Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Ilusões de Ótica, Matrix e Pegadinha Matemática

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Ilusões de Ótica, Matrix e Pegadinha Matemática

Olá, marujos! Hoje, mostrarei como vocês podem estar ensinando a teoria do conhecimento de Descartes através de uma série de atividades. Brincaremos com ilusões de ótica, veremos um trecho do filme Matrix (1999) e contaremos uma pegadinha matemática para mostrar aos alunos que as dúvidas cartesianas fazem muito sentido. Tudo isso para, depois, vermos como ele escapará dessas dúvidas através das suas certezas. Vamos lá!

Recordando a Teoria Filosófica

René Descartes é conhecido como o pai do racionalismo e sua teoria do conhecimento mostra como ele chegou à conclusão que o conhecimento começa na razão humana.

Buscando um conhecimento indubitável, o filósofo pôs todas as fontes de conhecimento em dúvida para ver se alguma delas era à prova de falhas. Esse método recebeu o nome de dúvida metódica e consistia em duvidar de três coisas: dos sentidos, da realidade e da matemática.

Segundo as conclusões de Descartes, todas as fontes investigadas apresentavam falhas e, por isso, não poderiam ser a fonte de um conhecimento 100% verdadeiro.

Porém, ao colocar tudo em dúvida, ele percebeu que a dúvida em si era uma certeza (“posso duvidar de tudo, menos de que duvido”). E da certeza da dúvida, ele chegou às demais certezas: eu existo, Deus existe, o mundo existe.

Para conhecer com mais detalhes esse pensamento filosófico, recomendo a leitura dos textos: Dúvida Metódica Descomplicada: Teoria do Conhecimento de René Descartes e Certezas de Descartes Descomplicadas.

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Ilusões de Ótica

Apresentação

Essa atividade é para ser feita no começo da aula.

Mostraremos aos alunos como os sentidos podem enganá-los. Para isso, apresentaremos uma série de ilusões de ótica.

As ilusões:

  1. Canudo que se divide na água;
  2. Rosto ou Taça
  3. Mulher ou Caveira
  4. Buraco ou Cone
  5. Parado ou Em Movimento

Preparação

Para o canudo que se divide na água, você precisará de um canudo e de um copo transparente com água. Para as demais ilusões, você pode baixar e reproduzir as imagens que deixarei aqui (clique em cada imagem para ampliá-la) em uma TV ou imprimi-las para mostrar aos alunos (eu só não sei se a imagem do “parado ou em movimento” mantém seu efeito quando impressa).

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Rosto ou Taça Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Mulher ou Caveira Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Buraco ou Cone Parado ou Em Movimento

Crédito das imagens: Desconhecido / Google Imagens

Execução

Leve o material para sala de aula.

Mostre o canudo inteiro e pergunte aos alunos “o canudo está inteiro ou dividido?”. Todos responderão “inteiro”. Coloque o canudo na água e ele aparentará estar dividido. Refaça a pergunta e você ouvirá respostas divididas. Questione o que é a realidade e o que é que os olhos deles estão mostrando.

Depois, mostre as imagens do “rosto ou taça” e “mulher ou caveira” e pergunte o que eles veem. Alguns verão uma coisa e outros verão outra. Deixe um tempo para eles se espantarem e então mostre, apontando com o dedo, como identificar cada uma das imagens para que os alunos consigam enxergar a ambiguidade.

Seguindo, mostre a imagem “buraco ou cone” e pergunte se eles veem um buraco ou um cone. Provavelmente, a turma se dividirá. Novamente, dê um tempo para eles e então mostre como enxergar os dois sentidos do desenho.

Por fim, mostre a imagem “parado ou em movimento” e questione se aquilo que eles estão vendo está parado ou em movimento. Se mostrar na TV, você pode questionar com eles se é uma imagem ou um vídeo. Após o debate inicial, confirme que é uma imagem e que apenas existe a ilusão dela estar se movimentando.

Relacionando a Atividade com a Disciplina

Explique quem foi Descartes e qual era a sua proposta com a Dúvida Metódica. Avance mostrando que seu primeiro questionamento foi como os sentidos não podem ser confiáveis para nos dar uma informação 100% certa e verdadeira.

