Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Mulher-Hulk: Defensora de Heróis. Nessa série, descobrimos como a advogada Jennifer Walters se torna uma Hulk e as dificuldades pessoais e profissionais pelas quais ela passar após isso ter acontecido. Na reflexão, trabalharei a misoginia contemporânea e o empoderamento feminino, os quais parecem ter sido os objetivos principais por trás dos acontecimentos dessa superaventura. Teremos spoilers da série! Vamos lá!
Sobre Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (COM Spoilers)
Mulher-Hulk: Defensora de Heróis é uma série de super-heróis e comédia, com toques de ação, aventura e ficção científica. Estreou em 2022 na Disney+ e faz parte do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). A personagem surgiu originalmente nos quadrinhos dos anos 1980!
Jennifer Walters (Tatiana Maslany) é uma ótima advogada que trabalha no escritório da promotoria pública. Ela teria uma vida normal e praticamente sem graça se não fosse o fato dela ser prima de Bruce Banner (Mark Ruffalo), o Hulk!
Tudo está como sempre esteve até que ela se envolveu em um acidente de carro com seu primo. Por conta dos ferimentos de ambos, o sangue de Jennifer foi contaminado com o sangue de Bruce e ela adquiriu os poderes e a aparência de uma Hulk. A grande diferença é que ela consegue manter sua consciência naturalmente enquanto transformada (diferentemente do seu primo, que fica incontrolável).
Jennifer pretendia manter tudo em segredo, mas acabou se revelando para proteger inocentes durante um julgamento. Ela teve sucesso na sua atuação de super-heroína, mas teve problemas na sua atuação como promotora: o juiz anulou a sentença que ela tinha ganhado porque o júri estaria tendencioso a apoiar inconscientemente uma heroína.
Por causa desse problema, que agora seria permanente, ela foi demitida. Felizmente, ela foi contratada pela firma GLK&H (Goodman, Lieber, Kurtzberg & Holliway), a qual estava abrindo uma divisão especializada em casos envolvendo os chamados indivíduos aprimorados, sendo Jennifer a advogada desses casos e também a “garota propaganda” dessa divisão. Sem sucesso em outras propostas de emprego, ela aceita.
Ao longo da série, Jennifer pegará vários casos que testarão seus limites pessoas e profissionais, tais como defender Emil Blonsky (Tim Roth), mais conhecido como Abominável – o maior inimigo de seu primo Hulk.
Porém, os maiores problemas que Jennifer enfrentará serão fora dos tribunais porque surgirá um grupo organizado de haters que não ficarão satisfeitos enquanto não desmoralizarem a nossa super-heroína esmeralda.
Para saber como isso termina, assista: Mulher-Hulk: Defensora de Heróis na Disney+.
Reflexão sobre Mulher-Hulk: MULHER-Hulk e o Outro Sexo
Simone de Beauvoir escreveu um livro chamado O segundo sexo em que mostra como a mulher foi relegada na sociedade a estar sempre em segundo lugar. Tudo é pensado primeiramente por homens e para os homens e as mulheres vêm sempre depois. Até quando o assunto é do universo feminino, na grande maioria das vezes, são homens quem tomam as decisões sobre esses assuntos.
Fazendo um paralelo com Beauvoir e com aquilo que foi apresentado na série, podemos dizer que a mulher é considerada o outro sexo, como se a norma social fosse ser homem e quando alguém é mulher, essa pessoa possui o outro sexo.
Falo isso com base na própria série que, desde seu começo, destaca o problema do nome que a comunidade deu para a nova super-heroína: MULHER-Hulk.
Mas qual é o problema do nome, você pode estar pensando, e a resposta é simples, mas cruel: a Mulher-Hulk não tem um nome seu, ela tem um nome de outra pessoa adaptado para o seu gênero.
Hulk é o nome de super-herói de Bruce Banner. E Jennifer se torna a “outra Hulk”, a “Hulk fêmea”, a “Hulk mulher”. Ela não recebeu um nome próprio.
