Reflexão sobre O Esquadrão Suicida: A Escória da Sociedade

Reflexão sobre O Esquadrão Suicida: A Escória da Sociedade

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre O Esquadrão Suicida. Nesse filme, um grupo de detentos recebe a proposta de fazer uma missão com pouquíssimas chances de sobrevivência em troca de, caso tenham sucesso, diminuição de suas penas. A reflexão falará sobre a forma como a sociedade (na figura do governo) tratam esses criminosos e como eles provaram o seu valor social. Teremos spoilers do filme. Vamos lá!

Sobre O Esquadrão Suicida (COM Spoilers)

O Esquadrão Suicida é um filme de anti-heróis da D.C. lançado em 2021. Ele é uma continuação indireta do filme Esquadrão Suicida de 2016, e está disponível na HBO Max.

Na história, a diretora Amanda Waller (Viola Davis) da A.R.G.U.S. (Grupo de Pesquisa Avançada Unindo Super-Humanos, em uma tradução livre) reúne novamente um grupo de criminosos condenados oferecendo-lhes redução em suas penas caso tenham sucesso em uma missão extraoficial do governo americano. O nome do projeto é Força-Tarefa X, mas como as chances de sobrevivência dos enviados é pequena, recebeu o apelido de Esquadrão Suicida.

A missão consiste em invadir uma ilha da América do Sul chamada Corto Maltese, que acabou de sofrer um golpe de Estado, e destruir uma instalação científica chamada Jotunheim que poderia ameaçar a segurança dos EUA.

Ao longo do filme, vamos conhecendo alguns membros do Esquadrão Suicida e vamos entendo seus dramas e suas histórias. Também veremos muitos deles morrendo antes mesmo de contarem suas histórias…

Conseguindo, depois de muitos percalços, chegar na instalação científica, o esquadrão descobre que aquele lugar funcionava em parceria com o governo dos EUA e que a ideia real da missão era destruir as provas que ligavam os dois governos. O problema dessa relação estava no fato de que o local era usado para experimentos científicos bizarros feitos em humanos (presidiários locais), utilizando-se uma criatura alienígena chamada Starro (um monstro gigante que parece uma estrela-do-mar).

No processo de destruição do local, Starro se libertou. Para a diretora Amanda Waller, a missão já estava concluída e os membros sobreviventes deveriam voltar. Porém, o esquadrão não queria deixar Starro destruir a ilha e resolveu, por conta própria, lutar contra ele.

O esquadrão tem sucesso e utiliza um HD com provas do envolvimento do governo americano nos experimentos antiéticos como forma de garantia de segurança após seu retorno aos EUA.

Reflexão sobre O Esquadrão Suicida: Bandido Bom é Bandido Morto

Logo nas primeiras cenas de formação da equipe A de invasão, vemos como os funcionários da agência governamental A.R.G.U.S. desprezavam aqueles “soldados” improvisados.

No começo, temos o “clássico” chip implantado que explode a cabeça da pessoa se ela fugir da missão. Você pode até pensar: OK, isso é uma garantia “necessária” para que os criminosos não fujam… Só que nos dois momentos em que essa medida foi evocada, não era uma situação de fuga.

Na primeira vez, logo no começo, o personagem Brian Durlin / Sábio (Michael Rooker), fica apavorado com o massacre que está ocorrendo com sua equipe e foge para o mar. Ele não estava fugindo do governo, ele estava fugindo do exército inimigo. Se aquele fosse um soldado “normal”, o máximo que ocorreria seria ele ser resgatado e depois expulso da corporação. Mas o que ocorreu nesse caso foi uma explosão de cabeça porque ele não estava cumprindo a missão.

Na segunda vez, já no final do filme, a missão estava concluída e Waller queria que o grupo voltasse. Porém, os membros decidem ficar e enfrentar Starro. Nessa hora, Waller iria usar o chip para matar todos os que restaram. Só não fez isso porque sua equipe, em um momento de lucidez, a impediu. Em nenhum momento a “desobediência” seria prejudicial à missão. Ao contrário, seria até um dever moral se considerarmos que eles foram os culpados por soltar o mostro. Mesmo assim, Waller não ligava se aqueles criminosos vivessem ou morressem.

A outra cena inicial que me chamou atenção foram as apostas em quem morreria primeiro. Para quem não lembra, a equipe da Waller estava fazendo um bolão de quem seria o primeiro membro do esquadrão a morrer na missão. Apostar sobre a morte de alguém, por mais que a pessoa não participe da morte em si, é uma forma de desprezo pela vida do outro. Ao escolher seu alvo, você praticamente está torcendo para que aquela pessoa morra!

Depois do massacre inicial da equipe A, descobrimos que existia uma equipe B, que invadiria pelo outro lado da ilha. Waller dá a entender que usar duas equipes era uma estratégia que garantiria o sucesso de ao menos um dos grupos. Porém, com tudo o que foi apresentado até aquele momento, dá para sentir que ela sabia que ao menos uma das equipes iria ser massacrada. Sendo assim, ela já lançou ao menos uma das equipes para uma emboscada, para a morte certa.

