Olá, marujos! Hoje iremos fazer uma reflexão sobre a série Watchmen. Essa série se propõe a dar uma continuação ao que foi apresentado no quadrinho original Watchmen, lançado entre 1986 e 1987. Tal como o quadrinho, a série Watchmen fazer críticas e reflexões, tanto no campo político quanto no campo filosófico. Nesse artigo, falarei da questão do preconceito racial trabalhado na série (teremos alguns spoilers). Se você não é fã de Watchmen ou essa série não está na sua lista de prioridades, pode ler o artigo que valerá pelo conhecimento e, quem sabe, te anima a ver (ou ver logo) a série. Se já viu, esse artigo será muito bem aproveitado por você. Vamos lá!
Sobre o Quadrinho Watchmen
Watchmen foi um quadrinho produzido entrem os anos de 1986 e 1987, uma parceria entre Alan Moore (roteiro) e Dave Gibbons (ilustração). Esse quadrinho foi um dos responsáveis em trazer uma maturidade para esse tipo de produto. Até então, as histórias eram mais simples, voltadas para um público infanto-juvenil. Em Watchmen, temos uma história densa, com tramas e questões morais, sociais e filosóficas, voltada para o público adulto.
Watchmen se passa em uma realidade alternativa, em que pessoas “comuns”, inspiradas pelos quadrinhos de super-heróis, combatem o crime fantasiados (para esconder suas identidades). Entretanto, isso começa a criar um problema social, que afeta tanto a credibilidade da polícia quanto a desconfiança da população. Isso motiva a proibição dessa prática.
Acontece que alguns vigilantes (watchmen em inglês) começam a ser atacados e assassinados, o que motiva a reunião dos antigos justiceiros para saber o que está acontecendo. Somado a essa missão particular, também acompanhamos a tensão da guerra-fria, em um momento crítico em que EUA e União Soviética estão próximos de liberarem suas armas nucleares (o que causaria o fim da humanidade).
No final, descobre-se que a perseguição aos vigilantes foi causada por um dos seus antigos membros, Ozymandias. O “vilão” revela que bolou um plano para evitar a terceira guerra mundial, mas que isso demandaria a morte de três milhões de pessoas. Como isso não seria bem aceito por todos, ele teve que guardar segredo e silenciar aqueles que poderiam atrapalhá-lo. Seu plano mirabolante foi criar um falso ataque alienígena, para que as superpotências tivessem um novo inimigo em comum, e parassem de se confrontar para confrontar a nova ameaça.
Sobre a Série Watchmen
A série Watchmen é da HBO, e se passa no ano 2019, aproximadamente 30 anos após os acontecimentos originais do quadrinho. O foco não é mais nos vigilantes originais, mas em pessoas afetadas pelo que aconteceu na conclusão dos quadrinhos. Teremos tanto personagens novos quanto a presença de alguns dos antigos personagens.
A história se passa em sua maior parte na cidade de Tulsa, em Oklahoma. Lá, os policiais usam máscaras para não serem identificados. Também existe uma organização racista chamada Sétima Kavalaria, formada por supremacistas brancos e que atacam pessoas negras. Eles parecem estar organizando algum plano e a polícia quer descobrir o que eles estão tramando.
Paralelamente, acompanharemos o drama pessoas de alguns vigilantes atuais, como a Irmã Noite (Regina King) e Espelho (Tim Blake Nelson). Também descobriremos o passado de alguns minutemen (primeiro grupo de vigilantes) e a evolução dos dramas de alguns watchmen.
Uma Reflexão sobre a Série Watchmen: Preconceito e “Discriminação Reversa”
A série inteira é marcada pelo preconceito racial. Podemos inclusive dizer que esse é o grande plano de fundo, pois parece que tudo está interligado com isso. O preconceito racial é um problema sério em diversos lugares do mundo, e nos EUA constantemente gera conflitos.
Na trama, em 1921, na cidade de Tulsa, ocorreu um massacre de negros, promovidos por pessoas brancas. Esse fato marcou a cidade e, até hoje, nos dias atuais (2019), a cidade ainda vive reflexos dessa chacina racial. O governo possui memoriais para lembrar e preservar a história desse acontecimento (na esperança de evitar novos problemas), bem como provê descendentes dos que foram mortos com ajuda governamental. Essa ajuda, somada ao puro preconceito, faz com que ainda persistam grupos racistas, sendo que o atual se denomina “Sétima Kavalaria”.
