Reflexão sobre Sherlock: Entre a Razão e a Emoção

Reflexão sobre Sherlock: Entre a Razão e a Emoção

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Sherlock. Revisitando s histórias do famoso detetive, agora o temos nos dias de hoje, resolvendo diversos crimes e mistérios em uma Londres contemporânea. Na reflexão, abordarei a relação complicada entre razão e emoção do personagem, que lhe traz “alguns” problemas e como podemos pensar isso para nossas vidas. Não teremos spoilers da série. Vamos lá!

Sobre a Série

Sherlock foi uma série britânica do gênero drama policial aclamada pelo público. Ela ocorreu entre 2010 e 2017, sendo protagonizada pelos famosos atores Benedict Cumberbatch no papel de Sherlock Holmes e Martin Freeman no papel de John Watson ao longo de quatro temporadas.

Baseada nos romances de Sir Arthur Conan Doyle sobre o detetive britânico morador do 221B Baker Street, cada episódio é baseado em um dos livros do detetive de cachimbo. Todos os episódios buscaram respeitar as propostas do livro original, mas adaptaram a história para uma trama contemporânea não só nos crimes, mas também nas personalidades dos personagens.

Sherlock é um detetive consultor da polícia britânica. Ele conhece o médico Watson e ambos acabam trabalhando juntos em um caso policial. A partir daí, surge uma grande amizade.

Sherlock é o mestre do raciocínio dedutivo e observação, conseguindo perceber pistas impensáveis e fazer conexões inimagináveis para um ser humano “normal”. Já Watson é mais coração e sentimento, tendo um olhar mais humano e menos insensível com as situações apresentadas.

Conforme a dupla vai tendo sucesso, casos mais difíceis lhes são confiados e também alguns arqui-inimigos vão surgindo.

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Reflexão sobre Sherlock: O Detetive Viciado

Na série, Sherlock é visto pelo público geral como uma pessoa extremamente racional e metódica, que usa das suas altas habilidades de dedução e observação para solucionar mistérios dificílimos.

Porém, só os mais próximos sabem que Sherlock é um viciado. A série não explicita, mas aponta que ele tem um histórico de uso de drogas, provavelmente cocaína. E isso faz sentido, pois o personagem original dos livros usava uma solução diluída dessa droga.

Mas como uma pessoa tão racional e lógica acaba caindo nesse problema com drogas? E a resposta é a busca por emoção.

Tanto no livro quanto na série, o que motiva o detetive é o desafio. Quanto maior, melhor. Ele não tem tanto apego aos envolvidos do caso ou se preocupa em ajudar as pessoas. Ele quer é desvendar o mistério. E isso funciona como uma droga para ele. Cada vez que ele soluciona um enigma, ele quer um mais difícil. Isso chega até a incomodar Watson porque Sherlock não aceita casos “banais”, só os “especiais”.

Quando Holmes não tem seu desafio, ou não consegue resolver o que tem, ele acaba sendo “chamado” para a “solução” mais fácil, que é o uso da droga. No fundo, o que ele quer é a satisfação de uma emoção, um prazer. Quando isso não vem da resolução do mistério, acaba vindo pela droga.

Reflexão sobre Sherlock: Controlando a Emoção pela Razão

Platão, no seu mito do cocheiro, dirá que o ser humano só conseguirá seguir um caminho reto se a alma racional (razão) conseguir controlar as almas irascível e concupiscível (emoção).

Esse pensamento guiou a filosofia clássica, helenística e medieval. Colocando sempre a razão como guia e controladora da emoção. Ceder à emoção é perder a razão, perder o controle sobre si.

Porém, essa atitude é muito difícil de ser cumprida porque faz você colocar a razão acima da emoção como se existisse uma falsa hierarquia de poder e até mesmo de valor, sendo a emoção algo ruim e a razão algo bom, a emoção algo inferior e a razão algo superior.

Inclusive, até mesmo o machismo faz colocar a razão e a lógica como uma característica masculina e a emoção e sensibilidade como uma característica feminina!

