Olá, marujos! Hoje teremos um artigo que explicará a Dúvida Metódica de Descartes de uma forma descomplicada. Vamos explicar quem foi René Descartes, o que é esse conceito de Dúvida Metódica e quais foram as dúvidas que ele teve e que pôs em questionamento praticamente tudo. Claro que essa explicação será feita de um jeito mais simples, descomplicado, e com exemplos para ajudar você a entender essa teoria. Podemos dizer que essa será a primeira parte, em que irei abordar as dúvidas, de um grande artigo. Você poderá ler a segunda parte, que trará as certezas, aqui. Vamos lá!
René Descartes
Descartes nasceu em La Haye en Touraine no ano de 1596, França. Aos oito anos foi estudar em um colégio jesuíta, onde teve contato com o estilo escolástico de ensino, que ele considerou complicado. Ele se formou em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Chegou a tentar a carreira militar, mas desistiu. Viajou por várias cidades europeias e escreveu diversas obras nas áreas de matemática, ciências naturais e filosofia. Morreu em 1650. É considerado o criador do método científico, pai da filosofia moderna e fundador da corrente filosófica Racionalismo Moderno.
Dúvida Metódica
Descartes queria encontrar a certeza mais fundamental que existisse, que serviria como base para todo o conhecimento possível, especialmente para a ciência. Ao mesmo tempo em que ele era dogmático, ou seja, acreditava que existiam verdades absolutas; ele precisou ser cético para questionar tudo aquilo que ele tinha até então aprendido como fundamento da verdade. Dito de outra forma, Descartes se propôs a duvidar de tudo aquilo que até então era tido como garantidor das verdades do mundo. Seu método para encontrar o fundamento da verdade foi colocar tudo em dúvida, até encontrar a única coisa da qual não se poderia duvidar, torando isso o fundamento de todas as certezas humanas.
Seu método aplicado consistia em questionar uma a uma as possíveis certezas absolutas e ver se todas elas eram à prova de questionamentos. Devemos deixar claro aqui que, para ele, se existisse qualquer possibilidade, mínima que fosse, de que aquela certeza absoluta não era tão absoluta assim (ou seja, pudesse errar), deveria ser descartada. Para ele, uma certeza fundamental deve ser um princípio seguro, claro, preciso e distinto (ou seja, inquestionável).
As Dúvidas e os Argumentos
Primeira Dúvida / Argumento do Erro dos Sentidos.
Descartes considera que a primeira hipótese que temos sobre a certeza das coisas é o fato dos nossos sentidos nos mostrarem como que as coisas são. Logo, através do nosso tato, olfato, paladar, audição e visão somos apresentados ao mundo tal como ele é de fato. Será mesmo? O filósofo percebe que por mais que na maioria das vezes os nossos sentidos nos dão explicações válidas e garantidas de como o mundo é, às vezes eles falham.
Olhe agora para o céu e veja o tamanho do sol ou da lua. O tamanho que você está de fato enxergando deve ser de uma bola de futebol ou basquete; e se for a lua, talvez nem enxergue um círculo. Entretanto, por mais que seus olhos não estejam vendo, você sabe que o sol e a lua são muito maiores do que isso (e que a lua não tem um formato de “sorriso”). Outro exemplo pode ser o cheiro de rosas: se você chegar em casa e sentir esse aroma, provavelmente é tudo o que se possa imaginar (perfume, desinfetante, desodorizante, amaciante), menos a flor rosa. Inclusive, podemos até mesmo observar que, ao cheirarmos uma rosa, o seu cheiro é bem diferente desses produtos que dizem ter o cheiro de rosas.
Resumindo: os sentidos erram, eles podem nos enganar, nos confundir, às vezes. Logo, não são eles a certeza fundamental.
Segunda Dúvida / Argumento do Sonho.
Ok. Podemos concordar que os nossos sentidos podem se confundir. Mas não podemos duvidar que de qualquer forma, os sentidos captam algo. Ou seja, existem coisas sensíveis. Para ficar mais claro: eu posso errar o tamanho do sol, mas não poderia negar que ele existe. Eu posso errar a origem do cheiro de rosas, mas existe alguma coisa que está soltando esse cheiro. Será?
Descartes utiliza nesse momento o argumento do sonho, que consiste em colocar à prova a nossa percepção de realidade. Pensa comigo: você já teve um sonho (ou pesadelo) tão intenso que parecia real, que te fez inclusive acordar? Pode ser sonhar que está caindo ou que tem algum bicho na cama, ou que você finalmente ficou com aquela pessoa que tanto queria… Então, pareceu bem real na hora, né? Mas não era!
O inverso também poderia ser aplicado, apesar de mais “raro”: você já teve alguma experiência tão intensa (seja boa ou má) que você não conseguia acreditar que aquilo era real? Como se só pudesse ser um sonho ou pesadelo? Uma situação que você ficou torcendo para acordar (ou não acordar)? Então, esse seria o exemplo reverso dali de cima.
