Reflexão sobre 13 Reasons Why: Um Problema Chamado Bullying

Reflexão sobre 13 Reasons Why: Um Problema Chamado Bullying

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre a série 13 Reasons Why da Netflix (também conhecida como Por Treze Razões). Essa é uma série pesada, que conta de forma bem dramática o sofrimento de uma jovem que sofria bullying na escola. Essa série trouxe novamente esse tema para discussão e essa reflexão vai tratar desse assunto, refletindo sobre os problemas presentes na série e sobre uma experiência pessoal. Teremos spoilers da série, mas recomendo muito ler a reflexão mesmo que possa estragar algum surpresa futura. Vamos lá!

Sobre 13 Reasons Why

13 Reasons Why é uma série produzida pela Netflix inspirada no livro Thirteen Reasons WhyA série possui 4 temporadas, mas apenas a primeira segue o livro, tendo as demais temporadas sido criadas devido ao sucesso da série.

A série conta os problemas vividos por Hannah Baker (Katherine Langford), uma menina que se suicidou depois de ter sofrido vários casos de bullying pelos seus colegas de escola e não ter conseguido ajuda adequada. Antes de tirar a própria vida, ela gravou 13 fitas em que conta os treze motivos que a fizeram fazer isso. Ela deixou as fitas na casa de um amigo, com um bilhete pedindo que as fitas fossem mostradas para todos aqueles que tiveram “culpa”/”participação” nos problemas que ela passou.

Nós acompanhamos a vida de Clay Jensen (Dylan Minnette), um garoto que Hannah gostava e que foram amigos por um tempo (até ela se afastar devido a depressão). Ela o colocou em uma das fitas e, por isso, foi “obrigado” a escutá-las. Escutando-as, Clay descobre tudo pelo que passou Hannah e ele não sabia (consequentemente, não conseguindo ajudá-la).

Nas primeiras exibições da série, o suicídio de Hannah foi mostrado. Mas depois de vários órgãos que trabalham com esse tema terem provado que exibir suicídios incentiva as pessoas a imitarem, a Netflix decidiu tirar as cenas. Mesmo assim, existem bastantes cenas fortes, psicologicamente falando, durante a série.

Se você quer ver a série e está passando por problemas de bullying e/ou depressão, recomendo que não veja a série sozinho, mas acompanhado de um amigo ou parente próximo. E o mais importante: procure ajuda! Você não está sozinho! Sempre terão muitas pessoas preocupadas com você e que querem o seu bem! 🙂

Reflexão sobre 13 Reasons Why: Não é Só uma Brincadeira

Quem escuta os primeiros motivos de bullying de Hannah Baker pode achar que ela está exagerando. Suas primeiras reclamações foram sobre um cara com quem ela ficou que tirou uma foto da calcinha dela (sem ela saber) e inventou que eles transaram, e uma lista em que o nome dela aparecia como tendo uma “bela bunda”. Besteira, né? NÃO!

Para algumas pessoas, esses “problemas” acima não são nada, talvez sejam até motivo de orgulho. Mas existem pessoas sensíveis, tímidas, que não se sentem bem com essas “brincadeiras”. Devemos sempre nos colocar no lugar do outro e entender como aquela pessoa se sentiu com a brincadeira. Às vezes, não tinha uma maldade de fato, mas se percebemos que a brincadeira não foi legal, temos que ter a humildade de pedir desculpas e interromper sua continuidade. Ninguém é igual a ninguém e devemos levar isso em consideração. Se uma brincadeira não me incomoda, não quer dizer que não vai incomodar outra pessoa. Lembremo-nos que o contrário também pode acontecer, e não gostaríamos de ser “zoados” no nosso ponto fraco. Para entender mais do que estou falando, indico a leitura de um artigo em que trabalho a palavra “Empatia”.

Outro fato importante é que as brincadeiras e problemas vão escalando, aumentando de tamanho e proporção. A soma do “bela bunda” com a foto + sexo fez com que Hannah parecesse uma menina fácil de “se pegar”, o que fez com que muitos garotos começassem a provocá-la e puni-la quando ela os rejeitava; e muitas meninas, por inveja da “concorrência”, também a humilhassem. É devido a isso que precisamos “cortar o mal pela raiz”. A brincadeira bobinha agora pode, no futuro, ser escalonada para coisas mais sérias. Inclusive, foi isso que aconteceu comigo. Um apelido que começou no ensino fundamental como brincadeira devido a uma postura “estranha” que tinha se tornou, no ensino médio, sinônimo de atitude imprópria para os padrões da época.

Qualquer generalização sempre é ruim porque ninguém é 100% algo a todo o momento. Estamos sempre mudando. Mesmo que Hannah tivesse transado com Justin (Brandon Flynn), mesmo que ela tivesse uma “bela bunda” isso não faz dela alguém melhor ou pior. Isso não dá o direito dela parecer fácil ou ser uma “vadia”. Os padrões sempre fizeram mal a sociedade e precisamos lutar para parar de ficar disseminando-os.

