Reflexão sobre The Batman: Todo Mundo Tem um Preço?

Reflexão sobre The Batman: Todo Mundo Tem um Preço?

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme The Batman (2022). Nesse filme, acompanhamos o vigilante das sombras nos seus primeiros anos de ação em Gotham City. Na reflexão, trabalhei os dois principais temas desenvolvidos no filme: corrupção (com suas causas, efeitos e soluções) e vingança (como modelo a [não] ser seguido). Teremos spoilers do filme na parte da reflexão! Vamos lá!

Sobre The Batman (SEM Spoilers)

The Batman é um filme de super-herói da Warner que estreou em 2022 e é outra interpretação cinematográfica do Batman, famoso personagem da DC. O filme tem sido muito aclamado como uma das melhores leituras do morcego, especialmente por destacar seu lado detetive e sua atitude reclusa e depressiva.

Na história, Batman (Robert Pattinson) está no seu segundo ano como vigilante. Ele já consegue causar medo nos criminosos de Gotham, mas isso não fez o crime diminuir (ao contrário, aumentou). Ele também não é bem visto pela maior parte da polícia, mas não é considerado um fora-da-lei.

Seu trabalho começa a ganhar destaque quando o prefeito da cidade é assassinado e o criminoso deixa charadas direcionadas ao próprio Batman. Começa, assim, uma perseguição cerebral ao assassino que obrigará Bruce Wayne (o homem por trás da máscara de morcego) a conhecer melhor a corrupção que assola a sua cidade.

Quer saber como isso acabará? Só vendo o filme!

Reflexão sobre The Batman: A Origem da Corrupção

O princípio motivador das ações do vilão Charada (Paul Dano) é escancarar para a sociedade a corrupção enraizada da cidade de Gotham ao mesmo tempo em que ele elimina os principais nomes envolvidos nessa corrupção.

Como cada alvo do Charada está associado a algum tipo de corrupção, Batman precisa entender o que está acontecendo (e nós vamos compreendendo junto com ele). Aparentemente, toda a cidade é sustentada por atos corruptos.

O prefeito era corrupto porque estava tendo um caso com outra mulher e promoveu uma grande operação contra o tráfico de drogas através de um acordo com outro traficante. Nesse acordo, o chefe de polícia e o promotor geral também estavam envolvidos e foram considerados corruptos. Thomas Wayne (pai de Bruce) foi considerado corrupto porque fez um pacto com o criminoso Carmine Falcone (John Turturro) para que este silenciasse um repórter que queria vazar histórias do passado de sua esposa Martha Wayne. O próprio Bruce Wayne foi considerado corrupto porque o fundo de assistência aos órfãos que sua família criou e é gerenciado pelas empresas Wayne era usado para lavar dinheiro ilegal. Fora, claro, o próprio Falcone, o qual era o rei do crime e da corrupção, que era o grande alvo do Charada e elo de ligação entre todos os assassinatos.

O tema da corrupção já é meio “batido” em obras cinematográficas e as pessoas também já estão cansadas de ouvir sobre isso. Ninguém é capaz de negar que a corrupção é algo ruim e prejudica a sociedade. Todos estão cansados de dizer que o mal de tudo está na corrupção. Mas se “todos” ou a grande maioria diz isso, porque a corrupção ainda existe?

Se olharmos para a história da filosofia, veremos que muitos filósofos consideram que o problema está no próprio ser humano, o qual possui um defeito que lhe faz tender ao ato corruptivo: Platão vai culpar as partes irracionais da alma humana, que surgem após a encarnação no corpo, como fonte da corrupção humana; Santo Agostinho vai dizer que o pecado original é essa mancha que temos em nossa alma, que tende ao erro em vez de sempre buscar o bem; Thomas Hobbes vai dizer que a natureza humana é egoísta e violenta, sendo a corrupção algo natural das ações humanas.

Visto dessa forma, a famosa frase “todo mundo tem um preço” faz todo o sentido. Todos nós temos uma tendência natural à corrupção, todos nós estamos propensos a atos corruptos ou a sermos corrompidos. A grande questão é quanto estamos dispostos a cobrar para nos “vendermos”, o quanto é necessário para que aceitemos deixar de andar na linha e aceitemos fazer algo errado.

Reflexão sobre The Batman: Burocracia como Solução

Ao perceber que todos os seres humanos estão fadados a se corromperem (uns por mais, outros por menos), podemos ver na burocracia não só uma forma racional de administração, mas também uma forma de se evitar a corrupção. Isso ocorre porque a essência da burocracia está na impessoalidade das relações, na padronização dos atos e na normatização das ações. Uma burocracia bem estruturada garante que vontades individuais não influenciem padrões legais de uma sociedade.

