Reflexão sobre La Casa de Papel: Torcendo contra o Sistema

Reflexão sobre La Casa de Papel: Torcendo contra o Sistema

Reflexão sobre La Casa de Papel: Torcendo contra o Sistema

Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre a série La Casa de Papel. Essa é uma das séries mais populares do Brasil, que agradou aos mais diversos públicos e se tornou símbolo da resistência contra o sistema. E será sobre esse tema a nossa reflexão. Teremos poucos spoilers da série, nada que comprometa as surpresas. Vamos lá!

Sobre La Casa de Papel

La Casa de Papel é uma série espanhola que ficou famosa quando foi para a Netflix. O tema principal é assalto, ou seja, acompanhamos um grupo de pessoas que tentam fazer um assalto mirabolante.

No caso de La Casa de Papel, o alvo da primeira temporada foi a Casa da Moeda da Espanha. Um grupo de ladrões vestidos com macacões vermelhos e máscaras do pintor Salvador Dalí invadem o local fazendo reféns. Só que a grande sacada do assalto é que eles não querem “roubar” nada que esteja lá dentro, eles querem fabricar seu próprio dinheiro. Para conseguir isso, eles precisam de tempo e toda a trama gira em torno do grupo de assaltantes conseguirem sobreviver dentro da casa da moeda enquanto o dinheiro do assalto está sendo impresso.

Do lado de fora, temos tanto a polícia, especialmente na pessoa da negociadora Raquel Murillo (Itziar Ituño) tentando encerrar o assalto sem vítimas e sem prejuízo para o governo, quanto o líder do grupo, conhecido como Professor (Álvaro Morte) fazendo um incrível jogo de estratégias, tentado um antecipar o passo do outro para conseguir chegar mais perto do fim do assalto.

Reflexão sobre La Casa de Papel: Os Assaltantes são os Bonzinhos da História

A primeira coisa que quero chamar a atenção é que muito provavelmente você vai torcer (ou já torceu) para os assaltantes. O motivo é simples: toda a direção da série te leva a ver o lado pessoal dos assaltantes. Nós não conhecemos os seus nomes, mas conhecemos muito das suas histórias, que são as mais variadas possíveis.

Não só as suas história nos convencem a torcer por eles, mas também suas práticas dentro da casa. Vemos que são pessoas comuns, que não querem o mal das outras, querendo apenas algo para si que não pertence necessariamente a ninguém (já que o dinheiro estava sendo feito de forma exclusiva, e não tirada de ninguém).

Do outro lado, vemos a polícia tentando acabar com o assalto de qualquer jeito, às vezes apelando para a violência ou covardia. Isso faz com que fiquemos com raiva da força exagerada usada contra pessoas que “não estão fazendo nenhum mal”.

O que acontece aqui é algo semelhante ao que falei na reflexão sobre Velozes e Furiosos: fazemos uma distinção entre Ética e Moral. Nós decidimos aceitar que a atitude dos assaltantes é boa, é justificada, mesmo que isso vá contra o código penal vigente.

Nesse caso, o principal motivo que nos faz defender os assaltantes é porque eles justificam o roubo como uma ação de crítica ao sistema. E é sobre isso que vou desenvolver abaixo.

Reflexão sobre La Casa de Papel: Uma Crítica ao Sistema

A série não começa com esse enfoque, mas ao longo do seu desenvolvimento, especialmente na segunda temporada (segunda parte do primeiro assalto), ela vai tomando o contorno de que o assalto não tem um viés apenas de enriquecimento, mas também de crítica ao sistema.

O Professor começa a fazer um discurso de que eles (os assaltantes) não estão tirando nada de ninguém. O que eles estão fazendo seria algo que o governo poderia fazer pelo país todo. O que eles estão fazendo é simplesmente imprimindo mais dinheiro. Solução aparentemente simples para todos os problemas daquela sociedade (no caso, da Espanha).

É preciso deixar claro que a solução não é tão simples assim. Imprimir dinheiro sem que a economia esteja crescendo na mesma proporção gera inflação e desvalorização da moeda. Entretanto, quando olhamos poucas pessoas com muito dinheiro, e muitas pessoas com pouco dinheiro, é inevitável defender essa solução.

No nosso caso, ou seja, Brasil (mas que deve ser semelhante a muitos outros países), ainda tem o agravante da má reputação dos políticos, que em sua maioria são ricos ou enriquecem muito durante seus mandatos. Vemos pessoas que deveriam ajudar a população ganhando muito mais que a maioria das pessoas que votaram nelas, e todo esse dinheiro vem, na sua maioria, dos impostos pagos pela população pobre, seja de forma legal ou, em alguns casos, de forma ilegal. Isso tudo sem considerar as “regalias”, como auxílio moradia e auxílio paletó.

Tudo isso faz com que fiquemos com raiva do sistema político e do sistema capitalista. Nós queremos um mundo mais igualitário, mas o que vemos a cada dia é um mundo mais desigual. Como normalmente não temos meios ou coragem para nos rebelarmos contra isso, sublimamos essa nossa vontade através dos assaltantes da série que tiveram essa ousadia.

Uma Defesa do Comunismo?

Vale aqui um destaque para a proposta socialista de Karl Marx e Friedrich Engels: esses dois pensadores perceberam que o modelo capitalista só consegue se sustentar se houver a exploração dos donos dos meios de produção (burguesia) sobre aqueles que vendem sua força de trabalho (proletariado). Em sua tese, Marx e Engels defendem que o sistema político sempre vai defender os interesses dos patrões sobre os empregados, porque a “máquina capitalista” precisa que poucos mandem e muitos obedeçam para continuar funcionando.

Logo, a única solução possível seria uma revolução dos trabalhadores, para que tomassem à força o controle do governo e começassem a governa para todos, e não para a minoria. A proposta desses filósofos era que, em um primeiro momento, todas as propriedades pertenceriam ao governo, e as riquezas seriam distribuídas conforme a necessidade de cada um, até o momento em que toda a população tivesse compreendido a ideia de igualdade. Assim, não precisaríamos mais de um Estado como autoridade, podendo começar um autogoverno da população (o que eles chamam de Comunismo).

Entretanto, não é esse caminho que a série propõem. Sua crítica não é em querer acabar com o capitalismo, mas, podemos interpretar, tentar reduzir a desigualdade que a sua prática desenfreada gera. Podemos dizer que a proposta da série está muito mais voltada para uma Sociologia do Desenvolvimento, um campo do pensamento sociológico que tenta minimizar o impacto negativo do capitalismo sem querer acabar com ele, através um planejamento econômico do Estado.

Quando abraçamos a causa dos assaltantes, estamos dizendo que não queremos injustiça social. Mas aceitamos que isso pode ser alcançado sem precisar terminar com o livre-comércio, que basta vontade sincera do Estado, de saber investir o dinheiro arrecadado pelos impostos, para fazer crescer e prosperar o nosso país.

Conclusão

La Casa de Papel é uma catarse, nos provocando grandes emoções. Além da adrenalina que sentimos, também nos envolvemos com a causa deles, pois, em algum sentido, também é uma causa de todos nós. Até poderíamos dizer que também gostaríamos de ser um dos assaltantes, só para podermos “esfregar na cara do Estado” nossa revolta pelo que passamos e/ou vemos as pessoas passarem. Como é proposto pela série, todos queremos ser membros da Resistência!

E aí? Qual é o seu personagem preferido e porquê? Deixa aí nos comentários! Gostou dessa reflexão? Compartilha! Quer sugerir algum tema? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.