Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre o jogo Hogwarts Mystery. Esse é um jogo para smartphones que se passa antes da chegada de Harry Potter em Hogwarts e que tem na sua história e jogabilidade conteúdos interessantes para uma reflexão, tais como o fardo do legado negativo da família e a formação da sua personalidade baseada nas suas escolhas. Vou explicar um pouco da história do jogo e da sua jogabilidade para introduzir a reflexão, mas não trarei spoilers da história para não estragar a experiência de ninguém que queira jogar. Vamos lá!
Sobre Hogwarts Mystery
Harry Potter: Hogwarts Mystery, nome completo do jogo, foi lançado em 25 de abril de 2018 e está disponível para Android e IOS. Ele é um jogo oficial, produzido pela Jam City e lançado pela Warner Bros. Interactive Entertainment. O jogo é gratuito, permitindo compra de itens para acelerar o cumprimento das missões.
O jogo é no estilo RPG narrativo, ou seja, as ações são por turno, você explora cenários, conversa com personagens, cumpre missões principais e paralelas, acumula recursos, adquire itens de personalização e vai avançando no enredo.
Já a história se passa em 1984, sete anos antes de Harry Potter entrar em Hogwarts. Voldemort já havia sido derrotado, os comensais da morte estão presos e a vida voltava a seguir normal no mundo bruxo.
Você começa o jogo recebendo a carta de Hogwarts e passa por todo o processo de entrada e educação de um aluno tradicional. A questão é que seu irmão mais velho, Jacob, está desaparecido e sabe-se que ele estava pesquisando a respeito das criptas malditas, locais secretos que existem em Hogwarts (inclusive, ele foi expulso da escola por causa disso).
Você assume a missão de continuar a pesquisa sobre as criptas malditas, na esperança de conseguir respostas sobre o seu irmão e, quem sabe, encontrá-lo. Ao longo do jogo, você vai fazer amizade e interagir com personagens criado para o jogo, assim como personagens clássicos dos livros / filmes, tais como Ninfadora Tonks, Carlinhos e Gui Weasley quando eles ainda eram alunos. Você também vai fazer as aulas tradicionais da escola, como feitiços com o professor Flitwick e poções com Snape.
Reflexão sobre Hogwarts Mystery: O Legado da Família
Como eu falei no tópico anterior, você chega em Hogwarts alguns anos depois do seu irmão ter sido expulso porque estava descumprindo as regras da escola.
Jacob acabou se tornando uma pessoa lendária na escola, porque todos sabiam da história do garoto que estava investigando as criptas malditas, essas câmaras ocultas em Hogwarts que ninguém conhecia e que os professores se recusavam a admitir que eram reais, e que acabou expulso por indisciplina, desaparecendo logo em seguida.
Por esse motivo, desde a sua entrada, você é julgado e comparado ao seu irmão. A todo o momento ficam te questionando se você irá agir que nem ele ou será diferente. A questão é que você não é necessariamente igual a ele, mas também quer descobrir a verdade e isso pode te levar a quebrar algumas regras, fazendo com que, consequentemente, você imite os passos dele.
É muito interessante essa proposta do jogo porque isso é algo muito comum que acontece em um ambiente que é frequentado ao longo dos anos pela sua família. Sempre que você chega novo a esse lugar, a primeira coisa que falam é “Ah! Você é o filho / neto / irmão de fulano” e completam “Olha que essa pessoa foi assim e assado” (às vezes elogiando, às vezes criticando).
Essa é uma pressão muito grande que podemos sentir quando acabamos de iniciar uma nova fase de nossas vidas e normalmente as pessoas não percebem isso. E se percebem, ignoram.
Nessas situações, quando quem veio antes de nós deixou um legado positivo, somos a todo o momento cobrados e comparados, precisando entregar resultados para ser tão bom ou melhor que o nosso predecessor. Se não atingimos as expectativas, começam os comentários e fofocas, dizendo que não somos capazes ou tão bons quanto era o outro. Ficam com pena de nós, dizem que não “puxamos à fulano”.
Se o legado deixado pelo nosso antecessor for ruim, a coisa é ainda pior. Além de termos que ser perfeitos para “corrigir” os erros de outra pessoa, ainda somos constantemente questionados se nós também não iremos para o mesmo caminho ruim. Somos julgados pelo que alguém da nossa família fez antes de nós. As pessoas, nesse caso, temem que tenhamos herdado as características negativas.
A biologia já provou que genes podem influenciar, mas não determinar quem somos. Até mesmo irmãos gêmeos idênticos, criados da mesma forma, podem ter características e futuros totalmente diferentes. Mesmo assim, as pessoas cismam em querer fazer comparações dentro da família.
É fato que uma convivência e uma criação podem influenciar muito quem nós somos, mas a família é apenas um dos núcleos sociais que compõem a vida em sociedade. Alguns estudos mostram que elas são a que menos contribuem com a nossa personalidade, porque depois que crescemos e começamos a ir para outros lugares como igreja, escola, trabalho, passamos menos tempo em casa e mais tempo fora dela.
Nesses estudos, mostra-se que a necessidade de integração com o meio é mais importante do que manter os valores aprendidos. É por isso que muitas crianças “boazinhas” podem se envolver com bebidas e drogas na adolescência, se começarem a conviver com jovens da sua idade que fazem isso.
