Reflexão sobre Jungle Cruise: Feminismo e Altruísmo Verdadeiro

Reflexão sobre Jungle Cruise: Feminismo e Altruísmo Verdadeiro

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Jungle Cruise da Disney. Nesse filme, acompanhamos uma viagem pela Amazônia em busca de uma flor com poderes curativos. Durante a história, que se passa em 1916, teremos uma ótima reflexão sobre o papel da mulher na sociedade e também aprenderemos sobre o verdadeiro altruísmo. Teremos spoilers do filme, então fiquem avisados. Vamos lá!

Sobre Jungle Cruise (com SPOILERS)

Jungle Cruise é um filme de 2021 da Disney. Seu gênero é aventura e comédia, e sua inspiração é na atração clássica de mesmo nome que existe em praticamente todos os parques da Disney. Essa atração é um passeio de barco pela suposta selva amazônica. O filme pode ser visto na plataforma Disney+.

A história do filme começa contando uma lenda sobre a selva amazônica a qual diz que existe uma árvore chamada lágrimas da lua cuja flor tem poderes curativos extraordinários.

A cientista e pesquisadora Dra. Lily Houghton (Emily Blunt) quer liderar uma expedição em busca dessa árvore porque acredita que a lenda é real e os benefícios que essa planta traria para a medicina seriam inimagináveis. Porém, os membros da Royal Society (A Sociedade Real de Londres para a Melhoria do Conhecimento Natural), não acredita nessa lenda, especialmente porque ela é defendida por uma mulher, e não apoiam a expedição.

Devido à negativa, a doutora resolve embarcar por conta própria, junto com seu irmão McGregor (Jack Whitehall), para a Amazônia e encontrar a árvore sagrada.

Já no Brasil, ela contrata os serviços de Frank (Dwayne Johnson) para guiá-los na selva, através dos rios amazônicos, em busca da lenda.

O grupo passará por várias aventuras, terá que enfrentar o vilão Príncipe Joachim (Jesse Plemons) e os fantasmas de Aguirre (Édgar Ramírez) e seu bando, um grupo de aventureiros espanhóis que tentaram, no século 16, encontrar a flor mística e acabaram amaldiçoados pelos indígenas protetores da lenda.

Durante a jornada, descobre-se que Frank na verdade se chama Francisco, estava no grupo de Aguirre e também é amaldiçoado. Porém, ele se voltou contra o grupo quando Aguirre quis destruir a tribo indígena para obrigá-los a fornecer a localização da lágrimas da lua.

Quando finalmente Lily encontra a árvore, seus inimigos também a encontram. Uma grande batalha é travada e Frank se sacrifica para proteger a última flor sagrada e também aprisionar novamente os fantasmas de Aguirre e seu bando.

Lily, então, decide usar a flor para salvar a vida de Frank e restaurar sua humanidade. No fim, todos voltam para Londres.

Reflexão sobre Jungle Cruise: Mulheres à Frente de seu Tempo

A Dra. Lily serve, durante o filme, como arquétipo da mulher que luta para ser tratada como igual em uma sociedade machista.

Logo no começo do filme, seu projeto é ridicularizado. Não por causa da lenda, mas por causa de ser uma mulher que defende essa lenda. É interessante perceber que, quem faz a apresentação é o McGregor. Isso porque uma mulher não tinha direito à fala. Só que um dos membros já sabia que o projeto era da Lily e ressalta isso como forma de corroborar a negativa da sociedade à missão.

Uma quebra de paradigma que Lily ostenta durante todo o filme é sua predileção pelo uso de calças. Naquela época, calça era roupa de homem, pois mulher só poderia usar vestido. Essa escolha chocou tanto Frank que ele apelidou Lily de “Calça” durante toda a viagem. Esse é mais um exemplo de machismo do filme, mostrando como mulheres eram ridicularizadas por não “aceitarem sua posição social”.

Durante o filme, McGregor confessa a Frank que segue Lily em todas as suas “loucuras” porque ela foi a única pessoa que o apoiou na sua escolha sexual. O filme não fala isso com todas as letras, mas deixa muito bem claro que McGregor é gay e Lily foi a única pessoa que o apoiou em uma época em que isso ainda era muito mal visto. Novamente, vemos Lily como essa força do progresso, que olha para frente, que aceita e tolera o novo.

Voltando bem-sucedida, Lily ganha uma vaga para um doutorado na universidade de Cambridge a abre as portas para a presença de mais mulheres na ciência.

