Olá, marujos! Hoje, explicaremos o humanismo renascentista de um jeito descomplicado. Esse artigo também servirá como introdução à filosofia renascentista, já que sua principal característica é exatamente a valorização do ser humano. Apresentarei o contexto histórico da filosofia renascentista, a origem do termo humanismo e suas principais características e, por fim, também apresentarei brevemente os mais famosos filósofos humanistas dessa época e suas teorias filosóficas. Vamos lá!
Humanismo Renascentista Descomplicado: Contexto Histórico
O humanismo renascentista é a principal manifestação filosófica do período conhecido como Filosofia Renascentista. Esse período filosófico existiu entre a filosofia medieval e a filosofia moderna.
Existem alguns debates sobre o período histórico da filosofia renascentista. De modo geral, aceita-se que a filosofia renascentista ocorreu nos séculos XV e XVI (o que equivale ao intervalo de anos 1400-1600). Porém, alguns defendem que a filosofia renascentista começou por volta de 1355 (quando provavelmente foi publicada a obra Canzoniere de Petrarca) e terminou em 1637 (quando foi publicado o livro Discurso do Método de René Descartes).
Dentre os fatos históricos importantes desse período que influenciaram a filosofia está a queda de Constantinopla em 1453. Esse acontecimento permitiu a chegada de pensadores orientais no ocidente, trazendo novamente o estudo de Platão e os Neoplatônicos em uma época em que o estudo de Aristóteles era dominante.
A invenção da imprensa em 1430 por Johannes Gutenberg facilitou a criação e difusão de livros, permitindo que as mais diversas obras chegassem a um grande público e com menos controle pelas autoridades políticas e religiosas.
A Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero em 1517 também trouxe grandes impactos para esse momento, confirmando a diminuição do poder da Igreja Católica e permitindo uma diversidade de visões sobre Deus e busca por uma tolerância religiosa.
O mais importante a se destacar é que esse foi um período de transição de pensamento. A visão teocêntrica medieval estava sumindo enquanto que uma visão antropocêntrica moderna estava surgindo.
Humanismo Renascentista Descomplicado: Origens do Termo
O termo humanista, durante o período medieval, se referia ao monge encarregado da biblioteca do mosteiro. A ele cabia saber latim, grego e hebraico para compreender corretamente os textos sagradas e comentários antigos aos textos sagrados.
Posteriormente, o termo ganhou uma conotação de estudo crítico, se referindo àqueles que buscam as fontes originais dos textos estudados e fazem comentários críticos a esses textos, buscando a sua pureza e interpretação original.
Daí, também veio a nova base da educação da época, que substituiria o trivium (gramática, retórica e lógica) pelo chamado studia humanitatis (gramática, retórica, grego, filosofia moral e poesia).
Humanismo Renascentista Descomplicado: Principais Características
Como o nome já sugere, a principal característica do humanismo renascentista está no privilégio da visão humana sobre todas as questões. Surgiu a noção de uma capacidade intelectual ilimitada no ser humano, o que lhe permitiria estudar e comentar qualquer assunto.
O humanismo renascentista, além de valorizar o estudo do grego (para se ler os textos clássicos no original), também defendia a tradução desses textos nas línguas vernáculas (italiano, francês, português, espanhol, neerlandês, alemão, inglês) abandonando aos poucos o latim como única língua gramatical. O objetivo estava na divulgação científica para todas as pessoas, além de uma maior preocupação com o estilo de escrita dos textos (se tornando menos técnicos).
O humanismo também se caracteriza como uma educação com um fim em si mesma, independentemente de sua utilidade prática. Com isso, a visão clássica da filosofia como arte de viver é retomada. Os estudos da ética são novamente valorizados. O humanismo renascentista propunha a dignidade do ser humano.
Entre os humanistas também surge uma crítica aos religiosos que menosprezavam o ser humano (para exaltar Deus) e a produção cultural humana (para valorizar apenas os escritos religiosos).
Humanismo Renascentista Descomplicado: Principais Filósofos
Francesco Petrarca (1304-1374)
Petrarca nasceu em 20 de julho de 1304 na cidade de Arezzo, Itália. Por exigência do pai, chegou a estudar direito, mas abandonou a faculdade e se dedicou ao estudo dos clássicos. Podemos dizer que ele redescobriu os clássicos pois buscou lê-los no seu original e sem a interpretação dada a eles pelos medievais. Ficou famoso pelo seu conjunto de poesias chamado Cancioneiro dedicado a sua amada Laura. Morreu aos 69 anos na cidade de Arquà, Itália em 19 de julho de 1374.
Petrarca é considerado o pai do humanismo. Seus escritos destacavam os valores e qualidades humanos. Defendia que Deus deu ao ser humano um vasto potencial intelectual e criativo, o qual deveria ser usado ao máximo. Acreditava no valor moral e prático da história e da literatura antigas.
Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494)
Giovanni Pico della Mirandola nasceu em 24 de fevereiro de 1463 na cidade de Mirandola, Itália. Desde novo decidiu se dedicar aos estudos. Propôs uma conciliação entre religião e filosofia, publicando 900 teses que, na sua perspectiva, davam conta de todos os problemas da humanidade. Treze dessas teses foram consideradas heréticas pela igreja e ele foi obrigado a se retratar. Morreu aos 31 anos na cidade de Florença, Itália em 17 de novembro de 1494.
