Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a minissérie Pinguim. Nela, descobrimos como Oswald “Oz” Cobb – o Pinguim – consegue deixar de ser apenas um lacaio da família Falcone para se tornar um dos grandes chefes do crime de Gotham. Na reflexão, abordo a ética (ou falta dela) no mundo do crime, a luta de classes dentro da máfia e a complicada relação entre família e vida pessoal. Teremos spoilers da série! Vamos lá!
Sobre a Série (COM Spoilers)
Pinguim é uma minissérie de ação, crime e suspense ambienta no universo DC criado por Matt Reeves no filme The Batman (2022). Ela estreou em 2024 diretamente na plataforma de streaming MAX.
Logo após os acontecimentos do filme The Batman (2022), temos os chefe do crime Carmine Falcone (John Turturro) morto e Salvatore Maroni (Clancy Brown) preso. Esse vácuo de poder será inicialmente preenchido pelos herdeiros de ambos os patriarcas da família, mas as coisas não sairão como planejado por causa do Pinguim (Colin Farrell).
Oswald “Oz” Cobb, vulgarmente conhecido como Pinguim, era o dono da boate destruída Iceberg Lounge e um dos subordinados da família Falcone. Querendo aproveitar as recentes confusões na sucessão de comando das famílias mafiosas, Oz planeja e executa um golpe para derrubar ambas as famílias e assumir o controle da criminalidade de Gotham.
As coisas não serão fáceis e ele terá muitos reveses em suas tentativas até conseguir êxito no final. Além disso, seu sucesso custará praticamente tudo para ele.
Quer saber como o Pinguim conseguiu derrubar as duas maiores famílias de criminosos de Gotham e se tornar o novo senhor do crime? Assista Pinguim na MAX.
Como sugestão, seguem algumas HQs do Pinguim: Pinguim Vol. 1, Pinguim Vol. 2 e Batman: um dia Ruim Vol. 3 – Pinguim.
Reflexão sobre Pinguim: Não Existe Moralidade na Criminalidade
Na filosofia, Ética é a área que estuda os conceitos em volta da moralidade na humanidade. Partindo desse pressuposto, distinguimos um ato moral como um ato que faz aquilo que é considerado certo; um ato imoral como um ato que faz aquilo que é considerado errado; e um ato amoral como um ato que não é nem certo nem errado, não possui juízo de valor.
Quando pensamos na criminalidade pelos olhos da sociedade civil, tudo o que acontece lá ou tudo o que eles fazem que afetam essa sociedade civil é considerado imoral já que eles estão desrespeitando os códigos de ética, os valores morais daquela sociedade.
Mas e quando olhamos para dentro daquele universo da criminalidade? Quando pensamos as relações entre os criminosos? Podemos pensar na existência de um código de ética do crime, uma cartilha moral que define o que é o certo e o que é errado no fazer e agir dessas pessoas?
Na série Pinguim, a resposta que recebemos é “não”, não existe ou não pode existir um código de ética entre criminosos.
Para Oz, precisamos fazer o que tem que ser feito para sobreviver. O Pinguim defende que quem vem de baixo (como ele) pode e precisa dar seu jeito para ascender nesse meio. Em outras palavras, a criminalidade é um ambiente amoral.
Dessa forma, não cabe juízo de valor se aquilo que os bandidos fazem uns com os outros é certo ou errado, justo ou injusto. Isso não vale nesse meio social, é selva. É a lei do mais forte ou do mais esperto. É cada um por si.
Uma situação dessas cria um terreno semelhante àquele descrito por Hobbes como a sociedade em seu estado de natureza, em que existia a guerra de todos contra todos: você poderia fazer tudo contra todos, mas todos também poderiam fazer tudo contra você. São vantagens e desvantagens.
As leis servem para evitar abusos de poder, proibir ações imorais. Porém, no mundo do crime, não existe lei ou, se existe, nada exige que ela seja cumprida a não ser o medo. Quando não se tem medo ou quando o instinto de sobrevivência supera o medo, a lei é ignorada.
Pensem nisso quando escolherem seguir caminhos que levam a situações de ilegalidade, situações em que as leis não te protegem ou a justiça não te alcança. Podem ser ambientes férteis para você ganhar muito, mas também podem ser ambientes em que você perderá tudo e ninguém te socorrerá.
Vale a pena o risco? Só você pode decidir. Mas ao escolher, tenha ao menos o caráter de aceitar as consequências!
Reflexão sobre Pinguim: Revolução do Proletariado no Submundo do Crime
Oswald Cobb era um garoto pobre da periferia de Gotham que sonhava em dar uma vida de luxo e riqueza para sua mãe. Sua inspiração era o grande mafioso de sua época, o qual era adorado pelas pessoas da comunidade.
Passa-se muito tempo e Oz continua sendo apenas um lacaio da família Falcone (uma das maiores do submundo do crime). Mesmo sendo um servo dedicado, percebe que nunca alcançará um status de líder porque ele não é da família em si, ele não tem o “sangue real”.
Quando percebe que nunca conseguirá chegar ao topo pelas vias “normais”, ele começa a arquitetar um golpe. O Pinguim tenta se posicionar como um novo líder criminoso e tenta conquistar a confiança e o apoio de outras facções criminosas menores, mas vai perceber que seus líderes preferem manter o status quo e apoiar as famílias tradicionais Falcone e Maroni em vez dele, mesmo ele tendo mais a oferecer do que as duas outras famílias.