O problema, infelizmente, são três:

1. As pessoas odeiam a burocracia porque lhes faz se sentirem menos humanas, menos respeitadas como pessoas (e a culpa disso está no tratamento dado a elas pelos agentes burocráticos);

2. Algumas burocracias são tão sem sentido nos dias atuais que fazem as pessoas perderem a credibilidade de sua existência; e

3. Não existe um controle interno eficaz para exterminar focos de corrupção dentro das burocracias.

Com isso, vemos que a própria burocracia acaba sendo inimiga dela mesma, porque seus erros fazem com que ela perca credibilidade e, consequentemente, respeito na sociedade. E quando isso acontece, as instituições ficam vulneráveis para serem corrompidas.

Já que todos temos um preço, o que podemos fazer é colocar o nosso valor o mais alto possível! E o que isso quer dizer? Quer dizer que todos precisamos resistir o máximo possível à corrupção. E essa atitude começa desde o momento em que estamos usando a burocracia da sociedade. Pois todas as vezes que “damos um jeitinho” para resolver nosso problema burlando a burocracia, estamos incentivando a sua descredibilidade e consequente corrupção.

Cada “jeitinho” de um cidadão é uma pequena rachadura causada na imagem da burocracia, que incentiva outras pessoas a também darem o seu “jeitinho”, seja quem está dentro ou fora. Na corrupção, devemos lembrar, existe o lado passivo e o ativo. Ou seja, quem propõem algo errado e quem aceita fazer esse algo errado.

É por isso que bons exemplos são fundamentais para se conseguir combater a corrupção de uma sociedade. Como todos tem seu preço, é importante ver pessoas que não se vendem barato, que resistem a grandes ofertas. Como somos seres sociais, nós sempre nos inspiramos em outros como modelos a serem seguidos. E, dessa forma, entramos na terceira parte dessa reflexão.

Reflexão sobre The Batman: Sendo um Mau Exemplo sem Perceber

Outro ponto marcante do filme The Batman, desde a época dos trailers, era que esse Batman seria vingativo ou teria a vingança como motivação de suas ações. O que ninguém podia esperar era que a autonomeação de Batman como “A Vingança” iria incentivar outras pessoas a também buscarem suas vinganças contra “os culpados” em Gotham City.

Se olharmos de forma fria, a ação do Charada foi muito mais eficaz em eliminar o mau da cidade ao matar as pessoas que permitiam e conduziam a corrupção na cidade. O grande problema foi que ele perdeu a fé na sociedade como um todo e, por isso, viu que a única solução seria acabar com toda ela!

Essa cena me fez lembrar das anedotas as quais dizem que o problema da corrupção política do Brasil será resolvido se explodirem Brasília e que a solução para os desastres ecológicos na Terra seria um meteoro que extinguisse a raça humana. Em outras palavras, ambas as propostas revelam a falta de fé das pessoas em uma solução para o problema da corrupção na sociedade (seja em uma parte dela, ou em toda ela).

Esse foi o caso do Charada e dos seus seguidores. Eles perderam a fé na população de Gotham e viram que a única solução seria acabar com tudo! Só que essa não era a visão do Bruce Wayne quando ele se tornou o Batman e as ações do Charada o fizeram repensar tudo aquilo que ele havia feito até aquele momento.

Batman fica chocado ao ouvir do Charada que eles são parceiros e que estavam trabalhando juntos para combater o crime a a corrupção de Gotham. Isso fez com que Batman percebesse que precisava sair das sombras e ser luz para os cidadãos de Gotham.

A cena mais emblemática e um tanto óbvia foi ele guiando, com um sinalizador erguido, alguns cidadãos entre os destroços do estádio destruído no final do filme. Também foi importante vê-lo ajudando, já ao amanhecer, nas ações de resgate das autoridades.

Batman entendeu que ficar apenas nas trevas causou um mal exemplo que apenas atraiu pessoas “das trevas” para sua causa. Agora, ele entende que precisa agir na luz para atrair pessoas “de luz” para a sua causa.

Batman precisa ser o exemplo da luta contra a corrupção. Exemplo que as pessoas podem olhar, admirar, se inspirar e seguir. O morcego precisa ser aquele ao qual as pessoas olham e pensam: “esse não se vende fácil”!

Pensando em nossas realidades, precisamos ser esse bom exemplo para as demais pessoas ao mesmo tempo em que nos inspiramos em outras. Será essa troca de inspirações que motivará cada um a fazer aquilo que é certo, mesmo que a tentação nos queira convencer a agir de forma corrupta.

É óbvio que isso não é fácil, e a primeira atitude é buscar fazer as coisas às claras. Um ditado que eu ouvia na igreja e que serve nesse contexto é “se o que você está fazendo só pode ser feito de forma escondida, então essa atitude não está certa”. Depois, o próximo passo é a prática. Como dizia Aristóteles, será pelo hábito bom que desenvolveremos a virtude.

Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre The Batman, percebemos que a corrupção faz parte da nossa condição humana e social, e que apenas o esforço individual (não se vender barato) e coletivo (burocracia) conseguem por freio a essa tentação. Além disso, precisamos ter cuidado com o exemplo que somos para os outros ao mesmo tempo que é importante sermos bons exemplos e buscarmos exemplos bons para conquistar uma sociedade menos corrupta.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.