O texto mais famoso de Pico della Mirandola é o Discurso sobre a Dignidade do Homem, o qual ele escreveu como uma introdução às suas 900 teses. Para o filósofo, Deus criou o ser humano para que este pudesse admirar a natureza criada por Deus. Dessa forma, o ser humano não seria um ser dentro da cadeia evolutiva (com uma natureza determinada), mas um ser criado à parte (com uma natureza indeterminada). Acreditava que o ser humano poderia mudar a si mesmo através de seu livre-arbítrio. Usando do seu intelecto, o ser humano ascenderia à condição angélica e comungaria com Deus; caso o ser humano não usasse de seu intelecto, descenderia ao nível dos vegetais.
Erasmo da Rotterdam (1466-1536)
Erasmo da Rotterdam nasceu em 28 de outubro de 1466 na cidade de Roterdã, Países Baixos. Erasmo foi um monge que criticou a vida monástica e alguns elementos considerados negativos na Igreja Católica. Decidiu seguir uma carreira acadêmica, mas nunca se fixou em algum lugar. Viajou por várias cidades europeias. Foi um dos primeiros a traduzir textos bíblicos para línguas vernáculas. Morreu aos 69 anos na cidade de Basileia, Suíça em 12 de julho de 1536.
Erasmo da Rotterdam foi um cristão católico que se manteve fiel a sua religião até a morte. Porém, foi um grande crítico das práticas religiosas da época. A sua principal crítica estava no formalismo da religião cristã medieval. Em outras palavras, o filósofo criticou a prioridade que a Igreja dava às formas como o culto era praticado enquanto negligenciava as motivações originais da fé. Erasmo entendia que a Igreja Católica precisava retornar as suas práticas primitivas, que tinham menos pompa e mais piedade. O filósofo também foi muito crítico dos abusos da Igreja, seu envolvimento com políticas de Estado, perseguição aos não-cristãos e a falta de exemplo moral do clero. Seguindo a prática humanista de retornar às fontes, Erasmo buscou fazer novas traduções dos textos bíblicos originais para retirar possíveis más interpretações medievais. Também traduziu vários Padres da Igreja. Porém, seu livro mais famoso é Elogio da Loucura, uma sátira em que o filósofo faz várias críticas a costumes, práticas, corrupções e pensamentos equivocados da Igreja da época.
Michel de Montaigne (1533-1592)
Michel de Montaigne nasceu em 28 de fevereiro de 1533 na cidade de Saint-Michel-de-Montaigne, França. Era de família nobre e inicialmente se dedicou ao Direito. Trabalhou como magistrado até a morte do seu pai, quando assumiu o título e as terras da família. Foi casado e teve seis filhos (com apenas uma menina sobrevivendo). Michel tentou ao máximo ficar em suas terras e se dedicar aos estudos e escrever, mas vez ou outra era convocado pelo rei para resolver problemas administrativos do Estado. Por ter sido nomeado cavaleiro, é provável que participou de guerras e também tenha atuado como diplomata. Montaigne morreu aos 59 anos em seu castelo, na cidade de Saint-Michel-de-Montaigne, França em 13 de setembro de 1592.
Michel de Montaigne é conhecido por ter criado o gênero literário ensaio. Ensaios são textos de reflexão pessoal do autor sobre um determinado assunto sem a intenção de esgotá-lo (ou seja, sem uma preocupação em dar uma resposta final sobre o assunto). O filósofo publicou três volumes do seu livro intitulado Ensaios, em que reflete sobre diversos temas de interesse pessoal. Seus temas vão desde grandes questões da humanidade, como a morte, até temas banais como flatulência (no jargão popular “peido”). Em sua obra, o filósofo mais pergunta do que responde, mostrando que ele mais tem a aprender e refletir sobre o que lê do que exatamente ensinar. Em seus textos, o filósofo acaba demonstrando a existência de uma subjetividade, que não tem todas as respostas e precisa refletir para agir diante de cada ação, nunca tendo uma resposta certa para todos os seus dilemas. Para o filósofo, o ser humano não é um ser constante (ao contrário, é um ser inconstante) e, por isso, sempre está mudando, se adaptando, revendo seus conceitos.
Humanismo Renascentista Descomplicado: Ensinando esse Conteúdo
Caso precise ensinar esse conteúdo em sala de aula e queira fazer alguma coisa diferente, recomendo a leitura do artigo: Ensinando Humanismo através de Dinâmica: Dinâmica do Espelho.
Humanismo Renascentista Descomplicado: Principais Obras e Comentário
Humanismo Renascentista Descomplicado: Conclusão
O humanismo renascentista é o coração da filosofia renascentista e estopim para todas as mudanças que ocorrerão durante a modernidade e que culminarão no Iluminismo. Como vimos, a religião não desapareceu, mas aqueles que permaneceram fiéis na fé, não relutaram em apontar os problemas da religião cristã. A partir do humanismo renascentista, os campos do saber se voltam para o ser humano, tanto como objeto de estudo como também sujeito capaz de compreender por si só a si mesmo e a natureza.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Referências
WIKIPÉDIA. Verbetes Filosofia Renascentista (inglês, francês, italiano e alemão), Humanismo Renascentista (português, italiano e alemão), Francesco Petrarca (português, inglês e italiano), Giovanni Pico della Mirandola (português e italiano), Erasmo da Rotterdam (português, inglês e italiano), Elogio a Loucura (inglês) e Michel de Montaigne (português e francês).