Nessa hora, sem perceber, Oz abraça a teoria marxista da revolução do proletariado. Ele convoca os demais subordinados (os proletariados) dos outros grupos criminosos para, juntos, derrubarem todos os líderes tradicionais (os burgueses) e assumirem o poder. Seguindo a cartilha de Marx e Engels, de fato ocorre uma luta armada e sangrenta porque é só pela força que se conseguiria essa inversão de papeis de poder.
Na hora do golpe, Oz explicará que os chefes não perceberam o golpe porque nunca respeitaram seus subordinados, nunca enxergaram sua existência. Por isso, nunca os temeram, nunca os respeitaram como sujeitos capazes de algo. Eles eram invisíveis e usaram dessa invisibilidade para agir e conquistar.
Infelizmente, na vida real, não é muito diferente. Várias empresas não ligam para seus funcionários, seus subordinados, tratando-os como número e não como pessoas. São serem invisíveis.
Na atual discussão do fim da escala 6×1, os patrões estão preocupados com seus lucros apenas. É ridículo grandes empresários dizerem que seus negócios irão quebrar porque precisarão dar uma folga a mais para seus funcionários. Em 99% dos casos, isso não é real e aquilo que os patrões chamam de “quebrar” na verdade significa “menos lucro”.
Como em um post de internet que li, ao longo do tempo, várias mudanças trabalhistas ocorreram e sempre diziam que isso iria quebrar a economia, desde o fim da escravidão até a implementação do 13º salário, e estamos aqui até hoje! Tudo se adapta, como foi provado na pandemia. Os negócios que faliram, falharam em conseguir ou aceitar se adaptar, ou já estavam em uma situação limítrofe em que bastava um sopro para afundar de vez.
Patrão nenhum ama seu funcionário como se fosse sua família (a não ser que seja de fato família!). Não acredite nisso porque, na hora que for necessário, você será descartado. Negócios são sempre negócios. Lembre-se disso.
Reflexão sobre Pinguim: Família é o que Te Deixa Fraco
Toda a série gira em torno de problemas familiares. Vimos os problemas dentro das famílias Falcone e Maroni. Vimos os problemas dentro da família Cobb.
Oz tinha uma paixão tão exagerada por sua mãe que acabou matando sem querer seus irmãos por raiva e ciúmes. E isso o atormentou a vida inteira. Pior ainda, sua mãe o manteve perto como um “servo fiel”, mesmo odiando-o por saber o que ele fez.
Adulto, Oswald fez tudo o que fez para conseguir cumprir sua promessa a sua mãe. Ao mesmo tempo, sabia que todos os problemas e sofrimentos pelos quais passou foi porque tinha que cumprir essa promessa feita. O Pinguim também viu como o “lance de família” foi a derrocada dos Falcone e Maroni.
Disso tudo, a conclusão do novo chefe do crime foi que família te move, mas também te deixa fraco. E, como ele não queria enfraquecer agora que chegou ao topo, decidiu-se por matar àquele que se aproximou dele como um filho, antes que se apegasse demais e se tornasse sua ruína.
Sei que é uma conclusão polêmica, mas a série Pinguim vem trazer uma reflexão heterodoxa sobre o papel da família em nossas vidas. Por mais que elas sejam importantes em alguns momentos, especialmente no começo, família geralmente será uma âncora, um peso para grandes ambições nossas.
Pense em quantas coisas você deixou de fazer ou conquistar porque tinha que ficar próximo da sua família ou teve que usar o dinheiro para socorrer sua família. Pense em quantas vezes deixou de agir para não magoar ou chocar sua família.
Esses são exemplos os quais mostram que a ausência de uma família, te daria liberdade de ser e agir como você realmente é e quer. Ao mesmo tempo, a presença da família lhe tolheu de ser e fazer o que você queria.
E eu não estou aqui falando que não exista amor à família. É exatamente o contrário: por amar a família é que nos privamos dessas coisas todas. Se não as amássemos, não iríamos nos importar e faríamos o que bem entendêssemos. Por isso que família é uma fraqueza.
Pode ser difícil de ouvir, mas é a verdade. Também é algo difícil de lidar. Pinguim sofreu ao matar Vic (Rhenzy Feliz), mas preferiu isso do que conviver o resto de sua vida com mais uma fraqueza.
Você não precisa (nem deve) recorrer às vias de fato, mas talvez precise “matar” sua família para eliminar sua fraqueza e ser livre.
Conclusão
Pinguim foi uma minissérie muito aclamada pela crítica. Ela conseguiu desenvolver muito bem o arco do seu personagem principal lhe dando profundidade, assim como desenvolveu a própria Gotham City. Para assuntos reflexivos, Pinguim também nos trouxe pontos interessantes e polêmicos para pensar: não existe ética em um ambiente que não respeita as leis; também existe luta de classes no submundo do crime; e a família pode ser sua maior fraqueza.
E aí? Curtiu essa reflexão sobre Pinguim? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Pinguim? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra série ambientada em Gotham City? Entra em contato!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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