Durante a série, um membro da “sétima kavalaria” dirá “a balança pesou demais para um lado, e está extremamente difícil ser um homem branco nos Estados Unidos hoje”. Essa frase representa muito o pensamento de diversas pessoas “de bem”, inclusive no Brasil atual. Estamos em um momento em que se vive uma “guerra-fria” entre diversas polaridades sociais: homem/mulher, branco/negro, heterossexual/homossexual, pessoal cis/pessoa trans, classe média/classe pobre e outras. Inclusive, hoje já se fala em “discriminação reversa“, um termo polêmico para representar a ideia de que grupos minoritárias ou historicamente dominados agem com preconceito para com membros de grupos majoritários ou historicamente dominantes.
A proposta aqui não é dizer se alguém está certo ou se está errado, mas sim discutir o caminho, o rumo que as coisas estão tomando. É fato histórico e inquestionável que existiu legalmente em diversas culturas, especialmente no Brasil, discriminação social em algum grau. Negros e índios podiam ser escravos, mulheres não tinham os mesmos direitos políticos que os homens, homossexualidade era considerada doença e crime. Legalmente falando, hoje todos possuem os mesmos direitos como cidadãos. Entretanto, no convívio social, constantemente somos noticiados de práticas discriminatórias.
Existe um esforço governamental para se tentar combater isso, seja com punições aos discriminadores, quanto políticas afirmativas de inclusão dos discriminados somadas a um trabalho de autovalorização. A punição para quem comete discriminação é algo aceito e defendido por todos, porque conscientemente ninguém “de bem” faz isso. Entretanto, as políticas afirmativas e os trabalhos de autovalorização das chamadas minorias gera um conflito social porque aqueles que não se enquadram nesses projetos se sentem discriminados, porque lhes são negadas algumas oportunidades e entendem que alguns são beneficiados em detrimento deles (e que ele não tem culpa do que foi feito pelo seu “antepassado”).
Ética da Alteridade de Levinas
Nesse contexto, podemos trabalhar a Ética da Alteridade de Levinas. Para esse filósofo, a ética é uma responsabilidade que temos para com o outro, entendendo o “outro” como qualquer pessoa que não seja eu. Devemos identificar o outro como alguém tão importante quanto eu e que precisa ser preservado e cuidado, especialmente aquele outro que sofre. Levinas vai dizer que não devemos agir eticamente esperando reciprocidade, mas sim porque é responsabilidade nossa cuida do outro.
Trazendo para a discissão desse artigo, é nossa responsabilidade agir de tal forma que possamos minimizar os sofrimento que existe no outro. Se alguém pertence a alguma “categoria majoritária/dominante”, deve agir de forma responsável para que os membros das “categorias minoritárias/dominadas” se sintam seguros. Não precisa esperar que o governo faça alguma coisa ou achar que o que já foi feito está bom, porque o preconceito ainda não acabou. Da mesma forma, quem pertence a alguma “categoria minoritária/dominada” também tem que se sentir responsável em não ofender quem pertence a alguma “categoria majoritária/dominante”. Não se pode agir simplesmente pensando “eu posso fazer isso então vou fazer, mesmo que irrite/choque os outros”.
Uma Reflexão sobre a Série Watchmen: Conclusão
No final dessa reflexão sobre a série Watchmen, podemos perceber que enquanto não praticarmos a ética da alteridade, ou seja, buscar respeitar o outro que se apresenta à você, entendendo seus dilemas pessoais, sua criação, sua limitação social/intelectual/histórica, sempre haverá preconceito, sempre haverá um impasse, um pensamento de que “alguém está tirando vantagem” da situação. A mudança de atitude é uma das coisas mais difíceis para o ser humano, mas é possível acontecer. Que consigamos, dentro de nossos núcleos particulares (família/amigo/trabalho) praticar o respeito em todos os aspectos, independentemente do lado em que estamos.
E aí? Gostou da série? Deixa nos comentários outros debates levantados por ela! Gostou dessa reflexão sobre a série Watchmen? Compartilha nas suas redes sociais, especialmente para os fãs de Watchmen! Quer dar alguma sugestão de tema para o blog? Entra em contato comigo.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!