Como as ilusões dessa atividade focam apenas na visão, você pode dar outros exemplos práticos para eles que envolvam outros sentidos: escutar um som de grilo, mas não é o animal grilo e sim uma reprodução no celular; sentir o cheiro de rosas e não ser a flor rosa, mas um perfume ou produto de limpeza; e comer uma bala com sabor de uma fruta, mas não ter fruta nos ingredientes, sendo tudo artificial.

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Trechos de Matrix (1999)

Apresentação

Agora, o professor vai passar um trecho do filme Matrix (1999) para os alunos como forma de fazê-los questionar a realidade.

Preparação

Deixarei o trecho do filme aqui embaixo. Você pode reproduzir diretamente para eles ou baixar e reproduzir em uma TV, com auxílio de um pen drive.

Execução

Mostre o vídeo para os alunos pedindo para eles questionarem junto com Neo e Morpheus o que é a realidade.

Relacionando a Atividade com a Disciplina

Descartes usará o argumento do sonho para questionar a nossa noção de realidade. Você pode até reproduzir esse exemplo com os alunos perguntando a eles quem já teve um sonho ou pesadelo tão real que parecia ser verdade até a hora em que acordou. Todos ou a maioria levantarão a mão dizendo que já passaram por essa situação. Nisso, o professor pode brincar questionando-os se aquela aula é real ou um sonho (ou pesadelo)…

Mas voltando ao trecho do filme, Matrix é cheio de situações em que questionamos o que é realidade ou ilusão. A trama principal até gira em torno disso, do protagonista saindo do mundo virtual para o mundo real, descobrindo que vivia uma ilusão. O trecho que selecionei mostra um pouco disso em uma cena de ação, para manter os alunos mais atentos, mas o professor pode falar de outras cenas do filme (especialmente se eles já o viram antes, talvez em outra aula).

Concluindo, se não dá para ter certeza que esse momento que estamos vivendo é um sonho ou uma ilusão da Matrix, então não podemos confiar na nossa percepção de realidade.

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Pegadinha Matemática

Apresentação

Como última atividade, a proposta é passar uma pegadinha matemática aos alunos.

Eu chamo de pegadinha porque a história cria propositalmente um erro de conta que normalmente passa despercebido pelos ouvintes. Então, no final da história, eles não conseguem entender como que a conta não fecha.

Se existisse solução real, seria um desafio de lógica. Mas como a história é feita para enganar o ouvinte desatento, eu chamo de pegadinha.

Ela servirá para ilustrar aos alunos como podemos ser facilmente enganados pela “matemática”, ou melhor, pela forma como acreditamos cegamente na matemática.

Preparação

Bom, vou contar aqui para vocês essa pegadinha e o erro dela para vocês poderem contar aos seus alunos e depois explicarem a solução:

“Três amigos vão em uma pizzaria e pedem uma pizza. No final, o valor total da conta é R$25,00. Cada amigo entrega uma nota de R$10,00 ao garçom, totalizando R$30,00, e este leva as notas até o caixa, que lhe devolve cinco moedas de R$1,00 como troco. O garçom entrega as moedas aos amigos e eles percebem que não dá para dividir igualmente o troco e, por isso, resolvem fazer o seguinte: cada amigo pega uma moeda de R$1,00 e deixa R$2,00 de gorjeta ao garçom”.

Ai vem o “desafio”: se cada amigo entregou R$10,00 e pegou R$1,00 de volta do troco, então, na prática, cada um pagou R$9,00 no final. R$9,00 vezes três amigos dá R$27,00. O garçom ganhou R$2,00 de gorjeta. R$27,00 dos amigos mais R$2,00 da gorjeta dá R$29,00. Porém, lá no começo, os amigos pagam um total de R$30,00. Cadê o R$1,00 dessa diferença?!?!?!?!

A resposta é simples: não existe erro na conta e sim na interpretação do problema. Os amigos pagaram R$27,00 no total da conta: R$25,00 da pizza e R$2,00 de gorjeta. O problema é causado propositalmente porque o narrador mistura o valor total pago no final com a gorjeta do garçom querendo chegar no valor das notas dado lá no começo, induzindo o ouvinte ao erro.

