Reflexão sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth: A Força do Coração e o Pilar de Sustentação

Reflexão sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth: A Força do Coração e o Pilar de Sustentação

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o mangá Guerreiras Mágicas de Rayearth. A história mostra três jovens japonesas que são transportadas magicamente para um planeta chamado Zefir e descobrem que elas possuem a missão de salvar aquele mundo, resgatando a princesa Esmeralda – que foi raptada pelo sumo-sacerdote Zargard. Na reflexão, mostrarei como a força de vontade é importante para realizar seus sonhos e como ser o pilar de sustentação de algo pode ser ruim. Teremos spoilers do mangá, então fiquem avisados. Vamos lá!

Sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth (COM Spoilers)

Guerreiras Mágicas de Rayearth foi um mangá lançado originalmente em 1994 no Japão pelo estúdio CLAMP. Ele fez tanto sucesso que também virou um anime (o qual, por sua vez, possui algumas diferenças em relação ao mangá).

No Brasil, Guerreiras Mágicas de Rayearth chegou primeiro com o anime no SBT em 1996 e fez bastante sucesso na época. O mangá só foi lançado pela primeira vez em 2001 pela JBC e também fez bastante sucesso.

Meu foco, aqui, será no mangá, mas acredito que a reflexão sirva também para quem viu apenas o anime porque a história central permanece a mesma.

Primeira Fase

Lucy, Anne e Marine são três pré-adolescentes japonesas que estavam visitando a Torre de Tóquio quando, magicamente, são teletransportadas para um outro mundo chamado Zefir. Após o susto inicial, elas são recepcionadas pelo mago Cléf, que lhes explica que elas foram convocadas porque são uma espécie de guardiãs lendárias daquele mundo e Zefir está precisando de suas protetoras mágicas.

Tudo estava bem até que a princesa Esmeralda – pilar de Zefir – foi sequestrada pelo sumo-sacerdote Zargard. O pilar é o governo e o sustentáculo espiritual e físico daquele mundo – sem ele, o mundo começa a se destruir. Por isso, as guerreiras mágicas precisam encontrar a prisão de Esmeralda e libertá-la, derrotando no caminho Zargard e seus asseclas.

Para realizar essa tarefa, elas ganham poderes elementais (fogo, água e vento), armas e armaduras que evoluem conforme elas vão ficando mais poderosas. Elas também precisam encontrar os três gênios de Zefir, que são espíritos protetores os quais servem como armaduras de combate.

Após enfrentar e derrotar todos os seguidores de Zargard, encontrar os gênios e evoluir suas armas e armaduras, as guerreiras enfrentam e derrotam o sumo-sacerdote. Porém, só nessa hora elas descobrem a verdade por trás de todo o problema e suas convocações para aquele mundo.

A verdade é que a princesa Esmeralda não queria mais ser o pilar de Zefir porque tinha se apaixonado por Zargard e a única forma dela se livrar de seu fardo era sendo morta. E só quem conseguiria fazer isso eram as guerreiras mágicas. O sumo-sacerdote sequestrou a princesa para protegê-la porque não queria que ela morresse.

As meninas compreendem o problema e sua missão. Entendem que Esmeralda e Zargard merecem estar juntos para sempre e executam a vontade da princesa com muita dor no coração.

Terminada a tarefa, elas voltam para casa.

Segunda Fase

Passado algum tempo, as três meninas são reconvocadas para Zefir. Existem dois problemas agora: Zefir está se destruindo porque está sem seu pilar por muito tempo, e três missões estrangeiras (de outros mundos) estão querendo assumir a função de pilar para tomar Zefir para seus fins pessoais.

A missão das guerreiras mágicas agora é impedir que esses invasores assumam como o novo pilar ao mesmo tempo que precisam encontrar um novo e bom pilar para Zefir não acabar.

Após muitos confrontos, Lucy – a guerreira mágica do fogo – acaba sendo escolhida como o novo pilar. Sua primeira ordem é acabar com o sistema de pilar porque considera injusto apenas uma pessoa ser responsável por toda a felicidade e prosperidade de um mundo. Ela decide dividir essa tarefa com todos os habitantes de Zefir.

Depois disso, tudo fica resolvido e uma passagem permanente fica aberta entre a Terra e Zefir, permitindo que as três meninas possam ir e voltar sempre que quiserem.

Mídias

Quer ler em detalhes essa história? Você pode adquirir o Volume 1 de Guerreiras Mágicas de Rayearth na Amazon.

Quer assistir o anime e conhecer detalhes dessa história, com suas diferenças ao mangá original? Você pode conferir em Guerreiras Mágicas de Rayearth na Prime Video.

Reflexão sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth: A Força do Coração na Busca por Nossos Objetivos

A primeira coisa que me chamou a atenção no mangá foi a explicação de como funciona o mundo de Zefir. Basicamente, toda a existência do mundo depende da força de vontade (ou, como eles chamam, da força do coração) do pilar.

Dessa forma, se o pilar está desejando com toda a força que todos estão felizes, realmente todos estarão felizes. Se ele desejar que todos estão saudáveis, de fato todos estarão saudáveis.

Obviamente, não é uma espécie de controle e manipulação, e sim uma espécie de energia espiritual que garante que tudo ocorrerá de uma forma correta e boa.

No exemplo dos habitantes felizes, não é que eles terão uma manipulação mental para que sintam felicidade. Na verdade, quando o pilar deseja a felicidade de todos, as condições para a felicidade de cada um se concretizará e, por isso, todos serão felizes.

Se por um lado isso é bom e interessante, também existe o lado ruim. Se o pilar perde o foco e começa a pensar outras coisas, o funcionamento do mundo começam a desandar. Na história, quando a princesa Esmeralda perdeu seu foco nos habitantes de Zefir e começou a pensar no seu amor por Zargard, começaram a surgir monstros que aterrorizavam os habitantes.

