Olá, marujos! Hoje, vou lhes apresentar o filósofo Baruch Espinoza de um jeito descomplicado. Esse é um importante filósofo moderno, grande representante do racionalismo e crítico da religião judaico-cristã. Vou apresentar os principais fatos de sua vida e também explicar de forma breve suas principais contribuições filosóficas, deixando links para explicações mais detalhadas. Vamos lá!
Baruch Espinoza Descomplicado: Biografia
Origem Familiar e Infância
Baruch Espinoza nasceu em 24 de novembro de 1632, em Amsterdã (Países Baixos). Ele era de uma família judia sefardita portuguesa, que fugiu para os Países Baixos devido à inquisição portuguesa. Por isso, Espinoza tinha como língua nativa o português, apesar de ser fluente também em espanhol, holandês e hebraico. Posteriormente, ele também aprendeu latim.
Pelos registros, seu nome de batismo parece ser Baruch Espinosa (com ‘s’ em vez de ‘z’). Contudo, no dia a dia, quando jovem, era comum ser chamado de Bento ou Benedito (traduções para o português do hebraico Baruch). Posteriormente, o próprio filósofo mudou seu nome para uma versão latina que seria Benedictus de Spinoza (tradução literal do seu nome, mas com o acréscimo de um ‘de’ entre o nome e o sobrenome). Por essa razão é possível também encontrar referências ao filósofo como Baruch de Espinoza ou Baruch de Espinosa. Como veem, existem muitas formas de se referir a esse pensador…
Seu pai se chamava Miguel e sua mãe, Anna Deborah. Ele também tinha uma irmã chamada Rebecca e um irmão chamado Gabriel. Sua mãe morreu quando ele tinha entre seis e dez anos (os relatos biográficos não são precisos). Já o pai, que era comerciante, morreu quando Baruch tinha entre 20 e 22 anos, durante a primeira guerra anglo-holandesa.
Acredita-se que na infância ele teve uma educação tradicional daquela época, estudando na yeshiva (escola judaica-religiosa). Desde pequeno, Baruch Espinoza demostrou muita aptidão pelos estudos religiosos, lendo muito bem a Torá e o Talmude (comentários judaicos à Torá). Porém, ele tinha uma leitura muito crítica, já apresentando certas oposições às formas como os livros sagrados eram compreendidos.
Juventude e Excomunhão
Entre 1652 e 1654, quando Espinoza tinha 20-22 anos, ele se aproximou de Franz van den Ende, um ex-jesuíta que tinha uma escola. Alguns relatos dizem que ele foi para lá trabalhar como professor, já outros dizem que ele foi estudar. Fato é que foi nessa época que ele dominou o latim e teve acesso às obras de vários filósofos, em especial René Descartes que muito lhe influenciou.
Existe um relato não confirmado que Espinoza se apaixonou pela filha de van den Ende, de nome Clara Maria. Contudo, a jovem o teria rejeitado para ficar com um rico aluno de seu pai. Esse fato teria feito com que Espinoza decidisse não mais se preocupar com relacionamentos amorosos (e, de fato, ele nunca se casou nem se envolveu com ninguém).
Com a juventude, Espinoza só aumentou suas críticas à religião, às suas regras escritas e não escritas. Por isso, em 27 de julho de 1656, aos 24 anos, ele foi chamado para prestar esclarecimentos sobre sua postura pública. Espinoza manteve sua posição crítica e, por isso, foi acusado de ateísmo e recebeu o Chérem (que seria o equivalente à excomunhão da Igreja Católica).
Alguns biógrafos defendem que essa atitude extremista foi necessária porque as críticas de Espinoza iam além da religião judaica, também afetando os dogmas cristãos. Como os judeus já viviam refugiados nos Países Baixos, recebidos por uma comunidade cristã calvinista mais tolerante, eles não queriam criar problemas com seus acolhedores.
Fato é que o Chérem foi acompanhado de um banimento da comunidade judia. Dessa forma, Espinoza não poderia mais conviver com seus pares, nem mesmo morar na sua casa. Era proibido que as pessoas lhe dirigissem a palavra ou o ouvissem e lessem seus escritos.