Execução

Questione os alunos se a matemática sempre está certa. Eles dirão que sim. Daí, conte a eles a pegadinha dizendo que é um desafio de lógica matemática e prometa dar pontos para quem solucionar.

Tenho certeza que será um alvoroço e um desespero porque dificilmente alguém perceberá a pegadinha porque eles já partem da confiança no professor de que é um desafio o qual possui resposta adequada e não que eles estão sendo enganados.

Se alguém descobrir a pegadinha, lhe dê os parabéns e os pontos. Se ninguém descobrir depois de um tempo, dê você mesmo a “solução”.

Relacionando a Atividade com a Disciplina

A dúvida da matemática e das operações intelectuais é a mais complicada de se explicar porque Descartes usa o argumento do Gênio Maligno que é, a princípio, uma forma de “roubar no jogo”. Por isso, prefiro adaptar a explicação aos alunos mostrando que, na verdade, podemos desconfiar de tudo o que aprendemos porque tudo o que aprendemos, aprendemos de alguém e essa pessoa poderia estar nos ensinando errado por ter aprendido errado ou para nos enganar de propósito.

É aí que entra a pegadinha matemática, para ilustrar que o professor conseguiu induzir os alunos ao erro muito facilmente. Além disso, pode-se perguntar se eles já questionarem tudo o que aprenderam dos professores na escola ao longo da vida, se eles já buscaram verificar se as informações estavam de fato certas ou eles só confiaram nos professores.

Uso esses exemplos para depois puxar o gênio maligno cartesiano como a forma que o filósofo encontrou de ilustrar essa falta de certeza que existe na matemática e nas demais operações intelectuais: e se várias coisas que aprendemos ao longo da vida está errado? Se sabemos que pelo menos uma vez fomos enganados (como agora, nessa atividade), como podemos confiar 100% naquilo que aprendemos como certo?

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: As Certezas

Bom, eu pensei em atividades lúdicas apenas para a primeira parte da aula, que são as dúvidas. A segunda parte da aula eu explico de forma teórica mesmo. Até porque preciso repetir umas dez vezes a lógica do “posso duvidar de tudo, menos de que duvido. Então a dúvida é uma certeza. Se existe dúvida, existe pensamento porque duvidar é uma forma de pensar. E se existe pensamento, existe alguém que pense esse pensamento. Logo, eu existo” porque isso é tão surreal para eles que eles ficam “bugados” e pedem para repetir várias vezes para compreenderem o argumento.

Depois dessa, seguem as demais certezas de que Deus existe e o mundo existe. Seguindo uma explicação tradicional mesmo.

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Interdisciplinaridade

Essa aula pode ser dada junto com o professor de física, de artes e de matemática.

Na primeira atividade, temos a ilusão ótica do canudo na água que pode ser explicada pela física. O professor de física pode intervir nessa hora com seu conhecimento.

Ainda na parte das ilusões de ótica, temos os desenhos que parecem duas coisas diferentes dependendo de como se olha. Existem vários outros desses desenhos e acho que tem até um nome para essa técnica. O professor de artes pode intervir com seu conhecimento nesse momento.

Por fim, na terceira atividade, que envolve a matemática, o professor dessa disciplina pode colaborar com outras brincadeiras matemáticas que ele conheça e também dar dicas de como não cair nessas pegadinhas.

Ensinando a Teoria do Conhecimento de Descartes através de Atividades: Conclusão

Diferentemente de outras aulas lúdicas, essa é uma em que as atividades lúdicas só atendem uma parte da aula, deixando a outra parte totalmente teórica. Mesmo assim, não vejo grandes problemas porque o aluno já fica bem envolvido com as atividades da primeira parte e continua engajado na segunda parte. Depois de ele ser surpreendido com as dúvidas, ele estará ansioso para conhecer as certezas.

E aí? Alguma parte ficou confusa? Deixa sua dúvida nos comentários! Conhece algum professor de filosofia? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros conteúdos de teoria do conhecimento para receberem uma aula diferenciada? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.