Reflexão sobre 13 Reasons Why: Minha Experiência

Eu não sou psicólogo nem pedagogo, então não tenho autoridade sobre o que vou falar nos próximos parágrafos, sendo apenas suposições. Porém, gostaria de expressar a sensação que tenho de como era antes e de como é agora, a respeito do tema bullying.

Eu já sofri bullying na escola, tanto no meu ensino fundamental quanto no ensino médio. Ainda hoje é algo que me deixa envergonhado e eu não me sinto muito confortável em expor o que eu passei. Eu sempre tenho a impressão de que, se eu contar, vai aparecer alguém querendo se aproveitar disso e ficar me “zoando”. Isso mostra o quando palavras ruins e atitudes negativas podem marcar a vida de uma pessoa, mesmo quando acham que é “só uma brincadeira”.

Como eu falei, eu sofri bullying, mas por mais chateado que fiquei, eu nunca entrei em um quadro depressivo. Os motivos que penso podem ter sido uma estrutura familiar sólida que tenho (mesmo nunca tendo contado desses problemas para ela) e da minha religião. Outro motivo relevante também pode ter sido a falta de uma rede social forte e estabelecida somada a uma cultura permanentemente conectada (eu me formei em 2005, e basicamente usávamos o MSN e o Orkut no seu começo, com uma internet discada limitada ao computador).

Nesse período, também não lembro de casos de depressão entre meus colegas de turma. Nem ouvia falar de suicídios ou pessoas que estavam se cortando. A sensação que tenho é que todos encaravam isso como um brincadeira, uma piada. Se você “desse corda”, era pior. É muito provável que eu também tenha “implicado” com alguém a tal ponto que essa pessoa ficou mal. O fato, pelo que consigo me recordar, é que não contávamos muito essas coisas (nada muito diferente de agora) para os outros e só esperávamos mudar o alvo. Mas todo mundo sabia que, uma hora ou outra, você seria “sacaneado” por um tempo por algum motivo.

Não falo isso para parecer que sou melhor ou dizer que os jovens estão exagerando hoje. O que quero mostrar é que os atuais adultos não viveram sua época de bullying como ele é vivido nos dias de hoje. Creio ser esse o motivo de tantos adultos terem resistência em acreditar ou valorizar um discurso de sofrimento de um jovem. Quando um adolescente apresenta sintomas de depressão e/ou de bullying, muitos adultos tendem a achar que é tudo um exagero. Isso ocorre, provavelmente, porque esse adulto tenta comparar sua vida de estudante com a do jovem. O problema é que não é mais a mesma coisa.

Acredito que as redes sociais e permanente conectividade são os grande “vilões” do bullying tal como é hoje. Antes, as zoações estavam limitadas ao ambiente escolar, às vezes só a turma. Só que hoje tudo é facilmente compartilhável, e como sempre alguém conhece alguém, as coisas se espalham rapidamente. Devido a isso, uma “brincadeira” que antes se limitava a 30 pessoas pode se espalhar por uma escola inteira, pela cidade toda, e por todo seu círculo social. É por isso que o bullying hoje destrói muito mais do que antigamente.

Como eu citei família e religião lá em cima, também acho importante falar disso brevemente. Essas são duas das instituições sociais mais fortes da nossa sociedade. Por isso, são importantes para ajudar alguém que esteja mal. Eu tive a sorte de ter uma família para me apoiar, mesmo eles não sabendo. Mas muitas pessoas possuem lares desestruturados que mais atrapalham do que ajudam.  Isso tem que ser levado em consideração quando não entendemos porque um jovem sofre e ninguém da família percebe ou não faz nada. Já sobre religião, isso é algo muito pessoal e não vou dizer que você precisar ter ou acreditar em algo, mas é sabido que aqueles que possuem fé no sobrenatural são mais resilientes (suportam mais as adversidades) porque creem que algo melhor virá no futuro.

Conclusão

Com essa reflexão sobre 13 Reasons Why, espero que você tenha entendido que bullying é uma coisa séria. Que brincadeiras inocentes podem se tornar grandes agressões se não forem controladas a tempo. Gostaria de acreditar que, na maioria dos casos, quem faz bullying não consegue entender a gravidade da situação e age como se isso não fosse um problema real. Eu preciso que você entenda que é real e sua atitude faz a diferença na vida de uma pessoa. E, se você é alguém que sofre ou acha que sofre bullying, não faça como eu fiz. Conte a alguém o quanto antes: se não os seus pais, um professor ou outro adulto que você conheça e confie. Se te indicarem uma ajuda profissional, não tenha vergonha. Essas pessoas “são pagas para ouvirem seus problemas” e ficam felizes em ajudar e ainda receber por isso! Falo assim porque demorei muito para eu mesmo entender isso e não quero que você sofra mais do que já sofreu. Precisando, também estou aqui. 🙂

E aí? Se se sentir bem, relate suas dificuldades e mostre suas superações aqui nos comentários. Tenho certeza que isso pode ajudar outras pessoas que passam pelo que você passa / passou! Acredita que alguém precisa procurar ajuda ou parar de fazer bullying? Compartilha essa reflexão sobre 13 Reasons Why com ela para ver se ajuda! Precisa desabafar e não sabe por onde começar? Pode entrar em contato comigo porque eu quero te ajudar.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.