Olá, marujos! Hoje explicaremos o conceito de indústria cultural de uma forma descomplicada. Usaremos uma linguagem simples e muitos exemplos para explicar essa crítica que a Escola de Frankfurt, através dos filósofos e sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer, fizeram à arte contemporânea, que virou mais uma mercadoria na nossa sociedade capitalista. Antes de explicar o conceito, falaremos brevemente da Escola de Frankfurt e dos pensadores Adorno e Horkheimer. Vamos lá!
Apresentado os Filósofos e sua Escola Filosófica
Escola de Frankfurt
Escola de Frankfurt é o nome informal que a tradição filosófica deu a um grupo de pensadores que fizeram/fazem parte do Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.
Esse instituto foi fundado por Félix Weil e Karl Korsch em 1923. Desde o seu início, os trabalhos produzidos já tinham como base filosófica os textos de Marx. Contudo, no começo, sob a direção do economista Carl Grünberg, as pesquisas tinham um foco maior em estudos econômicos.
Foi em 1931, quando Max Horkheimer assumiu a direção do instituto, que as pesquisas começaram a abarcar as áreas da filosofia, sociologia e crítica da arte. Horkheimer reuniu vários pensadores alemães que compartilhavam apreço pelo pensamento de Marx e o utilizaram para pensar a sociedade contemporânea. Vale destacar que os trabalhos produzidos não tinham cunho político, sendo a teoria de Marx usada como fundamento para um crítica social.
Na iminência da segunda guerra mundial, os membros da Escola de Frankfurt foram primeiramente para Genebra, na Suíça. Depois, foram para Nova Iorque, nos EUA. Foi nos Estados Unidos que os escritos da escola ganharam popularidade dentro das instituições acadêmicas. Após a guerra, o Instituto retornou para Frankfurt, onde encontra-se ainda funcionando.
Max Horkheimer
Max Horkheimer nasceu em 14 de fevereiro de 1895 na cidade de Stuttgart, Alemanha. Era filho de judeus e quando novo abandonou os estudos para ajudar o pai. Lutou na primeira guerra mundial e, ao retornar, foi estudar Psicologia e Filosofia.
Em 1926, com 31 anos, começou a trabalhar na Universidade de Frankfurt e se associou ao Instituto para Pesquisa Social. Em 1931 ele se tornou diretor desse instituto.
Ao longo de sua carreira, publicou muitas obras e artigos. Constantemente fez parcerias com seu colega Theodor Adorno. Quando o Instituto retornou para Frankfurt, Horkheimer voltou a lecionar na Universidade até se aposentar em meados dos anos 60. Ele ainda chegou a ser reitor da universidade entre os anos 1951 e 1953.
Max Horkheimer faleceu em 7 de julho de 1973 na cidade de Nuremberg, Alemanha.
Theodor Adorno
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno nasceu em 11 de setembro de 1903, na cidade de Frankfurt, Alemanha. Ele tinha descendência judia e era de uma família de classe alta.
Na Universidade de Frankfurt, estudou Filosofia, Sociologia, Psicologia e Música. Começou sua carreira publicando artigos de crítica e estética musical entre os anos 1921 e 1932. A partir de 1933, começou a publicar estudos mais filosóficos. Era muito amigo e parceiro de estudos de Max Horkheimer e Walter Benjamin.
Quando o Instituto retornou para Frankfurt, Adorno se tornou diretor-adjunto e depois codiretor. Com a aposentadoria de Horkheimer, Adorno assumiu como diretor.
Theodor Adorno faleceu em 6 de agosto de 1969 por problemas cardíacos na cidade de Visp, Suíça. Encontra-se sepultado em Frankfurt, sua terra natal.
Indústria Cultural Descomplicada: Arte como Mercadoria
O termo Indústria Cultural foi cunhado por Adorno e Horkheimer para se referirem à transformação da arte em mais uma mercadoria do capitalismo.
Os filósofos observaram que a arte em si perdeu o seu papel de crítica e questionamento cultural, a manifestação de um tipo de conhecimento sobre o mundo. Ao contrário, a arte começou a ser tratada como mais uma coisa (reificação) que poderia ser vendida e gerar lucros.
Agora, através das grandes mídias da época (cinema, rádio, TV) a arte era produzida de forma padronizada para servir de entretenimento e diversão para os seus consumidores. A arte se separa do conhecimento e se torna passatempo.
Indústria Cultural Descomplicada: Divulgadora de Ideologias
Outro fato que Adorno e Horkheimer observaram foi a utilização das artes produzidas e distribuídas pelas grandes mídias como meios para propagação de ideologias das classes dominantes.
Eles apontaram isso tanto no aparato midiático da Alemanha nazista, quando todo o meio cultural só reproduzia a ideologia nazista, quanto nos EUA, quando o aparato midiático utilizava dos seus conteúdos para criar padrões de consumo entre as pessoas, fazendo com que elas só se sentissem incluídas se possuíssem os produtos mostrados e divulgados nos filmes, revistas e programas de rádio e TV.
Indústria Cultural Descomplicada: Exemplos
Hollywood, Marilyn Monroe e os Diamantes
No ano de 1929, os EUA passaram pela Grande Depressão, que levou muitos ricaços da época à falência. Com isso, o principal público consumidor dos diamantes desapareceu.