Espinoza ainda ficou vivendo por um tempo em Amsterdã. Porém, após um atentado contra sua vida, ele decidiu se mudar.
Mudanças, Ofícios e Escritos
Em 1660 ou 1661, aos 28 ou 29 anos, Espinoza foi morar na cidade de Rijnsburg, na casa de amigos. Segundo o próprio filósofo, ele só queria paz e tranquilidade.
Seu principal sustento foi como polidor de lentes para microscópios e telescópios (algo pouco usual para a época). Ele também recebia algumas ajudas de custos de alguns amigos esporadicamente.
Em 1663, aos 31 anos, mudou-se para Voorburg. Lá, em 1670, aos 38 anos, ele publica seu Tratado Teológico-Político de forma anônima, temendo uma repressão (e realmente o livro foi muito criticado pelas autoridades religiosas, sendo inclusive proibido). Nesse livro, Espinoza tece várias críticas à forma como os livros sagrados são interpretados, afirmando que a Bíblia deve ser compreendida como um livro metafórico e propondo uma análise mais histórica da mesma.
Ainda em 1670, Espinoza se mudou para Haia. Lá, ficou na casa da família Van den Spyck.
Espinoza chegou a ser convidado para lecionar na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, mas recusou porque lhe foi pedido que não ensinasse nenhuma teoria que comprometesse a religião.
Espinoza chegou a ser visitado por Leibniz, um grande filósofo alemão de sua época (outro expoente do racionalismo moderno), em 1676. Leibniz tentara convencer Espinoza de publicar suas outras obras, mas este não quis se arriscar.
Morte, Sepultamento e Obras Póstumas
Espinoza morreu em 21 de fevereiro de 1677, aos 44 anos, de uma doença respiratória. Alguns acreditam que foi tuberculose, já outros acreditam que foi silicose (doença causada pela inalação excessiva de sílica, decorrente do seu ofício de polidor de lentes).
Ele foi enterrado no cemitério cristão de Nieuwe Kerk em Haia, Países Baixos. Permanece lá até hoje.
Nesse mesmo ano, sua mais importante obra Ética demonstrada à maneira dos geômetras, mais conhecida como Ética, foi publicada postumamente. Nessa obra, que vai muito além de questões éticas, vemos a profundidade do pensamento desse filósofo.
Além da Ética, outras obras menores também foram publicadas.
O Chérem recebido nunca foi revogado.
Baruch Espinoza Descomplicado: Filosofia
Teoria do Conhecimento
Racionalismo Absoluto
Espinoza é conhecido como um defensor do racionalismo absoluto porque ele acreditava que não existia nada para além da razão necessário para alcançar o conhecimento verdadeiro.
O que é Conhecimento?
Para Espinoza, conhecer é conhecer pela causa e não pelo efeito. Dessa forma, para ele, conhecer é conhecer os modos de produção do objeto. Logo, ao saber como surgiu algo, eu sei o que é esse algo.
Concepção de Verdade
Para Espinoza, a verdade é imanente ao conhecimento. Dessa forma, não existe nada externo ao conhecimento em si que garanta a verdade desse conhecimento. Ao contrário, é a partir da concepção de verdade que tenho (advinda do conhecimento – que é conhecer pela causa) que julgo se algo é verdade ou falso.
Crítica à Superstição
Segundo Espinoza, a superstição é uma paixão negativa (mais explicado à frente) nascida da imaginação que as pessoas desenvolvem quando não conseguem compreender o funcionamento, as leis do universo.
Por causa dela, os homens criam uma religião que defendem a existência de um Deus transcendente que controla a natureza. Junto com isso, surgem pessoas supostamente inspiradas que seriam capazes de interpretar a vontade Deus. E, para manter esse poder religioso, criam-se Estados autoritários, com seus aparatos militares e políticos, que obrigam aqueles que pensam diferente a se conformarem com essas supostas leis divinas.
Filosofia da Religião
Deus e Natureza
Para Espinosa, Deus é a Natureza e a Natureza é Deus. Ou seja, Deus é imanente a toda a existência.
