Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: Ética, Família e NITRO

Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: Ética, Família e NITRO

Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: Ética, Família e NITRO

Olá, Marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre Velozes e Furiosos, a famosa franquia de filmes de ação que é cheia de carros luxuosos correndo a velocidades absurdas e realizando manobras inimagináveis. No texto de hoje, veremos como é possível aceitar eticamente algumas atitudes claramente erradas para a sociedade, assim como o valor da família (entendida tanto como parentes de sangue quanto amigos) para as pessoas. Apertem o cinto e vamos lá!

Velozes e Furiosos (franquia)

A franquia Velozes e Furiosos começou com o filme de 2001 de mesmo nome. Nesse filme, somos apresentados ao policial Brian O’Conner (Paul Walker) que se infiltra no grupo de Dominic Toretto (Vin Diesel) para investigar e descobrir se eles são os responsáveis por uma série de roubos de carga.

Durante a investigação, Brian se apaixona por Mia Toretto (Jordana Brewster), irmã de Dominic. Seu amor por Mia e a amizade sincera desenvolvida com Dominic fazem com que ele traia a polícia e deixe o grupo de Toretto fugir, mesmo sabendo que eles eram culpados.

A história original é recheada por corridas de carro ilegais, perseguições e roubos. Além disso, somos apresentados aos vários personagens da famiglia Toretto, que se mostram pessoas com um forte sentimento de família (tanto pelos de sangue quanto os amigos) e a disposição de se sacrificarem pelos que amam.

Os filmes seguintes, que tiveram sequências variadas (com filmes que se encaixam pior ou melhor na timeline da franquia) foram focando cada vez menos na questão das corridas de carro e focando mais em temas como assalto, espionagem, e problemas a nível global e pessoal.

Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: uma pessoa pode ser ética e imoral ao mesmo tempo

Enquanto acompanhamos os diversos personagens apresentados ao longo da franquia, em especial os protagonistas Brian O’Conner e Dominic Toretto, observamos que eles são pessoas boas que cometem crimes! Em um primeiro momento, isso parece ser totalmente inconcebível, mas o costume da repetição faz com a gente se acostume e nem mais questione o que está acontecendo diante dos nossos olhos.

É curioso percebermos que quanto mais íntimos ficamos dos personagens, descobrindo suas vidas pessoais, mais “entendemos” as motivações deles. Isso faz com que aceitemos suas atitudes, ou pelo menos minimizemos as consequências de seus atos. Acabamos aceitando seus crimes ou fazendo “vista grossa” para eles. Normalmente justificamos com um “não é tão grave assim”, “os outros são piores que eles” ou “não tinha outro jeito”.

A causa da aceitação para ações erradas dos personagens é a mesma que permeia a autoaceitação das nossas ações erradas ou de alguém próximo a nós. Nós, normalmente sem perceber, fazemos uma distinção entre ética e moral. Essa distinção é conceitualmente verdadeira apesar de confundirmos os termos no nosso dia a dia.

Distinção entre Ética e Moral

Sem me alongar muito, ética é o princípio filosófico que rege as nossas ações, ou seja, são as justificativas racionais, essenciais, metafísicas, interiores que nos dizem o que é certo ou errado, justo ou injusto, correto ou incorreto. Já a moral é a justificativa social para tudo isso, estando atrelada intimamente com a sociedade e, por isso, varia conforme a época e o lugar.

Sendo prático, é só pensar nas diversas leis brasileiras e no nosso cumprimento delas. Sempre que questionamos alguma lei, seja porque ela exige algo que discordamos ou deixa de exigir algo que queremos, estamos criando um conflito entre aquilo que acreditamos ser o certo e aquilo que a sociedade acha que é certo.

Curiosamente, pode acontecer de mudarmos de opinião quando somos nós que estamos sendo julgados pela lei. Exemplo: nós queremos que as empresas paguem seus impostos ao governo, mas sonegamos impostos quando importamos coisas do exterior ou trazemos itens acima do limite em uma viagem. A proposta da lei é a mesma, arrecadar para investir no país. Entretanto, criamos várias justificativas para explicar porque a empresa tem que pagar e nós não.

Voltando ao filme, quanto mais aumenta nossa intimidade com os personagens, mais aceitamos que a lei não precisa ser cumprida por eles. Isso acontece até mesmo com os personagens entre si, quando, por exemplo, Brian deixa Toretto fugir mesmo sendo culpado. Em nossa cabeça, nós não estamos torcendo por um criminoso, e sim por uma pessoa. Queremos o bem delas, mesmo sabendo que elas infringiram a lei. Para nós, existe uma lei interior superior a lei positiva. Nós nos sentimos próximos a eles. E assim entramos na questão do sentimento de família da franquia.

Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: família como bem mais importante

Um dos temas que aparece desde o primeiro filme e que virou marca da franquia é o sentimento de família que permeia os personagens principais. Provavelmente inspirado na máfia italiana, vemos na franquia essa relação curiosa entre um sentimento forte de família (que nos remete a algo bom) com a criminalidade (que nos remete a algo mal). Essa dicotomia dá um tom característico à franquia e sempre ficamos aguardando qual será o problema familiar que vai ocorrer e que será explorado no filme (seja como trama principal ou secundária).

Para Toretto, família é o bem mais importante que temos e devemos sempre protegê-la, mesmo quando ela diz que não quer. Tudo se justifica pela família e na família, nada sendo errado se for feito pelo bem da família. Vemos, assim, que o bem-estar da família é o telos de Dom. Tudo o que ele faz, tudo o que ele passa, é para garantir a segurança e felicidade daqueles que ele considera família. E esse sentimento vai sendo passado para os outros personagens, que vão incorporando esse pensamento e sempre acabam aceitando ajudá-lo a resolver as questões que surgem.

É muito interessante notar que família de sangue de Dom é apenas a Mia. Os demais são agregados (como Brian), amores (como Letty [Michelle Rodriguez]) e, principalmente, amigos. Mais comovente ainda é o fato que ele não demonstra distinção entre esses diferentes membros familiares: não existe quem é mais ou menos importante. Se for da família é importante e pronto. Isso já basta para ele se arriscar. Quando ele aceita alguém para a família, não é uma expressão vazia de sentido. Junto com ela está toda uma responsabilidade que ele assume, mesmo que o novato não perceba.

E a nossa família? Como vai?

Isso faz com que nós paremos para refletir como estamos lidando com nossos parentes e amigos. Parente e amigo não são naturalmente família (nesse contexto apresentado pelo filme). Eles são apenas candidatos à família. Mas nós já demonstramos quem são aqueles que fazem parte do nosso círculo de intimidade verdadeira, quem são aqueles para quem estamos dispostos a nos sacrificar? E mais, será que nós queremos criar esse vínculo familiar com alguém?

Quem acha que a resposta é um simples e rápido “sim” deveria parar para pensar com calma e listar quem seriam os membros da sua família. Leve em consideração o que está em jogo, a sua disposição com essas pessoas… Provavelmente o número de integrantes será reduzido, até muito para alguns. Isso ocorre porque a cada dia estamos nos tornando mais individualistas.

Diversos são os fatores que nos fazem preferir uma vida solitária ou de convivência com apenas colegas. O principal motivo provavelmente será o egoísmo. É muito fácil achar que os outros devem fazer coisas por nós, mas difícil querermos fazer algo pelos outros. É fácil pedir, difícil oferecer. Essa é uma característica que cada vez fica mais forte com o uso de tecnologias, que afastam o diálogo físico entre as pessoas, e a violência, que nos prende em casa.

A Internet é um ótimo meio para conhecer pessoas novas, mas pouco explorado quando a intenção é criar vínculos afetivos fortes. Esses ainda ocorrem principalmente na convivência física. E como a cada dia temos menos disso, pelos fatores já citados e também pela correria das vidas atuais e fatídica falta de tempo, menos pessoas temos para criar relações sinceras (seja com amigos ou parentes).

Uma reflexão sobre Velozes e Furiosos: conclusão

Quem diria que um filme de ação, cheio de explosões, corridas de carro e efeitos especiais poderia nos fazer refletir sobre ética e família? Mas pudemos ver, acompanhando a história de Brian e Dom, que é possível sim dedicarmos um tempo para refletir sobre aquilo que achamos certo e aqueles que queremos bem. Aproveita agora que está acabando de ler esse texto e liga para alguns parentes ou amigos e marca alguma coisa para se encontrarem e poderem estreitar mais seus laços.

E aí? Você acha que é possível relevar um crime quando o criminoso tem suas justificativas ou é próximo a você? Comente! Quer mostrar para as pessoas que Velozes e Furiosos é muito mais do que apenas mais um filme de explosão? Compartilhe! Quer sugerir algum tema nerd para refletirmos? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

Posted in Filmes, Reflexões Nerds and tagged , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.