humilhação que sofreu a vida toda fez com que ela acreditasse que não era capaz de nada. Precisou de muita força de vontade e discussões com sua mestre Tissaia para que ela conseguisse se controlar e assim controlar a sua magia.
O problema foi que Yennefer, ao começar a dominar a técnica, não soube entender seu propósito como mulher. Durante sua juventude, ela foi uma mulher feia, deformada e insignificante. Quando adquiriu poder, achou que a solução seria se tornar uma mulher linda, perfeita e influenciadora. Para conseguir isso, ela teve que abrir mão da sua fertilidade (ela passou por um processo mágico, e na magia sempre deve existir uma troca – algo tem que ser dado para conseguir outra coisa).
Ela viveu por trinta anos esbanjando sua beleza, perfeição e influência, até perceber que aquilo não a preenchia. Isso a atormentou tanto que ela abandonou sua função para viver de forma independente, na esperança de encontrar uma cura / solução para a sua infertilidade. Yennefer representa as mulheres que abriram mão de terem filhos para cuidarem apenas de si mesmas e de suas carreiras, e se arrependeram. É um assunto polêmico, mas deve ser trabalhado.
Por muitos anos, as mulheres foram tratadas apenas como donas de casas e incubadoras de herdeiros para os maridos. Isso foi terrível e errado. Ainda hoje, muitas mulheres lutam em diversas partes do mundo para serem tratadas com respeito e igualdade. E isso é ótimo. Simone de Beauvoir foi uma das maiores filosofas e ativistas pelos direitos das mulheres e sua teoria e luta mudaram o pensamento contemporâneo. O problema é que algumas mulheres acham que essa luta só pode ser travada se abrirem mão da maternidade.
É fato que gestar e cuidar de uma criança é um trabalho enorme, e que esse trabalho acaba “prendendo” a mulher, seja devido a condições físicas dela ou da criança, seja por causa da responsabilidade. Ser mãe e ainda disputar uma posição na sociedade com outras pessoas que não estão grávidas nem tem filhos (sejam homens ou mulheres) faz o trabalho ser muito difícil e sacrificante. A questão aqui é sobre opção e respeito a essa opção.
Houve uma época em que a mulher só tinha o direito de cuida da casa e dos filhos. Não fazer isso significava um desrespeito e humilhação, uma vergonha para ela (até mesmo aquelas que se dedicavam à vida religiosa estavam indo “casar” com Jesus). Infelizmente, agora, parece que não se pode mais optar por esse estilo de vida, que escolher ficar em casa, cuidando da família é um desrespeito e humilhação; como se fosse obrigatório, para ser alguém, ter que trabalhar ou ocupar algum papel de destaque na sociedade. E esse é um pensamento errado, é uma inversão de perspectiva ruim.
A luta pelos direitos das mulheres deve garantir o poder de escolha da mulher, se ela quer ser solteira ou casada, com ou sem filhos, dona de casa ou trabalho externo. A escolha que cada mulher faz deve estar de acordo com aquilo que ela credita e não com aquilo que a sociedade faz parecer ser o melhor. Yennefer acreditou que o poder que ela precisava estava na beleza e na influência e se arrependeu, aprendeu tarde que, para ela, o seu verdadeiro poder era gerar uma vida.
Conclusão
Todos nós vivemos nossas vidas buscando um propósito, um sentido. Todos nós queremos acreditar que nossa existência não pode ser fruto do acaso e nem ser em vão. Todos nós temos um desejo de deixar alguma marca no mundo, que sobreviva para além de nossas vidas efêmeras. Conduto, achar esse propósito não é fácil, e se ficarmos desesperados, podemos acidentalmente ir pelo caminho errado. Que possamos ter cautela e calma em nossas decisões, para que nossos passos nos conduzam para um bom e feliz propósito de vida.
E aí? O que acharam da série? Deixa aí abaixo seus comentários e reflexões próprias. Gostou dessa reflexão sobre The Witcher? Compartilha para que mais pessoas possam lê-la. Quer sugerir algum conteúdo nerd para fazermos uma reflexão? Entra em contato comigo.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!