Se pensarmos em algumas heroínas femininas que apareceram na Marvel que tinham uma espécie de par, isso não ocorreu. A parceira do Homem-Formiga não é a “Mulher-Formiga”, é a Vespa. A parceira do Homem-de-Ferro não recebeu o nome “Mulher-de-Ferro”, mas continuou sendo chamada de Pepper Potts ou, no máximo Rescue (Resgate). Até mesmo Jane Foster ficou conhecida como Poderosa Thor e não “Mulher-Thor”.
O fato de Jennifer Walters ficar conhecida como Mulher-Hulk faz com que ela se sinta inferiorizada. Primeiro, porque ela não é só um monstro esmeralda e, segundo, porque ela não é simplesmente uma versão feminina do Hulk!
A série provoca a nossa reflexão em pensar quantas vezes a mulher ainda hoje é vista na sociedade como a outra. Provas disso são as necessidades de ainda existirem movimentos feministas, cotas para mulheres na política, tipificação do crime de feminicídio entre outros. Entenda que não estou criticando isso que citei, mas criticando a necessidade de isso ter sido criado.
Essas situações só surgiram porque a mulher ainda hoje não é tratada como uma igual na sociedade, como alguém ao lado do homem. Se assim fosse, não seria necessário ter vários dispositivos que as protegessem de forma destacada.
Reflexão sobre Mulher-Hulk: Isso é sobre Elas!
Em vários momentos da série, Jennifer quebra a quarta parede e fala com o público. Nessas horas, volta e meia ela destacava o fato de que a série era dela, sobre ela. Mas por que a necessidade dessa afirmação?
Minha interpretação é que a roteirista Jessica Gao queria deixar claro que os problemas apresentados na série seriam problemas vividos por mulheres na perspectiva de mulheres relatados tal como as mulheres os experimentam. Ou seja, somos “forçados” (no bom sentido da palavra) a enxergar o mundo das mulheres com os olhos das mulheres.
Inclusive, pode ser até por isso que a série não agradou tanto o público, o qual acredito ser em grande maioria homens (posso estar enganado aqui).
As destacar problemas “cotidianos” de uma mulher, a série não conseguiu se conectar com o público. Mas por quê? Será que tudo foi mal apresentado ou será que os problemas cotidianos de uma mulher não interessam ao público masculino da Marvel?
Posso aqui até mesmo fazer um paralelo com a série Ms. Marvel, que também não foi bem recebida e tinha como uma das principais críticas ser uma “série para adolescentes”.
Ou seja, é muito provável que Mulher-Hulk: Defensora de Heróis não agradou simplesmente porque os temas levantados não agradaram ao público, mostrando que os problemas vividos por uma mulher não geram conexão com as pessoas.
Reflexão sobre Mulher-Hulk: Advogando sobre Salto Alto
Um dos momentos mais “vergonha alheia” foi a premiação “Advogadas do Ano”, no episódio 8. O apresentador ficou fazendo piadinhas sexistas e perguntas clichê durante o evento.
Primeiro, ele soltou uma “elas fazem tudo que advogados normais fazem, só que de salto alto”, caindo naquele mesmo problema do primeiro tópico da reflexão: colocar a mulher como o outro, como se “advogada” fosse a variação do padrão advogado, com o diferencial do salto. Para ficar bem claro: é como se você dissesse que uma mulher é um homem sem pênis!
Depois, ele fez a clássica pergunta “como é ser mulher e advogada?”. Pode parecer uma pergunta inocente, mas ela é muito ofensiva para as mulheres porque ninguém fica perguntando para os advogados “como é ser homem e advogado?”. Fica parecendo que ser mulher e advogada é uma coisa anormal, o que não deveria ser!
Felizmente, a advogada Mallory Book (Renee Elise Goldsberry) deu uma ótima resposta para o apresentador e todos nós: “é o dobro do trabalho, metade do reconhecimento e te perguntam constantemente como é ser mulher e advogada”.
A resposta de Mallory ressalta aquilo que já sabíamos, de que mulheres possuem mais dificuldade em carreiras que classicamente eram ocupadas por homens, e nos mostra que elas querem ser questionadas com coisas além do seu próprio gênero. Porque não se perguntou “Qual foi o caso mais difícil que já teve?” ou “Qual a sua opinião sobre o atual sistema de justiça?”. Essas são perguntas ligadas diretamente à profissão delas e que normalmente seriam feitas a homens que ganham o prêmio de “Advogados do Ano”.