Eu achei muito interessante essa “magia” de Zefir porque podemos fazer algumas analogias com a nossa vida e a força de vontade que precisamos ter para alcançar nossos objetivos e realizar nossas metas.

Não estou sendo hipócrita em acreditar que basta querermos com muita força que algo aconteça que isso acontecerá magicamente. Mas acredito que só conseguimos realizar nossos planos quando de fato estamos focados neles e nos esforçamos para buscar os resultados.

Sem a força do coração / força de vontade, não conseguimos ter foco e dedicação para nada. No mundo de hoje, repleto de distrações e possibilidades, é muito fácil perdemos o rumo naquilo que estamos buscando e começar a deixar nossos objetivos para trás, adiando-os quase que indefinidamente.

É o famoso “amanhã eu faço”, “começo no mês que vem”, “não vale a pena o sacrifício agora” e outras frases similares. Se já é difícil conseguir realizar algo mesmo querendo muito, se não colocarmos de fato nosso coração e vontade naquilo, nada sairá mesmo!

Dificilmente algo importante para nós, que nos trará benefícios no futuro, é fácil de se fazer e dedicar. Normalmente precisamos ter foco e dedicação, abrindo mão de coisas “supérfluas” – mas interessantes e chamativas – para mirarmos naquilo que realmente importa.

É fácil? Nem um pouco. Especialmente porque o eu-de-agora está sendo sacrificado em prol do eu-do-futuro. O mais interessante é que nós sabemos que vale a pena porque já fizemos isso antes, e mesmo assim a cada nova meta é um novo desafio em ter que fazer toda essa dedicação novamente.

Tudo isso é para te incentivar a não perder o foco, a não desistir dos seus sonhos e objetivos. Tenha força de vontade, deseje com todo o seu coração que você não vai se arrepender do resultado final.

Pode ser uma dieta, um concurso público ou vestibular, uma economia para uma viagem, uma competição esportiva…. Como já dizia a Xuxa: “Tudo pode ser, se quiser será / O sonho sempre vem pra quem sonhar / Tudo pode ser, só basta acreditar / Tudo que tiver que ser, será”.

Reflexão sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth: Não Queira Suportar Todo o Peso do Mundo Sozinho

Ao longo do mangá, mais para o final da primeira fase e durante toda a segunda fase, descobrimos que o sistema de sustentação da felicidade de Zefir é muito cruel: o pilar precisa se dedicar totalmente aos mundo e habitantes de Zefir, sendo proibido de pensar na sua própria felicidade ou realizações pessoais. Se ele fizer isso, as coisas no planeta saem dos rumos. O pilar tinha que sofrer para os outros serem felizes.

Quando Lucy assumiu como pilar, a primeira coisa que ela fez foi mudar esse sistema: agora, todos teriam que compartilhar a felicidade e o sofrimento, todos teriam que se esforçar para manter a prosperidade no mundo de Zefir.

O curioso é que ela se inspira na própria Terra para isso: ela observa que a maioria dos países do nosso planeta possuem formas de governo democráticas, em que todos são chamados a cooperarem entre si para alcançar a felicidade de suas sociedades.

Entretanto, como bem sabemos, a maioria das sociedades terrestres (se não todas), não conseguiu atingir o nível de felicidade que existia em Zefir. Então, qual é o problema? O problema, na minha opinião é a falta de cooperação entre as pessoas.

Nessa hora, lembro do conceito político de Rousseau: a Vontade Geral. Basicamente, o filósofo compreende que, se cada um lutar sozinho para ter suas vontades e necessidades atendidas, continuaremos em uma espécie de guerra pela sobrevivência. Por outro lado, se aprendermos a agir como grupo, colocando a vontade geral acima da vontade pessoal, conseguiremos olhar para as necessidades individuais e ir resolvendo todos os problemas – um de cada vez – até que todos sejam atendidos e fiquem felizes.

No fundo, é esse o modelo de sociedade que Lucy quer para Zefir. E é o modelo que nós queremos para nossa sociedade!

Não é justo que, para eu ser feliz, outra pessoa precise ser infeliz. Isso não é justo e nem é necessário! Se entrarmos em acordo e cooperarmos, conseguiremos todos sermos felizes.

Lucy vai dizer que, para o novo pilar funcionar, é preciso que confiemos nas pessoas que amamos. Como analogia para nossa realidade, precisamos confiar nas outras pessoas. Se não em todas, pelos menos nas que são mais próximas de nós.

Se pararmos para pensar, aqueles que amamos também possuem um círculo de pessoas amadas, que possuem um círculo de pessoas amadas e assim sucessivamente. Dessa forma, apenas confiando em quem amamos, conseguiremos uma sociedade justa porque espalharemos a confiança no outro.

A desconfiança das intenções e propósitos das outras pessoas é um dos maiores vilões da nossa sociedade. Por acharmos que os outros não fazem o suficiente ou sempre irão tirar vantagem da situação, não damos a oportunidade de confiar e agimos egoisticamente. Com todos pensando e agindo assim, acabamos tendo uma sociedade de pessoas desconfiadas e egoístas.

E fácil? Claro que não! Mas alguém precisa dar o primeiro passo e esse alguém pode ser eu e você!

Reflexão sobre Guerreiras Mágicas de Rayearth: Conclusão

Guerreiras Mágicas de Rayearth pode ser considerado por muitos um mangá para meninas adolescentes. De fato, sua estrutura e subtramas realmente possuem uma pegada mais para esse público. Porém, a mensagem geral é para todos e muito importante: tenha foco nos seus objetivos e divida as responsabilidades com as outras pessoas porque ninguém é obrigado a suportar tudo sozinho.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.