Olá, marujos! Hoje, vamos explicar a ética de Santo Agostinho de uma forma descomplicada. A ética de Santo Agostinho é conhecida como a Ética do Amor. Por isso, vamos explicar quem é Santo Agostinho, o que ele entende por amor, sua teoria da ordem dos seres e ordem do amor e como ela culmina no chamado amor fraterno. Vamos lá!
Sobre Santo Agostinho
Agostinho foi um filósofo medieval. Ele começou sua vida intelectual sendo agnóstico, mas depois se converteu ao cristianismo.
Sua dedicação à igreja o fez escolher se monge e, depois, foi escolhido para ser padre e bispo.
Seus escritos filosóficos buscam principalmente compreender quem é o ser humano, como ele pode ser livre e feliz e porquê existe o mal no mundo.
Suas respostam racionais se baseiam muito na filosofia neoplatônica. Contudo, ele não nega a revelação bíblica. Sua filosofia e teologia se combinam para encontrar o equilíbrio perfeito que ajudará o ser humano a se salvar e ser feliz porque, para ele, tudo culmina no amor a Deus.
Para saber mais da vida de Santo Agostinho, recomendo: Santo Agostinho Descomplicado: Biografia e Filosofia.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: O que é o Amor
Para Santo Agostinho, o amor no ser humano é uma força natural (ou seja, faz parte necessariamente) do ser humano que o impele para algo. Em outras palavras, podemos dizer que o amor é uma força que impulsiona o ser humano a agir, entendendo esse agir, como fazer qualquer coisa.
Agostinho compara o amor à gravidade. Se a gravidade é uma força que puxa os corpos para o repouso físico, o amor é uma força que puxa o ser humano para o repouso beatífico (que seria a felicidade). Dessa forma, tudo o que o ser humano faz, faz por amor e tem, como objetivo último, ser feliz, encontrar a felicidade.
Se não fosse o amor, o ser humano seria um ser inerte, não teria disposição para fazer nada!
O amor também é o motor da vontade. Vontade é a faculdade da alma humana que nos permite ir em direção a algo, nos mover (no sentido de sermos atraídos para fazer algo). Quem ativa / desperta essa vontade para agir é o amor. É o amor que dá a partida para que saiamos da inércia em nossas vidas e façamos algo dela.
Sendo assim, tudo o que fazemos, fazemos por amor, sejam as coisas boas ou as coisas ruins. Logo, a preocupação de Santo Agostinho é entender como direcionar o amor para só fazer coisas boas e, com isso, alcançar o objetivo último do ser humano, que é ser feliz!
É interessante pensar que, para Agostinho, normalmente erramos querendo acertar porque tudo o que fazemos tinha como objetivo alcançar a felicidade. Porém, devido a não compreensão do que nos traz a verdadeira felicidade, amamos as coisas de forma errada, ou deixamos nosso amor nos guiar para coisas erradas.
Logo, precisamos ordenar, no sentido de colocar em ordem, o nosso amor para que ele ame de forma correta e, com isso, alcançarmos a felicidade.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: A Ordem do Amor
Em sua Antropologia Filosófica, Santo Agostinho concluiu que existe uma ordem ontológica ou, podemos chamar, uma ordem natural dos seres criados por Deus.
Em ordem crescente temos:
Os que existem apenas;
Os que existem e estão vivos; e
Os que existem, estão vivos e têm consciência que estão vivos (raciocinam).
Acima de todos os seres criados está o próprio Deus, como ser criador.
Além disso, também é racional pensar que aquilo que cria é superior ao que é criado, e os seres com mais atributos dignos são seres com maior grau de perfeição.
Com isso, temos a seguinte ordem decrescente de perfeição:
Deus (sendo o ser perfeito);
Os seres que existem, estão vivos e têm consciência que estão vivos (raciocinam);
Os seres que existem e estão vivos;
Os seres que apenas existem.
Por fim, também é lógico pensar que a felicidade está naquilo que é perfeito porque é o próprio bem, enquanto que aquilo que não é perfeito não poderá nos preencher plenamente de felicidade.
Logo, nós só conseguiremos a felicidade se amarmos prioritariamente a Deus e sob todas as demais coisas.
A virtude, para Agostinho, consiste exatamente em saber a ordem correta de amar e respeitar essa ordem. É por isso que ser virtuoso é ser feliz.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: Fruir e Utilizar
O fato de só alcançarmos a felicidade plena em Deus não significa que devemos ignorar todas as suas criações. Isso seria um absurdo porque nós somos uma criação de Deus!