Por fim, mas não menos importante, temos o relato da expedição que é feito novamente na Royal Society. Na ocasião, McGregor destaca que a tribo indígena amazônica tinha como líder uma mulher. Ao falar isso, provoca um burburinho entre os membros, como se isso fosse inaceitável e, até mesmo, prova de que aquela era uma tribo bárbara (não civilizada).

O curioso é pensar que a Inglaterra passara pelo reinado da rainha Elizabeth I (1558-1603) cujo período histórico ficou conhecido como a era de ouro inglesa. É impressionante como o preconceito consegue esconder fatos evidentes em nome da defesa de uma ideia pré-concebida. Imagina se eles soubessem que em 1952 uma nova mulher se tornaria rainha do Reino Unido…

Reflexão sobre Jungle Cruise: Ter Alguém com Quem se Importar

Em um diálogo entre Frank e Lily, por volta dos 45 minutos de filme, à noite, após eles comerem piranha assada, estando Frank dedilhando uma música e Lily desenhando, a conversa gira em torno das motivações para a aventura.

Lily diz que quer salvar o máximo de pessoas com as possibilidades curativas da planta. Frank questiona o risco que ela está correndo e o risco em que ela colocou o próprio irmão por desconhecidos. Lily diz que não se importa com isso.

Diante dessa fala, Frank diz que não se importa com ninguém, mas que gostaria de ter uma pessoa com quem ele se importasse e isso seria suficiente para ele.

Já no final do filme, estando já apaixonados um pelo outro, Frank decide se deixar aprisionar eternamente para salvar a vida de Lily e garantir a sobrevivência de uma das flores sagradas. E Lily, num gesto surpreendente, usa a flor para libertar Frank. Com isso, ela abre mão de salvar milhares de pessoas para salvar apenas uma, aquela com quem ela se importa verdadeiramente.

Essa questão é muito interessante porque, dependendo de como for lida, pode ser interpretada como egoísmo. Se nos basearmos na ética utilitarista, Lily agiu de modo imoral porque preferiu a felicidade de uma pessoa em detrimento da felicidade de milhares. Mas será que realmente ela está errada? O filme nos diz que não.

O filme defende a tese de que precisamos nos importar com quem de fato amamos, e não com pessoas desconhecidas. Entendam que ela não está fazendo o mal a ninguém, ela só preferiu fazer o bem para quem ela conhecia e precisava de ajuda.

Quem olha de fora pode facilmente julgar isso, mas, na realidade, agimos dessa forma sempre. Ninguém abre mão das suas coisas para dá-las a quem nada tem. Ninguém abre sua casa à estranhos para morarem nela. Ninguém deixa de comprar um chocolate ou uma cerveja e usar esse dinheiro para dar uma refeição para um mendigo. No máximo, o que as pessoas fazem são alguns gestos de caridade para dizer que são generosas. Mas no fundo, ninguém é totalmente pródigo. Para não dizer ninguém, podemos encontrar alguns santos que fizeram isso.

Dessa forma, o filme vem nos mostrar que, no final das contas, é balela dizer que fazemos tudo pelo bem da humanidade. Porque não é possível para nós amarmos toda a humanidade. Nós só conseguimos amar quem conhecemos. E são essas pessoas que importam. E não é pecado ou feio pensar e dizer isso.

É besteira ficar se culpando por achar que precisa fazer mais pelos outros desconhecidos. Não precisa. Você precisa fazer mais por você e por quem você ama de verdade. Isso é o que realmente importa. Esse seria o altruísmo verdadeiro.

A questão do Aguirre

Só para não ficar problemático esse trecho da reflexão, não estou defendendo fazer o mal para os outros em troca de um bem para quem você ama.

Essa foi a postura de Aguirre, que louco para salvar sua filha, chacinou a tribo indígena que protegia a lágrimas da lua. Não é isso! Fazer o mal a várias pessoas para garantir o bem para si e os seus não é certo e o filme também não defende isso.

O que o filme defende e trato aqui é da não necessidade de querer fazer o bem para todos, em vez de focar seus esforços em quem lhe é próximo e querido. Beleza?

Conclusão

Após essa reflexão sobre Jungle Cruise, pudemos ver que as mulheres lutaram e ainda lutam muito para serem tratadas como iguais por uma sociedade machista que ainda teima em querer ver diferença onde não existe. Além disso, devemos admitir que só amamos de fato quem conhecemos e não é errado concentrarmos nossos esforços e recursos para garantir a felicidade deles.

E aí? O que mais te agradou em Jungle Cruise? Comenta! Conhece alguém que curtiu o filme? Compartilha essa reflexão sobre Jungle Cruise com essa pessoa! Quer sugerir temas para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

Posted in Filmes, Reflexões Nerds and tagged , , , , , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.