Depois desses três fatores, e somado a outras cenas de recrutamento da Waller, especialmente o recrutamento do Robert DuBois / Sanguinário (Idris Elba), vemos o quanto ela representa o desprezo do governo com aquelas pessoas presas. Eles são lixos. São um problema.

O pior disso tudo é que aquilo que é visto não é muito diferente da realidade (tirando, obviamente, a existência de tal força-tarefa). A grande maioria da sociedade não liga para o preso, considera-o um problema social, um desperdício de dinheiro público, um cidadão quebrado que não tem mais conserto.

Dessa forma, colocar essas pessoas em uma missão que pode levá-los a morte é uma relação de ganha-ganha: se a missão for um sucesso, o governo tem seus benefícios e poupou a vida de soldados “do bem”; se fracassa, menos um grupo de criminosos para dar problema para o Estado.

O ditado popular “bandido bom é bandido morto” está na boca de muitas pessoas que se consideram “de bem”. Pessoas que não conseguem enxergar para além das aparências e compreender que são raríssimos os casos em que alguém age mal porque é mal.

Não estou aqui justificando nenhum crime, até porque todos possuímos um mínimo de liberdade e razão para entender que aquilo que estamos fazendo não está de acordo com as regras sociais vigentes. O que estou falando é que pessoas presas não deixam de ser pessoas. Bandidos não deixam de ser pessoas. Sendo assim, é preciso ter um mínimo de respeito por essas vidas. E não é isso que fazem com os membros do esquadrão suicida. E não é isso que fazem com a maioria dos presos (muito especialmente, os presos pobres).

Reflexão sobre O Esquadrão Suicida: Se os Ratos Têm um Propósito, Todos Nós Temos

No final do filme, os remanescentes do esquadrão suicida decidem colocar suas vidas em risco para salvar a ilha do mostro alienígena Starro. Eles não tinham a obrigação contratual de fazerem aquilo, eles não tinham nenhum compromisso com aquele povo, mas decidiram ajudar.

Não lembro se foi antes ou depois da decisão de salvar a ilha, mas me marcou a lembrança da Cleo Cazo / Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior). Nessa lembrança, ela recorda sua vida nas ruas com seu pai e os ratos que lhes traziam alimento, itens roubados e os aqueciam no frio. Para o pai, se os ratos tinham um propósito em existirem, eles (os pobres, os criminosos, os excluídos sociais, a escória da sociedade) também teriam algum propósito.

No filme, o propósito daqueles que sobreviveram até a luta contra Starro foi salvar os seres humanos da ilha da ameaça alienígena. Se não fossem eles, a ilha estaria perdida. Também poderíamos pensar que, após controlar toda a ilha, Starro atacaria o seu entorno e se tornaria cada vez mais forte, podendo colocar a Terra toda em risco. Dessa forma, podemos dizer que o esquadrão suicida salvou o mundo. Mundo esse que foi posto em risco quando “pessoas de bem” capturaram e trouxeram para a Terra o alienígena, quando o governo que diz lutar pelos direitos humanos promoveu experimentos científico antiéticos para testar armas de controle mental alienígena. A inversão de valores proposta pelo filme é gritante!

Fazendo uma complementação a parte anterior da reflexão, o esquadrão provou porque merece viver e não morrer. Provou que existe valor em se preservar vidas humanas, mesmo que sejam de pessoas consideradas más. O esquadrão mostrou que as pessoas podem mudar, podem se redimir, podem ser úteis para a sociedade.

Por fim, o filme também serve de motivação para todas as pessoas que possam se considerar desnecessárias à sociedade, pessoas que consideram suas vidas inúteis e sem sentido. Quando vemos um monte de pessoas estranhas e desajustadas se unindo para um propósito bom, qualquer um se sente motivado a entregar um pouco mais de si para fazer algo de impacto positivo na sociedade.

Conclusão

No final dessa reflexão sobre O Esquadrão Suicida, percebemos que a sociedade ainda julga e despreza as pessoas que cometeram crimes e que estão pagando as suas penas. Infelizmente, grande parte da sociedade não vê esperança para quem entrou na criminalidade, ignorando completamente a capacidade de mudança e melhora que é inerente a qualquer ser humano. Felizmente, o filme termina com um lampejo de esperança, em que aqueles que eram desprezados resolvem salvar o dia, mostrando que todos podem sim contribuir positivamente para a sociedade.

E aí? O que achou do filme? Deixa suas considerações nos comentários! Gostou dessa reflexão sobre O Esquadrão Suicida? Compartilha com quem você acha que vai gostar também! Quer uma reflexão sobre outro filme da D.C.? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

Posted in Filmes, Reflexões Nerds and tagged , , , , , , , , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.