Reflexão sobre Wandinha: Desajuste Social, TOD, Baixa Autoestima e Desgosto

Reflexão sobre Wandinha: Desajuste Social, TOD, Baixa Autoestima e Desgosto

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Wandinha da Netflix. Nessa série, acompanhamos a filha mais velha da família Addams sendo obrigada a ir para uma escola especializada em jovens monstros e excluídos sociais para aprender a lidar com sua personalidade complicada ao mesmo tempo em que busca solucionar misteriosos assassinatos. Na reflexão, falarei de algumas questões de sociabilização e de personalidade da personagem Wandinha que a fazem ser única e também muito próxima de nós. Não teremos spoilers da trama principal da série! Vamos lá!

Sobre Wandinha (SEM Spoilers)

Wandinha é uma série de de terrir teen (terror e comédia adolescente) baseada na franquia Família Addams (que ficou famosa no Brasil pelos filmes dos anos 90). Ela estreou com muito sucesso na Netflix em 2022.

Wandinha (Jenna Ortega) é uma adolescente “estranha” até mesmo para sua família já esquisita. As coisas pioram muito quando ela “dá uma lição” que passa dos limites em alguns garotos que faziam bullying com seu irmão.

Após ser expulsa da sua escola comum, Wandinha é matriculada na Escola Nunca Mais – uma escola especializada em jovens monstros e excluídos sociais. Porém, nem lá ela consegue se enturmar e continua sua vida solitária.

O único objetivo de Wandinha era fugir da sua nova escola, mas seus planos sempre dão errado. Enquanto fracassa, ela acaba sendo obrigada a se aproximar de diferentes pessoas e isso faz com que ela comece – mesmo não admitindo –  a se importar com os outros.

Entretanto, existe um misterioso assassino nas redondezas de Jericho, cidade onde está localizada a escola, e Wandinha se torna uma suspeita. Agora, ela precisa provar sua inocência.

Será que Wandinha conseguirá descobrir quem está por trás das mortes em Jericho? Será que Wandinha aprenderá a ser mais sociável e, finalmente, feliz? Descubra vendo Wandinha na Netflix!

Reflexão sobre Wandinha: Onde é que Eu me Encaixo?

Wandinha é o exemplo do adolescente que não se encaixa em nenhum lugar. Pela sua peculiaridade mórbida, é compreensível que não se adeque às escolas normais. Porém, o mais curioso é que ela não se encaixa nem entre os jovens “diferentes” que nem ela.

Nós percebemos que em Nunca Mais, os alunos são pessoas diferentes que – na sociedade “normal” – seriam considerados monstros ou esquisitos. Por isso, eles são excluídos sociais. Entretanto, em Nunca Mais, eles são pessoas comuns, cada um com suas peculiaridades, mas todos se respeitando e interagindo entre si. Em Nunca Mais, todos são estranhos e, por isso, ninguém é estranho. Exceto Wandinha!

Wandinha faz questão de ser a “diferentona” e não se misturar. Ela se considera superior a todos. Tudo começa já na sua vestimenta porque ela decide usar um uniforme preto em vez de seguir a tradicional cor azul marinho. Depois, esnoba sua colega de quarto e resolve criar encrenca com a garota popular da escola. Prefere ficar isolada e não participar das atividades extracurriculares.

Mas porque tudo isso? Porque ela tem essa atitude que causa desgosto para sua família? Acredito que Wandinha tenha algum grau de TOD e baixa autoestima, e ambos os problemas fazem Wandinha ser quem ela é…

Reflexão sobre Wandinha: Enfrentando Tudo e a Todos!

Novamente, me colocarei aqui como um “pseudo-psicólogo” que dará seu pitado sem formação apropriada, se baseando apenas em alguns poucos conhecimentos técnicos e alguma experiência de sala de aula. Por isso, sempre faço aquela ressalva de não considerar essa parte como uma opinião profissional. Isso é uma reflexão e não um diagnóstico! 🙂

TOD é a abreviação para Transtorno Opositivo Desafiador ou Transtorno Desafiador de Oposição. Eu descobri a existência desse transtorno a pouco tempo (uns 3-4 anos) por causa de um aluno de uma turma em que começaria a dar aula. Muitos professores e a equipe pedagógica me prepararam, dizendo que ele era uma criança difícil de lidar, que gostava de criar encrenca na sala com os coleguinhas e desobedecer aos professores.

Não raro, as conversas em torno desse aluno e seu comportamento caiam no famoso “isso é falta de educação dos pais”, mesmo a criança tendo laudo. O laudo, por sua vez, era criticado como uma “muleta” para justificar as atitudes do aluno.

Como foi minha experiência com ele em sala: nunca tive grandes problemas. Ele nunca “partiu para cima” de mim, nunca teve uma atitude exagerada que chegasse a ter que chamar o inspetor escolar ou ir para a direção. O máximo de “estresse” era ele querer sair de sala ou ficar em pé com mais frequência que outras crianças e gostar de implicar com alguns alunos. Mas sempre consegui manter razoavelmente a paz em sala de aula na maioria das vezes.

Eu sou um santo? Não! Mas sabendo como a criança era, evitei ao máximo gerar atrito com ela e tentava fazer com que ela cumprisse as atividades por vontade própria e não como se fosse uma imposição minha. É a diferença entre falar “senta aí e copia!” e “fulano, você não acha legal sentar um pouquinho e copiar essa matéria para tê-la no caderno depois, para estudar?”. É fácil? Claro que não! Mas era necessário…

Dentre as características de uma adolescente com TOD, identifico várias na Wandinha: dificuldade para compreender regras e opiniões de terceiros; não lida bem com frustração; expressa o seu desconforto de modo agressivo; discute com adultos; desafia regras e instruções; provoca adultos e outras crianças; reage a repreensões ou regras com agressividade; briga com colegas na escola; é cruel ou vingativa ocasionalmente.

