Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Ms. Marvel. Nessa série, conhecemos a adolescente de descendência paquistanesa Kamala Khan ganhando superpoderes e aprendendo a lidar com eles ao mesmo tempo em que enfrenta inimigos do governo americano, inimigos estrangeiros e a sua própria família. Na reflexão, seguirei algumas questões levantadas pela própria série sobre a dificuldade em ser adolescente, que ainda piora quando você é um adolescente de cultura totalmente diferente do país em que você mora, mostrando como isso gera um excesso de possibilidades que dificulta o jovem a se encaixar na sociedade em que vive. Não teremos spoilers da trama da série! Vamos lá!
Sobre Ms. Marvel (SEM Spoilers)
Ms. Marvel é uma minissérie de super-heróis de 2022. Ela está disponível na Disney+ e é baseada nos quadrinhos da Ms. Marvel da Marvel.
Kamala Khan (Iman Vellani) é uma adolescente americana de descendência paquistanesa e religião mulçumana. Ela é fã dos Vingadores, em especial da Carol Danvers (Brie Larson) – a Capitã Marvel.
Ela tem uma relação muito conflituosa com sua família, em especial sua mãe. O principal problema é a cultura dos seus pais, a qual diverge da cultura jovem americana.
Certo dia, em uma ocasião especial, Kamala recebe poderes sobre-humanos, advindos de um bracelete que ela recebeu de sua avó. Ela começa a usar esses poderes para ajudar as pessoas de sua comunidade. Porém, isso desperta o interesse de outras pessoas.
Aparecem tanto o governo, na figura do Departamento de Controle de Danos, querendo investigar essa nova heroína; quanto um grupo de pessoas que se autodenomina Clandestinos, que pede ajuda de Kamala para voltarem ao seu lar de origem.
Agora, Kamala tem que lidar com essas grandes mudanças em sua rotina, somando ainda mais responsabilidades na sua vida.
Para saber como isso termina, assista: Ms. Marvel na Disney+.
Reflexão sobre Ms. Marvel: Adolescência não é Fácil
O que é o Adolescente
O que é a adolescência? Parece ser aquela idade em que, ao mesmo tempo, supostamente você pode fazer tudo, mas não tem nenhuma responsabilidade.
O que você acha do adolescente? Provavelmente, se você não é um, está agora invejando-o ou criticando-o.
A adolescência é um conceito relativamente novo na sociedade. Basicamente, ela surgiu após a segunda guerra mundial, quando as principais sociedades começaram a viver um estado de paz mundial. Até então, você era criança ou era adulto. Assim que você atingia os seus 13-14 anos, já estava pronto para trabalhar no ofício do pai (se fosse menino) ou pronta para casar (se fosse menina).
Porém, as mudanças culturais, especialmente no Ocidente, permitiram que a criança pudesse passar por um estágio intermediário de desenvolvimento pessoal e profissional. Surge a possibilidade de cursar uma universidade e adquirir uma profissão mais complexa e que não tem necessariamente a ver com a profissão dos pais, surge a possibilidade de as mulheres serem mais independentes, surge a falta da necessidade de se casar cedo e ter filhos.
Essas mudanças sociais criaram o jovem, o adolescente. Esse ser intermediário que não é mais criança – com sua falta de autonomia e liberdade – e que também não é adulto – com sua total liberdade e responsabilidade. As crianças e os adultos os invejam porque veem nele tudo aquilo que lhes falta. Ao mesmo tempo, os criticam porque supostamente não sabem aproveitar o privilégio que possuem.
No meio disso tudo, existe o próprio adolescente, perdido por não saber o que exatamente ele é, não saber como atender às expectativas que depositam nele, não saber responder às cobranças que fazem dele, por não ter ainda a maturidade necessária para lidar com tudo o que está acontecendo em suas vidas, com as mudanças pelas quais ele está passando, tanto socialmente quanto fisicamente.
Kamala e seus amigos representam esse grupo de pessoas. Eles estão no ensino médio, precisam estudar para passar de ano enquanto decidem seus futuros profissionais com escolhas de universidades para cursar ao mesmo tempo em que precisam trabalhar em empregos de meio período para juntar dinheiro; eles querem sair para curtir eventos, mas não podem fazer isso sem autorização dos pais e tem hora para voltar.
A nossa realidade brasileira não é muito diferente. Como professor, vejo o quanto esses adolescentes são pressionados por seus pais de forma direta ou indireta.
Aqueles que cursam o ensino particular precisam passar para uma boa universidade pública para valer o investimento das mensalidades e em um bom curso, que permita uma profissão que “dê dinheiro”. Aqueles que cursam o ensino público querem muito ir para uma universidade pública, mas não tem condições de passar ou se manterem em uma, e muitas vezes precisam deixar o sonho do nível superior de lado para logo irem trabalhar e ajudar a família.