Deus é a única Substância, causa de si mesmo e de todas as demais coisas, que existem como modos de ser dessa mesma substância. Ou seja, tudo o que existe são modos de ser de Deus.
Deus, por ser uma substância infinita, possui infinitos atributos. Porém, nós só compreendemos dois deles: pensamento e extensão.
Leis da Natureza e Milagres
Se tudo o que existe são modos de ser de Deus e Deus é perfeito, as leis naturais e as leis divinas são a mesma coisa. Logo, não existem milagres, entendendo milagres como ocorrências que contrariam as leis naturais. Tudo o que ocorre é natural e divino ao mesmo tempo, sem existir oposição entre os acontecimentos na natureza.
Antropologia Filosófica
Essência Humana
O ser humano, como um modo de ser de Deus, possui pensamento e extensão. A alma seria a manifestação do pensamento, enquanto que o corpo seria a manifestação da extensão.
Corpo e alma são uma coisa só e trabalham juntos como uma estrutura única. Eles agem juntos e sofrem juntos, sem haver algum tipo de privilégio ou prioridade de um sobre o outro.
Além disso, não existiria uma essência humana (entendida como uma definição genérica a qual todos os indivíduos devem ser abarcados), pois todos os seres humanos são únicos como manifestações únicas de Deus.
Como o ser humano é uma manifestação da substância divina, que também é a natureza, ele seria capaz, se se esforçasse, de conhecer todas as leis naturais / divinas.
Conatus
Segundo Espinoza, todos os seres humanos possuem o que ele chama de conatus. Conatus seria o esforço para permanecer na existência, superando qualquer obstáculo que atrapalhasse o indivíduo de continuar existindo. Além disso, também seria um poder de expandir-se e realizar-se plenamente.
Por esse motivo, o conatus de cada um de nós está em constate conflito com o conatus das outras pessoas.
Ética
Ação e Paixão
Tendo em vista o conatus, a ação é o momento em que nós agimos, aumentando o nosso poder e influência sobre as coisas (ou seja, quando somos causa daquilo que acontece). Já a paixão é o momento em que nosso poder é diminuído e sofremos influência das coisas (ou seja, quando não somos causa daquilo que acontece).
Desejo
Segundo Espinosa, somos seres que desejam quando se compreende desejo como a tendência interna do conatus de ser manter ou se expandir. Todos nós queremos isso e buscamos isso.
Mais somos livres quanto mais conseguimos realizar essa manutenção e expansão. E menos somos livres quando diminuímos ou não conseguimos crescer.
Liberdade
A liberdade, para o filósofo, não está em controlar tudo porque isso é impossível. A liberdade está em conhecer as causas daquilo que nos afeta e aprender a controlar essas afetações.
Em última instância, a liberdade seria o amor intelectual a Deus porque essa é a única realidade capaz de nos fornecer o que precisamos para compreender tudo.
Política
Espinoza defenderá que o Estado nada mais é do que a união de diferentes conatus. Os seres humanos trocam seus medos e esperanças individuais por um medo e angústia coletivo.
Por esse motivo, o Estado está sempre em constate conflito. A solução, então, seria permitir a livre expressão e manifestação dos seus cidadãos, para que esses não se sentissem oprimidos e, por isso, se revoltassem.
Baruch Espinoza Descomplicado: Principais Obras e Comentários
Baruch Espinoza Descomplicado: Conclusão
Espinoza foi um proeminente filósofo de sua época. Infelizmente, teve dificuldades de expor seu pensamento devido sua originalidade que afetava as estruturas sociais de sua época. Posteriormente, suas obras se popularizaram e muito influenciaram os filósofos subsequentes. Com ele, podemos aprender uma nova forma de compreender Deus, a Natureza e nós mesmos.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Baruch Espinoza Descomplicado: Referências
Espinosa. Coleção Os pensadores. Traduções de Marilena Chauí et al. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
WIKIPÉDIA. Verbete Baruch Espinoza (português, malaiala, sindi, norueguês e frísio)