Seguindo essa mesma lógica, alguém que teve um mal exemplo em casa tem chances de mudar e ser uma pessoa melhor depois que começa a conviver com outras pessoas que lhe darão bons exemplos. Logo, é muito ruim ficar pré-julgando alguém por aquilo que alguém da família fez, porque cada um é um e tem a capacidade de tomar as suas próprias decisões.
Nessa liberdade que todos somos obrigados a possuir, como nos lembra Sartre, as decisões que tomamos são nossas. Se vamos imitar ou fazer diferente, isso é com cada um de nós. Nós escolhemos o modelo que queremos seguir ou o rumo que queremos dar para nossas vidas. Que as pessoas parem de querer nos comparar porque isso não ajuda em nada e ainda prejudicar nosso trabalho de mostrar quem realmente somos.
Reflexão sobre Hogwarts Mystery: Nossas Escolhas Dizem muito sobre Nós
Uma das jogabilidades de Hogwarts Mystery, e que tem muito a ver com o que falamos até agora, são os atributos. No jogo, existem três: coragem, empatia e conhecimento. Dependendo das aulas, missões, decisões que você toma ou itens que compra, você ganha pontos de um determinado atributo. Também dá para ganhar esses pontos como recompensa ao cumprir determinados percursos, e você costuma escolher dentro de uma seleção qual atributo vai querer.
A reflexão que faço sobre essa jogabilidade está no poder de decisão do jogador em querer ser um personagem mais corajoso, mais empático ou mais sábio. A história em si não muda muito, apenas algumas respostas de volta, mas mesmo assim é interessante pensarmos sobre aquilo que decidimos responder.
É claro que para essa jogabilidade fazer real sentido reflexivo você precisa de fato “entrar” no jogo e se sentir um aluno de Hogwarts. Dessa forma, você consegue se imaginar sendo questionado e pensando na resposta que você daria se aquilo fosse uma situação real.
Em nossas vidas é dessa mesma forma que acontece (simplificando, é claro). Todas as nossas decisões estão ligadas àquilo que somos e/ou queremos demonstrar. Dependendo de nossas características, nós escolhemos certas respostas em vez de outras. Em outras situações, escolhemos não a resposta que queríamos, mas aquela que corresponde àquilo que queremos que a pessoa pense da gente. Isso tudo está ligado a como nos sentimos e como queremos ser compreendidos pelos outros.
No jogo, por exemplo, surge uma situação de conflito com sua rival Mérula Snyder. Você tem que decidir se compra a briga com ela (coragem); abaixa a cabeça e aceita a provocação para evitar uma briga (empatia); ou chama o professor para intervir (conhecimento). Percebam que essa ligação entre resposta e atributo faz sentido e nossa resposta mostra quem somos ou quem gostaríamos de parecer ser.
Outro fator legal do jogo é que algumas respostas ficam bloqueadas se não atingirmos um determinado nível de um desses atributos. Por exemplo, se a mesma situação de conflito for com um professor, você só terá a opção de encarar o professor se o seu nível de coragem for alto, porque ninguém covarde ou razoável vai discutir com um professor.
Na vida real, algumas situações só surgem ou só são possíveis de serem realizadas se tivermos alguns atributos altos e, muitas vezes, precisamos trabalhar esse atributo antes, em pequenas situações, para só depois encarar maiores desafios. Por exemplo, algumas pessoas não conseguem falar em público devido à vergonha / timidez. Isso pode fechar algumas oportunidades para ela. Mas para ela conseguir superar isso, ela precisa ir aos poucos treinando, testando, com pequenos grupos, com situações mais informais, até ela se sentir à vontade para falar em público em uma grande situação.
Outra possibilidade de exploração dessa jogabilidade de atributos do jogo é podermos assumir personalidades diferentes das nossas, como forma de experimentar em um grau menor, mas seguro, situações que não poderíamos ter na vida real. Por exemplo, se você é do tipo envergonhado / tímido, pode, no jogo, responder tudo da forma mais corajosa possível porque não tem riscos de se magoar ou sofrer algum tipo de repreensão na vida real.
Inclusive, essa prática pode até mesmo te ajudar a superar alguma barreira que você possa ter, te incentivando a agir na realidade tal como você faz no jogo. O jogo serviria, assim, como treinamento, para te dar a força que faltava para mudar.
Conclusão
Chegando ao final dessa reflexão sobre Hogwarts Mystery, você já deve ter percebido minha empolgação com o jogo. Eu sou muito fã do universo de Harry Potter e esse jogo me faz ficar um pouco mais próximo dessa fantasia. Essa relação prazerosa com o jogo me fez ver quanto ele pode nos ajudar a compreender alguns fatores da nossa vida e do nosso jeito de ser. Espero que tenham gostado dessa reflexão e que possam, mesmo não jogando Hogwarts Mystery, ficarem com essas palavras que servem para todos, sejam bruxos ou trouxas (como é chamado os não-bruxos).
E aí? Já passou por uma situação tal qual passa o personagem do jogo Hogwarts Mystery? Deixa nos comentários! Acredita que alguém precisa ler essa reflexão sobre Hogwarts Mystery para mudar de atitude? Compartilha esse artigo com essa pessoa! Quer sugerir algum tema para o blog ou jogo? Entra em contato comigo.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!