As grandes joalherias viram em Hollywood a forma perfeita para alcançarem um novo público e incutirem na mentalidade americana o valor simbólico do diamante.
A partir daí, uma campanha de marketing agressiva ocorreu, com várias publicações de revistas mostrando astros do cinema com joias de diamante e muitos filmes com cenas de atores usando essa pedra. Além disso, foi nesses filmes que se popularizou o hábito de dar joias como prova de amor e um anel de diamante no ato do pedido de casamento (cultura que até hoje permanece muito forte).
Marilyn Monroe estrelou um filme chamado Os Homens Preferem as Loiras em que está presente a icônica canção “Os diamantes são os melhores amigos da mulher”. Além disso, ela sempre aparecia nos eventos e campanhas publicitárias usando joias de diamantes.
É inegável pensar que até hoje, quando alguém pensa em joia e pedra preciosa, a primeira coisa que vem à cabeça é o diamante.
Novelas da Globo
No Brasil, a emissora de TV Rede Globo se tornou presença constante e permanente durante muitas décadas nas casas das pessoas. Um dos seus principais produtos são as novelas.
As novelas possuem um grande poder de influencia até hoje nas pessoas, não só de consumo mas também de condicionamento de pensamento.
Diariamente, as equipes da emissora recebem contato perguntando marcas das roupas, cor dos esmaltes e produtos usados pelos personagens. Além disso, se tornou comum que as novelas trouxessem temas sociais para o debate, tais como a deficiência visual (personagem Jatobá, interpretado pelo ator Marcos Frota, na novela América) e violência doméstica (Rachel e Marcos, interpretados por Helena Rinaldi e Dan Stulbach, na novela Mulheres Apaixonadas).
Os temas discutidos nas novelas e as realidades vividas pelos personagens também fazem com que os expectadores se identifiquem e naturalizem alguns comportamentos. A emissora constantemente é elogiada ou criticada (dependendo do pensamento ideológico) por mostrar relacionamentos homoafetivos como algo normal, por exemplo.
Filmes de Super-heróis
Desde 2008, com o lançamento do filme Homem de Ferro da Marvel, a indústria do entretenimento e cultura popular foi invadida pelo tema dos super-heróis. São filmes, novos quadrinhos, séries de TV, roupas, brinquedos e colecionáveis, temas de festa de aniversário e tudo o mais onde se pode estampar esses personagens.
Essa nova onda fez com que muitas empresas focassem nesse tema, produzindo filmes para aproveitar essa fama, como a Warner / DC e FOX.
Além disso, é de se notar que a cada filme, os mesmos personagens possuem uma justificativa para mudarem suas roupas, o que permite à indústria do merchandising lançar a cada ciclo os mesmos produtos, só mudando a roupa dos personagens. E quem é fã vai querer ter sempre um de cada…
Indústria Cultural Descomplicada: Cultura de Massa
Um termo que sempre anda junto com Indústria Cultural é Cultura de Massa. Enquanto não sai um artigo dedicado a esse tema, vale o resumo:
Cultura de Massa é o nome que Adorno e Horkheimer deram para o fenômeno de consumidores da Indústria Cultural. Como o nome sugere, esse grupo de indivíduos é transformado em uma grande massa que consome de forma acrítica esses produtos do entretenimento e deixam de se importar em pensar o papel deles em suas vidas, apenas imitando e seguindo as ondas lançadas por essa indústria.
Através de produtos padronizados, que agradam à maioria das pessoas, a arte produzida deixa de ser exclusiva e questionadora, porque ela deve evitar o confronto com os consumidores. Torna-se arte banal.
Lembrem, agora o foco é vender. Por isso, aquilo que é produzido deve agradar ao maior público possível.
Indústria Cultural Descomplicada: Conclusão
Como pudemos observar, Adorno e Horkheimer foram muito críticos das grandes mídias, vendo nelas apenas mais um meio de ganhar dinheiro no capitalismo e anestésico social. Isso ainda vigora nos dias de hoje. Um dos objetivos desse blog, através das suas reflexões nerds, não é negar a teoria frankfurtiana, mas tentar encontrar uma solução, explorando possibilidades de reflexão nos conteúdos dessa cultura nerd / pop. Eu acredito que a arte possui vida própria e consegue superar seus criadores, sendo capaz de “falar” por si mesma (mesmo quando não era essa a intenção dos seus criadores).
Aprofundando o Assunto
Caso queiram aprender mais sobre o tema Indústria Cultural, deixo como sugestão:
Dialética do Esclarecimento (Theodor Adorno e Max Horkheimer)
Indústria cultural (Theodor W. Adorno)
O que é Industria Cultural (Jose Teixeira Coelho Netto)
História da Filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt (Giovanni Reale e Dario Antiseri)
E aí? O que achou desse artigo? Deixa aí nos comentários! Conhece alguém que precisa aprender mais sobre esse tema? Compartilha esse artigo! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Referências
Coleção Ensino Médio 2ª série: Manual do Professor. – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 64 p.: il. (Volume 4)
O cinema e a jóia. Joias de época. Em http://www.joiasdeepoca.com.br/historia-das-joias/atualidade/hollywood-em-tempos-de-quebra/. Acessado em 30 nov. 2020.