Em ambos os casos, você foi capaz de, por alguns segundos, questionar o que era realidade e o que não era. Você hesitou. E se hesitou, não se pode mais dizer que “o fundamento da certeza sobre tudo está no fato de que ‘garantidamente’ as coisas sensíveis existem”. Eu sei que pode parecer absurdo o que eu vou falar aqui, mas vamos “viajar” junto com essa teoria: e se esse mundo que conhecemos não passa de um jogo de videogame e nós somos como os personagens de The Sims ou Minecraft? Tudo o que nos pareceu “real” é apenas “virtual”.
Resumindo: não podemos considerar como certeza fundamental a existência de uma realidade sensível.
Terceira Dúvida / Argumento do Gênio Maligno.
Essa é a dúvida mais “profunda” de Descartes. Tão profunda que chega a ser confusa e até, em uma primeira vista, “boba”. Mas vamos tentar entender o filósofo… Primeiro, vamos lembrar que nesse momento eu não posso confiar nos meus sentidos (ou seja, no meu corpo físico) e nem na realidade sensível (ou seja, as coisas que estão no mundo). O que nos sobrou então?
Descartes vai dizer que ainda, a princípio, nos sobraria a certeza matemática e demais operações intelectuais. Ou seja, mesmo em sonho, seria impossível pensar que 2 + 3 seja outra coisa além de 5. A princípio, a matemática não falharia. Outra interpretação desse argumento seria que o nosso raciocínio lógico, ou seja, nossa capacidade de fazer operações mentais continuaria funcionando (tanto é que a gente acorda do sonho/pesadelo). Mas e se aquilo que estamos pensando não corresponde à verdade? E se 2 + 3 não é igual a 5 e estamos sendo enganados desde sempre?
Descartes usa aqui o chamado argumento do Gênio Maligno. Esse gênio seria um ser tão poderoso quanto Deus, mas capaz de fazer maldade. Sendo tão poderoso quanto o criador, ele poderia simplesmente ter alterado nossa mente, para que achássemos que estávamos fazendo os cálculos de forma correta, mas na verdade não estamos. Isso também serviria para todo o raciocínio lógico que somos capazes de desenvolver.
Aqui, precisamos dar uma pausa e esclarecer umas coisas: 1. Descartes não usou o próprio conceito de Deus como ser que nos engana porque, segundo ele, o conceito de Deus inclui a perfeição. E se é perfeito, é plenamente bom. E se é plenamente bom, não poderia nos enganar; 2. Naquele tempo, a Igreja Católica ainda detinha um poder de condenar pessoas e livros como héticos (contra a fé) e Descartes não queria correr riscos desnecessários; 3. A crença em Deus ainda era fortíssima, e a imaginação de um ser todo-poderoso, só que mal, era fácil de ser compreendido e aceito.
Mas voltando ao argumento, tente pensar o seguinte: imagine que seus professores de matemática te ensinaram tudo errado. Que as formas como eles fazem os cálculos estão erradas. Isso ocorreu porque eles aprenderam errado, porque os professores dos seus professores aprenderam errado e assim sucessivamente… Será que hoje, depois de tantos anos do surgimento da matemática, não seria possível imaginar que se alguém, em algum momento, ensinou errado propositalmente um conceito básico de matemática, esse conceito iria ser passado de forma errada sem nem desconfiarmos? Então! Se a resposta foi “sim!”, você duvidou. E se duvidou, não pode mais tomar isso como certeza absoluta!
Resumindo: não podemos confiar na matemática e nas nossas operações intelectuais.
Dúvida Metódica Descomplicada: Resumo
Eu acho que a explicação das três grandes dúvidas de Descartes de forma separada, detalhada e exemplificada não te deixou mais dúvidas, né? kkkk… De qualquer forma, só para reforçar e concentrar novamente: Descartes resolveu que a melhor forma de encontrar uma certeza infalível é por tudo em dúvida e descartar qualquer “pseudo-verdade” se ela mostrar que pode falhar, mesmo que de forma temporária. Para realizar seu método, ele vai desde o pensamento mais superficial até o mais profundo, sempre dando um jeito de mostrar que aquilo que parecia garantido, não é bem assim.
Dúvida Metódica Descomplicada: Outras Mídias
Um excelente filme que brinca com essa noção de dúvida e questionamento da realidade é Matrix. Uma opção mais leve de filme é Uma Aventura LEGO, onde vemos as peças se comportarem como se aquele mundo que elas vivem fosse real (sendo que você sabe que tudo não passa de uma brincadeira de “faz-de-conta” de uma criança).
Dúvida Metódica Descomplicada: Conclusão
Como eu disse lá no começo, esse artigo focou apenas nas dúvidas. Nesse outro, você poderá descobrir como ele chegou às certezas. Se sua cabeça “explodiu” com essas dúvidas cartesianas, é um bom sinal. Significa que você estava disposto a experimentar a proposta metodológica do filósofo, e as certezas farão muito mais sentido para você!
E aí? Consegue dar outros exemplos para ilustrar as dúvidas cartesianas? Deixa aí nos comentários! Quer fazer a cabeça de algum amigo seu “explodir”? Compartilha com ele esse artigo sobre a Dúvida Metódica Descomplicada! Ainda não conseguiu entender esse tema? Entra em contato comigo que eu te ajudo!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!