Sendo assim, faz parte da essência humana amar também a criação divina. Porém, como já deu para se perceber, o amor dedicado à criação não pode ser maior do que o amor dedica a Deus.
Para fazer uma correta distinção na forma de amar, Santo Agostinho se utiliza de dois conceitos: fruir e utilizar.
Fruir, para o filósofo, é a forma de amar a Deus. Fruir significa desfrutar, gozar de algo. Para ele, fruir é depositar todo o nosso amor em algo, e isso só pode ser feito com Deus. Ou seja, o único ser em que podemos dedicar todo o nosso amor nesse ser em si é o próprio Deus, que é o Amor.
Já as demais coisas, que ele chama de bens temporais, devem ser utilizadas. Isso quer dizer que tudo o que amamos que não seja Deus deve ser amado como um meio para se chegar a Deus. Ou seja, todas as coisas criadas são meios, e não um fim. Podemos e até devemos amar a criação divina, mas entendendo que elas são formas de se chegar a Deus.
Dentre os bens criados e corpóreos, como já deve ter ficado claro, também existe uma ordem de amar. Logo, devemos amar prioritariamente os seres humanos (que são os seres que existem, vivem e raciocinam), depois os demais seres vivos e, por últimos, as demais coisas.
O amor aos seres humano se subdivide em amor próprio e o amor fraterno. O amor próprio é o cuidado consigo mesmo, tanto do corpo quanto da alma (lembrando sempre que esse amor é do estilo de utilidade, ou seja, é a preservação do corpo e da alma e não uma dedicação aos prazeres do corpo e da alma como se esse fosse o maior bem). Já o amor fraterno é o amor ao próximo.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: O Amor Fraterno
O amor fraterno é, para Santo Agostinho, a maior manifestação de amor que podemos ter para com os bens criados.
Agostinho, como vimos na sua antropologia filosófica, coloca o ser humano como criatura superior de Deus. Dessa forma, percebemos que Deus ama muito os seres humanos.
Logo, é uma prova de amor a Deus quando nós nos dispomos a ajudar o próximo, socorrendo-o em suas necessidades.
Segundo Agostinho, não tem como verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo. Além disso, o amor ao próximo é uma forma de se chegar a Deus já que Deus é amor.
Agostinho sabe que não dá para uma pessoa resolver todas as necessidades de todos os seres humanos. Por isso, devemos, primeiramente, nos esforçar em cuidar das pessoas mais próximas a nós: família, amigos e comunidade local.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: Exemplos
Para exemplificar a ética agostiniana, podemos pensar alguns exemplos hipotéticos:
a) É domingo e terá uma celebração religiosa na sua comunidade à noite; e você foi convidado para assistir uma partida de futebol. Nesse caso, você deve ir para sua celebração religiosa à noite e não ir no jogo se não puder ir na celebração religiosa em outro horário ou se essa celebração religiosa for especial.
b) Seu amigo lhe pede ajuda para estudar para prova e você já tinha planos de ir ao cinema ver a estreia de um filme novo. Nesse caso, você deve ajudar seu amigo com os estudos.
c) Você vê um animal abandonado numa região que também tem alguns mendigos. Nesse caso, você deve usar seu dinheiro para ajudar os mendigos (comprando comida, por exemplo) do que gastá-lo resgatando o animal.
d) Você adotou um cachorrinho e ele não para de destruir seus chinelos. Nesse caso, você não pode abandoná-lo. Ou você o adestra ou tira de perto dele coisas que ele possa destruir.
e) Um colega de trabalho diz que está com dificuldades financeiras e pede sua ajuda para desviar parte do dinheiro da empresa. Não só porque é crime, mas porque também é algo que vai contra os mandamentos de Deus, você deve recusar essa ajuda e ajudar seu amigo de outra maneira.
Ética de Santo Agostinho Descomplicada: Conclusão
Dessa forma, vemos que a ética do amor de Santo Agostinho nos direciona para o agir bem para consigo mesmo e para com as demais pessoas, bem como no cuidado com a natureza (que é também criação divina). Porém, nada disso pode ser mais importante que o amor a Deus. A ética do amor nos mostra que se soubermos amar as coisas na ordem correta, alcançamos a virtude e também a felicidade. Com isso, faz todo o sentido a famosa frase de Agostinho: “ama e faze o que quiseres”.
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Até a próxima tenham uma boa viagem!
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Referências
LIMA, João Paulo A. P. A ética do amor em Santo Agostinho. Fortaleza, 2017. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Instituto de Cultura e Arte, Universidade Federal do Ceará.