Só que não somos assim, nós somos seres racionais e emocionais. Ambas características formam nosso ser e andam juntas, criando quem nós somos.

Se pensarmos que a religião cristã foi fortemente influenciada pela filosofia platônica e aristotélica, e a religião cristã influenciou boa parte da cultura e da moral ocidental, podemos entender porque até hoje temos essa visão de controlar nossos impulsos emocionais através da lógica e da razão.

Dar voz à emoção seria cair no pecado, ser fraco. Uma “boa pessoa” teria que saber se controlar e pensar antes de agir, não ceder aos desejos e blá blá blá…

Essa visão tanto “funcionou” que vivemos vendo casos de adultério no casamento ou constantes separações; religiosos que são uma coisa nos seus locais de fé e outra coisa fora deles; pessoas alcoólatras ou viciados em remédios; pessoas com saúde estragada porque são viciados em gordura e/ou açúcar, ou pessoas viciadas em academia e estilo fitness; e o vício já estabelecido em telas (seja do celular ou TV), vivendo em mundos virtuais para não lidar com o real…

Parece que a razão perdeu, né?

Reflexão sobre Sherlock: Encontrando o Equilíbrio

Somente com Espinoza, na filosofia moderna, que teremos uma visão mais realista do ser humano: a solução não é frear a emoção, mas compreendê-la. Ao compreendê-la, aprendemos a lidar com ela.

A razão não funciona mais como senhora da emoção, mas como amiga. E vice-versa. Somos seres emocionais e racionais e precisamos “alimentar”, deixar fluir ambos os lados.

Nietzsche, famosos filósofo contemporâneo, criticará a religião cristã e a filosofia socrático-platônica por valorizar a razão (apolíneo) e desprezar a emoção (dionisíaco). Para ele, o dionisíaco faz parte de nós e precisa ser experienciado para sermos humanos plenos.

Ou seja, precisamos quebrar esse tabu que coloca a emoção abaixo da razão e recolocá-la no seu devido lugar, que é ao lado da razão.

Quando entendermos isso e nos possibilitarmos viver dessa maneira, seremos seres humanos melhores, mais plenos, mais vivos, mais tranquilos, menos falsos e fingidos.

Entendam que não estou falando em “ligar o foda-se” e sair fazendo merda “à torto e à direito”, é aprender a aceitar suas vontades, seus desejos, seus prazeres e aprender a satisfazê-los de forma equilibrada.

Reflexão sobre Sherlock: Excesso de Cobrança

Eu vejo Sherlock Holmes como alguém que usa tanto da sua razão e da lógica que acaba precisando de algo mais forte para satisfazer seu lado emocional. Talvez, se ele fosse menos lógico-racional, não tivesse uma necessidade de algo tão intenso para satisfazer seu lado emocional.

Deve ser por isso que grandes cérebros da humanidade, seja pelo lado científico, físico-corporal ou artístico acabam se envolvendo com drogas ou algum problema que causa escândalo social: a exigência racional para seu desempenho é tamanha que ele acaba se perdendo no excesso da emoção.

Talvez, tanto para Holmes, como para essas personalidades, se lhes fosse cobrado menos desempenho, eles também seriam pessoas mais tranquilas, mais equilibradas.

Posso estar só devaneando nesse pensamento, mas vejo muita relação entre vício e pessoas que são cobradas ou se cobram demais. A cobrança sempre vem do lado racional e o vício, do emocional. Acredito que alguém equilibrado não se cobra nem é cobrado tanto, bem como não recorre a algo viciante para “igualar” os lados.

Conclusão

Sherlock me fez refletir sobre como pessoas que aparentam ser extremamente racionais e lógicas escondem um problema sério com suas emoções (possivelmente reprimidas ou mal administradas). Isso me levou a pensar o problema de uma sociedade que prioriza a razão frente a emoção, considerando esta ruim e aquela boa. Na verdade, não existe isso de bom e de ruim nessas características humanas. Elas simplesmente são o que são, fazem parte de nós, possuem suas funções e precisam ser respeitadas.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Sherlock? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Sherlock? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra série de drama policial? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.