Com relação à diversão, reclamam quando os pais os proíbem de fazer algo, mas frequentemente dormem na sala de aula porque ficaram acordados até tarde jogando…
Amor Juvenil
Enquanto isso, outros pontos mais pacíficos para os adultos ou inexistentes para as crianças começam a incomodar os adolescentes: relacionamento e sexualidade.
Na série, vemos Kamala tendo o seu primeiro amor, tendo que lidar com frustrações amorosas e com conflitos envolvendo relacionamentos amorosos e amizades.
Na vida real, isso também é muito comum. E como são, geralmente, as primeiras experiências, tudo é muito grandioso e trágico. É engraçado, como adulto, ver como o adolescente sofre após um término de namoro de meses ou com investidas não correspondidas do “amor de suas vidas” sendo que nós já passamos tanto por isso que já estamos acostumados. É engraçado também ver como as crianças simplesmente não entendem ou rejeitam qualquer envolvimento amoroso, o famoso “Eca!”, porque sabemos que logo isso vai mudar.
A série não trata muito de sexualidade, mas é um ponto que vejo muito conflito e questionamento nos dias de hoje. Se, na minha época, não existia muitas dúvidas – você era o gênero com o qual nasceu e iria se relacionar com alguém do sexo oposto -, hoje, as possibilidades são quase infinitas. É uma série de siglas e letras e bandeiras que representam várias escolhas que, inclusive, podem ser mudadas e adaptadas ao longo da vida. Algo totalmente surreal de se pensar a 15 anos atrás…
O problema é que aquilo que era muito fácil para nós decidirmos se tornou difícil para os adolescentes de hoje. E, para piorar, muitos adultos não conseguem entender essa dificuldade. Tudo lhes parece drama, palhaçada. Mas não é… Eles querem acertar, querem ser eles mesmos de forma feliz e sincera. Mas são tantas as possibilidades, que eles acabam ficando perdidos. Por isso, precisamos ter mais paciência.
Reflexão sobre Ms. Marvel: Choque de Culturas
Acredito que o maior drama da série Ms. Marvel é mostrar a dificuldade de uma adolescente americana mulçumana de descendência paquistanesa em fazer o que quer sem ser julgada pela sua família e pelos seus “iguais”.
Como jovem americana, Kamala quer usar algumas roupas mais da moda americana, porém seus pais não deixam porque estaria em desacordo com a cultura mulçumana. Ao mesmo tempo, Kamala gosta de usar alguns adereços próprio da sua cultura paquistanesa que são desdenhados pelas meninas americanas.
Além disso, o tom de pele de Kamala é motivo de preconceito. Lá, ela é considerada marrom, não sendo nem branca, nem preta, nem latina. É uma “tonalidade” diferente que não se encaixa.
Isso tudo sem falar no preconceito generalizado com os mulçumanos por causa dos problemas que os EUA tiveram com terroristas dessa religião. Fato esse que fica muito evidente nas constantes “batidas policiais” na mesquita frequentada pela heroína.
Com tudo isso, você pode pensar: “Tudo estaria resolvido se Kamala estivesse no Paquistão e convivesse com jovens paquistaneses!”. Só que não foi assim… Quando ela viaja para seu país de origem, ela também tem dificuldade em se enturmar com os jovens de lá. Ela estranha os temperos das comidas e os jeitos de ser daqueles jovens.
Kamala está em um limbo cultural porque não é totalmente uma americana (cultura fortemente marcada pelo cristianismo) nem totalmente uma paquistanesa (cultura fortemente marcada pelo muçulmanismo). Ela é um pouco de cada coisa, se tornando uma identidade própria. O problema é que ela é uma das pioneiras e, por isso, sofre.
Kamala seria a americana mulçumana, a mulher que combina traços da cultura americana com traços da religião mulçumana, fazendo uma combinação que lhe agrada, mas que, por puro preconceito, acaba desagradando tanto os americanos quanto os mulçumanos. Mas o que eles têm a ver com isso? Na prática, nada! Mas isso não lhes impede de se meterem e serem chatos…
Reflexão sobre Ms. Marvel: Conclusão
Kamala não é uma heroína porque se tornou Ms. Marvel, Kamala é uma heroína porque consegue sobreviver sendo uma mulher, marrom, mulçumana, filha de imigrantes e adolescente em uma sociedade machista, racista, intolerante, preconceituosa e xenofóbica. Kamala serve de inspiração para muitas pessoas e não só para o seu grupo. Que seu superpoder seja conseguir mudar a mentalidade da nossa sociedade, para que possamos aprender a aceitá-la como ela é.
E aí? Curtiu essa reflexão sobre Ms. Marvel? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Ms. Marvel? Comenta! Alguma sugestão para outras reflexões? Entra em contato!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!