Reflexão sobre Mulher-Hulk: Abandono Conjugal e Exposição Sexual
Duas situações da série dialogam diretamente com problemas sofridos pelas mulheres nos dias atuais: a abandono conjugal e a exposição sexual.
No caso do abandono conjugal, foi apresentado na série o Sr. Imortal (David Pasquesi) que precisa resolver uma série de divórcios problemáticos. O cara é imortal e forjava a própria morte para sair dos seus casamentos e começar uma nova vida! Deixando, assim, uma série de “viúvas”.
Além da sacanagem que ele fez com elas, o mais interessante foi ver que muitas nem queriam o dinheiro dele, só queriam um pedido de desculpas sincero. Ou seja, essas mulheres só queriam que seu parceiro fosse sincero com elas, terminando de forma honrada a relação.
Na sociedade de hoje, especialmente no Brasil, o que mais vemos são homens largando suas famílias sem maiores explicações e sem dar a devida segurança financeira. Eles fazem os filhos e depois os largam com as mães. Se não sumiram e abandonaram tudo, muitas vezes só ajudam com o mínimo legal (pensão alimentícia) e nem se preocupam mais com a criação dos filhos.
Já a questão da exposição sexual ocorreu com o ficante Josh (Trevor Salter), que seduz e dorme com Jennifer só para gravar a relação sexual e depois expor tudo para o mundo.
A exposição sexual que muitas mulheres sofrem é vergonhosa e lamentável. Mesmo que as gravações sejam consensuais, elas são privadas e não podem ser compartilhadas sem as devidas autorizações. Pior que isso, é ver uma sociedade machista que exalta o homem dos vídeos porque está “pegando bem a mulher” e humilha a mulher dos vídeos porque “é uma p…”.
Qual o sentido disso? Porque o homem é exaltado e a mulher humilhada? Porque a mulher não pode ser exaltada porque está fazendo o que gosta, com quem bem entende e está tendo o seu momento de prazer? Ela está feliz e satisfeita sexualmente! Porque ela precisa ser maltratada porque foi “flagrada” fazendo sexo? Esse é puramente um pensamento machista que reforça a desnecessária castidade feminina e exalta o homem “pegador”.
Reflexão sobre Mulher-Hulk: Homens que Odeiam as Mulheres
Um grupo conhecido como Intelligencia são os grandes vilões da série. Eles são um grupo de homens misóginos (“misoginia” é o termo para o ódio ou aversão às mulheres) que não aceitam Jennifer ter recebido o poder do Hulk sem ter feito nada para conquistá-lo.
Isso é a coisa mais idiota que poderia se passar na cabeça desses homens preconceituosos tendo em vista que o Hulk também ganhou seus poderes sem querer, por causa de um acidente!
Percebemos que não existe motivo nenhum para esse ódio às mulheres. Esses homens as tratam como seres inferiores e tem raiva delas só porque, agora, elas estão conseguindo se impor na sociedade como pessoas iguais a eles. O mais triste de tudo isso é saber que realmente existem pessoas que pensam como os membros desse grupo…
Na nossa sociedade, infelizmente, existem homens que não aceitam ver as mulheres como elas realmente são: pessoas que nem eles, só que de sexo diferente. Esses “machos” acham que as “fêmeas” são seres inferiores. Ridículo!
Até mesmo a utilização que eles fazem da palavra “fêmea” tem essa conotação negativa pois normalmente a utilizamos para designar animais do sexo feminino. Logo, ao chamar uma mulher de fêmea, você está dizendo que ela é um animal, um bicho. Lamentável.
Conclusão
A série Mulher-Hulk: Defensora de Heróis nos mostra algo chocante: em pleno século XXI, ainda existe muito preconceito e discriminação contra as mulheres! Pior que isso, é ver que as pessoas não gostaram da série principalmente porque não conseguiram se conectar, se relacionar com os dramas dessa personagem, mostrando que muitos de nós temos reais problemas de empatia com as dificuldades atuais vividas pelas mulheres. Que possamos repensar nossas atitudes e sermos mais solitários com as lutas femininas pela necessária igualdade. E parabéns a todas as mulheres que lutam diariamente para serem reconhecidas com o devido valor que possuem.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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