Todas essas características acabam afastando Wandinha das outras pessoas, que não querem passar por essas situações. E quem tenta ser amigo dela, acaba sofrendo bastante pelas “patadas” que leva. Mas como diz o ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”… E, com o tempo, as coisas começam a melhorar para Wandinha.

Não sei se Wandinha realmente tem TOD ou ela só tem características em comum, mas isso não invalida a forma como podemos compreender suas atitudes e como lidar com ela.

Wandinha gosta de desafiar tudo e todos e é muito difícil lidar com ela. Mas quando seus colegas estiveram dispostos a continuar ao lado dela, mesmo ela tendo essas atitudes inamistosas, ela começou a mudar de postura.

Foi difícil? Demais! É impossível? Não! Por isso que existem tratamentos psicológicos e psiquiátricos para ajudar tanto o paciente quanto as pessoas em volta do paciente a lidarem com isso…

Óbvio que não é a intenção “passar pano” para tudo o que ela fez, mas é entender que existe um problema ali que precisa ser tratado e que existe um cuidado maior ao se lidar com a situação.

Wandinha foi obrigada a fazer terapia pela justiça e teve na pessoa da diretora Larissa Weems (Gwendoline Christie) alguém que não teve medo de enfrentá-la e conquistou sua admiração.

Já Enid (Emma Myers), Eugene (Moosa Mostafa) e Xavier (Percy Hynes White) foram amigos que conseguiram “aguentar” Wandinha até ela mudar.

Quando alguém é muito extremista nas suas atitudes, especialmente uma criança ou adolescente, é preciso um olhar diferenciado para ela porque essa atitude pode ser um sinal de algo errado e precisa de uma investigação.

Reflexão sobre Wandinha: Wandinha é só Desgosto?

Após ver a série e acompanhar todas as falas de Wandinha e sua relação conflituosa com a mãe, conclui que Wandinha tem baixa autoestima e isso pode ser uma justificativa para sua dificuldade de enturmar e, talvez, até da sua atitude desafiadora-opositora.

Não sei se vocês sabem, mas o nome de Wandinha em inglês é Wednesday, que significa “Quarta-feira”. A inspiração para o nome, segundo a mãe de Wandinha, é um poema o qual diz “Criança de quarta-feira é cheia de desgosto” (no sentido de nascer na quarta-feira). Contudo, Wandinha nasceu em uma sexta-feira 13, mostrando que desde seu nascimento, ela já foi envolvida em uma aura negativa.

Claro que muito dessa inspiração macabra tem a ver com a própria personalidade gótica da família Addams, mas isso não impede de o nome ter influenciado Wandinha a ser como ela é: uma criança que tem no seu próprio nome a sina de dar desgosto para os outros… imagina você, desde criança, saber que seu nome tem relação com “dar desgosto aos outros”. É traumatizante.

Outro ponto que também se evidenciou foi a relação conflituosa que Wandinha tem com sua mãe Mortícia Addams (Catherine Zeta-Jones). Aqui, temos um claro problema de espelhamento mal resolvido. Ora parece que Mortícia queria que Wandinha fosse mais como ela era na adolescência, ora parece que essa é uma cobrança interna de Wandinha. Fato é que existe essa necessidade de atingir as expectativas, mesmo que velada e/ou inconsciente.

Mortícia é uma mulher voluptuosa, que na adolescência era desejada e cobiçada por muitos homens. Além disso, ela também era popular na escola e tinha um ótimo desempenho acadêmico e esportivo. Resumindo: a adolescente “perfeita”. Obviamente, esse legado pesou muito para Wandinha que não tem os atributos físicos de sua mãe e não gosta de popularidade.

Dessa forma, percebemos que o jeito de ser da Wandinha tem muita relação com as expectativas que foram depositadas nela, tanto pelo seu nome quanto pela mãe que possui. Essa combinação gerou uma criança afetada que possui baixa autoestima porque, desde o seu nascimento, a ela foi atribuída uma característica de “ovelha negra da família” e uma comparação com sua mãe.

Quando Wandinha começa a se relacionar melhor com os alunos de Nunca Mais, ela começa a perceber que não é a única que sofre algum tipo de pressão social e/ou familiar. Enid, Xavier, Eugene e até mesmo Bianca (Joy Sunday) também tem seus problemas para se enturmar e/ou com seus pais. Isso lhe mostrou que ela não sofre sozinha e que o problema não é ela, mas a forma como a sociedade age.

É por isso que precisamos rever a forma como educamos nossos filhos e cobramos resultados deles. Estamos em uma outra época social e precisamos formar novos seres humanos para ela. Não é que os adolescentes hoje são sensíveis demais, somos nós adultos que fomos criados sobre muito pressão e acabamos gerando uma “casca social” muito rígida. Não é à toa que muitos adultos hoje precisam recorrer à remédios antidepressivos e terapias para tratar dos seus traumas. 

Conclusão

Wandinha é uma série bem legal de se ver. A interpretação de Jenna Ortega é impressionante. A história é muito bem construída e envolvente. Você pode acompanhar a série só para se divertir e relaxar com a trama high school gótica, mas também pode aproveitá-la para refletir sobre algumas questões bem interessantes trazidas pela nossa Wandinha – que não é só desgosto. Ao contrário, ela é uma querida que só não estava sendo bem compreendida.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Wandinha? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Wandinha? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra produção teen da Netflix? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.